segunda-feira, fevereiro 26, 2007

Quem me explica?

Trilha alternativa: Quem é o tio da colher?

Caí num poço de dúvidas!

Por que o novo garoto-propaganda da Net é um coronel russo?

Por que só nas propagandas as crianças são tão obedientes, tranqüilas, sorridentes, alegres, felizes e boazinhas?

Por que no anúncio da cerveja Sol, eles cantam um refrão para a brahma? brahma agora que o verão já começou!

Por que o Unibanco nem parece banco? É ruim ser banco?

Por que Bill Gates controla o acesso de seus filhos ao computador, inclusive internet, limitando-o a 45 minutos por semana?

Por que os meninos só escrevem em código no msn?

Por que meus arquivos às vezes desaparecem?

Por que meus arquivos às vezes reaparecem quando desligo e ligo o computador novamente?

Por que não temos um chip-google na cabeça?

Por que bush marcou sua visita ao Brasil para o dia 8 de março, Dia Internacional da Mulher?

Por que bush não assina o Tratado de Kioto?

Por que bush está criando clima com o Irã?

Por que bush gosta de comprar briga e vender arma?

Por que bush resolveu bater pé no Iraque?

Por que bush não nos deixa em paz?

Por que o governo Lula não pode gastar parte de suas reservas bilionárias em dólares em projetos e políticas públicas que demandam recursos urgentes?

Por que os índices de inflação na era Lula são tão baixos se o preço de quase tudo está subindo?

Por que o Lula não desembucha e anuncia logo seu ministério?

Por que Lulalá e não aqui?

Por que os partidos políticos estão trocando de nome, logo agora que já estávamos nos familiarizando com todos eles?

Por que as meninas de hoje querem ser tão magras e frágeis e os meninos tão fortes e bombados?

Por que as mulheres de hoje preferem botox a bombom?

Por que as companhias de telefonia celular gastam tanto dinheiro em publicidade?

Por que as publicidades das companhias de telefonia celular são tão bonitas e esses aparelhinhos tão irritantes?

Por que as companhias de telefonia celular oferecem tantas promoções e planos especiais que até nos confundem e nos fazem perder todas as oportunidades?

Por que as companhias de telefonia celular resistem tanto a cancelar a assinatura de um número que, na prática, já está inativo há tempos?

Por que as companhias de telefonia celular não nos deixam em paz?

Por que Tony Barbie está batendo em retirada do Iraque?

Por que Tony Barbie está preocupado com o que os Estados Unidos podem fazer com o Irã? O que ele sabe que nós não sabemos?

Por que Omo lava mais branco? (essa dúvida é velha)

Por que não deixo vocês em paz?

Tenho mais um poço reserva de dúvidas inexplorado. Mas vou deixar para outro dia, então.

Uma noite povoada de estrelas para todos. E um despertar com o sol quente, graças a deus!, e passarinhos piando na janela.

Até.

Só mais uma perguntinha. Por que esse cara toca violão com a colher? Tá bom, tá bom, retiro minha pergunta. Mesmo porque, gostei dessa música, parece comigo pensando, sempre a mesma ladainha.

quarta-feira, fevereiro 21, 2007

A última flor do lácio

Trilha alternativa: dica de um primo e homenagem a quem soube valorizar tudo de bom que nós brasileiros temos: Humberto Mauro.

Ah, neeem! Era só o que faltava. Além da calça jeans, das sandálias havayanas, dos bermudões caindo, dos óculos de armação preta, dos cabelos desestruturados, vestidinhos floridos de alcinha, das microssaias, das cinturas nos quadris e camisetas babylook tamanho pp, vamos ter de aturar no futuro mais essa mesmice? Não bastam também os trezentos e vinte e sete programas realityshows, todos a mesma bobagem, que somos obrigados a ver nos 99 canais da tevê a cabo? As mesmas músicas, as mesmas notícias, as mesmas histórias que se repetem em várias versões? Neemm! Essa globalização está nos matando. Mais essa, será o golpe mortal.

Outro dia, li no portal G1 que, de agora pra frente, entre as várias extinções que vamos assistir, como a das canetas bics, carros movidos à gasolina, pcs de todas as marcas, dvds, cds, tvs, dinheiro em espécie, lobo guará, mico de circo, leão faminto entre outras raças, vamos ser testemunhas oculares do extermínio em massa de milhares de línguas. Olha só? É o fim da babel que, diferente do filme e ao contrário do que muitos pensam, tanto nos diverte e tanto nos aproxima.

Segundo a notícia, a Associação Americana para o Progresso da Ciência está anunciando o desaparecimento de quase todos os 6 mil idiomas que hoje são falados no mundo. O professor Michael Krauss, da Universidade do Alaska em Fairbanks, que não é doido nem bate a cabeça, alertou que essa possibilidade deve ser vista como algo tão assustador quanto a perda de 90% das espécies biológicas do planeta. Para Krauss o valor de um idioma vai muito além do mundo acadêmico. A linguagem de um povo guarda a sabedoria intelectual de sua gente, as suas observações e as suas adaptações ao mundo.

Toda vez que perdemos (uma língua) perdemos também uma boa parte de nossa adaptabilidade e de nossa diversidade, que nos dão nossa força e nossa habilidade de sobreviver.

Palavras bastante sensatas do professor Michael Krauss.

Pois é, já os ingleses não são assim. Não são pessoas que poderíamos chamar de muito sensatas. Já concordamos sobre isso. São uns loucos, eles, não são? No mesmo jornal onde li o artigo do professor Renato Janine Ribeiro, li uma denúncia e um desabafo do professor Luiz Costa Lima, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, sobre mais uma presepada dos ingleses.

A gloriosa Universidade de Cambridge acabou de anunciar o encerramento da licenciatura em português, reduzindo o ensino das atuais cadeiras de língua, lingüística e literaturas portuguesa, brasileira e moçambicana e angolana a uma única cadeira, combinando, segundo suas palavras, com pequenos componentes adicionais inseridos em cadeiras de espanhol, em nível de licenciatura e mestrado. Permanecerão apenas os estudos em nível de licenciatura para o alemão, espanhol, francês, grego contemporâneo, italiano, holandês e russo, além do inglês, claro, que está em outro departamento.

Sentiu o drama. Está traçado o mapa da sobrevivência. E a primeira vítima fomos nós, apesar do português ter sido selecionado para especial louvor entre todas as disciplinas de licenciatura da Faculdade de Línguas Modernas e Medievais de Cambridge nas duas últimas avaliações externas da Faculdade. Apesar de sermos 210 milhões de pessoas, em quatro continentes, recorrendo a ela para se comunicar. Apesar da Mangueira, nossa eterna campeã verde e rosa, que este ano escolheu como tema do seu samba enredo a nossa língua pátria. Apesar de Machado, de Bandeira, de Oswald, João Cabral, Guimarães, Drummond, de Cecília, Clarice e de todos os outros que deixei de citar por falta de espaço e ainda mais, muito humildemente, apesar de todos nós e desta que aqui está.

A gravidade dessa notícia parece, no entanto, não afetar o humor das autoridades competentes. Nem uma reação foi registrada. O professor Luiz Costa Lima acredita, sabiamente, que se houvesse um embargo no mercado internacional para algum produto brasileiro, aí sim, o governo reagiria prontamente. Mas uma restrição à nossa língua, cá pra nós, hem? Não rende nem uma notinha de pé de página nos jornais, não é não? Aposto que alguém deve ter até comentado: bobagem. Nem nós estamos mais apostando no português, olha os meninos como andam escrevendo! Ai! não dou conta dessa visão estreita do mundo!

Como o professor Luiz Costa Lima, espero que esteja enganada. Espero que nossos intelectuais de plantão estejam atentos. Espero que estejam planejando uma grande reação. Espero que lutem com todas as armas (acentos, vírgulas, hífens, conjugações verbais, regências nominais e etc) em defesa da nossa língua. Espero, fervorosamente, que amanhã e todos os outros dias que se seguirão, ainda possa continuar, até ficar velhinha e gagá, escrevendo e pensando em português, a única língua que dei conta, mal-mal, de aprender.


Um dicionário de palavras portuguesas, lindas, sonoras e coloridas para todos.

Até mais um dia, que o trabalho me aguarda...

Segue, conforme o prometido, um tesouro nacional e uma obra prima do cinema mundial!

segunda-feira, fevereiro 19, 2007

Cidades muito

Trilha alternativa: Vá lá, Caetano e Gil juntos, cantando Haiti. Não resisti. A canja no pé do post, conforme o combinado.

Sei que a franqueza nem sempre é uma virtude, mas ainda assim é preferível à indiferença. Já estou rodeando este assunto tem dias e me recusando a pensar nele. Ainda mais agora, em pleno vigor do estado de alegria. Mas ontem li o artigo de Renato Janine Ribeiro no Mais! e fiquei comovida. Ele, como todos nós, está perplexo, desorientado e perdido diante da crueza dos fatos.

Vou dizer também: pra mim, está ficando insuportável levantar todos os dias lamentando a morte de pessoas saudáveis, vítimas da violência de todo tipo e de qualquer natureza. Viramos todos carpideiras e se não prestarmos atenção, só vamos fazer isso na vida: chorar a morte de inocentes daqui e de todo o resto do mundo. Está ficando cada dia mais intolerável essa ladainha. Eu, pelo menos, estou que não me agüento.

Me irrito com todas as teorias que nos oferecem para explicar o caos em que nos metemos. E me dá nos nervos também aqueles que desqualificam essas mesmas teorias. Quem pode conviver com isso? Ontem, depois de ler o artigo de Janine, cedi ao tsunami dos meus pensamentos e deixei que viessem todos de uma só vez, em ondas gigantescas e dispersas, jogando água em todas as direções.

Quem sabe assim, do meio desse turbilhão, consiga pescar uma idéia que acalme as minhas manhãs? Quem sabe encontre também uma explicação que me tire da indiferença, que nunca tive? A morte de João me toca com a mesma intensidade, tanto quanto as mortes de outros joãos e marias pelo mundo afora. Tanto quanto a morte de zé manés que engrossam as estatísticas do ibge. Desse mal não morro, mas ele pode matar, sei bem disso.

Concordo e discordo de que é a injustiça social quem está matando nossos jovens sadios. Concordo e discordo de que é a educação sem valores quem está nos pondo em risco e ameaçando a sobrevivência de gerações futuras. Concordo e discordo de que nossas penas são muito generosas para os crimes hediondos. Concordo e discordo de que a impunidade estimula a irresponsabilidade sobre os atos que cometemos. Concordo e discordo de que é o tráfico de drogas quem está envenenando a nossa sociedade. Concordo e discordo disso e de todas as demais explicações que já cansei de ouvir nesses últimos dez dias.

Como diz o Cláudio, só falta agora ouvir um professor de educação física dizer que a culpa é da falta de políticas de esporte para os nossos jovens. O cabelereiro retrucar que esses jovens estão perdidos porque não cortam mais o cabelo como deveriam. A doceira da esquina reclamar que a violência é estimulada pelos rigorosos regimes a que esses meninos estão submetidos, com toda sorte de restrição aos doces. E assim por diante. E com todas elas, vou concordar e discordar.

Mas bateu uma onda que me laçou pelo pé e me levou em outra direção. Lembrei de uma frase: os maus exemplos não deveriam ser mostrados. Não foi Dona Censura quem disse isso. Nem foi ontem que disseram isso. Foi Platão, há algumas centenas de anos atrás. Não li Platão, mas um amigo que leu me disse que foi. Platão defendia essa idéia alegando que se víssemos com muita freqüência maus exemplos, ficaríamos tentados a repeti-los. E eu fiquei tentada a concordar com Platão.

Desconfio que perdemos mesmo a nossa capacidade de estranhar a violência. Ela foi banalizada de tal forma pela mídia, através dos filmes, noticiários, telenovelas e outros produtos menos nobres, que nem temos mais indigestão quando estamos frente a frente com ela. Foi banalizada também nas pequenas violências que cometemos cotidianamente contra o vizinho, o motorista do lado, o pedestre, o menino de rua e assim por diante. Mas é nesse caldo, da violência para consumo diário, que surge a barbárie. Essa sim, ainda capaz de nos surpreender de quando em vez e de nos devolver o sentimento de indignação.

Mas fiquei tão tentada a concordar com Platão que quis ver essa frase escrita no papel. Essa e outras que pudessem me conduzir por novos caminhos. Fui atrás dela na obra República, de Platão mesmo, onde me disseram que ela estaria. Não a encontrei. Mas achei outra que me provocou um maremoto de pensamentos. Aliás, o livro todo, que li na diagonal nesta última madrugada e agora deixei-o sobre a minha cabeceira, para retomá-lo num ritmo mais saboroso. De uma certa forma, República me devolveu a capacidade de sonhar. Aqui, no caso, de desejar um mundo ideal. Utopia da pura, claro, mas como poderemos sobreviver sem ela. É a utopia que nos faz caminhar, a abandonar a nossa apatia, a nossa descrença, para sair atrás dos nossos sonhos e ideais. Sem essas referências, ficamos como se estívessemos atolados num terreno movediço. Afundando, só afundando.

Na República, Platão descreve o diálogo de Socrátes com alguns homens sobre a natureza da justiça e da injustiça. Tema bastante apropriado para o momento. Para isso, Sócrates propõe a seus ouvintes abandonar a análise individual dessas questões, transferindo-a para um cenário onde elas se manifestam de forma mais ampla e, portanto, de mais fácil apreensão. Sócrates sugere, então, a construção de uma cidade imaginária, desde a sua constituição inicial até atingir a forma mais complexa de uma rede intrincada de grupos e de relacionamentos, semelhantes às que vivemos hoje, guardadas as devidas proporções.

Numa certa altura desse diálogo, os homens chegam a uma questão: qual deve ser o tamanho ideal de uma cidade, para que ela possa ser ainda considerada uma cidade justa? Para Sócrates, uma cidade pode crescer até onde puder se manter unida, para além disso, não! E esse é um problema que nos afeta nas vísceras. Todas as grandes cidades brasileiras abrigam hoje várias cidades dentro dos limites do seu território. Cidades concorrentes, que transformam o espaço público em campos de batalhas sangrentas. Cidades que abrigam pelo menos outras duas dentro delas: a dos pobres e a dos ricos. Mais que duas: a dos empregados e dos desempregados; a dos consumidores e dos excluídos; a dos que cabem dentro do espaço urbano e a dos que se aglomeram no entorno desurbanizado e assim por diante. Cidades que acolhem todos os diferentes e, por isso, apregoa a sua qualidade de diversa. Acolhe, mas os mantém próximos a seus iguais, reforçando os contrastes e alimentando excessos de toda ordem. Cidades muito tudo. E, principalmente, muito violentas e injustas.

Fico pensando, se teremos como escapar da violência, sem voltarmos a discutir esse tema já quase esquecido, da década de 70, se não me engano, mas fundamental para encontrarmos uma saída adequada dessa desordem onde estamos chafurdando: a questão da cidade e do impacto dos processos de urbanização no Brasil, da década de 60 em diante até os nossos dias. Vou por aí. Pelo menos por enquanto.

Para os que gostam, a companhia de milhões de foliões na avenida. Para os que não curtem, vai a canja de Gil e Caetano, logo abaixo:

Até o próximo baile!

sábado, fevereiro 17, 2007

Com que roupa eu vou?

Sem trilha: Carnaval já é uma coisa muito barulhenta. Alguns minutos de silêncio serão mais revigorantes!

Estou ficando aflita. Muito aflita mesmo. Nem bem terminou as férias e já é carnaval. Cinco dias de agenda vazia. Não estava preparada para isso. Mais cinco dias sem fazer nada! Que qui é isso?! Onde é que nós vamos parar com essa moleza toda? E o bonde da história? Não estava passando acelerado? E nós não teríamos de entrar nele? E ficamos aqui, dedicados de corpo e alma à vida à toa? Diria que isso é quase insuportável! Ainda mais agora, que já estava entrando no pique!

Mas se é assim, que seja. Vou brecar fundo. Parar com tudo. Só não vou tolerar ficar sem fazer nada. Já cansei disso. Quero intensa programação nesses dias. Todos os meus cinco dias integralmente ocupados! Com qualquer coisa que me afaste da tentação quase irresistível de arrumar gavetas, rasgar papéis, atualizar a nova agenda, tirar poeira dos livros, zapear nos 90 canais de tevê e outros afazeres intermináveis e enfadonhos.

Não, para a avenida não vou. Também me recuso a ir aos bailes de carnaval dos clubes da cidade. São de uma alegria sufocante, não daria conta disso. Passo, sem nem perder tempo para pensar. Quem sabe um cineminha? Tem filme que não acaba mais me aguardando. Huummm, mas que preguiça. A cidade vazia, nem um engarrafamento para enfrentar, nem uma fila na boca do caixa, poltronas de sobra para escolher, pipoca, jujuba, que falta de graça. Queria algo mais, com um pouco de adrenalina.

Já sei. Vou botar a leitura em dia! Tem cinco livros na cabeceira da cama, gritando silenciosamente: devorem-me! Devorem-me! Estou olhando para eles. Olho no olho. E respondo: depende. Mas depende do quê?, eles querem saber. Uai, depende da história, se ela será capaz de me prender e me deixar suspensa no tempo por alguns dias, perdida no universo paralelo das palavras inventadas. Depende do jeito que o autor for capaz de contar essa história, se ele saberá, de fato, criar uma fresta no meu dia, que me seduza a atravessá-la, para entrar no círculo mágico da fantasia. Depende, uai. E agora, sinceramente, agora agora, não sei. Mais tarde penso nisso.

E, que seja. Ainda assim, será insuficiente para ocupar meus cinco dias de licença. Não seria capaz de me deixar ficar mais do que algumas horas olhando para um papel cheio de letras. E depois? E depois? Preciso ter calma nesse momento. Mas pensar, pensar rápido! Nem ouso pegar o telefone para ligar para alguém e propor um programa legal. Já sei, já sei, todo mundo está viajando. Todos sabiam que teriam cinco dias livres na agenda e planejaram, com antecedência, um programa irresistível, hiper bacana, com mil atividades, junto com uma turma super animada e, pra completar, tudo isso num lugar imperdível, tipo paraíso na terra. Então, tá. Mas não precisam tripudiar. Digam apenas: não posso e tiau!

Então...então....o que posso fazer? Acompanhar o triathon de Guimarães Rosa! Isso, isso sim! Tem uma turma já preparada para atravessar a cidade a pé, conversando com quem entende, sobre os mistérios dos sertões. Depois, todos vão para a beira da Pampulha, percorrer a lagoa de bicicleta, parando onde der, para ouvir trechos da obra de Guimarães. E, depois disso tudo, vão pular na piscina do CEU e, estirados na grama, esquentando o sol, refletir sobre tudo que ouviram. Esse pessoal inventa cada uma, hem? A programação é boa, mas, pensando bem, é muita falta do que fazer. E, prum carnaval, mais cabeça do que gostaria. Não vou.

O tempo está passando, indiferente à minha aflição. Meio dia já se foi. E nenhuma perspectiva pela frente. Quer saber? Vou radicalizar. Não vou fazer nada mesmo. Principalmente, não vou fazer nada que tenho de fazer. Se acontecer de aparecer algum programa, só faço se não tiver de. Se for alguma coisa que seria absolutamente improvável nesse momento. Algo que me pareça mais que surpreendente de tão impossível que é agora. Algo que não me exija ficar pensando, sofrendo, não para decidir se topo, mas para saber, por exemplo, com que roupa eu vou. Insisto, algo que eu possa aceitar despretensiosamente. Agora sim, acalmei. Decidi. Vou fazer nada e seja o que deus quiser!


Uma bateria da Mangueira para todos os que gostam de carnaval e um relógio sem bateria para quem quiser só curtir a agenda vazia.


Até de repente.

quarta-feira, fevereiro 14, 2007

Cenas da cidade

Trilha alternativa: Three Little Birds, na versão de Gilberto Gil. Animação à cores, na voz do próprio, no pé deste post.


Fotos: Todas minhas, tirem a mão!

Do Topo do Mundo, no entorno da cidade. Vale pelo visual, pelo vento, pelo vôo (dos outros). A comida, bom, a comida é como diz minha irmã, quanto mais no alto está o restaurante, pior a comida. Um exemplo irrefutável dessa máxima é o avião.

Uma boa navegada para todos.



Fotos: Idem, idem

Até qualquer hora.

Gil, conforme prometido




segunda-feira, fevereiro 12, 2007

Aquele

Trilha alternativa: Podres poderes, com Caetano. A canja está no pé da página, se não deu pau.

Fiquei sabendo de ouvir falar que bush, aquele que não assina o Tratado de Kioto nem debaixo de burduna, virá ao Brasil agora, no início de março. Demorou, mas foi mais conveniente mesmo esperar o carnaval passar. Foi uma decisão correta, admito. Quando nada, é menos um avião para sobrecarregar os aeroportos brasileiros e ainda mais num feriadão. Seria um risco tremendo. Vai que ele chegasse na hora do rush e tivesse de ficar uma hora e lá vai pedrada sobrevoando a cidade, até arrumar uma vaga na pista. Ele não deve saber disso, mas vou contar: não é nada confortável. Além do mais, duvido que ele fosse gostar da nossa farra. Ia acabar tendo de sambar com a madrinha da Mocidade Independente, fazer pose com os meninos da Rocinha, sair no trio elétrico do Dodô e ainda se esconder dos militantes carnavalescos para não levar um ovo no meio da testa ou uma bengalada, sei lá. Foi melhor mesmo deixar a poeira baixar.

Só espero que ele não tenha inventado de despencar lá de cima só para vir aqui nos pedir sugestão sobre o que fazer com o Iraque. Se vira, cara! Vocês que são os aliados que se entendam. Até sei que tem brasileiro por lá metido em farda americana. Mas isso aí foi uma decisão pessoal, não devemos e nem podemos interferir. Cada um sabe o que faz. Ou então, faz o que sabe. Mas se bush ainda for esperto, não vai tocar nesse assunto. Aliás, vai fugir dele, porque não tem ajudado em nada a melhorar o seu ibope. Seus índices estão uma vergonha! Mas, se não é isso, que diabos esse homem vem fazer aqui?

Será que ele já está sabendo, também de ouvir dizer, que o Brasil vai retomar o seu programa nuclear? Vem caçar briga, o galinho garnizé? Que coisa siô, o homem não sossega. Porque lady Laura não dá um trato nesse bush e põe ele na linha de uma vez por todas? Cadê a moral de lady Laura? Vou te contar, hem? Mas acho bom ele ir se acostumando. Mais cedo ou mais tarde, mas jamais nunca, nós e todo o resto do mundo teremos, querendo ou não, de investir em um projetinho básico de produção de energia nuclear. Com todos os seus problemas, essa ainda é a única fonte que substitui o petróleo com preço e produção equivalentes. Essa neura do bush de que todos nós estamos querendo fabricar a nossa bombinha é puro diversionismo. O que ele não quer no seu quintal é um bando de países independentes e autônomos na produção de energia. Isso seria o enterro do império, que já está em queda livre há tempos.

Ou será que ele vem aqui pedir uma boquinha no nosso projeto de biocombustíveis? Ouvi dizer, porque não ando tendo tempo para ler jornal, que bush quer fazer isso mesmo. Vem propor uma parceria com o Brasil, para melhorar a segurança energética global e ajudar os países a diversificar seus estoques de combustíveis. Sei. Quer investir em pesquisas para ampliar o uso do etanol. Etanol, hem? Êita nós, isso sim! Olha o tamanho da encrenca em que vamos nos meter. Para substituir só 10% da gasolina consumida no mundo por etanol brasileiro, o Brasil terá que multiplicar por cinco, até 2025, a atual área plantada destinada à cana-de-açúcar.

Teríamos de passar dos atuais 5,6 milhões a 6 milhões de hectares para 30 milhões de hectares. Na minha ignorância absoluta, 30 milhões de hectares é terra pra burro, apesar do professor Rogério Cerqueira Leite, coordenador do Projeto Etanol brasileiro, dizer que essa expansão não ocuparia nem 10% da área agricultável do Brasil. Nem precisaria ocupar terras da Amazônia. Mas se não vão ocupar novas fronteiras agrícolas, vão produzir onde? Provavelmente vão substituir culturas menos nobres, como arroz, feijão, milho, tomate e a horta do Zé Mané, por canaviais. E aí quero ver os barrigudinhos chupando cana ao invés de comer arroz com feijão e ainda crescer forte e sadio, mesmo no meio pobreza.

Sinto muito. Acho o programa de biocombustíveis bárbaro. Faço até propaganda dele com todo mundo que quer criticá-lo. Mas os biocombustíveis são apenas uma fonte alternativa de energia, uma fonte complementar e só. E só e muito, porque reconheço, o domínio dessa tecnologia representa para todos nós muitíssimo. Agora querer transformar o Brasil num canavial para exportar etanol para o mundo inteiro e virar a Opep Verde do ocidente, péra lá, né? Vem devagar com o andor, bush, porque o santo está escaldado. Será que nós, o Brasil, vamos querer abrir mão da nossa diversidade ampla, geral e irrestrita?

Até de repente, porque baixou o sono e já comecei a delirar.

Que nossos anjinhos da guarda mantenham a sentinela, até quando bush passar.

Uma canja do Caetano para fechar a noite: Podres Poderes

quarta-feira, fevereiro 07, 2007

Cenas da cidade

Trilha alternativa: Um girassol da cor do seu cabelo, dos Borges, com Milton Nascimento

Fotos: Minhas mesmo

Dei a maior sorte. Ontem estava descendo a Contorno e vi esse girassol, que nasceu no meio do asfalto entre uma pista e outra. Iluminou o resto do meu dia. Depois, passei outra vez e ele continuava lá. Não pude resistir. Saquei a minha digital e pimba! registrei. Hoje fiz o mesmo caminho, mas algum engraçadinho já tinha arrancado o girassol. Vê que ruindade. Tem gente que nasce assim, com o demo no coração, cruiz!

Mas ele perdeu tempo. Já tinha capturado o girassol para espalhá-lo na rede! Aí vai! Dias iluminados para todos.

Buenas, inté e uma canja do Milton e do Lô pra vocês, meus amigos, porque vocês merecem.





segunda-feira, fevereiro 05, 2007

O bicho está pegando

Trilha alternativa: Para suavizar a descrença, todas as músicas do cd com a trilha do filme O fabuloso destino de Amélie Poulain. Valeu Verônica!

Tô sabendo. Então quer dizer que agora sim. Agora podemos reconhecer que estamos num mato sem cachorro. Ou melhor, com um cachorro no meio de um nada, sem mato e sem perspectiva. Agora, mesmo já carecas de saber, mesmo já sentindo na pele os efeitos da mudança, podemos dizer que agora é fato. O relatório do IPCC está aí pra ninguém dizer que estamos delirando. Antes isso.

Até bush, aquele mesmo de sempre, que continua se recusando a assinar o Tratado de Kioto e a reconhecer outros tantos que o mundo inteiro apóia, agora se rendeu à majestosa sabedoria da ciência e já admite que o bicho está pegando. bush, aquele que fechou os olhos quando os sinais da mudança se mostraram evidentes na sua própria casa. Quem diria? Agora ameaça pensar no assunto. Isso me dá até medo. Vai sobrar pra nós, não duvide.

Está muito bem. Vou relevar o passado. Vamos sentar e conversar, ainda que seja só para não sair do lugar. Vamos priorizar as gerações futuras! Mas vou dizer uma coisa, meu estoque de crença na boa vontade dos homens já está esgotado não é de hoje. Como não é de hoje, nem de ontem, a advertência surrada de um velho índio americano: nós não herdamos a Terra de nossos pais. Nós a tomamos emprestada de nossos filhos. Quem se lembrou disso em algum momento, desde então?

É por isso que olho com desânimo o alvoroço em torno do relatório do IPCC. Se esse relatório fosse uma ameaça do nosso PCC não duvidaria dele. É triste, mas é assim. Os dados e conclusões do internacional IPCC só vão fazer brotar pelo ladrão centenas de políticas públicas: umas para combater o aquecimento do planeta, outras para estimular o desenvolvimento sustentável, outras para implantar fontes de energia alternativa (ai, ai, hem?) e mais uma infinidade de tantas outras que nem mais sei pra quê. Centenas de políticas, que nunca sairão do papel. O poder dos nosso líderes de plantão está apenas na definição de uma agenda, mas não na sua capacidade de implementá-la. Isso é uma constatação. Infelizmente.

E mais, não acredito que somos os únicos responsáveis pelas mudanças climáticas e sistemáticas do meio ambiente na nossa terrinha. Não somente nós. Isso seria acreditar num poder que nunca detivemos. Somos poeira de estrelas, lembra? Não estamos imunes ao movimento do universo. Somos gaia e parte, quase invisível, de um todo muito maior que está vivo. Que muda e transmuda todo o tempo. E as tempestades solares? E as explosões estrelares? E outros tantos fenômenos que ocorrem em outros tantos corpos celestes? Nada? Não nos afetam? A terra não está viva como eles? E no entanto se move.

Que sejamos, então. Ainda assim, desconfio de que nada do que for proposto para enfrentarmos a nossa crise de envelhecimento precoce, anunciada pelos doutos da comunidade científica internacional, nada disso será o bastante se não estivermos dispostos, de alma e coração, a modificarmos, na essência, nosso jeito de estar no mundo. Se não estivermos generosamente e humildemente dispostos a abrirmos mão do nosso conforto e de determinados padrões de consumo, incompatíveis com as mudanças necessárias. Se não estivermos dispostos a deixarmos de ser escravos do mercado para nos rendermos à força da natureza. Quem se aventura?

Aí é que a porca torce o rabo. Pois não é possível mesmo cumprirmos as metas de redução de emissão de gases estufa e de outros poluentes que estão adoecendo o planeta, se não houver uma mudança na outra ponta da linha de produção: nesse tal de mercado. Essa vitrine que nos envolve e nos devora a todo instante, nos expondo à média de 5 a 3 mil mensagens publicitárias por dia, até não resistirmos à tentação e nos deixarmos ser engolidos pelas suas milhares de bocas.

Mas que monstro é esse? Que presas indefesas somos nós? Quando falamos de mercado, estamos nos referindo a quem? Cada vez mais, aos donos de uma meia dúzia de um pouco mais de empresas que, através de fusões, incorporações e outros ões, estão dominando segmentos inteiros em uma dezena e mais de setores. Cada vez menos, aos 10% ou 15% da população mundial, as vítimas indefesas que tem acesso aos produtos daquela meia dúzia de megaempresas. E quem de nós ou deles vai topar abrir mão do seu consumo desenfreado e eternamente insaciável para se reencontrar na simplicidade voluntária? Levanta a mão!

Melhor sentarmos enquanto aguardamos um candidato. Melhor até deitarmos e dormirmos.

Soninho de criança para todos nós, quem sabe amanhã teremos um alegre despertar e recobramos a nossa fé nos homens de boa vontade.

Inté.