terça-feira, fevereiro 17, 2009

Viva a era ecozóide!

De volta ao começo

Meninas, agora que o mundo acabou era para estarmos bem eufóricas ou totalmente destruídas. Estranhamente, não estamos. Nem uma coisa nem outra. Mas temos de admitir, essa chegada meio intempestiva e inesperada do fim do mundo nos deixou perplexas. Ficamos no ar. Suspensas. Nós e nosotros. Nada se resolve. Tudo que é decidido num dia, na manhã do outro se desfaz e é preciso recomeçar do zero outra vez. As certezas desceram ralo abaixo e ninguém está seguro o suficiente para indicar caminho algum. Uma amiga disse que a culpa não é do fim do mundo, mas de Nossa Senhora Desatadora de Nós. Rezamos tanto para ela, que nossas preces foram atendidas. Todos os nós foram desfeitos ao mesmo tempo e tudo flui ininterruptamente sem se fixar em nada. A única solução é encontrarmos outra santa, ou santo que seja, que se disponha a atar pelo menos alguns nós, para nos dar um pouco de descanso.

Pode ser. Pode ser até que São Paulo seja uma boa opção, como ela sugeriu. Mas pode ser também que Nossa Senhora Desatadora de Nós não tenha nada a ver com isso. E desconfio que não. Apesar da controvérsia que existe sobre o tema, acho que estamos é vivendo as turbulências naturais da entrada de uma nova era. No último sábado, dia 14, exatamente às 7 horas e 45 minutos da manhã, com a Lua bem posicionada na Sétima Casa, ou seja, a 24 graus e 45 minutos de Libra, Júpiter e Marte finalmente se alinharam, anunciando, para alguns entendidos, a chegada da tão esperada Era de Aquário. É verdade que Carl Jung, por exemplo, não compartilha dessa celebração. Além de não estar mais aqui, pelos seus cálculos, a Era de Aquário só deverá ocorrer em 2600 d.c., mas isso não tem importância. Temos pressa e, ultimamente, o mundo tem andado muito mais rápido do que ele poderia prever. Portanto, é bem plausível que os novos cálculos estejam corretos.

Ou não? Para nós, que lemos jornais, assistimos TV, ouvimos rádio e navegamos na internet, tudo isso nos parece bastante contraditório, afinal, esse poderoso alinhamento de astros no céu anunciaria uma era de paz e amor e não de guerras, ódio e outras bizarrices mais, como as que temos visto. Pelo menos foi o que nos ensinaram, quando ainda éramos criancinhas. Tudo bem, nem tão crianças assim, mas bem jovens. Lembram daquela música de Hair? Não ousaria cantá-la, mas dizia com todas as letras: quando a Lua estiver na sétima casa, e Júpiter se alinhar com Marte, então, a paz irá guiar os planetas e o amor varrerá as estrelas. Propaganda enganosa? Meninas, não vamos nos precipitar. O que pode, aparentemente, ser contraditório, pode, sob um outro olhar, ser absolutamente necessário. Para construir o novo, às vezes, é preciso primeiro destruir o velho.

Não vamos nos dispersar nem perder a esperança. Agora que o mundo acabou, vamos começar de novo, quantas vezes for necessário, e ver se dessa vez fazemos do jeito certo. Se não certo, pelo menos de um jeito melhor do que aquele que fizemos até hoje. Ou fizeram, já que não somos meninas tão poderosas assim. Mas façamos a nossa parte. Quem sabe, quando os nós forem atados novamente, o mundo volta a funcionar. Ave São Paulo e viva a Era de Aquário!

Ai ai, acho que vou virar uma otimista pra variar.

Inté.
Foto: Minha. O mar de Natal.

domingo, fevereiro 08, 2009

Ave palavras!

A reforma já está na rua

Estou num dilema terrível: adoto ou não a reforma ortográfica e, se adoto, defino ou não um dia D para colocá-la em prática. Eis a questão. Sei que não terei muita escolha, mais cedo ou mais tarde estarei tendo ideias sem acento, ainda mais soltas no ar do que aquelas que tenho tido até então. Essas não me escapavam, pois, se tentavam fugir, conseguia segurá-las pelo agudo e pendurá-las em algum cabide dos meus pensamentos. Agora, temo que serão mais fugazes ainda e ficarão pulando de galho em galho, como macaquinhos travessos, sem que eu consiga agarrá-las para examiná-las mais atenta e profundamente.

Mas também sei que se tiver dificuldades para assimilar as novas regras, sobreviverei, como tenho sobrevivido até hoje escrevendo só de ouvido e de memória, sem nunca ter dominado completamente as normas da língua culta, especialmente as exceções. Nem cheguei a ser crucificada por conta dessa minha ignorância. No máximo, tive de me recolher a minha insignificância, quando passei, por uma razão ou outra, pelas mãos precisas de revisores. Não costumo me aborrecer com esse tipo de correção nem mesmo com intromissões mais agressivas. Mas, nesses casos, abro mão da autoria para aderir à criação coletiva e o resultado final é sempre melhor.

Não são, portanto, as novas regras que me incomodam. Me adaptarei, mais dia menos dia. E se tropeçar, tenho certeza, algum olhar mais atento virá me socorrer. Pior, muito pior, são as vírgulas, mas essa é outra história. O que está, de fato, me aporrinhando, me deixando sem assunto, quando vem a vontade de escrever qualquer besteira, é essa urgência em se adotar a nova ortografia, mal saída do forno, ainda queimando a língua. Pensei que teria toda a vida pela frente até ser obrigada a me enquadrar. Mas nada. Mal amanheceu 2009, abri os jornais e as novas regras estavam lá, em pleno exercício. Viraram notícia de primeira página e hoje já ficaram velhas.

Da noite para o dia, ficamos todos fora de moda. Nossos textos parecem pão dormido. A meninada, viciada em novidades, não estranha a nova escrita, mas, sim, a forma antiquada que insistimos em preservar. Lêem nossos textos com a curiosidade de quem vasculha o passado atrás de bizarrices. Deus me livre! Agora, só resta a nós, mortais, nos apressarmos. E é essa pressa que não suporto, especialmente num domingo chuvoso, como o de agora. Por isso me entrego a esse dilema: aderir ou não aderir à reforma! Amanhã penso nisso.

Inté outro dia.
Foto: minha