quarta-feira, novembro 21, 2007

BlogCamp MG

Numa desconferência, o debate é livre e rolou solto

Que o tempo é qualquer coisa de pouco que temos na vida, todos nós já concordamos. Por isso mesmo me intriga como tanta gente se dispõe a utilizar sua reserva escassa, de um bem tão nobre, numa atividade que, a princípio, não tem nenhum significado. Fico doida para saber por que insistimos em passar por aqui e a dedicar um bocado das poucas horas livres que ainda temos escrevendo um amontoado de palavras que nem sabemos se serão lidas ou se serão capturadas por uma corrente de vento e se perderão por aí para sempre.

Foi para matar essa curiosidade que espantei a preguiça e fui lá pro alto da Afonso Pena, no último sábado, conferir o BlogCamp MG. O domingo deixei para descansar. Mas no sábado queria ouvir e discutir com quem quisesse as razões que nos motivam a essa prática insana e irracional. Não consegui resolver minha angústia, o que não quer dizer que não tenha sido bom participar do encontro. Percebi, por exemplo, que ninguém estava lá muito preocupado com essa questão. Talvez por ela não ser mesmo muito relevante. Percebi que estávamos todos muito felizes e realizados por fazermos parte deste pequeno universo virtual. O encontro presencial foi o grande momento de reconhecimento dessa nossa (in)existência. Deu concretude à insolidez das palavras que inventamos e plantamos nesse espaço, na esperança de que um dia dêem frutos. Ou não.

A foto ficou a média luz, mas ninguém cochilou durante os debates.

Quase, mas não me espantei nem me irritei com as discussões, que duraram toda a manhã e tarde do sábado, sobre a monetização dos blogs e sobre os posts patrocinados. Como disse o Jorge, essa é uma tendência, não quer dizer que seja um padrão. Existem outras possibilidades na blogosfera que estão sendo exploradas com o mesmo afinco. E seria ingenuidade mesmo acreditar que esse espaço estaria imune ao poder de sedução do mercado. Hoje, tudo tem seu preço. Até amigos já são ofertados no varejão da vida, por R$ 80,00 a hora. Isso, para os menos exigentes. Quem quiser um amigo com estilo vai ter de desembolsar um pouco mais. Então, porque não precificar também os espaços em branco dos blogs? São escolhas. Cada um que faça a sua, com todo respeito.

Fiquei pensando ainda que esse pequeno universo da blogosfera nem é mais tão pequeno assim. Nele cabem mesmo todas as tendências. Estava relendo um estudo da portuguesa Catarina Rodrigues sobre Blogs e a fragmentação do espaço público, que me ajudou a lembrar a dimensão desse mundico. Em 2006, quer dizer, há muito tempo atrás, já eram criados 50 mil novos blogs por dia em todo o mundo. Já éramos quase 28 milhões de pessoas gastando parte de seu precioso tempo nesta ciranda de idéias. E em cada cinco meses, a blogosfera duplica. Se essa previsão procede, já somos hoje mais de 100 milhões. Fiz a conta certa?

Não foi uma boa idéia relembrar esses números, porque volta a minha angústia de querer saber o que estamos fazendo aqui. Catarina também estava aflita para descobrir esse mistério. No seu estudo, entre outras questões maiores, pesquisou essa também. Naquela época, em 2006, a criação de um blog estava associada principalmente à necessidade de expressão individual, ao registro de informações e à partilha de idéias. Não acho que essa tendência tenha se esvaziado. Nem aquela que via nesse meio uma possibilidade de intervenção cívica ou de prestação de um serviço. Mas, de fato, hoje temos uma variedade bem maior de tribos, todas soltas dentro da blogosfera.

Os blogs corporativos, os blogs de jornalistas vinculados às grandes mídias, os blogs de celebridades, os blogs vitrines para venda de produtos, os blogs especialistas, os blogs musicais, os blogs portais, os blogs baixaria, que me recuso a vê-los e assim por diante. Se quiserem saber mais quantos, é só visitar o Herdeiro do Caos. Yuri publicou um post sobre o encontro que teve na Bahia que traz mais detalhes dessas tendências. Mas seja quantas tribos forem, cada uma se apodera desse espaço como bem lhe convém e não poderia ser diferente, pois a liberdade é uma das virtudes do espaço virtual. O desafio, portanto, não é mais o de criar um blog, mas o de sobreviver na blogosfera. E aí a discussão é outra.

Mais do que a persistência ou a capacidade de transformar em dinheiro os espaços vazios de um post, os autores de blogs enfrentam um desafio maior. Temos de dar conta de produzir conteúdos consistentes, para conquistar credibilidade junto aos nossos leitores e aos internautas desavisados que, sem querer, tropeçam nas nossas páginas e distraidamente colhem algumas palavras que estão ali plantadas. Criar conteúdos consistentes exige um trabalho árduo, do cão, que nem sempre estamos dispostos a empreender. Às vezes, preferimos, como eu, só divagar, planar sobre o mundo das idéias, sem maiores comprometimentos. Talvez, isso não seja suficiente para dar longa vida a um blog. Paciência. Seremos como a CPMF, eternamente provisórios.

Um restinho de semana na concretude dos fatos.

Até de repente.

Fotos: minhas. Dá para perceber, né? E ainda deu pau na máquina.
Ela está juntando fotos que fiz com outras que nunca fiz.
Reparem a primeira foto. Cruzes! Parece coisa do cão.

sábado, novembro 17, 2007

Reis sem coroa

Perdi alguma coisa no meio do caminho. Mas ando distraída mesmo e muito mais ocupada do que deveria ou gostaria com as tarefas rotineiras. Por isso perdi o lançamento do informe anual do Índice de Desenvolvimento Democrático da América Latina, edição de 2007, no início do mês passado. Nessa, passei por debaixo da mesa. Mas ainda está em tempo, pois se pouca coisa mudou em um ano, o que dirá em poucos dias. O IDD-Lat é calculado desde 2002 pela Polilat.com, um portal sobre política na América Latina, e pela Fundação Konrad Adenauer. Os pesquisadores avaliam a evolução do comportamento da sociedade, dos dirigentes e das instituições democráticas em 18 países do continente.

Lula vai se espantar, se também ainda não viu. Este ano, o índice geral da região não teve um desempenho que poderíamos chamar de exemplar. Cresceu, mas muito timidamente. Apontou uma variação de apenas 1%, sustentada principalmente pela melhora do indicador de gênero, que passou de 16,9% para 20,2% de participação das mulheres nos níveis de decisão política. Talvez esta seja a única novidade da temporada.

O número de países com alto desenvolvimento democrático permaneceu o mesmo dos últimos cinco anos. É o nosso G3: Chile, Costa Rica, coração civil e Uruguai. Além deles, só outros três superam a média regional do IDD-Lat: Panamá, Argentina e México. E olha que a média da região não chega a ser um grande desafio: está em meros 5%. Por isso, mesmo superando esse percentual, Panamá, Argentina e México são considerados países com desenvolvimento democrático médio, como nós, Honduras e Colômbia.

Os demais países, que representam metade do universo pesquisado, estão todos no grupo de baixo desenvolvimento democrático: Peru, El Salvador, Paraguai, Guatemala, Bolívia, Equador, República Dominicana, Venezuela e Nicarágua. Tudo mais ou menos igual a sempre. O trem da história anda devagar mesmo. Não foi isso, portanto, que preocupou os pesquisadores das duas organizações. Não foi o pífio desempenho da região, mas o avanço irrisório, nos últimos anos, do Índice de Qualidade Institucional e Eficiência Política medido nos 18 países e uma das principais dimensões do IDD-Lat.

O que isso significa? Significa que o modelo presidencialista adotado pelos países da região está super dimensionado. Existe uma concentração de atribuições e poder muito grande em torno da figura presidencial e, por conseqüência, um enfraquecimento descabido das demais instituições democráticas, como o Parlamento, especialmente. Essa é uma tendência que vem se agravando ao longo dos últimos anos, com o apoio das elites dirigentes e da sociedade. Lula e Chávez agradecem, mas não só eles, todos os demais presidentes dos 18 países pesquisados.

Todos eles, além de chefes de Estado, são chefes de governo: promulgam leis, dirigem a política interna e externa de seus países, nomeiam seus ministros e assessores sem interferência de outros poderes do Estado, entre outras tarefas rotineiras não listadas pelos pesquisadores, que são muito educados e preferiram não mexer no caldeirão. Mas o fato é que quanto mais avançam nessas atribuições, menor fica o espaço para a atuação do Parlamento e da Justiça, criando um vazio institucional extremamente perigoso para a democracia.

O ranking dos países com maiores atribuições presidenciais é encabeçado pela Venezuela, claro, e mais Argentina, Brasil e Colômbia, mas é uma tendência, como aponta o informe anual do IDD-Lat, que tem se aprofundado em toda a região. Não é de se estranhar, portanto, que um número cada vez maior de países da região está discutindo ou já sancionando normas que tratam de prolongar mandatos ou facilitar o instituto da reeleição. Essa tendência está transformando as democracias da América Latina em monarquias sem rei. Roberto Romano já havia chamado atenção para esse fenômeno. Um dia retomo essa palestra que ele fez em Belo Horizonte.

Mas os pesquisadores do IDD-Lat preferem nomear essa tendência de ultrapresidencialismo e eles advertem que esse sistema alimenta um tipo de democracia débil e de menor legitimidade, posto que nele não são respeitadas as atribuições constitucionais de cada uma das instâncias que compõem o corpo institucional de um Estado e nem se esforça para estimular a participação política popular. Os pesquisadores advertem que é imprescindível recuperar a livre confrontação das idéias que surge no âmbito da liberdade, cujo espaço natural numa democracia é o Parlamento. Foram eles que disseram. Vale a pena ler a íntegra deste informe do IDD-Lat. E, aproveitando o embalo, passar os olhos também no Latinobarómetro, divulgado ontem no Chile. O estudo abrange também 18 países da região e traz um retrato da percepção de democracia, Estado, economia e instituições das populações latinoamericanas.

Uma das conclusões do Latinobarómetro deste ano é a de que está havendo na região um ligeiro encolhimento do apoio à democracia e um crescimento na confiança no Estado para a resolução de todos os problemas da sociedade. Como vêem, os dois estudos se completam. Boa leitura. Deliciem-se!

Um final de semana em plena liberdade, sem a companhia de reis e príncipes para nos atormentar.

Inté

segunda-feira, novembro 12, 2007

Rumo ao nada

Do lixo da cidade

Choveu. Se chover um pouco mais é até possível que voltemos a agir como pessoas normais. Vamos ver. Mas enquanto isso é apenas uma possibilidade, tento escapar do mormaço sufocante das ruas, me escondendo nos ambientes refrigerados da cidade. Numa livraria, por exemplo. Passei o final da tarde de sábado dentro de uma delas. Poderia ter me deixado vagar distraidamente entre as prateleiras, lendo uma ou outra orelha de livro ou folheando suas páginas para adivinhar as histórias conhecendo apenas a primeira e última frase de cada uma delas. É um bom exercício para treinar a imaginação ou a nossa capacidade de dedução.

Mas não. Tinha um objetivo: estava atrás do último livro do trágico e profético James Lovelock . Precisava desesperadamente ler A Vingança de Gaia , neste último final de semana, para tentar recobrar a minha capacidade de simplesmente pensar. Mas é como digo, as pessoas andam desvairadas, agindo sem plena consciência. O livreiro me olhou profundamente, coçou a cabeça e um pouco impaciente, disse-me que sim, tinha visto esse livro em algum lugar. Mas em vez de procurá-lo, foi direto ao terminal do computador, teclou algumas letras e retornou lamentando: acabou.

Há muito tempo não passava por uma situação dessas. Primeiro, porque não tenho tido mesmo muito tempo para ficar lendo todos os livros que estão sendo lançados no Brasil. Uma barbaridade, a cada semana. Depois, porque ando também sem paciência para ler os livros que todo mundo já está lendo. Prefiro ouvir as versões que me contam. Desconfio que são até mais divertidas que o próprio livro. Mas isso nunca vou saber com certeza. A não ser que, mais tarde, me disponha a ler esses livros que me citam.

O fato é que, com isso, não tenho me dado ao trabalho de sair procurando títulos nas estantes empoeiradas das livrarias. Não procurando-os, não preciso encontrá-los nem corro o risco de também não achá-los. Não é que parei de comprar livros. Quando vem aquela vontade incontrolável de ler um livro novo, de folhear suas páginas, de sentir aquele cheirinho bom de papel e de tinta quase fresca, entro numa livraria e faço uma primeira seleção só pela capa. Depois leio as frases: a primeira e a última. E, finalmente, passo os olhos na orelha. Se me parece bom, compro. É assim mesmo que ando fazendo. Mas naquele sábado eu tinha um objetivo e nunca pensei que fosse assim tão difícil de ser alcançado.

Ia até insistir com o livreiro, mas ele estava tão desolado, tão absolutamente entregue à sua apatia, que resolvi não incomodá-lo. O calor tira do sério qualquer pessoa. Até um livreiro apaixonado. Assim, voltei pra casa também desanimada e sem cumprir minha missão. Procurei me contentar com o artigo do Maurício Andrés - A Arte de sair de cena - publicado no Estado de Minas do mesmo sábado, no qual comenta exatamente o livro de Lovelock. Não conheço Maurício Andrés, embora o reconheça na rua. Mas admiro-o pela sua persistência, mais do que pela sua coerência. Lápelosidos dos anos 80, quando a moda era militar nas esquerdas, agitar as massas, cuspindo palavras de ordem insanas, ele já se preocupava com a sobrevivência do nosso planeta. Cobrava-nos um jeito novo de nos relacionarmos com o mundo, com a natureza, com as pessoas. Defendia ardorosamente a plena desurbanização. Isso é o que eu me lembro. E ainda que o achávamos muito estranho.

Mas A Vingança de Gaia está aí para não deixá-lo falar em vão e sozinho. Lovelock já não acredita mais que o aquecimento global seja um fenômeno reversível, mas para reduzir seu impacto, propõe substituirmos o desenvolvimento pela retirada sustentável, por uma mudança de direção. Sugere medidas semelhantes àquelas que o Painel Intergovernamental sobre Mudanças Climáticas (IPCC), da Organização das Nações Unidas (ONU), está propondo essa semana, em Bancoc, Tailândia. Mas vai mais além. Não chega a radicalizar, como aqueles que defendem uma saída de cena voluntária, com a auto-extinção da espécie humana, por meio de uma política de “filho zero”, mas avança mais que o relatório do IPCC.

Lovelock nos desafia a acabar com as guerras como forma de resolução de conflitos, para reduzir a emissão de gases do efeito estufa. Concordo. Acho muito estranho mesmo não termos ainda um estudo sério sobre o impacto de ações belicosas sobre o meio ambiente. Um estudo sobre o Iraque, por exemplo. O IPCC deveria fazer isso. Mas Lovelock quer mais, quer a neutralização do carbono de atividades específicas, como festas, eventos, encontros. Outra vez, estou plenamente de acordo. Megaeventos, então, é uma fonte terrível e altamente poluidora. Sou favorável a considerarmos mais de vinte pessoas juntas multidão.

Mas Lovelock radicaliza mesmo é quando propõe uma redução drástica do turismo consumista: diminuição dos vôos internacionais, do transporte terrestre, serviços e comércio. Chega desse delírio ambulante da globalização! Agora é cada macaco no seu galho e ponto final. E conclui propondo o banimento puro e simples de todas as atividades não-essenciais, supérfluas ou desnecessárias que produzam impactos climáticos e ambientais. Aí é que eu quero ver! Na nossa cultura, viramos especialistas na produção do dispensável. Quanto menos necessário e mais descartável, mais desejamos. Mas é isso ou acabaremos diante do nada.

Obrigada Maurício Andrés, e vou continuar procurando A Vingança de Gaia.

Uma semana na mais doce simplicidade voluntária.

Até quando der.
(Foto: minha. Do alto da Raja)

sábado, novembro 03, 2007

Mexidão

Uma coisa é certa: o calor nos torna um pouco mais estúpidos do que já somos normalmente. É quase impossível pensar em altas temperaturas. Parece que as palavras se derretem nas extremidades e não se encaixam mais umas nas outras. As idéias não vingam. Perdem fôlego e se escoram no primeiro obstáculo que encontram. Não há tragédia nesse mundo nem um fato excepcional que as anime a respirar fundo e a prosseguir na caminhada.

Parece até preguiça, mas não é. É o calor, que entranha pela nossa pele e vai se espalhando pelo corpo até alcançar os poucos pensamentos que ainda nos restam. Eles até tentam escapar, mas vão ficando pesados e mal se arrastam do lugar aonde estão. Não fluem, não tecem mais uma história e vão se dissolvendo no quente do nosso corpo até que não sobra mais nada. No calor, ficamos vazios de idéias e só pensamos em sombra e água fresca. Obcecadamente.

Ficamos abúlicos, indiferentes ao mundo. E a culpa é do bush, aquele que poderia mas não quis assinar o Tratado de Kioto. Até sei que não é bem assim, mas estou atolada no meio da onda de calor que baixou na cidade e é inútil querer pensar qualquer outra razão só um pouco mais complicada. Essa é a melhor que me ocorre e tem a vantagem que já vem pronta e temperada. Não carece de mais indignação. Qualquer outra, exigiria de nós um esforço mental impossível de dispendermos, desde que os termômetros travaram nos 30° C e nos deixaram assim, num estado de absoluta apatia e prostração, difíceis de serem vencidos.

Agora bateu um vento na janela. Talvez chova ou não. Mas bateu um vento lá fora e balançou as folhas da árvore. Soprou de novo e espalhou pelo chão as folhas de papel que estavam sobre a mesa. Bateu mais forte e esparramou as idéias que vinha juntando para escrever alguma coisa por aqui. Não sobrou nada. Mas refrescou. Se estivesse mais animada, escreveria no atacado. Falaria da Copa de 2014. Desejamos tanto e agora já não nos importamos mais. A Copa não vai resolver nossos problemas, alerta a imprensa. E deveria? Não seria só uma festa mesmo?

Falaria ainda dos 41 bilhões de dólares que o FED, o banco central americano, precisou injetar no mercado financeiro só para acalmar os investidores que continuam estressados com a crise imobiliária americana. 41 bilhões de dólares só para a roda da fortuna continuar girando. E nós precisando de minguados 2 bilhões de dólares para receber a Copa de 2014. Não virão? Aposto que sim, mesmo que nossos jogadores já não sejam mais nossos, mesmo que a nossa seleção já não seja mais brasileira e tenha virado internacional, mas aposto que virão.

Falaria até da crise do gás, se tivesse acompanhado as discussões. Mesmo não tendo, ainda assim me arriscaria, porque não é de hoje que ela está anunciada, só fingiámos que não estava. E da mesma forma o aumento da energia elétrica. Desde a invasão do Iraque sabíamos que o mundo teria de passar por uma mudança da sua matriz energética, incorporando e ampliando a participação de fontes alternativas e investindo em novas tecnologias. Muito mais do que isso, teríamos de rever o nosso próprio padrão de consumo de energia, reduzindo-o a patamares compatíveis com a sobrevivência do planeta. E aí é que está. Mas essa discussão é muito complicada e é impossível pensá-la no calor do veranico.

Até de Chávez falaria. Seu projeto de reforma constitucional foi aprovado com apenas sete votos contrários, todos da sua própria base, já que a oposição venezuelana boicotou a eleição legislativa de 2005 e está sem voz no parlamento. Conseguiu emplacar a possibilidade de reeleição indefinida para presidente e endurecer a regulamentação do estado de exceção. Mas as mudanças dependem ainda do resultado de um plebiscito. É ingenuidade acreditar que Chávez não será mais uma vez vitorioso, mas se o projeto de nação que ele está propondo ao povo venezuelano é indesejado, o plebiscito é o instrumento certo para derrotá-lo. Eles que se entendam.

E no atacado falaria ainda de Cristina Kirchner, que assumirá a presidência da Argentina tão logo termine o mandato de seu marido. Não acho que as mulheres tenham um jeito de governar melhor do que o dos homens. Somos diferentes sim, mas não melhores. Thatcher é a prova disso, entre outras. Mas, ainda assim, torço para que Cristina e Michelle Bachelet aproveitem a chance que estão tendo para fazer diferente, para governar com mais compaixão e espírito menos belicoso, mais preocupadas em cuidar do que conquistar o mundo. Eu torço.

Só que o vento já passou e espalhou a chuva que não veio. O calor não cedeu nem um tiquinho de um grau e pensar, nessas condições, é até perigoso. Melhor deixar pra depois.

Um domingo chuvoso para todos nós, nem que seja só para refrescar.

Buenas.