sexta-feira, dezembro 23, 2005

Papai Noel, saí da fila!

Olha só, Papai Noel, desisti. Enfrentei a fila do estacionamento com alguma impaciência, mas ainda tolerante. Enfrentei a fila da porta giratória fazendo piadinha para disfarçar o mau humor. Mas fila na pracinha do Papai Noel é demais pra mim! Desisti. Tinha até feito uma listinha de presentes. Pra mim e pra todos. Mas, ó, desisto!

E tem mais. Não é só por causa da fila não. Tô numa fase desconfiada. Tô achando que essa história de Papai Noel é propaganda enganosa. Foi o pai do meu bisavô que contou pro avô do meu pai, que confidenciou pro meu avô, que deu com a língua nos dentes pro meu pai e meu pai, que não guarda segredos, contou pra mim. É tudo lenda. Mas, como já vi o velhinho na tevê e achei-o até simpático, embora um pouco ingênuo, fiquei na dúvida. Agora estou mais é desconfiada. Tô achando que é mesmo conversa pra boi dormir.

E mais, estou adotando a simplicidade voluntária. Vou esvaziar os maleiros aqui de casa, jogar fora as caixas que estão amontoadas em cada quarto e as pilhas de jornais que estão se multiplicando no escritório. Ah, vou me desfazer também dos quilômetros de fios, conectores, placas e outros restos de computador que estão se acumulando num canto do armário do Daniel, para um dia serem reaproveitados num novo computador que ele um dia vai montar.

Os papéis velhos, contas quitadas, documentos antigos de carro que já nem tenho mais, apostilas de cursos vencidos, rascunhos de textos que nunca terminei, rascunhos de textos que terminei e ficaram uma droga, receitas médicas, crachás, contracheques do meu primeiro emprego, vai tudo pro lixo também. Só não jogo fora os desenhos dos meninos, mas um dia vão também, tenho certeza!

Vou criar espaços vazios. Tô precisando. Então, não vou cair mais nessa armadilha do Papai Noel. Quero nada! Só isso! Outra coisa. Também não quero amigo oculto em 2006. Quero um amigo presente. O ano inteiro. Daqueles da espécie para o que der e vier. Com um ombro bem largo e acolhedor. E que saiba olhar nos olhos quando precisar dizer a verdade. E com um coração bem grande, que possa ficar também à minha disposição, se eu precisar, né? Um sorriso farto, humor de sobra e doses e doses a mais de paciência. Enfim, perfeito! Só isso.

E vou fazer a tal faxina, nem que seja de olhos fechados, mas vou. Quero entrar 2006 mais leve, mais simples, menos enredada para seguir em frente. Vou mesmo. Vou fazer isso de todo ou de qualquer jeito. Quando voltar de férias, é claro! Iuhuuu! Na segunda já não precisaria mais trabalhar, mas vou ter de fazer uma concessão, para concluir tudo que assumi neste final de ano. Não me incomodo. Me odeio quando deixo as coisas pela metade. Mas, a partir de terça estou fora e de quarta, de volta ao paraíso tropical.

Lá, como já disse, é difícil pensar em qualquer coisa. Além do mais, estou levando três livros que pretendo ler até o final e, portanto, vão ocupar boa parte do meu tempo. Mas se tiver uma recaída, não tenham dúvida, entro na fila da lan house e disputo um computador até a tapa com o bando de adolescentes que fica por ali, na beira da bancada, voando e zoando até chegar sua vez. Ou dou outro jeito, que sempre tem.

Temos também outros planos para 2006. Daniel me fez uma proposta irrecusável. Ele tirou do fundo do baú um projeto antigo que iniciamos, lá pelos idos de 2002. Dani estava com 12 anos e já dominava os mares da internet. Juntos montamos o seu primeiro site: Viajeiros. Pretendia ser uma comunidade latino americana de mochileiros. Ficou lindo! Só que não conseguimos alimentá-lo de conteúdo. Eu não tinha tempo, disposição e inspiração. Ele não tinha paciência, experiência e controle da gramática. Hoje continuamos do mesmo jeito, só que ficamos mais atrevidos.

Então, outro dia desses, enquanto descansava dos estudos prolongados, (a quem interessar possa, ele passou! ufa!) Daniel montou um novo blog, recuperando o velho Viajeiro. E já está no ar, só que sem posts ainda. Mais uma vez, vamos ficar na América Latina. Vai ser emocionante, pois já sei que teremos eleições em quase todos os países e muitas mudanças à vista. É isso que vamos acompanhar ao longo do ano e tentar entender. Tinha até pensado em uma coisa diferente. Ia fazer um outro blog, que se chamaria Preciso ir!, mas não resisti ao convite do Dani. Então, nessas férias teremos mais uma tarefa, fazer um intensivo sobre a América Latina para pegar o fio da meada.

É claro que não vou abandonar essa praça daqui, né? Vai que me dá vontade de pensar? Mas vou tentar me dividir entre um e outro. Isso se o Daniel não mudar de idéia, coisa que ele faz de três em três minutos. Se isso acontecer, volto com o Preciso ir!.

Bom, é isso moçada. Tô indo. Se bater uma onda, volto em 2006!

Que a força esteja com vocês! E, do lado, um amigo presente o ano inteiro!

O enterro da Barbie

Meu control c – control v estão travados. Dou um passo à frente, depois volto e repito. Hoje vou voltar à história das barbies. Hehehe. A Ruthinha encontrou o texto de Rubem Alves. Data de janeiro de 1994, já é adolescente, e chama-se justamente Barbie. Diferente do que imaginei, naquela época, as meninas ainda não manifestavam o seu ódio contra essa boneca anoréxica. Mas Rubem Alves já identificava, no seu texto, os primeiros sintomas desse comportamento. As meninas daquela época perdiam o medo de dormir sozinhas no escuro quando estavam abraçadinhas a seus bebezinhos ou ursinhos de pelúcia, mas nunca com uma de suas barbies.

Isso, porque as barbies, sempre para Alves, não são bonecas, mas bruxas. Enfeitiçavam as meninas que, dominadas, passavam a pensar e fazer tudo aquilo que a lourinha magricela pudesse desejar. E Alves foi pensar sobre isso junto com Alvim Toffler, que no seu livro O choque do futuro, no capítulo A sociedade do joga-fora, começava sua reflexão justamente citando as barbies. Bem antes de 94, em 1971, já haviam 12 milhões de barbies circulando pelo mundo. Passados mais de 30 anos e ignorando qualquer movimento de crescimento, podemos dizer, sem medo de errar, que esse número hoje já deve estar próximo de 40 milhões!

É um universo paralelo mesmo! E o que Rubem Alves observa é mesmo aquilo que citamos. O segredo de sucesso da frágil bonequinha é que ela está sempre incompleta. Já vem com uma pitada de infelicidade, como diz o autor. E aí vai o pai ou a mãe comprar o que, imaginam, preencherá esse vazio: o carrinho da Barbie, a moto da Barbie, o guarda-roupa da Barbie e assim por diante. Só que isso, já sabemos, não é suficiente, pois se não existir mais nada na prateleira, os criadores de barbies tratarão logo de inventar mais um acessório que se tornará o mais novo sonho de consumo das meninas.

Além da frustração, Rubem Alves chama atenção para um outro sintoma importante, fundamental para entendermos a origem desse ódio mortal das inglesinhas contemporâneas. Nesse universo barbiano, as meninas descobrem um novo sentimento nada nada agradável para quem está sentindo: a inveja. Pois fulana tem o carrinho da Barbie e ela não tem. Sicrana tem o aviãozinho da Barbie e ela não tem. Eu tenho, você não tem! Hehehehe, a senha para despertar esse monstrinho que tentamos manter sempre trancafiados dentro de nós, porque ele faz muito mal mesmo.

É por isso que, no final do seu texto, Rubem Alves propõe uma saída para esse labirinto em que estão perdidas as nossas meninas. Ele sugere aos fabricantes de Barbie um último e definitivo complemento para a bruxa de plástico: uma urna funerária! Uau! Ele foi radical mesmo. Não sei ainda se apoio essa proposta. Fico pensando que uma outra solução seria convocar os soldados de bush para enfrentar este grupo terrorista, que atua de um universo paralelo, formado por milhões e milhões de barbies! Talvez bush tivesse mais sucesso nessa missão!

Uma beijoca para todos. Essas são da paz!

terça-feira, dezembro 20, 2005

Admito, eu odeio também!

Não tem jeito. Olhem que tenho me esforçado pra valer para me tornar uma pessoa assim, tipo bem séria mesmo. Bem do jeito que todo mundo me vê ou, se não todo mundo, pelo menos o meu amigo oculto das festas de final de ano. Foi assim que ele me descreveu para os demais convidados. Estou incorporando esse espírito nas mínimas coisas. Mas, aí vem os loucos dos ingleses e me tiram do sério novamente. Dãrw.

Olhem só, não é brincadeira. Pesquisadores da Universidade de Bath observaram, por um longo período, crianças de 7 a 11 anos, com o objetivo de analisar a influência das marcas nas suas vidas. Mas a pesquisa acabou sofrendo um desvio de foco, quando os acadêmicos começaram a investigar o comportamento das meninas com suas doces bonecas Barbies.

As meninas, ao invés de se divertirem com as lindas amiguinhas, levando-as para fazer feira, cuidar da casa, passear no parque e outras invencionices que nascem na cabeça de qualquer criança, elas transformaram suas loucas Barbies em objeto de tortura. Viram? Pasmem-se também! Os métodos de mutilação, segundo matéria que li no grande jornal dos mineiros, são variados e criativos, incluindo arrancar cabelos, decapitação e queimaduras.

Algumas bonecas são inclusive postas no microondas, mas, antes, têm suas pernas e braços removidos. Argh! Que horror! São as crianças inglesas, hem? Depois dizem que essa amizade de Tony Barbie com bush não tem problema, né? Os pesquisadores ficaram em pânico com esse comportamento. “Normalmente se espera que meninas adorem a Barbie, mas elas sentem é ódio” – disse abobalhada Agnes Naim, uma das pesquisadoras.

Os acadêmicos ingleses, envolvidos no projeto, estão atônitos! Não sabem de onde elas tiraram essa idéia. Uma psicóloga do grupo disse que é um rito de passagem, da infância para a adolescência. Mas, sinceramente, não me lembro de ter sentido nada disso em relação a nenhuma de minhas bonecas. Às vezes me desafazia de algumas delas, mas por absoluta indiferença, não por ódio. E uma, a preferida, claro, guardo até hoje! Também não me lembro de minhas amigas terem uma reação dessas. É muito esquisito. Será que elas estão vendo muita televisão, noticiário da guerra do Iraque, terremoto no Afeganistão, atentados no metrô de Londres, essas coisas banais que estão toda hora na tevê?

Acho que não. O ódio que elas sentem pela Barbie, pela caixa de barbies que todas têm, deve ter outra origem. Pode ser até um pouco de frustração. Nunca serão como essa magricela, de cintura fina, olhos azuis, cabelos lindamente longos e loiros e com roupas chiquerézimas! O que nos entristece - digo nós, mas nunca tive uma Barbie, embora, com certeza, já devo ter tido vontade de ter uma. Então, o que nos entristece, eu acho, é que Barbie nunca poderá ser verdadeiramente nossas filhas. Sua herança genética não está presente no sangue da maioria dos povos desse planeta. É um falso ideal. Abaixo essas bonecas horrorosas, magras, esqueléticas, idiotas, famintas, lindas, burras, famosas, encantadoras, fofoqueiras, fedorentas. burras, burras, burras...Ops! Acho que perdi o controle.

Mas acho que quem desvendou o mistério desse ódio gratuito pelas Barbies não foram esses pesquisadores ingleses, mas Rubem Alves. Segundo Ruthinha, ele tem um texto antigo que fala dessa rejeição natural que as meninas acabam nutrindo por essa boneca. Ter uma Barbie, no fundo, no fundo, é colecionar um mundo de frustrações, conforme explicou Rubem Alves. Porque não basta ter uma Barbie para ser feliz. É preciso ter as roupinhas da Barbie. Os sapatinhos da Barbie. A casinha da Barbie. O carro da Barbie. A moto da Barbie. O namorado da Barbie. O pianinho da Barbie. A sandalinha da Barbie. As bolsinhas da Barbie. O perfume da Barbie. As perucas da Barbie. O cachorrinho da Barbie. O avião da Barbie. As jóias da Barbie. O banheiro da Barbie. O parquinho da Barbie. O computador da Barbie. A escova de cabelo da Barbie. O fogãozinho da Barbie. O cavalinho da Barbie......infinitamente tudo e qualquer coisa da Barbie.

Não pode, né? Ninguém aguenta isso! Nem os pais, que têm de financiar esse universo paralelo chamado Barbie, nem as pobres meninas que nunca conseguem ser felizes com sua doce bonequinha, chamada Bibi.

Meninas! Atenção, meninas! Como diz o Rafa, não tentem fazer isso em casa. Tratem bem suas bonecas, se não Papai Noel não traz brinquedo novo, hem!

Escapei do trabalho um instante só, vocês perceberam, né? Mas não pude resistir. Esses ingleses me tiram do sério!

Até de repente!

segunda-feira, dezembro 19, 2005

Olhos de caleidoscópio

Nada como uma hora depois da outra. Nada como uma onda mais mansa e silenciosa, depois de um mar de pensamentos incontrolável. Agorinha mesmo, enquanto esperava o forno esquentar para assar uns pães de queijo, passei os olhos no jornal que o Paulo me emprestou. Olhem só, vi um artigo que falava sobre os desafios do quadro eleitoral para 2006. Não olhava do mesmo lugar de onde olhei, mas de um outro ângulo, que me fez ver o mesmo que via antes, mas agora de um jeito bem diferente.

Gosto de ver o mundo com olhos de caleidoscópio. Cada movimento que você faz, por mínimo que seja, muda tudo na sua frente. Como é mesmo aquela frase? Um ponto de vista depende do ponto de onde você avista? É isso? Sei lá. O que sei é que você sempre pode olhar um ponto de vários pontos e, dependendo do ponto de onde você olha, o ponto se mostra de um jeito diferente. Acho que estou aumentando um ponto neste conto e vou acabar é embolando a linha.

Então, só para concluir o mar de pensamentos. O artigo que li agora, do jornalista Carlos Alberto Sardenberg, publicado no Estadão desta segunda, resume os processos eleitorais dos últimos anos, pós-redemocratização, e avalia os desafios para o pleito do ano que vem. Diferente do quadro de desânimo do eleitor que pintei para 2006, ele enxerga uma outra possibilidade.

Esgotadas as alternativas que tínhamos para exercitar com originalidade a alternância no poder, o que teremos pela frente agora é a opção de uma escolha mais madura. As forças políticas que estarão se enfrentando em 2006, já terão, todas elas, experimentado, de um jeito ou de outro, a dura batalha que é governar um país e aí, sem mais ilusões, estarão preparadas para um diálogo mais franco com seus eleitores. Pode não ser muito agradável, mas, quem sabe, permitirá um debate mais consistente sobre o país que queremos construir e nos fazer avançar a passos que se equivalem ao tamanho de nossas pernas. Sem megafantasias. Bom, pelo menos foi o que entendi.

É engraçado, mas nem sempre os sonhos, a esperança, a paixão são as melhores ferramentas mesmo para transformar o mundo, embora sejam imprenscindíveis em alguns momentos. Hoje mesmo nós falávamos sobre isso, quando avaliávamos nosso trabalho em 2005. E aqui também, quando fico pensando nas eleições do ano que vem, pode ser que o choque de realidade seja preferível aos encantamentos dos discursos vazios dos marqueteiros.

Inté, bons sonhos, mas durmam de olhos bem abertos!

domingo, dezembro 18, 2005

Somos todos suspeitos

Nem ia passar por aqui. Minha porção diária de sopa de letrinhas está temporariamente racionada e tudo que sei sobre o que se passa é só de ouvir falar. Também meu tempo para divagar foi drasticamente reduzido. Até o final do mês meu nome é só trabalho. Mas hoje, enquanto estava ali, adiantando serviço de segunda-feira, minha atenção foi dispersada por um mar de pensamentos incontrolável. Estava bem centrada, lendo um artigo sobre a crise política brasileira. Os autores estavam analisando as coalizões que foram formadas nos governos FHC e Lula para compreender as dificuldades que um e outro tiveram para governar. A partir daí, eles buscaram construir um entendimento mais coerente e menos novelesco da origem da crise que vivemos ao longo de todo esse ano.

Estava mergulhada no texto, mas bateu um pensamento no meio da leitura que foi me levando a outro que me levou a mais um e a outro mais e pronto, dispersei. Foi que nem uma onda vindo atrás da outra e mais uma e outra mais, até bater na areia e dispersar um mundão de água pra tudo quanto é lado. Foi um pensamento bobo que tirou minha atenção. Lembrei da pesquisa divulgada essa semana sobre intenção de votos, que dá a Serra a liderança na preferência do eleitorado para a disputa do ano que vem. Ficou com 36% dos votos contra 29% para Lula. Acho esse tipo de pesquisa uma bobagem. Parece jogo de aposta. Diz muito pouco do que o eleitorado poderá fazer quando for pra valer. Principalmente, levando-se em conta que estamos ainda no meio do caos.

E tem mais. Me cheira a manipulação marota das elites políticas paulistanas. Elas pensam que o Brasil mora em São Paulo. Só dá Serra e Alckmin nessas pesquisas. Então não temos outras opções nesse brasilzão? Parece que querem nos impôr uma falsa preferência, antecipando um quadro como se este já fosse dado. Eu, heim? Mas aí, fiquei pensando que esta será uma das eleições mais difíceis que teremos, desde o início da redemocratização. Jogamos as últimas fichas em 2002. E agora José? A festa acabou, a luz apagou, o povo sumiu, a noite esfriou, e agora José?

Além da falta de novas alternativas, vamos ter de enfrentar o descrédito na política. Tudo bem, a descrença nos políticos não é uma variável nova nos processos eleitorais. Não é de hoje que o povo desconfia de políticos. Mas ele não deixa de dar o seu voto, na hora em que é convocado às urnas. Só que agora essa desconfiança ficou concreta. Ganhou um, dois, três, dezenas de rostos. Um para cada gosto. Tem nome, tem história, tem versões, uma para cada finalidade. Então, continuei pensando, de duas, uma. Ou vai chover voto nulo na urnas ou então o brasileiro vai ficar mais exigente, mais criterioso, mais cuidadoso na hora de apertar a tecla. E aí, até que terá valido a pena que penamos. Mas será?

O sentimento de desconfiança se generalizou. Não se restringe mais apenas ao Parlamento, que é mesmo o poder mais exposto à avaliação do eleitorado. Contaminou também o Executivo, que tem um nome de plantão: Lula. Ele está se equilibrando na beirada do poço desde o início do segundo semestre. E nos últimos três meses, a confiança dos eleitores no presidente chegou ao seu pior nível desde o início do governo, segundo pesquisa do Ibope. Hoje, 53% dos brasileiros dizem que não confiam mais no presidente, contra 51% em setembro. Se considerarmos que Lula esteve e ainda está no paredão, até que esse não é um percentual muito ruim. Mas que ele sofreu uma queda, não resta a menor dúvida.

Até aí, no entanto, também não temos novidade. Isso acontece. Já passamos por situações semelhantes em outras eras. Só que, dessa vez, parece que o bicho pegou. O ânimo do eleitor vai estar contaminado ainda por outras descrenças. É uma desconfiança que está batendo fundo. Outro dia desses, enquanto tomava café, filei de rabo de olho uma notícia que saiu no jornal, sobre uma pesquisa do Fórum Econômico Mundial. Ela foi realizada em 20 países e mostra um quadro dramático de queda de confiança nas instituições. A descrença forte em relação aos políticos e aos governos já era de se esperar. A crise da representação vem desde o final dos anos 80. Mas agora essa desconfiança se estende com a mesma intensidade para as empresas e as próprias entidades da sociedade civil. Não escapou ninguém. Nem as Organizações das Nações Unidas (ONU), que eu acho o máximo! Foram os piores resultados desde o início dos levantamentos, em 2001.

No Brasil, esse índice de confiança sofreu uma retração de nove pontos entre 2004 e 2005, atingindo todas as instituições, incluindo as empresas globalizadas e locais e até as ongs de todas as bandeiras. E esse é o quadro novo. Só pai e mãe escaparam. Mas essa confiança se contrói e se limita para dentro da família. Pôs o pé na rua, todo mundo vira suspeito. Essa falta de confiança nas pessoas e instituições e o clima de competição acirrada e permanente que reina em todo o mundo é que me deixam desconfiada em relação às eleições do ano que vem. Acho que vai dar um desânimo do cão sair para votar. Fico pensando, o que vai motivar o eleitor a sair de casa para levar o seu voto até a seção eleitoral mais próxima?

A situação está tão periclitante, que acho que nem Deus escapa de uma oitiva. Olhem só, em outubro, se me lembro bem, li uma notinha que foi publicada no site do Terra que deixava o Todo Poderoso bem mal na foto. Um romeno, chamado Pavel M., que está preso, entrou com um processo na Justiça contra Deus. Ele acusa o Chefão lá de cima de traição, abuso e tráfico de influência. Huahuahuahua. Pave alega que seu batismo é um contrato entre ele e Deus, que teria por obrigação manter o Diabo afastado dele, assim como todos os problemas. E parece que Pavel está metido em vários, nessa sua passagem aqui pelo andar de baixo. Isso configuraria a quebra do contrato, gerando, portanto, uma quebra da confiança, né?

A reclamação foi enviada para a Corte de Timisoara e encaminhada para o escritório do Procurador. Hehehe. Só que o processo vai ser arquivado. Tão achando que o Todo Poderoso está assim à disposição, como Roberto Jefferson, Zé Dirceu, Delúbio, Marcos Valério e as CPIsnetes, musas das oitivas, entre outros reles mortais? Tão, é? Pois estão enganados. E como os procuradores não tem como convocar Deus para depor, o processo vai direto para a gaveta. Mas Pavel, pelo menos, já está olhando esquisito para Deus. E, se a moda pega, vai ter muito mais gente olhando de rabo de olho para o Poderoso.

Então, fiquem com os anjinhos, que, por enquanto, estão fora dessa encrenca.

quarta-feira, dezembro 14, 2005

Como quieres

Arte Fractal - Cláudio Duarte

Ai ai, mas tem chuvido, hem? Faz quatro dias que só chove em Belo Horizonte. Dá até vontade de chorar também. A cidade fica toda espelhada. Vejo faróis vindo de todos os lados em minha direção. Saem até de dentro do vidro do parabrisa. Cada gota que escorre, arrasta um feixo de luz e parece que alguma coisa vai bater bem dentro dos meus olhos. Só ando em sobressaltos. É muito emocionante, essa temporada de chuva!

Tem horas que até parece que vai parar. Mas aí despenca aquele aguaceiro danado de novo. Arre égua! Não pára nunca! Vou sair de fininho. Vou mudar de assunto. Vou só ouvir a chuva e pensar no sol. Tem uma semana, aliás, que o rádio só fala nisso. Um dia desses, estava ali, tentando me desviar de um não-farol e ouvi, na CBN, um médico falando sobre os malefícios do sol. Ai ai, de novo. E ele estava era bravo!

Passou a maior descompostura em quem fica com moderação na hora de usar o protetor solar. Nada de parcimônia. Sejamos generosos! – disse ele. Eca! E dá-lhe FPS 30 no rosto, protetor labial FPS 25 e, no corpo, FPS 15. Sempre e sempre. No clube ou na praia, FPSs variados e chapéu e boné e canga para cobrir os ombros e sombrinha, nem que seja de uma árvore, e não sei mais lá o quê. Então não seria melhor ficar em casa? Tá doido siô!

Eu e Ruthinha já concordamos sobre isso. Somos do tempo em que o sol fazia bem! Clareava o dia, secava a roupa, corava o rosto dos meninos, escancarava as janelas e punha cadeira na porta das casas. O sol era bom demais pra brincar na rua, andar descalça, cavar a terra, fazer um buraco enorme de grande pra nos levar pro Japão! Servia também para armar arapuca de caixa de sapato pra pegar passarinho e caçar minhoca pra jogar no canteiro de beijinhos. Farto era melhor ainda, porque aí a gente podia brincar de chuva com a mangueira do jardim.

O sol fazia bem o dia inteiro. De manhã, dava pique para correr do pegador. De tarde, dava era aquela preguiça preguiçosa de tanta preguiça. Daí, o jeito era todo mundo sentar no murinho da frente e ficar ali, esquentando a sombra da árvore e falando bobagem. Claro, até sair a primeira briga, né? Aí escapava menino pra tudo quanto é lado e só voltávamos no finalzinho mesmo da tarde. Naquela hora em que o dia fica laranja e o sol vira uma bola vermelha, enorme, na outra ponta da cidade.

Era só isso e era tudo. E, olhem só, não me lembro nunca da minha mãe gritar: sai do sol, menina!. Era só assim que ela se zangava: sai da chuva, menina! E mãe, sabem como é, elas nunca se enganam. Pra elas, era chuva que fazia mal, gripava e, pior, prendia meia duzia de espoletas dentro de casa o dia inteiro. Podia até enlouquecer! Sol é que fazia bem. Os meninos sumiam no mapa. Sol é que era bom. Passava o dia inteiro e ninguém via nem sombra de pai e mãe atrás de você mandando fazer isso, fazer aquilo, não fazer isso, não fazer aquilo.

Mas nem tudo está definitivamente condenado. Ainda bem! E ainda bem também que os médicos não são muito bons em criar consensos. Outro dia desses, antes de ouvir o doutor enfurecido na CBN, escutei outro especialista, na mesma rádio, que discordava do primeiro. Estava fechado era comigo e com a Ruth. Em poucos segundos, ele detonou com a moda FPS. Essa mania de passar protetor solar, até para ver se eu estou na esquina, está provocando uma verdadeira epidemia de osteoporose. Qui meda! Até homens, antes raro, já apresentam índices crescentes e significativos de osteoporose.

É óbvio, né? Se lambuzam todo de protetor solar e se esquecem de que precisamos também de raios de sol. Tanto quanto de água de chuva. É claro que ninguém vai se espichar, às duas horas da tarde, debaixo de uma lua daquelas e ficar lá que nem jacaré na lama, né? Mas o sol da manhã, sem pudor, sem receio, sem restrição, é básico. Sem ele, não tem cálcio que consiga se fixar nos ossos e, com o tempo, eles tendem a se desmanchar como um pedaço de giz.

Então? Sol ou chuva? Sol com ou sem protetor? Cheguei à conclusão de que é como quieres. Ou queiras. E basta o suficiente.

Raitos de sol para todos.

sexta-feira, dezembro 09, 2005

Protocolo de Serra Leoa

Hoje é hoje. E para bush isso não muda nada. Apesar de um em cada quatro senadores americanos estarem cobrando, pedindo, suplicando, implorando para que o país assine logo o tal Procolo de Kioto e acabe logo com essa lenga-lenga, bush não tá nem aí. Vai terminar a 11ª Conferência das Partes da Convenção do Clima das Nações Unidas e ele não passa nem perto de caneta, para não ficar tentado. Foge das velhas bics como se fugisse do diabo.

Não topa nem discutir o assunto. Ignorou solenemente até a petição dos esquimós contra os Estados Unidos, apresentada durante a conferência junto à Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Os esquimós denunciam os estragos que as emissões americanas de dióxido de carbono e de outros gases estão fazendo nas geleiras do Ártico, ameaçando o modo de vida inuit. Parece inútil né?, mas não é, diz respeito à cultura dos povos árticos, dos esquimós.

Aí fiquei pensando que, nesse caso, até que bush está sendo estupidamente coerente. Defende interesses - imediatos que sejam - dos próprios americanos. O que significa o Protocolo de Kioto ou qualquer outra convenção que venha estabelecer limites para produção de gases poluentes? Na minha idiotice crônica, penso que significa impôr limites ao crescimento econômico e estabelecer novos modelos de desenvolvimento, compatíveis com a sobrevivência do planeta.

Êpa! Mas, pera lá! Quem é que está no comando? Quem é que manda no pedaço? Quem é o dono da bola? Isso é o que bush deve ficar pensando, quando deita a sua cabecinha no travesseiro. Que povo chato e pretensioso, ele deve pensar. Pois se somos nós que estamos no controle do manche, quem deve dizer o quê, o quanto e como vamos trabalhar, somos nós e não eles. Então, pra começo de conversa, não me venham com democratismos. Quem decide isso somo nós. Isso é o bush lá pensando, né?

E pra fim de conversa, impôr limites ao crescimento econômico é uma contratição inconcebível para o modus operandi capitalista. É uma facada nas costas. Ora essa, se esses terráqueos inconstantes, incoerentes e inconsequentes toparam aderir ao modelo de sociedade exportada pelos americanos, agora que agüentem. E tá lá o bush pensando! Os Estados Unidos nunca iludiu ninguém. Vendeu para o resto do mundo a sociedade do consumo ilimitado. E ninguém pode consumir o que não é produzido. Então, se virem!

Tudo é mesmo produzível na sociedade de consumo. Encontra-se de tudo no mercado: durex dupla-face; sapatos para diabéticos; moletons para safenados; brincos de brilhante para cãezinhos de estimação; cremes de beleza com magma de ouro para a eterna juventude; folhas de metal com memória, que tomam a forma desejada de acordo com a sua aplicação; relógio/cronometro/calendário/agenda/celular/computador, tudo junto numa só pulseira; mulheres em vários modelos e tamanho, com peito 100% silicone e cabelos de verdade e homens idem, tudo por módicos 6 mil dólares; pílulas para antes, durante e depois; amores descartáveis; amigos invisíveis e assim vai.

Uai, querem encontrar tudo isso na esquina - e ai se não encontram! É como se o céu despencasse sobre suas cabeças e aí, coitado é do dono da bodega, dá-lhe códigos de defesa do consumidor goela abaixo . E é assim mesmo que é. Ou não é? Ninguém tem mais um sonho de consumo, temos um hipermercado inteiro. Pra hoje, pra ontem. Então, é como a Rutinha costuma dizer, não adianta ficar gastando fosfato, tentando inventar soluções mirabolantes, serão sempre paliativas. O que é preciso fazer é descer ao fundo do poço, buscar as raízes do problema.

Então, fiquei pensando que, pra começo de conversa, temos de criar uma escala decrescente é para os nossos desejos de consumo. Simplicidade voluntária ou Protocolo Serra Leoa. Mesmo porque, já no curto prazo, não teremos outra opção. Já consumimos muito mais do que o planeta pode suportar. E isso tem gerado toneladas de problemas. O efeito estufa é só um detalhe.

Um exemplo: o lixo. Já nem sabemos o que fazer com a quantidade de entulho que produzimos. O Brasil - e, olhem só, por aqui o consumo está restrito quase que só aos 10% da população que detém a grana, a bufunfa mais gordinha, os outros 90% ajudam é a reciclar o que descartamos -, e, ainda assim, falta lote vago para tanta sobra de lixo. Li outro dia um texto da Fabiana que diz que, enquanto a população brasileira cresceu 16% entre 1989 e 2000, a quantidade de lixo gerada no mesmo período aumentou 46%. Como a pobreza não diminuiu no período, imagino que os mesmos estão consumindo cada vez mais e descartando na mesma proporção. É brincadeira?

Já estamos ficando sem espaço até para enterrar nossos mortos. Ói se pode! Li num desses jornais que em Biritiba-Mirim, cidade do interior de São Paulo!, está proibido morrer, porque não tem mais vaga no cemitério. Huahuahuahua! A Prefeitura encaminhou à Câmara Municipal um projeto de lei que proíbe os biritibanos mirins de partir dessa pra melhor e ainda estabelece que eles deverão cuidar da saúde para não falecer. Hehehehe. A matéria não diz se o projeto prevê penalidades para quem desobedecer. Mas deve ter. Se morir, vai pro inferno!

Vida eterna para todos!
A pão e água, claro!

Até a próxima.

quarta-feira, dezembro 07, 2005

A terceira margem

Olhem só, outro dia desses aí pra trás, fomos caminhar com Guimarães. Não o Ulisses, o Rosa. Entramos só de passagem pela estória de Lélio e Lina e fomos direto para A Terceira Margem do Rio. Uau! Antes tinha na cabeça uma birra teimosa de Guimarães e do Mário de Andrade de Macunaíma. Era com o jeito estranho de eles escreverem. Achava que era pirraça, para atrapalhar nosso caminho nas histórias. E pra mim, me interessava muito mais as histórias. De como os personagens iam surgindo, se encontrando, se envolvendo, se movendo dentro dos cenários inventados e, às vezes, desaparecendo sem mais. Ainda me interessam. É o como de Lisbela.

Só que depois fui aprendendo que as palavras também são fundamentais, claro! Foi preciso dar muitas vezes com os burros n'água, aqui na vida real, para entender isso, que as palavras, mesmo que parecidas no dicionário, são sempre diferentes. Tem sempre a hora certa de se usar uma palavra. E tem também o lugar certo para ela entrar sem provocar ruídos. Elas são, portanto, como personagens da história. E assim é em Guimarães. Por isso só agora, recentemente, me animei a ler seus textos. Livrei-me da birra. Menos uma.

Então, lemos e relemos a história do homem que foi e não voltou, sem ter ido a lugar algum. Ficou se indo ali no seu barquinho, vagueando na terceira margem do rio. Dias depois, me deu um clique. Olhem só, se não estamos também numa canoinha, zanzando na terceira margem do rio. Desde que me entendo por gente, que o Brasil está indo. De repente, muda alguma coisa e a gente pensa, é agora que vai! E não vai. Nem para um lado, nem para o outro.

É claro que mudamos. Igual o homem do barco mudou, ficou velho, barbudo, minguou. Zoando ali no rio, parecia que o tempo não passava. Que só as águas corriam rio abaixo. Mas passava. E pra nós também, né? O Brasil multiplicou-se, isso é inevitável, principalmente nos trópicos (rs). Se espalhou e cresceu, mas sempre ali, na inércia da terceira margem. Foi se indo.

Agora, de novo, nós pensamos, dessa vez vai. Na nossa democracia roseana - não a de sarney, mas a de guimarães -, encontramos uma alternância que, acreditamos, levaria o nosso barco para algum lugar. Ou ia atracar numa das margens ou ia embora seguindo um destino novo, ainda não-encontrável. Não foi. Foi uma droga. Que coisa hem siô! E tamos nós lá de novo. Zanzando no meio do rio. Não fomos nem ficamos nem voltamos. Continuamos indo indo indo a lugar nenhum.

Aí li outro dia no jornal um comentário do brasilianista Kenneth Maxwell. Ele fez uma palestra, em Washington, sobre "Lula, PT e o futuro da democracia brasileira". Não sei se ele está certo, mas quem está de fora tem uma visão diferente de quem está dentro e que, às vezes, ajuda a entender o que rola aqui pertinho e ninguém percebe. E o carinha disse, lá em Washington!, que a nossa crise tem cheiro de boicote. Igual na Venezuela. Huahuahua! Tem "elementos de natureza conspiratória".

Vou copiar: "É curioso olhar para a história do Brasil e ver que, quando as reformas chegam até certo ponto...bingo! Acontece uma crise. É o que eu chamo de conspiração do sistema, não necessariamente de pessoas". É curioso mesmo. Por isso ficamos aqui, esquentando o sol na terceira margem do rio. Ficamos não indo a lugar nenhum. Parece que sofremos do "grave frio dos medos". Na hora que o bicho vai pegar mesmo, dá o desatino e corremos do pau. E nós rio abaixo, rio a fora, rio adentro.

Uma boa navegada pra todos.

Até o próximo porto!

segunda-feira, dezembro 05, 2005

Teoria da conspiração

Hoje vou costurar. E vai ser uma costura em linha reta, bem fácil e rápida, porque eu não posso perder a hora. Vou deixar de lado a minha Remington, presente de meu irmão, e pedir emprestada à minha mãe a velha Singer que ela herdou da minha vó que, por sua vez, recebeu-a de herança de sua mãe. Pedala, Patricia!

É o seguinte: hoje fiquei tiririca com a Folha de São Paulo. Ela, além de achar que seus leitores moram todos em São Paulo - não assume nem a pau a sua condição de jornal de circulação nacional - deu para pensar também que seus leitores são todos uns distraídos. Olhem só a manchete que ela soltou no domingão: PT fez depósito suspeito para firma de vice.

Primeira leitura: Zé de Alencar entrou pra lista do mensalão. Pomba, será possível! Até tu Zé? Aí fui ler a matéria. A história é um pouco diferente do título. O depósito não é suspeito. Foi contabilizado pela empresa como pagamento de uma dívida do PT com a Coteminas, pela compra de 2,7 milhões de camisetas, distribuídas ou vendidas, sei lá, na campanha de 2004. Comprou, pagou, né gente? Negócios, negócios, coligações à parte.

O que é suspeito é a origem do dinheiro, como de outros que são investigados pelas CPIs. Pelo menos foi o que eu entendi. Seguindo a lógica do que está em questão nessas investigações, o título escandaloso deveria ser alguma coisa assim: CPI prova uso de caixa 2 na campanha do PT.

Mas não é esse o objetivo do jogo. Fiquei, na minha santa ignorância, tentando descobrir, então, qual seria a missão da FSP nessa partida. Aí, me lembrei que a menos de cinco dias atrás, no dia 1° de dezembro, o vice José de Alencar, falando de improviso num seminário sobre a Amazônia, no Ministério da Defesa, ele sentou a pua outra vez na política de juros da equipe econômica do governo Lula. Ele afirmou que os altos juros são responsáveis pela falta de recursos em áreas "absolutamente essenciais".

Ele disse: "Às vezes eu chego inevitavelmente à conclusão de que para tudo que é absolutamente essencial para o Brasil falta recursos, menos para os juros 10% superiores aos existentes no mercado internacional. Isso é muito sério". José de Alencar, é teimoso esse cara, afirmou ainda que é "censurado" por insistir em suas críticas à política de juros. E condenou, mais uma vez, o uso do dinheiro público para pagamento de juros.

Pomba! Falou tudo isso no meio do fogo cruzado entre Dilma e Palloci e Palloci e CPIs. E a avenida Paulista ia ouvir tudo isso caladinha? Heeimm? Aposto que não. A avenida Paulista ficou furiosa, impaciente, irritada e de saco cheio. Acho que ela estava só esperando a hora para puxar o tapete do Zé de Alencar. E aí, a descoberta da CPI foi o prato cheio que a avenida Paulista aguardava. Serviu-o quente e em mesa farta.

Mas é claro, antes de levantar essa hipótese, fiquei pensando. Puxa vida, será que a avenida Paulista teria razões para fazer isso? O empresariado todo tem brigado pela queda dos juros, tem ido pra rua pedir a redução das taxas, tem protestado em repetidas reuniões contra a política monetária do Banco Central, não tem? Ou não tem? Mais ou menos, né gente? Temos empresários e empresários. Para alguns, a turma de chão de fábrica, a queda dos juros é fundamental para sua sobrevivência, mas, para outros, os que estão na pontinha da pirâmide, as taxas de juros remuneram seu capital com muito mais competência do que o mercado.

Os empresários do setor financeiro, por exemplo. Olhem só, em 1996, os bancos privados nacionais acumularam ganhos de R$ 2,7 bilhões, uma rentabilidade de 13,5% sobre a soma de seus patrimônios. Em 2004, o resultado já havia subido para R$ 12,5 bilhões, um retorno de 21,9%. Eles quase dobraram seus ganhos, já elevados, nesse período de menos de 10 anos. Nada mal, né? E vai o José de Alencar brigar com esses caras? Então, toma distraído.

E eu vou andando. Mesmo porque, o pedal dessa Singer está meio enferrujado e meus pés já estão doendo.

Um dia de sol para todos vocês.

Até uma próxima.

Da idiota de plantão

quinta-feira, dezembro 01, 2005

Papai Noel, eu me comportei!

Não vou dizer que fiz tudim, tudim bem certim, certim, né? Mas, olha só, eu tentei.

Tentei (de verdade) cuidar bem de todos os que estão ao meu lado.
Tentei (deveras também) cuidar bem de todos os que estão longe, mas também estão ao meu lado.
Tentei (por instinto de preservação) não me descuidar daqueles que jamais estarão ao meu lado.
Tentei (com vontade) reclamar menos.
Tentei (quando reclamava) não perder o senso de humor.

Tentei (sem querer) parar de fumar.
Tentei (sem muito esforço) fazer um esporte qualquer.
Tentei (mesmo não gostando) aprender inglês.
Tentei (e às vezes consegui) ler os livros que li até o fim.

Tentei (com muito esforço) entender alguma coisa das coisas que estão acontecendo.
Tentei (com o coração à larga) acompanhar todos os depoimentos nas CPIs do Congresso.
Tentei (na diagonal) ler o que os jornais estavam dizendo sobre todos os depoimentos nas CPIs do Congresso.
Tentei (com muita impaciência) assistir ontem à sessão de votação do processo de cassação de José Dirceu.

Tentei (com dificuldade) organizar as idéias, mesmo sabendo que, para isso, teria de voltar a escrever. Coisa que já havia descartado da minha biografia.
Tentei (distraidamente) escrever frases mais curtas, textos mais tolos e usar só as palavras que me vinham a cabeça.
Tentei (propositadamente) aprender novas palavras, como superávit primário, déficit, ajuste fiscal, PIB, dívida pública, transgênico, mercado do carbono e outras expressões nada divertidas.
Tentei (e não adiantou) aprender a usar vírgulas, os quês e porquês, a crase e outros mistérios da nossa língua portuguesa.

Tentei (e consegui!) não brigar no trânsito, com os idiotas dos homens que acham que só porque são homens podem nos fechar na rua, como se não estivessem fazendo nada de errado; com os babacas dos homens que só porque são homens acham que quando uma mulher está manobrando o carro para entrar numa vaga e não parar na fila dupla na frente do colégio, ela está é querendo empatar o trânsito; com as dondocas das mulheres que acham que só porque são mulheres, louras e de nariz arrebitado, podem sair por aí fazendo baianadas em qualquer esquina que está tudo bem; com as espaçosas das mulheres que acham que só porque são mulheres podem ser distraídas também no volante que todo mundo vai achar normal; com os boys cansados que acham que só porque são homens e boys podem ficar andando em marcha lenta na sua frente, quando faltam apenas cinco minutos para o portão do colégio fechar e 30 minutos para você voltar para casa, almoçar e voltar para trabalhar; com o pastel do pedestre que acha que só porque é pedestre, não tem de seguir as regras do trânsito e aí atravessa fora da faixa, com sinal aberto e toda sorte de situações de risco; e com toda essa fauna que não vou ficar aqui descrevendo, porque estou tentando e conseguindo de verdade não brigar com nenhum membro dessas espécies!

Tentei (com entusiasmo) aprender a operar os controles da tv e do dvd, mesmo sabendo que eles nunca ficarão nas minhas mãos.
Tentei (com a curiosidade de uma criança) aprender coisas que antes nunca tinha escutado falar. Tentei mesmo sabendo também que jamais conseguirei aprender de fato todas essas coisas.

Tentei (com sucesso) fazer risoto de camarão!
Tentei (sem sucesso) fazer uma peixada capixaba.
Tentei (e foi um fracasso) pagar as contas em dia.
Tentei (e foi um fracasso maior ainda) devolver os filmes da locadora no dia certo.

Tentei (mudando de assunto) não ficar triste por não poder tentar outras coisas que desejei e que...bom deixa pra lá, melhor mudar de assunto.

Tentei (e foi uma decisão acertada) ouvir mais música, a toda hora e a todo momento.
Tentei (e foi bem mais prazeroso) ouvir muito mais rádio e ver menos televisão.
Tentei (é sério) entender para que serve o orkut. Ainda não entendi muito bem, mas o orkut me ajudou a descobrir muitas comunidade divertidas, como essa de onde tirei emprestado o título desse texto: “Papai Noel, eu me comportei!”.

Tentei (com orgulho e dor no coração) deixar os meus filhos conhecer a vida lá fora.
Tentei (de coração) falar menos e ouvir mais o que eles tinham para me dizer.
Tentei (e continua dando certo) estar sempre ao lado do Cláudio pro que der e vier.

Tentei (porque isso me faz bem) continuar acreditando que meu trabalho é muito importante.
Tentei (porque isso me faz mal) não dar ouvidos a conversas de corredor, ao bláblá da hora do café e ao tititi que às vezes rola no correio eletrônico.

Tentei (porque isso faz bem a alma) conhecer novas pessoas e admirá-las por elas serem como são.
Tentei (porque isso me irrita profundamente) não ficar perto de pessoas que se fazem de vítima.

Tentei (o ano inteiro) não zoar dos atleticanos, coitados! (rsrsrs)
Tentei (só nessa última semana) fingir que o Atlético não foi para a segunda divisão! (rsrsrs)
Tentei (pelos meus filhos) achar que o América é um grande time!

Tentei (e fui vencida pelo cansaço) gostar muito dos MC Racionais.
Tentei (e ainda não foi o suficiente) fazer com que meus filhos também gostem das músicas que eu gosto.

Tentei (e já tenho pelo menos as manhas) aprender a consertar fio quebrado de ferro elétrico, válvula de descarga quando começa a disparar e tomadas.
Tentei (se cuidem! huahuahuahua) aprender a operar uma furadeira!
Tentei (e sábado acho que consigo) montar a nossa árvore de natal sem luzinhas.
Tentei (e sábado acho que consigo também) montar o nosso presépio português.

Tentei (mas acho que já tomei muito seu tempo) um tanto de outras coisas, mas principalmente, tentei (e vou continuar) prosseguir tentando fazer o melhor. Se não o melhor do melhor, o melhor do que eu posso, que já é alguma coisa, não é não?

Então. Satisfeito? Prestei contas direitinho? Já posso pedir? Posso fazer a minha lista? Posso? Posso? Posso? Já adianto que quero tudo de tudo! Huahuahua. Brincadeira, basta uma Pentax digital 6.1 Mpixels com um zoom turbinado! Ah, ia me esquecendo, e um ipod nano 4 GB. Brincadeira de novo! Hehehehe. Quero mesmo é tudo de tudo. Essa lista eu vou ter de pensar direitinho, por isso volto outro dia.

Vamos lá gente, princípio da transparência, se não Papai Noel não traz presente, hem! Coragem bush, condolezza, tony, a turminha da Faixa de Gaza, os amigos do Zé e demais vizinhos.

Un bielo día para tuedos, hermanos!
Com luzitas cuoloridas pielo camino!

terça-feira, novembro 29, 2005

Sir May vai criar um clima

Eu implico, mas eu gosto dos ingleses. Mais do que dos americanos. Os ingleses são imprevisíveis. Às vezes, incoerentes. E quem não é? Mas eles não são inconsequentes e isso faz muita diferença. Hoje li no jornais que o Lorde May de Oxford, presidente da Royal Society, principal sociedade científica européia, vai chamar bush na responsa.

Sir May está participando da Décima Primeira Conferência das Partes da Convenção do Clima da ONU, que começou ontem em Montréal, no Canadá. O encontro vai reunir cerca de 10 mil representantes de 189 países até o dia 9 de dezembro. Na pauta do encontro, claro, o famigerado Protocolo de Kyoto, aquele que bush não assina de jeito nenhum e é o único acordo internacinoal existente para reduzir as emissões de gases estufa, como o dióxido de carbono. Na pauta também a proposta do uso dos recursos investidos na manutenção de florestas para geração de créditos de carbono negociáveis internacionalmente. O mercado do carbono, lembram-se?

Bom, mas aí, Sir May vai aproveitar o encontro para fazer o seu discurso de despedida como presidente da Royal Society e vai dizer que bush está pisando na bola por não honrar compromissos feitos por seu pai em 1992 ao assinar a Convenção do Clima da ONU. Vai alertar bush, usando a fina ironia dos ingleses, dizendo que o aquecimento global pode ser comparado na sua escala destrutiva aos efeitos das armas de destruição em massa. E vai dar um exemplo: o furacão Katrina! Os americanos são especialistas em caçar armas de destruição em massa no mundo inteiro, né? Então...

Bom, vai dizer ainda que bush tem omitido sistematicamente, em seus pronunciamentos, o tema da mudança climática e do aquecimento global e que Tony Barbie tem até tentado convencê-lo de que essas questões são um problema sério que o mundo precisa enfrentar. bush tem feito de bobo e deixado a conversa de Tony entrar por um ouvido e sair pelo outro, sem nem registrá-la nos seus arquivos temporários. Olhem só! Tony Barbie tendo um sonho lúcido e tentando convencer seu amigo a entrar na história! Isso não é curioso? Só os ingleses mesmo, hehehehe.

Bom, mas temos até o dia 9 de dezembro para aguardar a decisão do jeca do bush: se vai ou não assinar o bendito Protocolo. Quem sabe se Sir May terá mais sucesso que Tony?

Tô voando por aí.

Uma tarde cinzenta, mas agradável, para todos

Obscuro aliciante

Ai ai, viu. Acho que em vez de ficar 38,6% mais pobre, fiquei foi 38,6% mais burra. Olhem só, no dia 25 de outubro passado, um dia depois do referendo das armas, o presidente da frente parlamentar contrária à proibição da venda de armas, o deputado Alberto Fraga (PFL-DF), deu uma entrevista à Folha de São Paulo (página C4), falando sobre os custos da campanha.

Ele disse, naquela época, que a frente acumulara uma dívida de R$ 900 mil. E, assim como quem não quer nada, falou que se não conseguisse outros patrocinadores, recorreria às indústrias de armamento Taurus e Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC) para quitar o débito. “Eu não tenho como pagar isso não!” – foi o que ele afirmou à repórter Fabiane Leite.

O que vocês entenderam disso? Eu entendi que a campanha do “Não” foi financiada por um grupo de patrocinadores que, até então, não incluia as duas fábricas de armas que atuam no mercado brasileiro. Não é isso? Ou tô ficando boba?

Bom, naquela época ainda, o deputado Raul Jungmann (PPS-PE), tesoureiro da Frente Parlamentar pela proibição da venda de armas, não quis comentar a entrevista de Fraga, mas deixou escapar que a fala do deputado refletia “um jogo de cartas marcadas”. E mais não disse.

Muito bem. Exatamente um mês depois, no último dia 25 de novembro, também na Folha de São Paulo (página C3), o mesmo deputado Alberto Fraga declarou que a Taurus doou à campanha da frente contrária à proibição da venda de armas um total de R$ 2,828 milhões e a CBC outros R$ 2,754 milhões. Mais R$ 144 mil teriam sido arrecadados de pessoas físicas e outras empresas. Ainda segundo Fraga, em entrevista à repórter Silvana Freitas, as duas indústrias não tinham feito doações ao longo da campanha, mas foram convidadas a cobrir a dívida após a vitória do “Não”.

Ham rãm, tô sabendo. A dívida era de R$ 900 mil e as duas empresas, caridooosas elas, resolveram doar a irrisória quantia de R$ 5,582 milhões, isso depois do jogo terminado. Um valor seis vezes maior que o tamanho do buraco. Ham rãm. Me engana que eu gosto!

Aí a repórter foi atrás do Raul Jungmann e ele falou o que não havia dito daquela outra vez. Que a campanha do “Não” foi toda financiada pela indústria do armamento; que a vitória foi obtida com propaganda enganosa; que foi uma farsa; que foi um estelionato eleitoral claro e patatipatatá.

Pois é, né? O apoio da indústria de armas à campanha do “Não” já era, muito antes da prestação de contas agora apresentada, uma constatação do tipo óbvio ululante, como diria Nelson Rodrigues. Mas em sendo assim, por que tanta gente se deixou enganar por essa balela repetida à exaustão, de que votar “não”, significaria garantir o direito do cidadão (sic) de comprar armas, se assim bem entendesse? Ham?

A Rutinha é quem dizia. Se é assim que é, amanhã, podem escrever, vamos ter referendo para garantir o direito do maconheiro de plantar maconha. Huahuahua! Mas por quê? Por quê? Por quê? Aí fui pensar com o Roberto Campos, aquele economista, deputado, ministro e assim por diante. Ele defendia que, além do “óbvio ululante”, precisávamos cunhar uma nova expressão: o obscuro aliciante. O que é isso? São aquelas palavras ou expressões atraentes que nos encantam ali, no calor da luta, mas que não dizem absolutamente nada, quando penetramos no “ventre do concreto” das suas letras. São vazias e imprecisas, na sua generalidade, como as palavras de ordem adotadas pela campanha do “Não”: defesa do direito de comprar armas. Como assim, hem?

E durma-se com um barulho desses!

Eu me durmo de qualquer jeito, porque amanhã já é hoje e eu levanto é cedo.

Um abraço impreciso a todos

Da idiota de plantão.

domingo, novembro 27, 2005

No donut for you

Preciso devolver o teclado dum-dum do Maick. Então, como o domingo já está acabando, o Atlético foi rebaixado e amanhã vai ser dureza de aguentar, vou suspender minha trégua com os loucos dos ingleses. Eles não batem bem da cabeça e, talvez por isso mesmo, defendam com todas as letras a política de dar tiro na cabeça em casos de abordagem a suspeitos de terrorismo.

Tudo bem, no Brasil morre-se muito de bala na cabeça também. Fiz uma pesquisa na Folha de São Paulo e encontrei mais de 370 registros de crimes em que a vítima morreu com tiro na cabeça, incluindo policiais, ladrões, publicitários, dentistas, bancários e outros. Brasileiro também anda batendo muito a cabeça né? Mas aí é outra história. Depois penso nela.

Lá em Londres, o caso é diferente. É uma política, uma determinação. Só que, uma semana dessas pra trás, alguns ingleses resolveram questionar essa ordem. Acho que foi por conta da morte de Jean Charles de Menezes. Lembram-se dele? Aquele mineiro que estava em Londres e foi confundido com terrorista. Distraiu e levou, para trazer de souvenir, mais de oito tiros na cabeça. E não foi qualquer tiro não, foi de balas do tipo dum-dum, de uso proibido na guerra pelas convenções internacionais. Sabem porquê? Porque além de matar, essas balas estilhaçam quando em contato com o corpo e não dão à vítima nenhuma chance de sobrevivência. Morreu tá morrido.

Bom, mas aí uma parte dos ingleses começou a questionar essa política. Outra parte achava que não. Que é uma boa tática para enfrentar os suspeitos de terrorismo. Aí veio o Tony Barbie e, num dia de george bucha, não só defendeu a política do tiro na cabeça, como sugeriu que ela deveria ser empregada também em outras ocasiões. E deu exemplo. Se alguém está segurando uma criança de 10 anos com uma faca no pescoço dela e vai começar a cortá-lo, o que fazer? Para ele, o único tiro possível é na cabeça e, nesse caso, é o que tem de ser feito.

Ôw, esses caras, não sei não. Se eles têm uma polícia bem preparada, não precisa de uma política para dizer o que ela deve ou não fazer em cada situação, não é não? Cada caso é um caso, ou não é? Além disso, tem mais uma coisa. Ao mesmo tempo em que discutia essa tática do tiro na cabeça, Tony Barbie baixava uma outra política. A da boa convivência, lembram-se dela também? O inglês que não souber se comportar bem em público vai receber uma notificação, multa e até ordem de prisão. Em vez de tiros, ABOs na cabeça.

Então. O sujeito está lá andando na rua e tem um murrinha na sua frente. O que fazer? Ele não pode simplesmente esbarrar com o ombro no tal carinha e passar na frente não. Ele tem de pedir licença e, se por ventura esbarrar, tem de pedir desculpas também. Palavrinhas mágicas! Mas e aí? Cumquequié que fica? O policial vai lá pedir licença pro tal suspeito ou pro zé mané que está com a faca no pescoço do menino de 10 anos e, só depois, atirar? E depois de disparar um certeiro, vai lá pedir desculpa? Eu, heim? Quem que entende?

E tem mais, esses ingleses não param nunca. Sabem qual é o esporte predileto dos ingleses? Não é futebol, não. Futebol é só desculpa. O que eles gostam mesmo é de fazer binge drinking. Também não sabia o que era isso, mas já sei e vou explicar. Binge drinking é um hábito que eles têm de entornar todas no menor espaço de tempo e depois sair trôpegos pelas ruas já no finalzinho da noite. Eles adquiriram essa mania salutar porque lá a venda de bebida alcoólica é expressamente proibida depois das 23 horas.

Então, se eles trabalham até às 18 horas, 20 para os workholics, eles têm, no máximo, quatro ou cinco horas para beber. Aí já viu, vai todo mundo pro pub - porque lá não tem bar -, a casa fica cheia, o garçon de mal humor e ainda tem aquela dúvida – vou beber o quê? E para beliscar?. Bom, tudo resolvido, já se passou pelo menos uma hora, sobram três ou quatro. Aí vira gincana. É um copo atrás do outro para terminar rapidinho. Huahuahuahua.

Bom, mas depois de toda trapalhada que vem aprontando, o Tony Barbie resolveu limpar sua barra com os ingleses e baixou uma nova lei, em vigor desde a última quinta-feira, flexibilizando o horário de fechamento de locais que vendem bebidas. É um agrado, sacaram. Política de compensação. Não foi uma canetada geral, claro, porque lá não é essa bagunça que vocês estão pensando, né? Quem quiser adotar o novo horário tem de pedir autorização. E aí só 1. 212 pontos de venda obtiveram autorização para ficarem abertos 24 horas e, destes, só 359 são pubs ou clubes.

Hehehe, pode ser que os ingleses aprendam a beber mais devagar, mas ainda vão ter de enfrentar casa cheia ou então vão continuar praticando o esporte nacional: binge drinking.

Valeu Maick. Já passei o secador no teclado. Está novinho de novo.

Sonhos em dose dupla para todos vocês

PS: Eu, como não bebo, vou pensar na prestação de contas das campanhas do referendo das armas. Hehehe, quem financiou mesmo a campanha do Não, aquela vitoriosa, à favor da venda de armas? A resposta é do naipe do óbvio ululante, as fábricas de armas: Taurus e Companhia Brasileira de Cartuchos. Mas tem uma historinha interessante nesse rolo. Depois eu conto. Ah, ia me esquecendo. Vou anotar pra não perder. Tive uma idéia de como baixar os juros no Brasil. Sério. É uma idéia legal. Depois vou explicar.

Ufa, fiquei tonta. Essa dose foi cavalar!

Bye.

sexta-feira, novembro 25, 2005

Sonhos lúcidos

Pois é, né? Vou tomar só um cafézinho e ir embora de novo. Não resisto. Vou pensar só um pouquinho sobre o pesadelo que tive essa noite. Sonhei que os extra-terrestres vieram visitar a Terra, aqueles mesmos que outro dia apareceram no céu da Alemanha. E sonhei que eles fizeram vôos razantes sobre aquelas plagas e um panorâmico sobre o resto do mundo.

Captaram alguns sons, cheiros, brisas; copiaram algumas estatísticas dos CIs de alguns países e jogaram tudo na CPU da nave-mãe. Processaram, reprocessaram, emitiram um relatório geral, leram, analisaram, olharam um para o outro, com aquele olho esperto do meio da testa, levantaram os ombrinhos miúdos, voltaram a ler o relatório e um perguntou pro outro: entendeu alguma coisa? Hum-hum!, disse o outro. E aí?, perguntou o um. Tô fora. Acho melhor vazar, respondeu o outro. Me too. Vamos nessa, então?, falou o que começou. Demorou, encerrou o outro, concluindo o diálogo e apertando o botão vermelho que fez a nave desaparecer no escuro do céu.

Ficamos sozinhos de novo. E aí começou a ventar, ventar e tudo foi se misturando, as histórias foram se cruzando e tudo virou uma balbúrdia danada. E eu lá no meio da confusão. Huahuahua. Até sei porque tive esse pesadelo. Outro dia, estava fazendo uma leitura em diagonal das notícias da FSP, sobre a posse de Angela Merkel na Chancelaria da Alemanha. Ela virou tipo a primeira ministra do país. A primeira primeira ministra mulher. E, parece, pegou um rabo de foguete. O país está mergulhado num marasmo econômico que já dura mais de uma década. Vai ter de se debruçar sobre um caldeirão de problemas e enfrentar, não a resistência do Parlamento, onde tem a maioria, mas o fogo amigo. Tipo o Lula por aqui. E sabem por quê? Porque fez uma coalizão equivocada. Fez uma retrocoalização, como diria Roberto Campos, uma coalização para o retrocesso. Huahuahauha.

Mas o que me chamou a atenção foram os problemitos que ela terá de encarar. Conhecemos todos eles da nossa cozinha. Vou dar só um exemplo para vocês terem uma noção. Vou copiar um trecho da notícia. Olhem só:

Sem um corte do custo do trabalho, as empresas continuarão sem margem de manobra. Ademais, há regulamentações em excesso e pouca preocupação com investimentos em ciência e em tecnologia, o que, a médio e longo prazos, se traduzirá numa limitação ao crescimento. Enquanto não houver um maciço investimento em tecnologia da informação, a Alemanha continuará a apresentar índices pífios de crescimento econômico.

Não é filme repetido? Fiquei pensando que nós somos é muito distraídos. Até o Katrina passar chutando o balde em Nova Orleans e os meninos de Paris soltarem os cachorros pra cima das autoridades francesas, nós ficávamos iludidos que essa história de pobre, excluído, retrocoalizão era tudo coisa só de país do terceiro mundo, não é mesmo? Mas, parece que não é não. Estamos todos é na mesma canoa furada, perdidos no meio do oceano da globalização. Parece até pesadelo mesmo né?

Mas tem solução pra tudo nessa vida. Pois não tem? Hoje cedo, passando os olhos no jornal, em diagonal mais uma vez, porque estou sem tempo, li outra notícia que me deixou estupefada. Os austríacos (os ingleses estão fazendo escola!) descobriram um método para acabar com os pesadelos! Ói só que pena! Eu gosto de filme de suspense e de pesadelos também, principalmente depois que os filmes acabam e depois que eu acordo e vejo que tudo não passou de um sonho. Mas, agora, pode ser diferente. Os sonhadores viciados em adrenalina poderão, devidamente treinados, recobrar a consciência de sua liberdade (o diacho do livre arbítrio, mais uma vez!) e intervir no sonho, controlando seu pesadelo e alterando-o à sua vontade.

Acho que é mais ou menos assim. Se você está sonhando que está caindo num abismo sem fim, poderá mudar o curso dessa história e sair voando do fundo do poço, com suas lindas asas de anjo. Flanando por outros céus. Claro, se essa for sua vontade. Então, você se tornará um sonhador onipresente e onipotente, no comando do reino da fantasia. Essa experiência é o que os cientistas do Instituto de Pesquisa da Consciência e do Sonho, que funciona acoplado ao Hospital Geral de Viena, estão chamando de sonhos lúcidos. Um sonho em estado de consciência clara.

Daí, já estava atrasada e fui embora trabalhar. Fui ouvindo Careless Love, na voz de Madeleine Peyroux, e pensando. Talvez, os pesquisadores austríacos poderiam adotar uma pedagogia de massa e disseminar essa nova técnica entre todos os mortais. Acho que os sonhos lúcidos nos seriam mais úteis do que a razão alucinada daqueles que hoje estão no comando da nossa nave-mãe. Hehehehe.

Já vou indo porque o cafezinho está esfriando.

Sonhos lúcidos pra todos vocês ou razões alucinadas, como preferirem.

Até mais ver!

PS: Contei o meu sonho para o Olivé e ele me ensinou que, para os índios, a vida é vivida é nos sonhos mesmos. O que chamamos de vida real é que é sonho. Sonho ou pesadelo, vai saber, né?

terça-feira, novembro 22, 2005

Olha o trem!

Estou de passagem. Estou pensando em ritmo the flash sobre a conversa que tivemos ontem com o cientista político Fábio Wanderley. Foi uma conversa super saborosa. Não vou contar, né. Quem quiser saber o que rolou vai ter de esperar e assistir o programa na TV Assembléia. Não tratamos de conjuntura. Foi um depoimento longo sobre a sua vida e que se mistura, claro, em alguns momentos, com a história política do Brasil. Mas fiquei pensando foi na fala do professor sobre a questão da educação no Brasil.

Ele citou um caso muito interessante de um estudo comparativo, realizado por um colega seu, sobre a qualidade da Educação e a sua capacidade de inclusão no Brasil e na África do Sul, ainda sob a vigência do regime do apartheid! Lembram-se? Todos os indicadores adotados eram, invariavelmente, melhores na África do Sul do que no Brasil. Foi chocante, porque de lá para cá, pouca coisa mudou. Abriu-se novas vagas nas escolas, é verdade, mas essa inclusão não tem promovido a melhoria das oportunidades para essas crianças. Foram incluídas nas estatísticas, mas não na vida real. Ou, se quiserem, no mercado.

O professor Fábio Wanderley lamentou tristemente a ausência de políticas educacionais eficazes e consistentes na história recente do país. Continuamos vivendo numa sociedade de castas, como ele disse, num país com cidadãos de primeira e segunda classe. E é muito triste mesmo.

Desde o último domingo venho pensando nisso. Não exatamente na educação básica, mas na educação do terceiro grau. Li na FSP que a China quer ser um país de muitas harvards. Em 2004 investiu US$ 10,4 bilhões no ensino superior e está repatriando seus professores, que hoje atuam nas melhores universidades do mundo. É o dobro do que o Brasil vai investir, em 2005, no ensino superior. Isso se todo o recurso previsto for executado, né?

O programa que a China pretende desenvolver não é um programa de vitrine, para deixar o governo bem na foto. É uma ação de longo prazo, para os próximos 10 anos, visando as gerações futuras. E aí me lembrei dos Bric's (Brasil, Russia, Índia e China), a turma dos emergentes, daqueles que estão melhorando o seu folego para mudar de patamar. O Brasil já está se distanciando da turma, apresentando os menores índices de crescimento do grupo. Se continuarmos sem rumo, como estamos, sem políticas públicas bem definidas, principalmente para a área da Educação, acho que vamos ficar no meio da estrada. Deus me livre, hem?

Tô correndo
Bye

PS: Huahuahua. Antes de começar a me descabelar, acho que vou aderir ao Slow Movement. Semana passada, um dos pais dessa idéia, um britânico, se não me engano, esteve aqui em Belo Horizonte, fazendo palestra. Perdi. Fui muito devagar e, quando cheguei lá, já tinha acabado. Huahuahua. Mas peguei o espírito da coisa e acho que vou aderir. Vou me engajar nesse movimento. Abaixo a correria! Viva a preguiça!

sexta-feira, novembro 18, 2005

Deu roque!



Direto do teclado dum dum que o Maick me emprestou. Mas vou deixar os ingleses na prateleira por mais uns dias. O assunto é bem complexo, preciso de um plus de tempo para pensar e, de agora até o próximo dia 15, estarei atolada de trabalho até o pescoço. Não vai dar nem tempo de ler jornal. Vou deixar a minha conexão com o mundo por conta da CBN, nas mãos do Heródoto e do Sardenberg. Acho que vai dar certo.

Ontem à noite, enquanto ajudava Rafael a resolver problemas de matemática, pensei rápido sobre o tabuleiro de xadrez do planalto. Desde que a veja publicou aquela história do dinheiro de Cuba (será que os cubanos também comem criancinhas? rsrsrs), a oposição acendeu a trempe da frigideira, para fritar o presidente em fogo lento. Na última semana, a gordura ficou tão quente que quase pegou fogo. Não tenho dúvida, a oposição ameaçava o presidente com um belo de um xeque mate. Ponto para oposição. Piim.

Vai daí que chegou a vez do presidente mexer suas peças no tabuleiro. O que ele fez? Fez roque. O rei e a torre mudaram de posição e o presidente escapou, temporariamente, da ameaça do xeque. Mas, a sua política econômica foi pro centro da frigideira. A sua que, na verdade, é da oposição. Não estou nem entrando no mérito do conteúdo da política econômica, se é boa ou não, se é melhor que qual ou se nenhuma e blá blá blá.

O fato é que a política comandada por Palocci não fere os brios da oposição. Pelo contrário, é uma continuidade da política econômica que vem sendo implementada no país nos últimos 10 anos. É o orgulho do papai ferdinando. Tanto que na apresentação do ministro, na Comissão de Assuntos Econômicos, os parlamentares da oposição foram extremamente cuidadosos para argüir Palloci e defenderam com carinho especial o trabalho do ministro. Muito mais que os petistas presentes.

Arthur Virgílio (gente, eu até gosto dele, mas, sinto muito, foi hilário), ele começou gaguejando e terminou engasgado. Não sabia o que dizer. Nessa indecisão, falava pra dentro, de forma bem diferente do seu estilo habitual. De peito aberto. Não tenho dúvida, foi uma jogada perigosa, delicadíssima, xadrez radical mesmo, mas acho que o presidente deu um xeque na oposição. Bom, pelo menos por um tempo ela estará mobilizada na defesa da política de Palloci e deixará Lula de molho no escanteio. Será? Piim...o tabuleiro está com a oposição.

Well, and now? O jogo continua e assim caminha a humanidade...

Vou vendo de longe...
Até de repente!

quinta-feira, novembro 17, 2005

Da arte de copiar

Hoje é hoje. Ia pedir emprestadas as teclas dum dum do computador do Maick para pensar de novo sobre os ingleses. Esses caras não são normais. Mas acontece que a minha temporada english’s friend ainda não terminou. Por isso virei a página.

Além do mais, hoje estou amena. Estou sob baixa pressão, mais inclinada a contemplar do que a contestar. Qualquer pessoa que hoje me perguntar se não é?, vou dizer que é. Sem nem piscar. E nem vou pensar também, vou dar uma de copista, que dá menos trabalho.

E vou copiar um poema do Manoel de Barros que li hoje cedo, nas minhas orações matinais. Prefiro sempre ele, quando a alma está indócil:

Auto-Retrato

Ao nascer eu não estava acordado, de forma que
Não vi a hora.
Isso faz tempo.
Foi na beira de um rio.
Depois eu já morri 14 vezes.
Só falta a última.
Escrevi 14 livros
E deles estou livrado.
São todos repetições do primeiro.
(Posso fingir de outros, mas não posso fugir de mim).
Já plantei dezoito árvores, mas pode que só quatro.
Em pensamentos e palavras namorei noventa moças,
Mas pode que nove.
Produzi desobjetos, 35, mas pode que onze.
Cito os mais bolinados: um alicate cremoso, um abridor de amanhecer, uma fivela de prender silêncios, um prego que farfalha, um parafuso de veludo etc etc.
Tenho uma confissão: noventa por cento do que escrevo é invenção; só dez por cento que é mentira.
Quero morrer no barranco de um rio: - sem moscas na boca descampada!


PS: Olhem só se não é. Li na etiqueta de advertência que veio junto comigo quando nasci: Quem vocês pensam que ela é, não é ela. Muito menos quem ela pensa que pode ser, é ela. Para funcionar, tem de juntar tudo isso, dar um bom desconto, principalmente naquilo que ela pensa que pode ser, e acrescentar as circunstâncias. Misturar e adoçar a gosto. Aí pode ser que saia alguma coisa parecida com o que gostariam que ela fosse. Não nos responsabilizamos por defeitos de fábrica. Hehehehe.

Hasta un día, amiiigos!

terça-feira, novembro 15, 2005

Ser ou não ser, eis a questão!

"Tenho faro, não preciso de complexidade"
Boaventura de Sousa Santos, in Escrita INKZ - anti-manifesto para uma arte incapaz

Todo dia 15 de novembro, nos últimos 15 anos, aproveitava o feriado da República para montar a nossa árvore de Natal. Cada ano de um jeito. Já fizemos árvores com bolas vermelhas, outra com bolas douradas, outra só com anjos e assim por diante. A do ano passado acho que foi a mais bonita. Decidimos não comprar enfeites novos, mas fazê-los, com pedrinhas vermelhas de bijuterias, miçangas douradas e fio de nylon. Acho que foi para encerrar um ciclo mesmo.

Este ano, nem estávamos nos lembrando de jingle bell. Cada um estava ocupado com uma coisa diferente e nos desconcentramos. O espírito natalino passou batido nesse feriado. Aí, agora, no finalzinho da tarde, resolvemos assistir a um filme temático para ver se pintava um clima: O Expresso Polar. É um filme em 3D, que conta a história de crianças que estão perdendo a crença no bom velhinho e ficam ali querendo e não querendo acreditar nessa história. É bem bacaninha mesmo. Mas acho que não ajudou muito.

Ajudou foi a sossegar meus pensamentos, que estavam perdidos no meio de um mar revolto. Nestes últimos dias li tanta sopa de letrinha que os assuntos foram se misturando, se embaralhando de tal jeito que já não estava entendendo era mais nada. Mas se é mesmo para bagunçar, vamos fazer direito né? Pus tudo no liquidificador de novo e bati na velocidade mais alta.

Olhem só: tão dizendo que o mundo está passando por uma crise de identidade. Já pensei nisso, quando tentava entender o caso brasileiro. Pensei até em sugerir um divã coletivo, para resgatar a nossa trajetória histórica . Mas agora a crise está mais brava, porque rompeu fronteiras. Como no Brasil, os governantes de outras partes do mundo já não sabem mais para onde conduzir seus governados. Os governados, muito menos, não têm nem idéia de para onde querem ir. E ninguém mais sabe quem é quem e muito menos o que é que está fazendo por aqui.

A política, que ajudava a dar esse rumo, perdeu seu norte e ficou presa numa luta de foice dentro de um quarto escuro, onde alguns poucos, que se dizem representantes de alguns muitos, disputam espaços minguados dentro de estruturas de poder que não têm mais nenhuma relevância, a não ser garantir um mensalão para seus donos. Num Estado mínimo, incapaz de atender às demandas básicas de uma sociedade, para que serve a política? Numa sociedade com interesses totalmente fragmentados, reduzidos a causas particulares, pra que serve a política?

Quando a vida era menos complicada, a política ajudava a organizar esses interesses e encaminhá-los aos governantes que, com bom senso, estabeleciam prioridades e atendiam-nas conforme essa ordem. Hoje esses interesses são múltiplos, dispersos e muitos brigam entre si. Não há também assim mais partidos políticos que dêem conta de representá-los e nem espaços democráticos onde cada grupo possa, por si só, defender suas causas. E aí, para que serve a política, se o encontro é improvável ou impossível?

O mercado, com sua mão invisível, que anunciava ser capaz de sozinho comandar o espetáculo da construção humana, hoje é um ator secundário, sem prestígio. Não dá conta nem de gerar riqueza suficiente para distribuí-la, se não de forma igual, ao menos de forma justa, entre todos os figurantes. Hoje, tem mais gente no banco de reserva do que no campo jogando, como diria Lula. E eu acho é que tem mais gente na geral, só assistindo ao jogo de longe, do que preparado para entrar em campo. Hoje o mercado atende basicamente 10% da população. Os demais são atendidos pela pirataria que navega em mar aberto, sem nenhum controle, vendendo até remédio falsificado!

As oportunidades iguais, que o mercado um dia prometeu criar, para que cada um, de seu próprio jeito, encontrasse diferentes caminhos para se afirmar nesse mundão, foram distribuídas só para os amigos do rei. Os demais estão aí, jogando coquetel molotov no carro dos outros ou encostando caco de vidro no pescoço alheio, quando não um trezoitão, por conta de uns cinquentinhas ou um celular com microchip. Os velhos, eles nem querem saber. Outro dia, tomaram o celular do Daniel. Viram que era um modelo antigo, chamaram ele de volta e devolveram. Acharam ruim ainda. Ói só!

Então, não é a barbárie moderna, sob o comando dos barões da ciranda financeira? Estes sim, são poderosos! Donos, no entanto, de um império virtual, nunca se esqueçam disso!

Mas o que eu fiquei mesmo pensando hoje é se não estaríamos patinando na lama de velhas soluções. Tudo bem, nossos problemas também já estão bem batidos. Não fomos criativos ao propormos novos desafios. Mas o mundo em que estamos vivendo hoje é muito diferente daquele de trinta anos atrás. Isso eu sei que é. Sou testemunha ocular da história (rs). Pois não estamos num mundo, agora sim, globalizado? As informações hoje não circulam o planeta todo em poucos segundos? Uma borboleta que bate as asas no Japão não provoca um furacão nas ilhas da américa central? Não falamos todos a mesma língua do querer mais? Então, não é natural que um argelino se ache francês? Um indiano seja confundido com um mineiro de Governador Valadares? Uma canedense seja parecida com uma chinezinha? E assim por diante?

Será que não teríamos, então, de estar buscando soluções planetárias? Fortalecendo instituições globalizadas, capazes de dar conta da nossa diversidade cultural, mas legitimadas para falar em nome da República Terra? Fiquei pensando nisso, enquando o liquidificador girava na velocidade máxima.

Sonhos estratosféricos para todos.

sábado, novembro 12, 2005

Here we go!!!

Sexta-feira topei foi com a futura geração brasileira. Bem na porta do prédio onde trabalho. Tive de abrir caminho entre bombetas e moletons, dim dim dom. Tênis all star de cano longo do oi, pedacinhos de saia, bolinhas coloridas em cabelos de trancinha e okiscuros no nariz.

A futura geração brasileira não parecia levar coquetel molotov na mochila. Muito pelo contrário, estava armada de uma boa dose de paciência. Passou o dia inteiro em salas sem janela, parlando, parlando, parlando. Inventando um jeito de cair fora do destino que estamos embrulhando para ela. Embrulhando e enfeitando, com laço de fita vermelha e cartãozinho: Bem vinda ao nada!

Depois de traçar uma quentinha no corredor cultural que leva ao auditório, a futura geração brasileira ainda rendeu mais tempo para aprovar um novo enredo para essa história. As minas e os manos da Gerais vão defender em Brasília a inclusão, no Plano Nacional de Juventude, de um programa de capacitação profissional e políticas públicas que incentivem o primeiro emprego. Bunitinhos eles!

Por enquanto, estão acreditando que estão convidados para o grande espetáculo da construção humana. Tomara que não estejam errados. Não eram muitos, talvez uns 250 membros filiados de carteirinha da futura geração. Mas se cada um tem uma turma de dez amigos e conversa com ela sobre as batatinhas do seu dia, são mais de dois mil que estiveram ali representados. Um bom começo.

Quando foram embora, fiquei pensando: haja paciência histórica! O Brasil ainda não é um primor de participação cidadã. Por coincidência, na mesma sexta, recebi pelo correio o resultado de uma pesquisa da Rede Interamericana para a Democracia, com os novos números do IPC. Não o Índice de Preços ao Consumidor, mas o Índice de Participação Cidadã de sete países da América Latina. O Brasil conseguiu segurar a lanterninha. Ficou em último lugar. O primeiro é a República Dominicana, seguida do Chile, Peru, Argentina, México e Costa Rica.

Na República Dominicana, a maior participação é em atividades políticas, por meio de organizações religiosas. No Brasil, o canal de participação também são essas organizações, mas o envolvimento das pessoas é mais em torno de questões da comunidade, do bairro e da cidade. Engraçadamente, os homens participam mais que as mulheres, menos no Peru e na Argentina, onde os dois marcam presença juntos.

Nesses países, a participação cidadã tem significados diferentes. Para 66,3% da população militante da República Dominicana, a participação significa comprometer-se com uma causa, com um ideal: é atuar. Para 61,8% dos brasileiros que estão mobilizados em alguma atividade cidadã, significa ajudar, colaborar. É o nosso espírito cristão enraizado até a alma. Para 41,8% dos chilenos, atuar dá o sentido de pertencer a um grupo.

Já a não-participação é percebida na República Dominicana como omissão, por falta de interesse ou egoísmo. No Brasil, como somos mais tolerantes em tudo, a desculpa é falta de tempo. No máximo, falta de informação. Nos sete países, o engajamento é maior entre os adultos, na faixa de 36 a 55 anos, e menor, entre os jovens, de 18 a 25 anos.

O que vi na sexta-feira, portanto, não foi um fato banal. Foi um momento histórico. Pois eram ainda crianças, entre 16 e 20 anos, talvez. Enforcaram a sexta-feira, mas em vez de ir bombar no shopping, foram trocar figurinhas numa sala sem janela. Foram correr atrás do prejuízo.

São bunitinhos ou não são? Eu acho. Foi uma história de feliz que eles me contaram e, por isso, enquanto abria caminho entre aqueles meninos e meninas, estendi a minha mão para quantos deram e cumprimentei-os alegremente. Toquei nas mãos espalmadas de outros, pra ver também se essa tal de esperança pega que nem gripe, só no contato. Acho que fui contaminada, mas segunda-feira já estarei melhor. Hehehe.

Demorou.
Até mais ver, amigos!

quarta-feira, novembro 09, 2005

Ideologia, eu quero uma pra viver

Desde que 73% dos franceses se manifestaram, numa pesquisa de opinião pública, realizada no início da semana, favoráveis à adoção do toque de recolher, achei melhor não tocar mais nesse assunto. Fazer o quê? Se eles que são eles aceitaram abrir mão do estado de direito, nós que estamos aqui, na periferia da perifeira, vamos questionar? Eu, hem? Tô fora. Villepin e Sarkozy, claro, já sabiam da pesquisa quando anunciaram as medidas e se apoiaram no choix collectif du couvre-feu, para confirmá-lo à sociedade.

Mas aí, olhem só, há controvérsias em relação à opinião dos franceses. O Le Monde, que é um jornal francês importante, uma voz nem muito conservadora nem muito revolucionária, criticou hoje, duramente, as autoridades francesas e, em particular, Dominique de Villepin, o primeiro-ministro. Para o jornal, que fala com certeza em nome de uma parcela significativa da população francesa, a "exumação de uma legislação de 1955 envia aos jovens dos subúrbios uma mensagem de uma brutalidade incomensurável: 50 anos depois, a França os quer tratar como tratou seus avós". E mais, Colombani (parece o nome do meu avô Columbano, rs), diretor do jornal e autor do editorial de hoje, lembra que "essa engrenagem de incompreensão e destempero marcial" foi responsável pelos piores momentos da República Francesa. Ainda sobrevivem alguns corações sensíveis nesse mundão sem porteira, hem?

Tô voltando ao assunto também, porque me incomoda por demais a sonseira das autoridades francesas e dos que estão comentando esse episódio dos meninos de Paris. Eles arregalam os olhos, encolhem os ombros e se espantam até onde não podem mais, quando tentam entender a agilidade e a mobilidade da futura geração nas suas investidas noturnas. "Este é um movimento sem líderes; os incendiários franceses são senhores de seus atos, não seguem nenhuma entidade, nem nenhum guia, como é que eles se organizam???" e, por aí afora vai.

Tudo bem, Manuel Castells não é francês, mas Pierre Levi acho que é. Agora bateu uma dúvida, Rutinha. Ele é francês e judeu ou é judeu e austríaco? De onde tirei isso, hem? Bom, seja lá de onde forem, todos dois já falam das sociedades em rede há décadas. O tráfico de drogas se organiza em redes, isso é óbvio. Os terroristas fazem isso também. O exército americano adotou uma estratégia de redes na última invasão ao Iraque. As empresas ainda não sabem disso, ou fingem não saber, mas, dentro das organizações, as informações também circulam é em rede e não pelos corredores da hierarquia. O Cláudio conhece bem isso e sabe que o conhecimento é repassado pelas equipes por meio de redes informais e não necessariamente via gerente. Pois é assim que nos movimentamos no mundo de hoje, em rede. Não é isso que estamos fazendo aqui?


E a força da interação dessas redes, que vão se formando num universo virtual, quase imaginário, de mentirinha, é tão poderosa quanto um sinal de alarme num prédio em fogo. Todos agem imediatamente, rapidamente e confiantemente, porque o que tem de ser feito é ruminado, mastigado, digerido lentamente, em diferentes praças, até virar uma idéia e saltar da tela para o mundo real. E depois que um diz Go!, a notícia se espalha como numa rede neural, as sinapses vão se fazendo uma a uma e os comandos são transmitidos instântaneamente.

Olhem só, para o bem e para o mal, depende da situação, né? O Daniel, por exemplo, participa de várias redes que, às vezes, se interagem e às vezes não. Mas cada uma em particular, já tem uma força impensável. Ele participa de fóruns de case mod, por exemplo, e dali, de um espaço virtual, eles trocam informações sobre como modificar os computadores, como operar as ferramentas e assim por diante; eles organizam encontros nacionais (agora no final de novembro vai ter um no Rio, com meninos do Brasil inteiro!), regionais e locais. Tudo isso, sem nunca terem se visto antes. O Dani tem amigos do Rio Grande do Sul até o Amazonas. Com um clique ele fala com todos eles. É assim, gente! Há muito tempo! Tão estranhando o quê? Dwããr!

Lembrei-me de outra coisa hoje, não quero esquecer. A angústia dos meninos de Paris já foi cantada até por Cazuza. Já faz tempo também, não é não? Ideologia, quero uma pra viver, lembram-se? Vou copiar a letra para não esquecermos.

Já vou tarde, eu sei
Fiquem com a voz cortante de Cazuza...

Ideologia

Meu partido
É um coração partido
E as ilusões estão todas perdidas
Os meus sonhos foram todos vendidos
Tão barato que eu nem acredito
Ah, eu nem acredito
Que aquele garoto que ia mudar o mundo
Frequenta agora as festas do "Grand Monde "

Meus heróis morreram de overdose
Meus inimigos estão no poder
Ideologia
Eu quero uma pra viver
Ideologia
Eu quero uma pra viver

O meu prazer
Agora é risco de vida
Meu sex and drugs não tem nenhum rock 'n' roll
Eu vou pagar a conta do analista
Pra nunca mais ter que saber quem eu sou
Pois aquele garoto que ia mudar o mundo
(Mudar o mundo)
Agora assiste a tudo em cima do muro

Meus heróis morreram de overdose
Meus inimigos estão no poder
Ideologia
Eu quero uma pra viver
Ideologia
Pra viver

terça-feira, novembro 08, 2005

Cinema, aspirinas e urubus

Voltei, não disse. Pois é, estava na CBN, ouvindo o Sardenberg, e tive uma boa notícia. O filme Cinema, aspirinas e urubus, do pernambucano Marcelo Gomes, produzido pela mineira Vânia Catani (rsrsrs), está sendo exibido no Festival de Cinema de Manaus. Em maio, ele foi apresentado no Festival de Cannes e ganhou o prêmio da Educação Nacional, concedido pelo Ministério da Educação da França. No início do mês, ganhou o Troféu Bandeira Paulista,da Mostra Internacional de Cinema de São Paulo. Foi a primeira vez que um diretor brasileiro levou o troféu. Como vêem, é um filme já viajado e premiado. Só nós que ainda não vimos.

Eu pelo menos não vi, mas tenho certeza de que é coisa boa, se não a Vânia não estaria metida nessa história, né Juju? Achei um resumo da história na internet e vou adiantar um pouco o assunto para o público potencial, nós mesmos, pobres mortais. Eu pelo menos gosto de saber do que se trata, antes de sair de casa para ir assistir a um filme. Então, Cinema, aspirinas e urubus conta a viagem, pelo Nordeste do Brasil, de dois homens: um alemão que fugiu da guerra e um brasileiro que tenta escapar da miséria do sertão e da seca. A dupla, montada num caminhão, passa a exibir, para uma platéia absolutamente atônita e faminta de cultura, filmes patrocinados pela fabricante da aspirina. Contei o quê, agora o como só vendo, né? Deve ser muito bacana, como foi Narradores de Javé.

Quem quiser ler uma entrevista do diretor Marcelo Gomes, vou colar o link em algum canto desse poste. Descubram, se forem capazes!

Vinho de Rosas
Esse eu vi e recomendo, mas continuo na fila de espera para ver de novo. Os paulistas também já viram, há umas duas semanas atrás, durante 29ª Mostra BR de Cinema e a Mostra Internacional de Cinema. E aqui, mais uma vez, tem o dedo de Minas: na direção e no roteiro, pra não falar nos atores. Vinho de Rosas, de Elza Cataldo, conta a história de Joaquina, filha única e legítima de Tiradentes, que foi separada da mãe quando tinha apenas três anos. O filme consumiu sete anos de pesquisas, estudos e muita paixão, além de trabalho, trabalho, trabalho. É fascinante! A fotografia é belíssima! E juntando tudo isso com o jeito delicado como Elza contou a história, entra pra lista dos imperdíveis também. Eu não perco.

PS: Não vou falar dos meninos franceses, que agora estão trancafiados dentro de casa. Não vou falar da decisão de Villepin de recorrer a uma lei de 1955 e decretar estado de emergência na França. Não vou falar que, além do toque de recolher, essa lei permite as buscas domiciliares sem mandado judicial, sempre que a autoridade policial desconfiar de que ali, naquela casa, alguém esconde uma arma! Isso é lá com os franceses. Eles é que devem se entender. Mas fico temendo e desconfiada de que o que a futura geração, o que os meninos de Paris estão pedindo é outra coisa. Sei não.

Tô indo de novo.
Com certeza, volto. Mas só de repente, no susto.

beijins

Toque de recolher

Ou Mansos Delírios II

Sarkosy não lê blogs e Clóvis Rossi não lê a Folha de São Paulo. O primeiro acha que a futura geração é a escória da sociedade francesa. O segundo acha que é o exército da violência, recrutado pelos chefes da droga, no caso brasileiro, e/ou dos líderes islamistas radicais, no caso francês. De um incerto ponto de vista, eles até podem ter razão. Mas é, por isso mesmo, que a futura geração ateia fogo nos carros. Muito mais que mc donalds, o automóvel é o símbolo mais forte da nossa modernidade: é a máquina da velocidade, a marca do poder.

Olhando de um incerto jeito, Sarkosy e Rossi até devem ter razão de achar que esse é mais um caso de polícia do que de política social, pois a onda de violência, que agora se espalha como erva daninha para outras cidades européias, passa apenas de raspão pela segurança dos que estão no andar de cima. Assusta muito mais os vizinhos da futura geração do que aqueles que a puseram ali onde ela está hoje. Isso vale tanto para França, quanto para o Brasil, onde a violência é muito maior nos bairros da periferia do que em Jardins ou no São Bento. São os filhos da pobreza que estão morrendo com tiros na cabeça, golpes de foice, chutes e pauladas, além de fome e diarréia, claro.

Mas quem lê Folha de São Paulo ou escuta a CBN, distraidamente, sabe que a futura geração, assim como uma criança birrenta, carente de pai e mãe, está esperneando é para ver se consegue alguns minutos de atenção. Inconformada com a sua condição de desprezível, descartável, desnecessária e de tudo destituída, está chutando o balde é para mostrar que está presente, incluidíssima. Que está vendo tudo, que está sabendo das coisas e o que não quer mais é brincar de estatística nos relatórios da ONU, do PNUD, do Bird, da Unesco e de outras instituições relevantes dos G-7 ou G-8 da vida.

É claro que agora a futura geração não está brigando por liberdade, igualdade e fraternidade. Liberdade para vadiar? Igualdade para vestir uma velha calça jeans azul e desbotada? Fraternidade para dividir as tralhas? Qualé, mano? A futura geração está brigando é por um lugar ao sol. Não é por ideologia, pela causa ou por dinheiro. No mesmo caderno da Folha de São Paulo, onde saiu hoje o artigo de Clóvis Rossi, um jovem francês, membro da futura geração, promete continuar queimando tudo, até ser respeitado. São palavras dele:

Não tenho trabalho, respeito, não tenho nada. Então queimo mesmo, vou continuar queimando tudo. Tudo o que for do Estado, do governo ou das empresas vai ser queimado.

Dá medo? Claro que dá. Eu tenho. Hoje o mundo é todo muito desigual. Os bolsões de pobreza estão espalhados por todo canto. Igualdade só mesmo para os que já nasceram iguais. Por isso, a França não é diferente da Alemanha, que não é diferente da Bélgica, que não é diferente da Inglaterra, que não é diferente dos Estados Unidos, que não é diferente da Argentina, que não é diferente do Brasil e assim por diante. O que falta lá, falta em todos os lugares: emprego, ou que outro nome terá nesse nosso tempo presente, a oportunidade de realizarmos nosso potencial criativo e alcançarmos nossa autonomia.

Mas já faz tempo que o sr. emprego morreu. Depois vou procurar estatísticas na internet sobre isso. Nem precisava, pois hoje, isso sabemos todos, o que as empresas estão produzindo são marcas, conceitos, idéias - os famosos intangíveis - que dão algum emprego, mas para poucos. No mais, gera é subemprego. O lucro mesmo vem é das aplicações financeiras. Riqueza virtual, que está girando em alta velocidade pelo mundo inteiro. Para se ter uma idéia, nos últimos cinco anos, o imenso volume de comércio mundial, que beira os US$ 4 trilhões por ano, é responsável por menos de 10% dos fluxos financeiros a cada vinte e quatro horas, movimentação que soma US$ 1, 5 trilhões todos os dias. Se entendi, de toda a grana que passeia pelo mundo durante um dia, só 10% estão relacionados com business, negócios. O restante é papel que viaja entre bytes em busca de melhores taxas de remuneração. É dinheiro de mentira e que só vemos de passagem. Tô certa?

Olhem só. Na mesma Folha de São Paulo de hoje, bem ao lado da notícia sobre a violência na França, tem uma notinha bem pequena, na coluna da esquerda, anunciando o resultado do trimestre do Bradesco. Lucrou R$ 4,05 bilhões, 102% a mais que em 2004, enquanto a nossa economia está crescendo a índices não superiores a 4%. Tem alguma coisa errada? Não seria hora de sugerirmos um toque de recolher para essa turminha de baderneiros que anda freqüentando o cassino da especulação financeira, desviando, ou melhor, sequestrando o dinheiro das empresas, tão necessário para novos investimentos e para geração de futuros empregos?

Tô indo. Mas volto, de repente.

domingo, novembro 06, 2005

Louvado seja

Ufa! Até que enfim eles chegaram. Pensava que estávamos, o mundo todo, condenados eternamente a esse delírio manso, que está nos tirando o chão, a intervalos cada vez menores. Mas, parece que agora poderemos contar com ajuda externa para sairmos dessa encrenca toda em que nos metemos. Com distanciamento crítico, acho que eles terão condições de nos apontar alguns caminhos. Estamos salvos!

Li no site da UOL que foram vistas, na última sexta-feira, no céu de várias regiões da Alemanha e da Holanda "bolas de fogo" (hanrran) que "pareciam coisa saída de um filme de terror e ficção científica". É claro que a Nasa correu para dizer que as tais bolas tratavam-se de "uma bizarra temporada anual de meteoros". Temporada anual? Como assim? Não sabia que tínhamos essa temporada. Já ouvi falar de temporada de verão, temporada de inverno, temporada de ópera e assim por diante. Mas temporada de meteoros é a primeira vez que escuto.

Ainda segundo o site da Nasa, essas bolas de fogo "foram vistas em outros lugares do mundo, talvez pelo fato de que a órbita da Terra esteja atravessando uma zona de destroços espaciais". Talvez? Me desculpem, mas talvez é muito para Nasa, né? Ou estamos ou não estamos. Será que os cientistas da Nasa não têm competência para afirmar isso ou será que eles também estão desconfiados de que as bolas de fogo são objetos não-identificados, vulgo naves extraterrestres, chegando com ordens expressas para intervir no pedaço?

Prefiro engrossar a lista dos que acreditam que são OVNIS. Já acreditei em tanta coisa esse ano que essa nova crença não vai ser tão estranha assim.

Bem vindos seres inter-galáticos e bom trabalho!

Agora que uma luz se acende no fim do túnel, que a calmaria nos ameaça e que o universo começa a conspirar a nosso favor, vamos sentar, conversar direitinho e começar tudo de novo. Do zero. Que tal, bush?


Para vocês, um soninho bom e um despertar com o canto dos bem-te-vis.

Mansos delírios

Quer saber? Enquanto o bush se prepara pra esquentar uma carninha no chapadão do planalto, vou passear no parque. Vou fazer só um desvio para não me esquecer da histórinha que o Cláudio me contou. Ele estava conversando com um motorista de táxi. Pois é, o carro dele continua comigo, hehehe. E não é que as danadas das pastilhas de freio deram de acabar logo quando a jipeira estava na minha mão? Já viram, né? De quem é a culpa? De quem? Que posso eu fazer? Durante a semana não dá para ficar dirigindo, só mesmo pilotando pra não perder a hora. Então freio com vontade mesmo. Mas não acredito que tenha sido meu jeito estranho de dirigir que estragou as pastilhas. Sinceramente, não. O que estava dizendo mesmo?

Ah, sim. Então. O Cláudio estava conversando com o motorista de táxi e os dois comentavam a vinda de bush ao Brasil. bush mesmo, aquele que não assinou o Protocolo de Kioto. E vai daí que um falou mal do moço, o outro criticou também, o um endossou e o papo rolou. Nessa engrenada, um deixou escapar que bush seria o líder mundial. E é, né? Mas que líder que nada, desqualificou o outro. Líder que é líder de fato não sai por aí afora distribuindo a morte pra seus vizinhos, oferece é um ombro, a mão, um lugar na mesa, alimento para fomes diversas e outras cositas más, pero desde de que não façam mal a ninguém, pelo contrário, elevem é os pontos de vida dos parceiros de jogo. Ponto, parágrafo.

Então fui. Vamos passear no parque, wôu wôu. Fui andar. Vichi! Houston, temos problemas. Ainda não tinha contado essa, mas acontece que tenho outra mania. Quando preciso pensar alguma coisa e não estou me concentrando bem, gosto de sair andando por aí. Ajuda muito. Então, já viram, né? Na virada da primeira travessa, algumas idéias foram se juntando a outras e formaram um pensamento do porte de uma tsunami. Quase me jogou de cara no tronco de uma árvore que, distraída, não vi.

Foi assim, ó: estava andando e ouvindo George Moustaki. Avec ma guele de métèque/De juif errant de pâtre grec/Et mes cheveux aus quatre vents/Avec mes yeux tout délavès/Que me donnent l’air de rêver/Moi qui ne rêve plus souvent...Aí pensei nas ruas de Paris, por onde gosto de passear, quando estou plugada. Imediatamente, me afastei do centro e acabei saindo pela periferia e caindo no coração de Seine-Saint-Deni.

Foi daí que dei de cara com a futura geração. Ela me olhava com olhos estatelados, como alguém que não enxerga mais nada a sua frente. Estendia as mãos vazias bem debaixo do meu nariz, como se esperasse que dele escorresse algum projeto de vida mais digno do que este que traz acorrentado a seus pés. Balançava a cabeça de um lado para o outro, como que tentando se enquadrar no foco dos meus olhos. Agitava os braços e pulava na forma de polichinelos, bem ritmados, como alguém que pede encarecidamente para ser visto. E eu via, só não enxergava. Exausta, a futura geração se afastou e depois não vi mais nada.

Vai que o que me veio à cabeça foi só uma seqüência de números: 70, 180, 240, 700, 900 e assim por diante. Tantos quantos foram os carros incendiados nas ruas de Paris e entorno, nos últimos 10 dias. Não foram vândalos. Acho que não. Preciso avisar Villepin. Acho que vi quem foi. Foi a futura geração dando um toque para ser lembrada. Foram só meninos, crianças ainda, filhos dos relegados, dos repudiados, dos banidos, também chamados excluídos, mas que, de uma forma mesmo que meio desajeitada, estão sim tão dentro quanto todos os demais. Incluídos até a medula. Ainda que alguns não os vejam e garantam que eles estão é de um lado de fora, se isso existe.

Antes de ouvir as vozes de Dani e Rafael – olha, que vai bater! – ainda tive tempo de me lembrar de Viviane Forrester. Acho que ela também viu a futura geração destrambelada, andando solta por aí. Bem antes de mim, claro, lá pelos idos de 1996. Ela terminou o seu Horror Econômico com uma perguntinha básica: seria insensato esperar, enfim, não um pouco de amor, tão vago, tão fácil de declarar, tão satisfeito de si, e que se autoriza a fazer uso de todos os castigos, mas a audácia de um sentimento áspero, ingrato, de um rigor intratável e que se recusa a qualquer exceção: o respeito?

E aí parei, a menos de um palmo do tronco da árvore. De volta para casa, não sei porquê, me deu uma vontade danada de implicar por implicar. Implicar que nem a Bibizinha da piada. Tava ela lá, na porta do colégio. Aí viu o sorveteiro e foi lá: tem sorvete de jiló? Tem não minina! Ói só! No outro dia, terminou a aula e lá estava a Bibizinha de novo: tem sorvete de jiló? Tem não minina, já falei! Mais um dia e a mesma coisa. Na sexta-feira, o sorveteiro pensou: vou fazer uma criança feliz! Daí a pouco chega a Bibizinha: tem sorvete de jiló? Tem sim. E a Bibizinha: Eeeeca!

Sonhos atormentados, mas um alegre despertar para todos!
E, ainda assim, gracias a la vida!