sexta-feira, junho 30, 2006

Pra fazer um Armando Nogueira feliz

Puxa vida, minha ignorância em futebol é uma estupidez. Só hoje, depois de uma meia dúzia de palpites errados, é que o estagiário, consternado, resolveu dedicar uma parte do seu tempinho, para me explicar como funciona a tabela da Copa. Eu ainda acreditava que poderíamos chegar à final com um clássico entre Parreira e Filipão. Entendi. Isso é impossível. Só se for numa semi-final. Mas isso não é a mesma coisa, né? Acho que estou começando a captar o espírito da Copa. Mas, fico pensando, o que desconheço são detalhes que não me impedem de continuar acompanhando, torcendo e palpitando, que é o que mais gosto.

Por exemplo, mudei de idéia. Até agorinha, achava que os comentaristas esportivos estavam ficando doidos. Estavam abusando da nossa ignorância e tripudiando da nossa ingenuidade. Mas, talvez, não. Alguns sim, mas não todos. Principalmente Armando Nogueira, que tem sempre ao seu lado o bom senso, para ajudá-lo a nos fazer entender o que se passa. Ontem, ouvindo a sua conversa com Sardenberg, na CBN, achei-o triste. Pela sua voz, tenho quase certeza de que ele está desencantado com o nosso futebol. E isso é muito grave, porque sabemos bem que Armando Nogueira é um torcedor senior e um profissional na sua paixão pela bola. Então deve estar acontecendo mesmo alguma coisa.

Achava ainda que o time brasileiro, mesmo não jogando bonito, estava arrasando com suas vitórias seguidas. Acreditava que, ao continuar torcendo para essa seleção de Parreira, à revelia dos comentaristas, nós, torcedores amadores, estávamos sendo mais visionários que os entendidos. E estava convicta de que os críticos da seleção estavam querendo era guerra em campo. Mas mudei de idéia. Acho que estou entendendo a desilusão de Armando Nogueira. Para ele e alguns outros poucos, futebol é só arte. Uma arte lúdica. O jogador brinca com a bola, distrai o adversário, encanta os torcedores e daí surge um momento mágico que se transforma em gol. Como uma arte lúdica, o futebol era um exercício de liberdade.

Era tudo o que não é mais hoje. Futebol agora é business. É resultado. Não é culpa do Parreira, embora, no nosso caso, seja ele o responsável. Mas quem inventou esse jeito feio e frio de jogar foram os europeus. Foram eles que transformaram o gramado numa linha de montagem para produção de vitórias em série. Antes, nos interessavam as pelejas esportivas. Era o durante do jogo que se discutia. Agora é só resultado. Quem ganhou, quem perdeu, quantos pontos fez, quantos pontos perdeu, qual sua classificação, saldo de gols e assim por diante. Nos impuseram uma visão econômica do futebol. E fizeram isso, porque foram eles, os europeus, que puseram seu rico dinheirinho para mover essa engrenagem. E o futebol virou isso que estamos vendo nos últimos dias.

Durante 90 minutos não acontece nada. O juíz prorroga a partida para ver se os jogadores se inspiram e fazem alguma coisa, e nada. Aí vão para a disputa de penaltis. Isso é a tortura legalizada. Olha se não é, Cristina. O goleiro lá, sozinho. O batedor do outro lado, sozinho. Tudo o que as duas equipes não fizeram em 90 minutos de jogo, mais a prorrogação, fica nas mãos e nos pés dos dois. Um duelo. O futebol ficou reduzido à sorte de quem a tiver. O durante tornou-se irrelevante, virou um detalhe do jogo. E nós, torcedores amadores, consumidores despreparados do futebol made in UE, somos submetidos ao sofrimento extremo daqueles segundos eternos, do momento em que o batedor chuta e a bola chega ao gol ou à mão do goleiro. Quero tudo, menos isso, na partida de amanhã. Mesmo porque, depois de um cassulê, não sei se terei condições de suportar à pressão de uma disputa gol a gol. Por isso é que quero tudo diferente.

Quero que dê a doida nos Ronaldos, que os demais embarquem no delírio da dupla, que Cafu assuma o comando em campo e deixe o Parreira no banco. Quero que todos se percam no tempo e voltem a jogar como jogavam. Brincando com a bola, distraindo o adversário e encantando os torcedores. Vou torcer para que façam tudo que é preciso ser feito no durante e não no depois. Com arte. Só de brincadeira. Quem sabe aí Armando Nogueira volte a ser feliz.

Pra vocês: sonhos lúdicos, gols de letra, de cabeça, de chapéu e de sei lá mais o quê. E, o que é mais importante, para amanhã, um 3 a 1 a nosso favor, sem perhaps (rsrs).

PS: Depois volto para falar dos comentaristas esportivos de novo. O Otávio já me deu a dica: mute neles. Vou seguir o conselho, mas eu vou falar (rsrs).

terça-feira, junho 27, 2006

A dúvida indubitável

Ontem estava conversando com uma portuguesa que me confessou estar muito atrapalhada nessa Copa. Não sabe se torce para o Brasil ou para Portugal. E mesmo torcendo para Portugal, se sente, no fundo, torcendo para o Brasil, por conta de Filipão. Essa desordem cívica deixa sua alma dominada pela dúvida. Em estado de suspensão. E dizem mesmo que a dúvida é o bicho. Não discordo de tudo, mas prefiro considerá-la um mal necessário. Mesmo não sendo geminiana, como minha amiga portuguesa, aprendi a lidar com a dúvida desde cedo. Talvez por ser gêmea, que é também um jeito de pertencer a esse signo e trazer na alma uma dúvida original. Não como método, mas como elemento fundamental através do qual me reencontro, sempre que me confundo com minha alma gêmea ou me atrapalho comigo mesma.

A perplexidade de minha amiga portuguesa, portanto, também me acompanha. Tenho dúvidas para quem torcer. E acho que de resto, todos os brasileiros andam assim. Desde que a multinacional Brasil Futebol Clube se instalou nos mais distantes e improváveis países e dominou as equipes mais poderosas do mundo, a dúvida passou a fazer parte, como mal necessário, da personalidade dos torcedores brasileiros. Nessa Copa, só não viramos vacilões ainda, porque a maioria das equipes treinadas por técnicos brasileiros ainda não amadureceram o suficiente para disputar, com perigo, um torneio mundial, mas um dia chegam lá.

Ainda assim, ficamos suspensos na dúvida durante o jogo com o Japão. Se Ronaldinho, o original, não estivesse também em estado de dúvida e precisando muito da nossa torcida, o jogo teria sido puro sofrimento, mesmo com uma vitória. Pra mim foi quase. Quando Japão fez o primeiro gol, fiquei triste e feliz. Feliz por Zico e triste por Parreira. Depois, a cada gol do Brasil, levantava, pulava, comemorava. Aí, aparecia a carinha do Zico na telona e vinha uma ponta de vergonha por estar feliz e uma pontinha de raiva por não poder estar livremente feliz. Puxa vida, porque os japoneses do Zico não são tão bons quanto os nossos? Isso tornaria o jogo mais igual e nos deixaria livres para celebrar o melhor. Mas nada, a vitória tinha de ser de goleada. É claro que, depois, mentalizei a opção de Zico e considerei que a derrota foi escolha dele e comemorei sem remorso. Feliz!

Agora vem Gana. Já havia me comprometido com essa seleção desde o início da Copa, a pedido de Kofi Annan. Vinha torcendo por ela em todos os jogos, na minha ingênua ignorância. Nem passava pela minha cabeça que, mais cedo ou mais tarde, seríamos nós que ela teria de enfrentar. Olho no olho. And now? É pior ainda. Fiquei sabendo disso há poucos dias, mas foi um choque. Gana foi a primeira seleção que Parreira comandou na vida. E com seu trabalho, levou a equipe à final da Copa da África. Cá pra nós, não foi nada assim muito excepcional, mas tem o seu mérito. E, mais grave, como foi a primeira seleção do caderninho de Parreira, com certeza, mora no seu coração. Com certeza Parreira vai ficar na dúvida. Enfrento radicalmente ou enfrento só pro gasto? Derroto ou não derroto? Ó dúvida!, deve estar sofrendo Parreira. Espero que não, mas temo que sim.

Aí, meus amigos do futebol, estou prevendo que esse jogo vai ser outro sofrimento. Vou torcer para que Parreira conheça, como conheço de cor e salteado, a única dica infalível para sairmos da dúvida: a ação. Vou torcer para fazermos um gol nos quatro minutos de jogo. Vou torcer para que Gana continue correndo atrás da bola, como tem feito em todos os jogos, mas que não acerte a rede nem uma vez. Ou uma vezinha só, igual ao Japão. Vou torcer para que Ronaldinho, o original, faça mais um gol e Ronaldinho, o Gaúcho, faça outro e até mais um. Vou torcer para que Gana não perca a categoria e, junto com nossos jogadores, dê um show de bola para o mundo inteiro assistir.

Êita! Depois do Japão e agora Gana, fiquei escolada. Já vou começar a torcer também para que Portugal tenha um desempenho excepcional nessa Copa, mas que não dê de nos enfrentar pela frente nos jogos que ainda faltam. Já pensaram? Parreira versus Filipão? Seria um clássico da dúvida. Eu torceria hora pra um, hora pra outro. Comemoraria se um ou outro ganhasse. E lamentaria se um ou outro perdesse. E, no final, não saberia se estaria feliz ou triste. Isso não vai dar certo nunca! Melhor evitar essa situação. Vou torcer para que o Brasil tenha um desempenho melhor ainda e pegue pela frente Alemanha ou Argentina, esses são clássicos da certeza: sou Brasil de olhos fechados!

Chega de dúvida. Vamos para a ação. Vamos cair na real!
Bom jogo para todos e que vença o melhor: Brasil, é claro!

quinta-feira, junho 22, 2006

Espírito esportivo

Não sei tocar nada. Só interfone e olhe lá, dependendo, me atrapalho também. Bola, não toco de jeito nenhum, mas isso não me preocupa. Gostaria mesmo é de tocar um instrumento. Nem que fosse só pra saber se Caetano tem razão: como é bom tocar um instrumento! Tentei duas vezes. Da primeira, radicalizei. Arrisquei, cegamente, aprender logo com partitura e tudo. Foi um fracasso. Da segunda, um amigo se prontificou, com toda paciência do mundo, a me ensinar música por cifras. Essa paciência não durou três meses. Mais tarde, ele admitiu que insistiu porque me achava uma aluna curiosa. Era a única que tocava num tom e cantava em outro. Era o máximo. Acho que ele foi muito delicado comigo.

Mas nunca tentei tocar bola. É claro que já bati muita bola na parede. Com uma mão, com a outra, com as duas, uma palma, duas, três, uma volta e assim por diante. Também fiz controle com meus irmãos, quando faltava jogador e ainda sentei no banco de reserva do time de vôlei do colégio, mas nunca precisei jogar. Nem treinava. Também gostaria de saber jogar bola. Mas sei, desde pequena, que tanto a música quanto a habilidade para um esporte não depende só de vontade. Nem de vocação. Essa, se não nascemos com ela, podemos desenvolvê-la. Com bastante querer, determinação e disciplina, nos tornamos vocacionados para alguma coisa. Mas para a música e o esporte, é preciso mais. É preciso ter o dom.

Não basta tocar bem. Não basta cantar afinado. Não basta jogar corretamente. É preciso por alma em tudo isso. É ela que fisga e prende e envolve e hipnotiza o público. Aliás, como em tudo na vida. O que fazemos por fazer, ninguém percebe. O que fazemos com um querer especial, com alma mesmo, pode até não ser notado por todos, mas nos faz muito mais feliz e fatalmente será percebido por quem está conosco. Por exemplo: não costumo ver uma partida de futebol até o fim. Só um lance ou outro, de passagem. Mas se, nesse momento, a alma está em campo, fico até o final. É irresistível. E só quem tem o dom, consegue escalar a alma para uma partida inteira.

A maioria dos jogadores da seleção brasileira tem o dom. Os Ronaldos, Roberto, Robinho, Kaká, Fred e muitos outros. Tanto que venceram todas as partidas até agora, mesmo não demonstrando muita garra em campo, mesmo com a barreira quase intransponível de adversários sem dom, mas bem treinados e com uma vocação bastante disciplinada para o futebol. Venceram, mas, como disse mesmo Armando Nogueira, parece que a alma do futebol brasileiro ainda não entrou em campo. Está extraviada. Para o mercado em que o futebol se tornou, isso é incompreensível. Numa Copa Mundial, o que está em jogo é a posição top de linha do mercado e tudo o que isso significa. Exige o máximo de um espírito competitivo. É vencer e vencer. A qualquer custo, a qualquer preço. E isso, muitas vezes, exige mais do que garra, exige é a alma mesmo.

Tanto que o Brasil não perdeu nem uma até agora. Pelo menos, até agora. Mas o mercado quer mais. Hoje, o espírito que inspira o futebol mundial é o espírito de guerra. Não é vencer o adversário. É derrotar, estraçalhar, aniquilar o inimigo, fazê-lo sangrar até a última gota. E é esse espírito belicoso, de um bárbaro faminto, que anda solto nas arquibancadas, nas cabines da imprensa, no meio da torcida surda e cega, que quer tudo e mais um pouco. Até o Jabor, que às vezes tem bom senso, e Armando Nogueira, que é uma alma privilegiada, os dois querem até o último fio de cabelo. Querem a alma dos nossos jogadores. Mesmo que, para isso, seja preciso mandar uma para o sacrifício. E a escolhida é a de Ronaldo.

Sinceramente, não sei o que Ronaldo tem, o que o está aborrecendo, angustiando, mas sei que, seja o que for, a sua alma está ferida. Está machucada, abatida. A alma de Ronaldo precisa de ajuda, de um cuidado especial. Precisa de carinho mesmo, como disse o Filipão. De pai e mãe, como ele mesmo soube e foi buscar. Da amizade dos amigos, como tem contado. Pode ser ingenuidade de quem não entende nada de futebol nem de mercado; pode ser estupidez de quem não consegue incorporar, ou pelo menos tenta não conseguir incorporar, o espírito belicoso dos mercados altamente competitivos; pode ser simples ignorância; mas, sinceramente, hoje admiro mais os jogadores brasileiros. Admiro-os por sacrificarem o seu dom, em nome de uma virtude em extinção: a solidariedade. Jogaram seriamente, mas ocuparam sua alma com outras tarefas. Formaram uma rede de proteção para Ronaldo. Cada gota de suor derramada em campo é o sinal do esforço que fazem para distrair Ronaldo.

Taí. Também vou torcer pra Ronaldo. Espero que sua alminha de brasileiro se recupere logo. Vou desejar, do fundo da minha alma, que nos 90 minutos de hoje, ele dê muitos dribles bonitos, passes para muitos gols e toques de bola especiais para marcar o seu gol e fazer as pazes com a sua própria alma.

Agora tem uma coisa. Demonstrar solidariedade com o colega Ronaldo, tudo bem. Mas não me inventem de praticar essa virtude com o ex-Zico. Até fico com pena dele também, não sei do que os japoneses serão capaz de fazer se o técnico brasileiro não conseguir A Vitória, mas isso é problema dele. Foi uma escolha pessoal. Poderia estar junto com o solitário Parreira, o chorão Zagallo e outros amigos mais. Quis ousar, fazer uma coisa diferente, agora assume. Espírito esportivo!


Bom jogo para todos e cuidem bem de suas alminhas.

domingo, junho 18, 2006

Brasil 2 x 0 Liga das EBCs

Ia esperar os jornais de amanhã, só para conferir as manchetes. Mas, pensando bem, acho que não precisa. Brasil derrotou a Liga das Empresas Brasileiras de Comunicação por 2 X 0. À revelia dos comentaristas esportivos, a seleção entrou em campo, correu o que deu conta e fez dois gols. Fez quem precisava: Adriano e Fred Amééérica!!! E está muito bom para nós torcedores. Não acho que nos contentamos com pouco. Nos alegramos com a vida como ela é e é o quanto basta.

Então. Tô liberada agora. Vou começar a avacalhar. Igual a Liga das EBCs faz quando vai falar da seleção brasileira. Por deus, nunca vi isso! Se estiver errada, por favor, me corrijam. Mas me lembro muito bem que essa era a seleção perfeita. Não havia nem um porém. Nós torcedores, claro, tínhamos nossas preferências e desavenças. Essa é a brincadeira. Mas para a imprensa esportiva, era a seleção sem problemas. Só que bastou pisar em solo estrangeiro, começou o fuxico. Arrumaram logo um problemão pra seleção, garantindo o noticiário durante toda semana de pré-estréia: Ronaldo tá gordo! Ronaldo tem bolhas no pé! Ronaldo está com febre! Ronaldo está deprimido! Ronaldo está rude! Ronaldo espirrou! E mais um: Ronaldo tem ciúmes de Ronaldinho. E foi: Jogadores caíram na farra. E foi: Pelé fala mal da seleção. Roberto Carlos revida. E foi: Cafu vai ser preso! Cafu não vai mais ser preso. Até o Bobial fazer Zagalo chorar, numa cena patética! Por que chorou? Chorou porque? Fiquei confusa de verdade. Mas a Liga, não. Era só mais um problema para a seleção sem problemas. Até que o Brasil estreou estraçalhado, cheio de problemas mesmo.

Bola na rede para o marketing das empresas brasileiras de comunicação. É a tática da burduna. E dá-lhe na seleção brasileira, porque isso é que vende jornal, espaço na tevê e tempo no rádio. É como um amigo me lembrou outro dia. Sabe aquele ditado: perco o amigo, mas não perco a piada. Pois é. A imprensa, quer dizer, as empresas brasileiras de comunicação agem do mesmo jeito: se distanciam da verdade, mas não perdem a manchete. Foi assim na cobertura da crise política, na cobertura do fogo cruzado em São Paulo e, agora, com a seleção brasileira. O negócio é descer o sarrafo. Nenhuma discussão produtiva, propositiva. É só pescotapa, pra vender notícia.

Do Sistema Globo, já não espero nada mesmo. E por não esperar, às vezes, me surpreendo para o bem. Mas, pela FSP Futebol Clube, tinha um carinho especial. Agora, quer saber, cansei. É um rebelde sem causa. Do contra por princípio. Um jornal de fanicríticos, ops, faniquitos. Tudo é feio, tudo é ruim, tudo é brega, nada vai dar certo, nada evolui, nada sai no jeito. Tudo que pode ser bom, no fundo é ruim. E chamam isso de espírito crítico. Minha avó chamava de espírito de porco. Quem estará com a razão?

Admito, é difícil mesmo entender a complexidade do mundo em que vivemos e, ainda mais, observá-lo com olhos críticos. Mas daí simplificar, como o FSP Futebol Clube passou a fazer, falando mal de tudo, vai uma distância gigantesca, né? É por isso que vou cancelar minha assinatura. Pronto. Cheguei à exaustão. Vou mudar para o Estadão, pro Globo, sei lá. Com estes, nós leitores é que temos de exercitar o nosso espírito crítico. Confio mais. Se não der certo, vou procurar as notícias só de ouvir falar. E acho que vai ser bom também.

Enquanto a Liga corre atrás das nossas desgraças, nós daqui, do mundo real, vamos levando a nossa vidinha média e feliz, sempre que possível, torcendo pra seleção, de olho nos candidatos para decidirmos menos mal o nosso voto, candidatando para trabalhos voluntários nas comunidades carentes do nosso bairro e assim por diante, sem falar nas licenças poéticas e gastronômicas que nos permitimos, nos momentos especiais. Como as leituras em voz alta do Sertão de Guimarães, ontem à noite, e o coelho com vinho tinto australiano que traçamos nesta tarde. Viver.....o senhor já sabe, é étcetera.

Fim de jogo.
Até o próximo embate.

quarta-feira, junho 14, 2006

Brasil X Brasil - Versão II (+ rigorosa)

Estava com um post praticamente pronto para colar aqui, mas vou fazer igual à Varig. Vou cancelá-lo. Vou deixar-me levar pelas manchetes dos jornais e falar sobre a seleção brasileira. Não vou falar mal de ninguém, só do Parreira, porque segundo o Armando Nogueira e o Sardenberg, isso dá sorte. O esquema do Parreira é muito feio. Pronto, já falei.

Quanto ao jogo, sem comentários. Seguem apenas algumas observações sobre Brasil X Quem mesmo?

1. Acompanhei o blá,blá,blá dos comentaristas esportivos e as observações do Cláudio sobre o jogo do Brasil. E, como ele disse, parece que o Brasil jogou sozinho, porque não ouvimos nem vimos nem lemos nenhum comentário sobre o desempenho do nosso adversário, a valorosa equipe da Croácia. E olha que a Croácia adotou uma estratégia quase imbatível para derrotar o quadrado mágico: o triângulo pragmático. Era Ronaldinho, Kaká ou qualquer outro jogador pegar a bola e já apareciam três croatas para fechar o cerco, formando o triângulo pragmático. A única opção para os jogadores brasileiros era passar a bola pra frente, rapidinho, para não perder a jogada.

2. Mesmo que a estratégia da seleção da Croácia não seja tão boa assim, afinal levaram um gol, o quadrado mágico não se mostrou tão eficiente quanto imaginávamos. Acho que deveríamos adotar o plano b e criar o círculo de confiança, que tem mais chance de descer redondo até o gol. Se os jogadores confiarem uns nos outros e no Parreira e se o Parreira confiar nos jogadores, inclusive Ronaldo, e nos palpiteiros, e se Zagalo confiar em Santo Antônio e Santo Antônio na equipe e no Parreira, e se a torcida confiar no Parreira e na equipe, e assim por diante, acho que o time entrará em campo em ponto de bola para faturar o jogo.

3. Sobre a partida: um amigo me disse que o Brasil jogou pro gasto e fez muito bem. Ele entende de futebol. Argumentou que, com essa apresentação mediana, tirou um pouco do medo dos adversários e isso poderá ser fundamental para abrir espaço às boas jogadas nas próximas partidas. Tendo a concordar. Sou bem iludida, acho que o Brasil está escondendo o jogo também.

4. Uma amiga comentou que não achou Ronaldo nem um pouco gordinho. Parecia mais tonto. Lula sim, está mais gordo.

5. Ainda sobre o desempenho de Ronaldo. Acho que ele arriscou ao tentar jogar sem bola. Já vi um só jogador brasileiro fazer isso com um desempenho irreparável, digno até de aparecer na lista dos melhores jogadores em campo: Tostão. Tostão jogava com e sem bola. Quando pegava a danada, tinha sempre grandes chances de marcar um gol. Quando estava sem ela, dava a impressão de que já tinha visto o jogo e se deslocava no campo, atraindo os adversários e liberando espaço para seus colegas surpreenderem a defesa e fazer os gols que nem esperávamos, mas precisávamos. Ae Tostão! Tá começando a fazer escola, hem? No princípio é assim mesmo, os alunos são um pouco desatentos. Depois eles aprendem.

6. Outra coisa sobre Ronaldo: acho que a oposição está pegando muito no pé dele. Tá dando até bolha. Será que não dava pra deixar o rapaz em paz, siô?

Fim de jogo.
Até a próxima partida!

sexta-feira, junho 09, 2006

A ignorância é maravilhosa! - Versão III (+rigorosa)

É a pergunta que nos impulsiona, Neo.
A ignorância é maravilhosa!
(Frases de Matrix)


Êita! Agora fiquei confusa! Não sei se posso perguntar, se devo responder ou se é melhor ficar calada. Decisão difícil essa, hem? Mas olha se não é para confundir. No início da semana ouvi o senador Marco Maciel comentar uma decisão do PFL de retirar do Tribunal Superior Eleitoral duas consultas do partido, relativas às eleições deste ano. Fazia isso logo depois do TSE responder ao PL questões sobre as regras da verticalização. Adotando uma interpretação mais rigorosa que a das últimas eleições, o Tribunal anunciou a nova versão, dizendo que, neste ano, as possibilidades de coligação partidária estariam mais restritas. Depois voltou atrás, mas anunciou e defendeu. Agora, acho, não muda mais nada. Mas antes disso, o senador explicava à CBN que retirava as consultas do partido porque têm momentos em que é melhor não perguntar. Vai que alguém responde!

Tendo a concordar com o senador. Tive uma amiga - agora não sei por onde ela anda - que era do tipo que respondia. O melhor era não perguntar, porque ela não media tempo quando pegava a palavra. Um dia me distraí e perguntei: Tudo bem Tê? E ela me respondeu. Começou: Bem? Bem? Claro que não estou bem! Acordei hoje com uma baita dor de cabeça, atrasei, perdi a carona, tive de descer de ônibus. Já viu alguém andar bem dentro de um ônibus às 7 horas da manhã? Em pé? Com a cabeça latejando? ..... e blá, blá, blá .... blá, blá, blá... e foi me respondendo, relatando seu dia até chegar às 18 horas, hora da pergunta distraída. Tô inventando, claro, não me lembro do que ela me respondeu na época, mas o estilo era esse. Então, pra Tê era melhor que ninguém perguntasse nada. Procurávamos sempre ser afirmativas. Oi Tê, você está ótima hoje, muito bem! E já engatávamos outros assuntos.

Esse tipo de gente existe mesmo. E se o Lula tivesse seguido o nosso exemplo e o do senador Marcos Maciel, ele não não teria perguntado nada. Mas tem um outro tipo de gente que é da família dos que perguntam por perguntar. O Lula, me parece, é um exemplar desse último grupo. Perguntou por perguntar, mas foi topar de frente logo com alguém da primeira família, daqueles que respondem quando perguntados. E pior, da espécie responde batendo. O presidente quis saber do Parreiras se o Ronaldo estava gordo mesmo ou se era onda da imprensa. Está gordo ou não está? - foi a pergunta por perguntar do Lula. O Parreiras saiu de manso. Acho que preferiu ficar calado. Mas Ronaldo respondeu. Nem sei se ouviu a pergunta, mas pra quem gosta, isso é só um detalhe. Respondeu de pronto. Gordo? Gordo? O presidente foi infeliz nessa pergunta. Não me foi dado o direito de perguntar, mas eu também tenho muitas perguntas para o presidente... e, no embalo, foi respondendo. O jornalista, percebendo a facilidade do outro para responder, continuou cutucando, perguntando mais uma vez e de outro jeito e outra vez mais, até Ronaldo responder. Responder perguntando, se o presidente bebe muito mesmo ou se é onda da imprensa.

Aí fiquei na dúvida. Foi uma resposta ou uma pergunta? Pelo teor da reação, parece que foi uma resposta. Ou não? Ops, acho melhor não perguntar. Retiro o que disse. Agora, quanto ao Lula, acho que ele não vai responder. Se é um exemplar puro da espécie dos que perguntam por perguntar, não vai responder. Vai passar por cima e fingir que não ouviu. Pelo menos, deveria. Esse é o comportamento típico deste grupo. Não querem respostas. Não sei se porque já conhecem a ladainha que vão escutar ou se é porque não estão mesmo interessados. Giram só em torno de seu próprio umbigo. Mas às vezes penso que não escutam é porque têm medo da resposta. Não gostam de ouvir, mesmo quando precisam. Outras vezes, percebo, eles escutam a resposta, mas fingem que não. Apertam os olhos e ficam olhando pro nada, como se estivessem ausentes, mas estão pensando. E de uma hora para outra, de repente, dão a entender que ouviram a resposta. São assim.

Estou pensando nisso tudo porque queria perguntar. Não por perguntar, mas pra saber. Tem esse tipo também. Mas o que eu queria mesmo era perguntar. É uma pergunta boba, só que está me incomodando. Não sei se devo, mas vou perguntar assim mesmo. Pelo menos me livro de um incômodo. O que o ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira, um homem culto e educado e o diretor-financeiro da butique Daslu, Antônio Carlos Piva de Albuquerque, não sei se culto, mas educado, o que eles fizeram não foi uma violência? A gestão fraudulenta do dinheiro dos outros não é uma forma de violência? Sonegação fiscal não é um tipo de violência também? Violência branca, porque não sangra na hora, mas é, não é?

Por que estou perguntando isso? Vou responder como o Ronaldo, perguntando. Vocês leram os jornais nessa última semana? Ouviram os telejornais? Os jornais das rádios? Acompanharam a cobertura da imprensa sobre o quebra-quebra na Câmara dos Deputados? Antes que me devolvam mais perguntas e que eu fique tentada a continuar respondendo, já explico. Sou contra violência, seja de que tipo for, em defesa de qualquer causa, mesmo que das boas, e praticada por qualquer pessoa. Sou contra! Saio até pra briga se alguém disser que sou o contrário disso.

Mas voltando à Câmara dos Deputados. Tá certo que eles fizeram uma baderna. Coisa de gente sem tino. Colocaram em risco a vida de outras pessoas. Isso é abominável. E aí têm duas coisas: condenar a violência é uma atitude correta e louvável, mas não basta. Tanto que os movimentos pela paz têm crescido no mundo todo, mas, na mesma proporção, tem crescido a violência. E os ataques ao patrimônio público e privado têm se banalizado, como se banalizaram as passeatas, as manifestações pacíficas, as vigílias e outras formas saudáveis de expressão dos grupos minoritários da sociedade. Tornaram-se inócuas. E a baderna está indo para o mesmo caminho. Acho que porque não alcançam os ouvidores da República. Mas isso é outra história. Precisa ser melhor pensada.

O que eu queria dizer é que a cobertura da mídia, mais uma vez, limitou-se a constatar a violência e a desqualificá-la como um ato de bárbaros, sem procurar entendê-la. Por que mesmo os militantes do MLST foram à Câmara? O que é exatamente que estavam reivindicando? Por que estavam reivindicando com tanta fúria? O problema que denunciam existe mesmo? A reação do MLST é desproporcional? Enfim, qual é a do MLST? Da superfície, alguém deve ter esbarrado nessas questões, mas a notícia ficou enquadrada no quebra-quebra. Desqualificaram até os que se dispuseram a fazer o papel de advogado do diabo. E olha quem se prestou a isso: Dom Balduíno!

Quiseram relacionar a violência à estupidez, à ignorância, à falta de cultura de um bando de selvagens, extemporâneos e rudes da idéia. Mas a violência tá solta da avenida Paulista ao Cabrobó. Pronto, já estou começando a querer responder. Acho que vou fazer é igual ao senador Marcos Maciel. Vou retirar minhas perguntas. E igual ao Parreiras. Vou ficar calada. Sair de manso. Vou ver a reprise do jogo da Alemanha.

Sem perguntas e sem respostas. A ignorância é maravilhosa!

Um final de semana pleno de belas jogadas e muitos gols. E que vença sempre o futebol arte, sem pancadarias! Vou torcer para Gana na segunda, a pedido de Kofi Annan.

domingo, junho 04, 2006

Nosso herói foi pro espaço!

De noite ou de dia,
firme no volante,
vai pela rodovia,
bravo Vigilante!
(Música tema do seriado brasileiro O Vigilante Rodoviário)

Vichi, me lembrei de uma coisa muito antiga. Não sei se me lembrei de fato ou se outros é que se lembram e eu tenho é uma vaga lembrança da lembrança dos outros. Não sei. Mas eu tenho uma imagem e desconfio que não foi inventada, mas vivida mesmo. Vi-me vendo uma telefunken na sala, a primeira da rua. Vi os meninos em volta e, de algum lugar, de dentro da sala ou de fora dela, só de passagem, eu olhando para a tela da televisão. E vi-me vendo o simca chambord 1959 do Inspetor Carlos e depois o próprio Inspetor Carlos em pé ao lado do carro e, do lado dele, o Lobo, um baita pastor alemão, muito parecido com Rintintin.


Tive de ir fundo buscar essas lembranças, flashs em preto e branco do primeiro seriado nacional: O Vigilante Rodoviário. Mas foi por um bom motivo. Estava intrigada. O que aconteceu foi que assim que Aninha desligou o telefone, depois de comentar comigo, entre pasma e indignada, a notícia da aposentadoria do primeiro astronauta brasileiro, a primeira coisa que me veio à cabeça foi a música do Inspetor Carlos – de noite ou de dia... E esse trecho de música, pedaço de nada, ficou rodando na minha cabeça como um long-play arranhado tocando numa vitrola Victor. Não parava nem ia pra frente. A solução era só uma: Google nela!

Já quase enlouquecida com o mantra ying-yang, me embrenhei pelo universo virtual atrás de informações mais precisas sobre a vida ilibada de Inspetor Carlos. Queria porque queria tentar descobrir o que esse personagem tão singelo teria a ver com o nosso astronauta brasileiro. Fui aos fatos. O Vigilante Rodoviário ficou no topo do sucesso durante mais de um ano, com 72% de audiência, mas foi cancelado em 1962 por falta de patrocínio. Foram 38 episódios, exibidos logo após o Repórter Esso, pela extinta TV Tupi. Bom, até aí, só um tema para um belo case, se é que ainda não foi feito por algum estudante de comunicação.

Continuei minha empreitada, atrás de mais informações sobre o personagem. O herói da nossa história era interpretado por um ator amador, Carlos Miranda. Imagina o susto que ele não levou quando recebeu o convite para fazer o personagem num seriado para TV!! E sabia lá o que era isso? Mas surpresa pouca é bobagem. Deve ter barbarizado mesmo foi com o sucesso de Inspetor Carlos. Tá certo, ele parecia um elvis, tinha um belo carro, uma bela harley davidson 1952, um belo cachorro e era totalmente do bem. Podia querer mais alguma coisa? Podia? Podia.

Depois de sair do anonimato, da noite para o dia, e de conhecer e se deleitar com a fama durante mais de um ano, Carlos Miranda queria mais. Não um outro personagem, não mais e mais sucesso, não uma aposentadoria muchocha da nascente televisão brasileira. Carlos Miranda queria mais só uma coisa: ser o Inspetor Carlos. Não o herói, mas um policial rodoviário de verdade. O ator fora contaminado pelo encanto de seu próprio personagem. E depois de um período de transição, largou o palco e entrou para a Academia de Polícia. Virou o que já era: o Inspetor Carlos. Abandonou a fantasia e foi à luta. De noite ou de dia, até se aposentar.

E daí? Daí pra frente foi o mantra ying-yang que me ajudou. A idéia de contrários que se aproximam, de apostos contidos um no outro é que me fizeram entender o link que inventei, inadvertidamente, ligando uma história a outra. Olha só. Ao contrário de Carlos Miranda, Marcos Pontes era um herói de verdade: o primeiro astronauta brasileiro! Um currículo imbatível em qualquer concurso de títulos. Um exemplo para nossos meninos e meninas, tão pobres de sonhos. A eles, só é dado sonhar ser jogador de futebol ou modelo de uma agência internacional. Ou só isso ou só aquilo.

Marcos Pontes, ainda que meio que aos trancos e barrancos, ainda que numa história meio que mal contada, abria uma picada nova entre as desoportunidades que se engalfinham e se entrelaçam pelo caminho dessa molecada. Agora podiam sonhar de ir à lua, de viajar pela galáxia, de encontrar novos mundos, de sei lá que bobagem mais. Podiam e podiam de verdade sonhar de virar astronauta, cientista, físico, químico, matemático e toda sorte de conhecimento que esse campo inspira. Eu podia dizer: vai estudar menino, um dia você vira Marcos Pontes!

Olha em que fria estava me metendo. Não deu nem meses, e o danado do astronauta brasileiro cansou de ser herói de verdade e virou personagem de suas histórias. Tá certo que essas decisões são muito pessoais, pelo menos para nós mortais. Mas não para um herói nacional. E sei lá o que isso significa na carreira de um militar, mas, para nós civis, ir pro banco de reserva é aposentar mesmo, é dependurar as chuteiras, vestir o pijama, mudar de rumo, de assunto, de meio. Concordo com Aninha, não é tão trivial quanto querem fazer parecer.

E mais, um bolsista brasileiro que sai do país, só do país, não do planeta, para fazer fora um mestrado ou doutorado, é obrigado, na sua volta, a dedicar pelo menos dois anos a uma instituição de ensino público superior, para compensar o investimento. Nós gastamos US$ 10 milhões com a viagem de Marcos Pontes, foi mais que uma penca de pós-doutorados. Aí o sujeito vai e joga a toalha?! Como é que nós ficamos nessa? E ainda diz que vai fazer palestra na inciativa privada?! Ôw, isso é ficção ou deu na Globo? Se deu na Globo, vou apoiar Aninha na ação de restituição do dinheiro da viagem aos cofres públicos. Vou ainda ficar de olho em quem vai ter a coragem, o desplante de contratá-lo pra palestras sobre planejamento estratégico nas fiesps da vida.

Ai ai, viu. Já não se fazem mais Inspetor Carlos como antigamente. O nosso astronauta está mais pra vampiro brasileiro do que para um valoroso vigilante interplanetário. Ou não?

Boa noite e bom dia!

quinta-feira, junho 01, 2006

Vai mudar, mas não muda.

Eu penso assim. Têm coisas que a gente não sabe e não tem importância. Uma hora a gente procura saber e acaba aprendendo. Copia de alguém que sabe, olha, escuta e acaba fazendo. Até na marra. Não que faz perfeito da primeira vez nem que vira um especialista, mas aprende de um jeito que fica bom. Satisfaz. Exemplo: não sabia fazer risoto. Daí, um dia, cismei. Que troço é esse? Li as instruções num livro, li outras versões em outros e topei fazer. Não ficou bonito nem excepcional, mas ficou com um gosto bom. Me pediram e eu repeti. Ficou melhor. Agora, continuo fazendo quando dá na telha. Não virei especialista, só faço quando tenho gosto e é assim. Aprendi.

Têm outras coisas que parece que a gente nasce sabendo. A gente nem sabia que sabia, mas quando chega a hora, a gente faz como se sempre tivesse feito. Não é muita coisa nem grandes coisas. São miudezas, até difíceis de a gente perceber mesmo, mas quem olha percebe e até comenta: puxa, parece que ela tem jeito pra isso. Não é jeito. É que já sabia. Exemplo: não costumo fazer trabalhos manuais. Acho que é porque não sei nem dei importância. Mas um dia precisei montar a maquete de um vilazinha. Tinha que ser eu mesma, porque uma criança de quatro anos não ia montar. Não sabia. E montei. Com ruas, casas, prédios, árvores, carros, postes e tudo. E foi como se sempre tivesse feito isso. Ficou bárbara. Ficamos até com pena de desmanchar e essa vilazinha durou quase quatro anos, até ir pro lixo. Fiz isso uma vez e nunca mais, mas se for preciso, acho que faço de novo. Já sabia.

Têm coisas ainda que a gente não sabe, mas também ninguém sabe. São aquelas da ordem do imponderável. Agora, têm coisas que a gente não sabe mesmo. Não sabe nem nasce pra saber e pronto. Não adianta querer nem querer muito. Não presta ser esforçado e se empenhar de corpo e alma. É gastar vontade à toa. Vai perder tempo querendo copiar, repetir e fazer outra vez, que não vai ficar de um jeito bom. E isso é fácil de perceber. Sobre essas coisas, sabemos apenas que não nascemos pra elas. E já é muito. Exemplo: inglês. Passei de ano, passei no vestibular, me especializei, mas nunca graças ao inglês. O que precisei, decorei. Entender, não entendo até hoje. Já tentei, sem nenhum compromisso nem vontade, assim como quem só brinca e também não funcionou. Não nasci pra falar ou ler inglês e pronto. Ponto final.

Então é assim que penso. E tem hora que as pessoas são como somos com as coisas que estão postas por aí. Tem gente que parece que nasce pronta. Tem jeito pra vida. Vive fácil, sem sofrimento, mesmo quando sofre. Não carrega o mundo nas costas nem carece. Segue passeando. Pelo menos parece. Tem outro tipo de gente que consegue mudar, parece que amadurece. É de um jeito e depois muda, sem mudar na aparência mas mudando na essência. Evolui. Mas tem outro tipo que não se emenda. É gente de um jeito difícil de ser e fica assim até o resto da vida. Pode passar o pão que o diabo amassou. Pode até alcançar o paraíso. E ainda pode dar a sorte de correr meio mundo, de conhecer todo tipo de gente boa para se copiar, mas não resolve. Parece que nasceu só para ser o que é. E pronto. Somos a maioria, admito. Mas é o tipo de gente que deveria virar pedra na virada. Exemplo exemplar: bush. Esse é o cara difícil do momento. Não se emenda.

Olha só. Ele ficou meio sumido do noticiário desde que Mahmoud Ahmadinejad lhe enviou uma carta, no início do mês passado. Que ele leu, é claro, mas não mostrou pra ninguém e sumiu. Nós, eu e minha santa ignorância, pensamos: está refletindo. Quem sabe vai amadurecer. Que nada. O diacho dessa gente é isso. Só é o que é. E bushit estava é arrumando confusão nos bastidores. Maquiando o mundo real mais uma vez, para vender no mercado. Que nem que fez quando não conseguiu entender o 11/9. Que nem que fez quando resolveu invadir o Iraque. E agora de novo, depois de outras tantas.

É a BBC que está mostrando o que é. Está exibindo as imagens de corpos de vários adultos e crianças iraquianas que, segundo a polícia local, integravam um grupo de 11 civis executados por tropas americanas em março passado. E o mais estranho é que não acontece nada com bush. Já teve época, nos Estados Unidos, em que uma mentirazinha de nada, corriqueira, já era motivo mais do que suficiente para derrubar um presidente. Agora, podem inventar o que vier, que Elvis não morreu, que o sonho não acabou, que os juros não vão subir e tudo cola. Será que os americanos também estão mais tolerantes? O que se passa?

Inté.

Sonhos supreendentes para todos. Tão reveladores que os inspirem novos jeitos de ser, mesmo continuando do jeito que são.