quinta-feira, setembro 29, 2005

Supitando

Hoje cedo meu pai me ligou para compartilhar o seu espanto com a manchete publicada no Diário do Comércio. Tenho de registrar. Decifrem-na, ou ela irá devorá-los: PUC Minas securitiza seus recebíveis. Hehehe. Só comparável àquela publicada no Minas Gerais, anunciando a instalação do intestino gigante!.

Foi ótimo, porque comecei o dia rindo, depois não tive mais tempo. Foi só pauleira e amanhã promete ser dose dupla. Mas tá bom também. O que eu achei mais engraçado, foi a coincidência. Em menos de 12 horas, me lembrei duas vezes do Diário do Comércio. A primeira vez foi conversando com Ana Márcia, quando disse que acredito é na força das redações. O Diário do Comércio já foi um bom exemplo disso. Em contrapartida, claro, ralávamos igual condenados. Lerê, lerê, lerê, lerêlerê...saudades de escrava isaura! A segunda foi essa da manchete. Ela não passaria despercebida. Renderia pelo menos uma semana de reuniões, discussões e muita gozação.

Como ia dizendo, agora estou é pregada (lerê, lerê...a vida continua) por isso não vou pensar mais nada por hoje. E nem amanhã, com toda certeza. Estamos numa missão especial: SOS Democracia Brasileira. Dois dias por conta da crise, só pensando naquelas perguntinhas básicas: conkosô, onkotô e pronkovô. Mas estou reunindo ingredientes saborosos, da melhor qualidade, para pensar mais tarde. Me aguardem!

Um bom sonho pra vocês e um alegre despertar!

PS: Que qué isso, gente? Vocês viram o fogo na Califórnia! Mais de 20 mil hectares destruídos, metade dentro do Parque Nacional das Sequóias! Mais de 1000 bombeiros envolvidos na operação, para tentar salvar as árvores mais antigas e altas do mundo! É justo, mas tão prestando atenção, neworlewandeses! Tô achando que Hollywood entrou na era do reality show! Ou então, sei não, hem bush! Será que não seria melhor você já sabe o quê?

quarta-feira, setembro 28, 2005

Valei-nos nosso senhor do bonfim!

Nuba! Estava ouvindo o discurso dos candidatos à presidência da Câmara dos Deputados. O resultado final ainda não saiu. Acho que preferiria nem saber. Esperava discursos mais vibrantes, de estadistas. Daqueles que retumbassem no plenário, como estouro de foguetes. Discursos que nos pegassem pelas mãos e nos levassem para passear na história. Palavras que ficassem ecoando no ar, que só na ponta dos pés conseguíssemos alcançá-las. Mas que, depois de acolhidas, na palma de nossas mãos, iluminassem nossos caminhos, um, dois e tantos quanto existam para que escolhecemos. Palavras que nos dessem vontade de anotá-las, rapidamente, num pedacinho de papel, para que pudéssemos repetí-las um dia para nossos filhos.

Nuba mesmo. Tem horas que eu acho que não sou deste planeta. Caí aqui por acaso e estou custando a me adaptar. Tenho de reconhecer, como sempre, que sou uma otimista incorrigível. Ou dwãr de tudo!

Ouvi o pronunciamento do candidato da oposição com muita atenção. O seu estilo me pareceu muito semelhante ao estilo roberto jefferson. Não sei..., a entonação da voz, alguns trejeitos de fala, o recurso da intimidade, chamando alguns deputados pelo nome, lembrando os laços de história entre eles...tudo me soou muito dejá vu. E ouvi ele dizer: “essa casa é a casa dos deputados!”, com ênfase mesmo. Não é. Com todo respeito, não é. A Câmara dos Deputados, é a casa da representação política. Aqueles que lá estão são representantes do povo e lá estão para representá-los. A Casa, me desculpe, é do povo.

Não vou ser capaz de reproduzir suas palavras exatamente como foram ditas, mas ouvi o candidato da oposição dizer também que o chefe dele naquela Casa são os 500 e tantos deputados. Com todo respeito, outra vez, não são. O chefe do presidente da Câmara dos Deputados é, outra vez, o povo. É à sociedade brasileira que o presidente da Câmara dos Deputados deve prestar contas. São os interesses dessa sociedade que devem inspirar as decisões dessa presidência, interesses que estarão ou não sendo defendidos por seus representantes, mas nunca os interesses individuais de cada membro do Poder. Pelo menos na teoria é assim que funciona. Se a prática é outra, de duas uma, ou a teoria está errada ou a prática está equivocada. Vou pensar sobre isso.

Ouvi também o discurso do candidato do governo, como assim foi identificado. Perdi algumas coisas, pois os meninos entraram no carro e começaram a disputar o rádio, intercalando Racionais MC. Mas deu para perceber que foi uma fala mais institucional. Menos corporativa. Foi dirigida aos partidos, às forças políticas, à instituição, ao Poder Legislativo. Não sei quem é melhor do que quem, nem qual poderá ser o melhor presidente para nós neste momento. Não sei mesmo. Se tivesse de escolher, ficaria num mato sem cachorro. Também não sei porque estou pensando nisso agora. O lanche já está na mesa e eu estou azul de fome. Mais tarde vou ver o final dessa história.


Durmam com os anjinhos

terça-feira, setembro 27, 2005

Vamos ser gauche na vida

Meninas, lamento. Não trago boas notícias. Detesto fazer o papel de anjo torto. Mas, como diria tio Lenin, o que fazer? Nem tudo é primavera na ilha da fantasia. Aliás, por onde anda prima vera? Deve estar andando por aí, sem rumo, como todas nós. Ou foram os ventos do norte que dispersaram nossas esperanças? buuuuuush?! Cadê você, véio? Onde está nossa primavera? Danadinha. Não sabe que estamos ansiosas a sua espera? Com nossos vestidos de chita florida, nossos chinelinhos de dedo e nosso perfume de flor de maracujá? buuuuuush!? Onde está você? Já assinou aquilo que você sabe o quê?

Pois então, hoje ia colar aqui, neste poste, uma foto da Serra do Curral numa manhã de primavera. As nuvens não deixaram. A idéia gorou. Fica pra depois. Fica pra outra vez. bush, bush!... Estamos esperando.

O que era mesmo que estávamos pensando hoje de tarde? Ah! Isto. Já tendo o gato subido no telhado, podemos agora fazê-lo descer. Era isso. Não está nada fácil ser gauche nesta vida! Na volta do almoço, estávamos filando o jornal na mesa dos rapazes, quando fomos surpreendidas por mais uma revelação dos magos da medicina moderna. Ah! as maravilhas da medicina moderna! Estava lá, no alto da página do valoroso Estado de Minas! Em letras abissais: Câncer de mama ataca mais mulheres canhotas. (!)

Viram a perseguição? Não estou dizendo? Tá difícil ser gauche, amigas. Deve ser por isso que o Lula está querendo ir para o PMDB. Cansou. Só porque as pobres mulheres têm mais habilidade com a mão esquerda, já estão no grupo de risco. Só por isso. Tem cabimento uma coisa dessas? Tem, tem? Respondam-me! E nem foram os ingleses que fizeram a pesquisa, hem? Foram os holandeses.

Só fico pensando onde foi que eles arrumaram 12.178 mulheres para entrevistar, todas nascidas entre 1932 e 1941. O país é um cisquinho. Cabem três holandas dentro do Amapá! A população de Utrecht, cidade que abriga o centro de pesquisa responsável pela investigação, não tem mais que 230 mil habitantes. Se considerarmos que esta população tem um perfil meio a meio, com 50% de homens e 50% de mulheres, esse pequeno grupo representa quase 12% da população da cidade.

E qual será a porcentagem de canhotas entre elas? A matéria não diz. Mas, considerando que estes 12% representam toda a população feminina da cidade, com idade entre 64 e 73 anos, o que é bem razoável, a incidência de holandesas canhotas deve ser bastante alta. Portanto, essa é uma condição dada do grupo pesquisado, não pode ser considerada um fator causador do câncer de mama.

Meninas, quando forem a Holanda, acho melhor não beberem águas de Utrecht. Elas, sim, devem causar câncer de mama. Mas, principalmente, não se impressionem. Como diz minha irmã, a medicina não é uma ciência do conhecimento, mas uma sub-área da estatística. Vocês vão comprovar isso rapidinho. Semana que vem, o Estado de Minas traz outra notícia, sobre uma nova pesquisa, esta sim realizada pelos ingleses (esses caras são uns loucos!) demonstrando exatamente o contrário disso, ou qualquer outro absurdo que os números puderem provar.

Mais do que isso, meninas, leiam a matéria. É hilária. Depois de resumir o resultado da pesquisa, entra a poderosa Emma Taggart, da organização Breakthrought Breast Cancer (alguém já ouviu falar?), com sede na Grã-Bretanha (não tô dizendo!), jogando panos quentes e advertindo que ninguém deve se preocupar com essa pesquisa, pois não passa de um estudo intrigante. E mais. Sabem o que ela disse? Vou copiar: “câncer de mama é uma doença extremamente complexa e sabemos muito pouco sobre suas causas.” Ah! as maravilhas da medicina moderna!

Nem devia estar brincando com isso. Ainda nessa semana vou fazer os meus exames de rotina. Me sinto indo para o abatedouro. Espero renascer na semana que vem, para continuar tentando ser gauche na vida! Vamos lá meninas, vamos passear na vida, enquanto é tempo!

Hasta la vista de nuevo!

PS: Olha só, fiquei sabendo que nessa quarta-feira vão instalar, na Praça da Estação, um intestino gigante. Vocês poderiam me dizer o que significa isso? Um intestino gigante em funcionamento! O que eles estão querendo demonstrar com essa exibição? Alguém pode me explicar?

domingo, setembro 25, 2005

Dar a palavra

“O que dizem as palavras não dura. Duram as palavras. Porque as palavras são sempre as mesmas e o que dizem não é nunca o mesmo”.
Antonio Porchia

“Entre quem dá e quem recebe, entre quem fala e quem escuta,
há uma eternidade sem consolo”
Roberto Juarroz

Este blog está sob regime de auto-censura. Existe uma meia dúzia de três ou quatro assuntos que não jogo na roda, porque me são caros e sempre acho que sei deles menos do que deveria ou gostaria de saber para poder pensá-los. Daí, quando falo sobre esses assuntos, acabo apelando para a ignorância. Nos dois sentidos. Mas como não sou uma pessoa muito coerente, muito apegada às minhas próprias idéias, hoje vou abrir o cofre de sete chaves e tirar de lá um assuntozinho de nada, um minimozinho entre os demais, porque preciso!, como diria minha vó. Mesmo que ninguém me escute nesta casa, preciso falar e vou falar. Ela sabia como ninguém ser dramática, se assim avaliasse ser necessário.

Ai iai iai, viu...Vão chutar minha barraca de novo. Paciência. Vou pensar um pouco sobre comunicação. Mas para não me trair completamente, vou pensar de um ponto de vista diferente daquele que tenho pensado até agora. E vou começar concordando com a Marilena Chauí. Li a carta que ela escreveu a seus alunos pelo menos três vezes. Calmamente. Lendo e relendo e voltando e riscando. E concordei nas três vezes. Para fundamentar minhar concordância, poderia recorrer a qualquer um dos textos ou dos livros sobre comunicação que, por obra do ofício, estão na minha estante. Mas não vou fazer isso.

Vou pensar com Jorge Larrosa. A partir de um texto que a Rutinha me passou um dia e que venho lendo devagar: Dar a palavra. Notas para uma dialógica da transmissão. E vou usá-lo num contexto diferente daquele utilizado por Larrosa. Não vou nem pedir licença, pois agora a palavra já me foi dada, não é isso Ruth? Vou pular as primeiras notas e ir direto para a sexta, que é a que me interessa aqui, pois fala exatamente sobre essa questão: dar a palavra.

Fico tentada a dar uma de copista e simplesmente reproduzir, aqui, todo o texto de Larrosa, mas também não vou fazer isso. Vou tirar sua poesia e deixar só o concreto, para ser a base do que estou pensando. Larrosa parte de um fragmento da poesia de Porchia, que citei no alto do poste, para concluir que o dar a palavra é fazer com que elas durem, dizendo cada vez coisas diferentes. É dar o porvir da palavra, fazendo com que o mesmo seja dito, mas que, em sua repetição, seja infinitamente único, múltiplo e diferente.

Agora vou copiar: “No dar a palavra, somente aquele que não tem pode dar. Aquele que dá como proprietário das palavras e de seu sentido, aquele que dá como sendo dono daquilo que dá... esse dá, ao mesmo tempo, as palavras e o controle sobre o sentido das palavras e, portanto, não as dá. Dar a palavra é dar sua possibilidade de dizer outra coisa diferente daquilo que já dizem....A força atuante do dar a palavra só é aqui generosidade: não apropriação das palavras para nossos próprios fins, mas desapropriação de nós mesmos no dar. As palavras que se dão, são palavras que se dão abandonando-as”. Sem comentários.

Então me lembrei de outro trecho de um outro autor, Pierre Bourdieu, em “O estúdio e seus bastidores”, quando ele trata da censura invisível na televisão. Acho que posso estendendê-la aos outros meios de comunicação, porque as condições, adequadas a cada meio, são as mesmas. Ele diz que “o acesso à televisão tem como contrapartida uma perda de autonomia, ligada, entre outras coisas, ao fato de que o assunto é imposto, de que as condições da comunicação são impostas e, sobretudo, de que a limitação do tempo impõe ao discurso restrições tais que é pouco provável que alguma coisa possa ser dita”. E não é assim também no rádio, no jornal e na revista?

A Folha publicou recentemente, por exemplo, uma entrevista com Wanderley Guilherme do Santos que deu dó. A entrevista deve ter sido ótima, mas ao editar o texto, por conta do espaço, com certeza, as respostas foram reduzidas a frases introdutórias, que nunca chegaram a tocar o fundo do pensamento de Wanderley Guilherme do Santos. Assim, ficamos só com uma vaga idéia do que ele está pensando sobre a crise política brasileira.

Não vou nem citar outras situações, mais complicadas, que é quando, por exemplo, o repórter dá a palavra à sua fonte, para tomá-la imediatamente, e dar a ela um novo significado, que se encaixe adequadamente ao seu texto, dando a ele uma pretensa coerência e consistência. Não é culpa do repórter, nem sempre; às vezes nem do editor, mas do tipo de jornalismo que nos foi imposto e que não tivemos força para reagir. O que fazemos é uma sopa de letrinhas, como diz o Leo.

Voltando a Larrosa, será que as mídias, ao dar a palavra, estão trazendo para as páginas dos jornais, para as telas da tevê, para as ondas do rádio, o porvir das palavras, a sua possibilidade de dizer outra coisa diferente daquilo que já foi dito? Será que estão atuando, de fato, como o cão de guarda da democracia? Não da brasileira, que essa é outra história a se pensar. Mas do espírito democrático? Ou tentam apenas comprovar teses já desenhadas na redação? Será que não estão certos aqueles que se recusam a falar no limite de 1 mil 300 toques, ou 20 linhas de 36 toques, ou 45 segundos? Como tratar a complexidade do nosso mundo de hoje em 400 palavras ditas rapidamente? O que se está querendo que se diga? Ou não se quer que seja dito coisa alguma? Ou se quer apenas ilustrar um texto? É nisso que estava pensando neste final de domingo chuvoso. Vou terminar de lavar os pratos!

quinta-feira, setembro 22, 2005

bush, bush....

Lá vem mais um furacão! Tudo bem, parece que Rita desanimou e está chegando mais mansa, mas o risco de afetar a produção das refinarias do Texas continua. E aí? Como é que é? Vai ou não vai assinar esse Protocolo de Kioto? Que teimosia, siô. É intrigante mesmo a resistência dos Estados Unidos em aderir a esse acordo. É um acordinho danado de merreca, mas é o primeiro grande esforço mundial, com o objetivo de reduzir o impacto dos gases poluentes no clima do planeta.

Fui pensar um pouco sobre isso e a história é bem complicada, apesar de poder ser resumida em uma só palavra: business. O Protocolo de Kioto, que não foi assinado pelos Estados Unidos, exige que os países desenvolvidos reduzam suas emissões de gases de efeito estufa, no período de 2008 a 2012, a um nível não inferior a 5% do registrado em 1990. Ratificado por 141 países, menos os Estados Unidos, o Protocolo entrou em vigor em fevereiro de 2005.

E o que será que bush estará pensando sobre isso, nesta noite? Ele deve estar pensando o que sempre pensa todas as noites, quando olha para o mundo: em negócios. Com a entrada em vigor do Protocolo, que os Estados Unidos não assinou, criou-se um mercado de compra e venda de emissões de carbono, que já cresce – pasmem! - a taxas turbinadas de 200% ao ano.

O que é isso? Não sei bem, mas vou tentar explicar. Me acompanhem: os países em desenvolvimento não são obrigados, por enquanto, a reduzir suas emissões de gases. Mas, se as suas empresas reduzirem emissão ou retirarem dióxido de carbono da atmosfera, poderão vender esses "créditos" a firmas ou governos de nações ricas, que precisam reduzir seus índices, mas não estão conseguindo.

Para se ter uma idéia da dimensão desse negócio, a estimativa é a de que o mercado de carbono sequestrado movimentará até 2012, cerca de US$ 30 bilhões por ano. Segundo matéria publicada no Globo de outro dia, o Brasil poderá abocanhar pelo menos 10% desses recursos, ou, segundo cálculos de uma empresa de consultoria americana, cerca de US$ 1 bilhão por ano até 2012.

Então é uma coisa boa para os países em desenvolvimento, que poderão obter recursos baratos para investimentos em programas de controle da poluição, em setores como o siderúrgico, papel e celulose, indústria química e até para aterros sanitários, pois o melhor aproveitamento do lixo orgânico é fonte poderosa de créditos de carbono. Se estou entendendo, é isso.

E é bom também para as nações ricas, que podem comprar créditos dos países em desenvolvimento. E créditos baratos, se comparados aos investimentos que teriam de fazer, para reduzir as emissões de carbono de suas empresas. E daí? Onde entra os Estados Unidos, que não assinou ainda o Protocolo? Pois é, aí fui pensar com o José Goldemberg, que, se não me engano, está na Secretaria do Meio Ambiente do Estado de São Paulo. Ele explicou que, no lugar de adotar metas quantitativas para reduzir suas próprias emissões, por meio de leis e regulamentos, os Estados Unidos, que não assinou o Protocolo, se propõem a investir em pesquisas de novas tecnologias para o controle das emissões. Estão sacando? Trocou o compromisso de Kioto, pela ação bondosa de ensinar ao mundo como controlar suas emissões de gases. Ao invés de comprar créditos, vende tecnologia. Política de compensação, eu acho.

Mas para quê novas tencologias, se já existem outras disponíveis, para uso imediato, e a preços módicos, de ocasião mesmo? Justamente. Porque novas tecnologias, mais sofisticadas, são mais caras e geram novas necessidades no mercado, que serão atendidas por quem? Pelos Estados Unidos, que não assinou o Protocolo de Kioto. Negócios, meus amigos, negócios! Fazer o quê? Estamos ou não num mundo dominado pelo mercado?

Mas ainda não estou entendendo. Por quê, por quê, os Estados Unidos, que vocês já sabem o quê, não poderiam fazer as duas coisas juntas? Assinaria o Protocolo, pois ainda não assinou, e venderia tecnologia para os pobres? Não sei, não sei, gente! Tenho de pensar. Sei que o lobby da indústria do carvão nos Estados Unidos, que blá blá blá blá blá blá, é muito forte e que esse lobby é inimigo mortal do Protocolo de Kyoto, que os Estados Unidos não assinou. Mas não sei ainda o que isso quer dizer. Não sei se a indústria de carvão apoiou bush nas últimas eleições...., vai ver, são compromissos de campanha, né? Vou continuar pensando.

Bye

quarta-feira, setembro 21, 2005

Ela vem chegando

O ser arbóreo que habita nossa casa. Uma autêntica sibipiruna, uma angius árvore, da família das leguminosas, com folhas bipenadas e flores amarelas (ainda não chegaram). Também conhecida como sebipira. (Foto: Topi, vulgo João Daniel, Dani, Dã Dã)

Finalmente a primavera está chegando! Faltam menos de 24 horas!! Iuuhuuuu!!!Vamos poder mudar o disco, trocar a pilha, reformartar a memória, recarregar as baterias, refazer o para casa e começar outra vez, mais uma vez. É nóis de novo na fita. Não vou nem pensar para não atrapalhar. Boa temporada de flores para todos.

E até de repente!

PS: Quem quiser começar a nova estação fazendo alguma coisa diferente, participe, nessa quinta-feira, do movimento “Um dia sem carro”. A programação é a seguinte:

Encontro: Praça Sete, dia 22 de setembro, 19h, em frente ao Cine Brasil
Itinerário: Avenida do Contorno, sentido anti-horário, começando e terminando na Praça da Estação
Obrigatório o uso do capacete e desejável o uso de camiseta branca.

Haverá escolta da BHTrans, carro de apoio com água e mecânico, e sorteio de brindes
Iniciativa: Grupo de Ciclistas Mountain Bike BH (www.mountainbikebh.tiamat.com.br)

Além do panfleto a ser distribuído durante o evento, disponível em http://tinyurl.com/b5lrm, o grupo mountainbikebh elaborou um cartaz em preto e branco de fácil impressão. Quem puder/quiser imprimir e pregar esse cartaz em algum mural a que tiver acesso (trabalho, clube, lojas), também estará ajudando muito. Basta entrar no endereço http://tinyurl.com/96bl7, aumentar a imagem e imprimir. Cabe numa folha A4 ou carta com folga.
PEDAL-MANIFESTO "UM DIA SEM CARRO"

terça-feira, setembro 20, 2005

Virose verborrágica

Vou pensar rápido para não render muito assunto. Vou tentar me policiar porque o tempo é curto. Estava matutando agora, já com um certo distanciamento, sobre a fúria confessional que contaminou a consciência dos nossos homens públicos e outros nem tanto, nessa temporada outono/inverno 2005. Todo mundo queria contar um delitozinho aqui, outro acolá; um ilícito, que nem sabiam que era, vejam só!; uma mentirinha de nada, que tiveram de inventar para o bem de todos; um crimezinho eleitoral, uma bobagem que já nem se lembravam mais direito, enfim, qualquer coisa. Queriam falar.

Políticos, empresários, publicitários, suas respectivas, motoristas, secretárias, garçons e até presidiários foram atacados pela febre da vontade de falar. O negócio era contar tudo ou, pelo menos, tudo que consideravam conveniente contar. Parecia uma virose com alto poder de contágio. Uma gripe do frango, um surto de catapora. E haja cpi para ouvir tantas confissões!

Olhem só. Teve gente que mesmo não sendo convidada a falar, foi lá. Eu tenho de contar qualquer coisa! Preciso falar! Pelo amooooor de deus, me deixem contar também! E lá foi ele contar tudo, sentadinho, mordendo gulosamente a tampa da sua caneta bic. E teve gente que não pediu, mas foi. Foi e não falou o que se esperava que falasse, mas também não ficou calado. Mascou, mascou até sair alguma cascata qualquer.

Parecia véspera do juízo final. Todo mundo abrindo o verbo, rasgando a gramática, detonando o dicionário, no balcão do purgatório. E pra que tanta fúria?, pergunta o meu coração. E vai saber. Desconfio que falam porque sabem que em pouco ou quase nada isso vai dar. É claro que alguma coisa muda, lentamente, ao longo da história que, inventaram agora, é um processo. Mas, no que importa para cada um é que, no final, continua tudo na mesma para os mesmos.

Olhem só. Ouvi de um ministro do Tribunal Superior Eleitoral, que participava de um fórum técnico sobre reforma política, que a chance das denúncias de uso de caixa 2 nas campanhas eleitorais, pelo menos essas, terminarem em pizza, é muito grande. E não porque as cpis não tenham apurado, mas porque o Judiciário brasileiro tem um sistema de recursos tão irracional, que é quase impossível concluir um processo dessa natureza.

Ele citou como exemplo dois instrumentos que são tiro e queda nessas situações. O primeiro é o da suspensão de processo, que pode ser utilizado, entre outras alegações, por motivo de força maior. Suspenso o processo, segue-se outro recurso que trata da prescrição retroativa. Entendo que seja o mesmo que “prazo de validade vencido”. Não sei se estou certa. Se não estiver, que me corrijam. Esse instrumento também pode ser utilizado sozinho e é igualmente eficaz. E de recurso em recurso, o tempo passa, o povo esquece e a história acaba.

“Tudo fica no campo teórico da água de flor de laranjeira”, como concluiu o ministro. Não entendo bem o que isso quer dizer, mas desconfio que é uma variação em torno do mesmo tema da pizza. Um versão regional. Então que os confessos continuem derramando sua fúria verbal, neste espetáculo catártico, enquanto aguardamos o amanhã que virá. Se é que virá.

Hasta la vista.

sexta-feira, setembro 16, 2005

A Bola nerd

Ó dúvida!Vou ou não vou pensar sobre isso. Vou, não vou? Vou, não vou? Fui. Até que é um bom assunto para encerrar uma semana agitada. Olhem só. Li nos jornais desta sexta-feira que a Fifa testará, durante o torneio mundial de sub17, que começa hoje no Peru, a tal da bola “inteligente”. Isso mesmo. A danada tem um microchip que avisa o juiz quando ela cruza a linha de gol. Agora pensem comigo: isso não é muito esquisito?

Tá certo. A bola agora vai falar. Mais um para dar palpite dentro do campo, hem? E pode até ser, como acreditam o Sardenberg e o Armando Nogueira, ao comentarem o assunto na CBN, que incorporando os avanços da tecnologia, os juízes cometerão menos injustiças e garantirão resultados mais precisos para as disputas futebolísticas. Eles são modernos! Só que não é isso que me preocupa neste momento. Não é o dentro, mas o fora do campo. Pois quem disse que o jogo acaba quando o juiz apita? E quem disse que o melhor do jogo é a bola rolando no gramado?

Se fosse assim, terminava o show e todo mundo ia embora pra casa tocar a vida. Desligavam a televisão ou o rádio e iam caçar o que fazer. Mas não é isso que acontece na vida real. Ficam igual enxurrada depois da chuva. Um monte de bolinhos espalhados na porta do estádio ou nas redondezas ou nos bares ou em casa mesmo, na mesa da copa, discutindo, polemizando, gesticulando, só por conta de um lance. Aquela bola entrou ou não entrou? Entrou! Não entrou!

Pronto, o debate está servido. Isso rende dias, semanas, meses. Dependendo da importância da partida, até décadas. Rende até desafetos, por alguns dias. Rende comentários e mais comentários nos programas de esporte da hora do almoço. E tem até um efeito didático, preparam os jovens para o debate, já que outros temas são, para eles, menos palatáveis. E quanto mais imprecisos os lances de uma partida, mais ingredientes são adicionados nesta lauta refeição. Essa é uma das alegrias da galera.

Mas agora, com a bola nerd, acabou-se o que era doce. E junte a isso as regras que a Fifa tem inventado todo dia – não pode isso, não pode aquilo, isso nem pensar, pode dar até expulsão – e, pronto, acabou-se a polêmica no futebol. Fim de jogo, fim da diversão. Agora só falta acabar com a espontaneidade dos jogadores, as gingas, aqueles dribles fenomenais e aí o futebol volta a ser um esporte inglês. Se não é isso mesmo que eles estão querendo. Em bom portunhol, deixo aqui o meu protesto: caramba, ora buelas, este despuerte estay mutjo cri-cri, djo no voi mas acompañar futeboolll!

quinta-feira, setembro 15, 2005

Vou demitir meu piloto automático

Ia fazer um monte de coisas ontem, inclusive pesquisar uns dados sobre subsídios para agricultura, que estou precisando com urgência, para fundamentar algumas bobagens que ando pensando. Mas não deu tempo. Nunca dá. É im-pres-sio-nan-te! Estamos sempre correndo atrás do tempo e ele, disparado lá na frente, nos obrigando a avançar cada vez mais depressa, principalmente depois dos enta. Por isso, torço para que o jump day dê certo. Aliás, preciso retomar meus treinamentos. Dia 20 de julho de 2006 está aí.

Voltando ao tempo. Se o dia tivesse mais duas horas - pela manhã, de preferência - já ficaríamos bem arrumadinhos. O horário de verão vai dar um jeito nisso, mas é pouco. Preciso de mais. Eu quero sempre mais! Foi aí que a Carminha, que anda, engraçadamente, sintonizada na minha freqüência, enviou-nos um artigo que explica direitinho porque estamos sempre com essa sensação, de que o tempo está acelerado. O texto é de um carinha chamado Airton Luiz Mendonça, mas não sei onde foi publicado.

Antes de entrar no fundamental, vamos aos detalhes. Fiquei pasma. Ele diz que um adulto médio tem entre 40 e 60 mil pensamentos por dia. Isso é uma fartura impensável! É de enlouquecer mesmo. Que fossem 30 mil pensamentos por dia, já seria uma barbaridade. E é! Com tanta opção de escolha, não sei como, tantas vezes, perdemos tempo pensando bobagem. Deve ser interferência do espírito de porco. Aliás, a Rutinha me mostrou um outro texto, que fala sobre as três transmutações do espírito. É bárbaro! O texto está no livro Assim falou Zaratustra, do Nietzsche. Mas depois penso sobre ele.

Voltando ao fundamental, Mendonça explica que nossa noção da passagem do tempo está muito ligada ao movimento - das coisas, das pessoas - e à repetição de eventos cíclicos, como o nascer e o pôr do sol. Se, por exemplo, nos fecharem numa sala vazia por alguns dias, loguinho perdemos a noção de tempo. O que não quer dizer que ele não passe, claro. Então, meninas, não se alegrem. Isso não é terapia de rejuvenescimento.

Depois, ele explica que o nosso cérebro é um grande gerente e sabe, como ninguém, otimizar seus recursos. Olhem só para vocês verem. O que ele faz com aqueles 60 mil pensamentos que processamos diariamente? Ele pega a maioria deles e joga no automático. Fica como se não tivéssemos pensado. Vou dar um exemplo. Quando saimos de casa, fechamos as janelas, ligamos o alarme, apagamos as luzes, trancamos a porta, driblamos a cachorrinha, que sobe como uma louca desorientada para pular e sujar de terra nossa roupa limpinha, e aí abrimos e batemos o portão. Tudo uma repetição sem fim. Tudo detalhe sem importância. Então, fazemos essa seqüência complexa de atividades no automático. Não pensamos outra vez para realizá-la. É como se, naquele momento, o tempo não estivesse passando. Sacaram?

Nós, adultos, temos essa sensação de que o tempo está acelerando, por isso. Porque estamos operando muito no automático. Estamos deixando de vivenciar as nossas experiências mais banais e jogando o tempo no lixo. E aí? Pois é. Nós precisamos também da rotina para não enlouquecermos. Não dá para ficar negociando com 60 mil pensamentos por dia, né?

Aí entra o Mendonça de novo e nos dá algumas dicas. Ele criou o antítodo para aceleração do tempo, chamado M&M. Mude e Marque. Mude, para sair do automático, óbvio. Então inventem novos caminhos da casa para o trabalho, do trabalho para casa; tenham filhos (eles são destruidores contumazes de rotina); viajem; passeiem; leiam livros direrentes, escovem os dentes de olhos fechados; atendam ao telefone com a mão esquerda; escutem música; dançem (mesmo que isso seja um pouco esquisito!); cozinhem pratos diferentes e tudo o mais que for novidade para vocês. A Cris falou que é bom ligar o carro de olhos fechados. Vou testar isso agorinha.

E marquem. Marquem para criarmos a oportunidade dos eventos cíclicos, que também regula a nossa noção da passagem do tempo. Como fazer isso, sem cair no automático? Celebrem a vida! Sabem aquele lanchinho no início da noite, com a família toda reunida? Aproveitem para comemorar. O quê? Qualquer coisa, o dia bom que tiveram, a idéia legal que passou pela sua cabeça, a prisão de um corrupto, a vitória do Cruzeiro (tá difícil, hem?), a derrota do Atlético (essa é fácil!), as 24 horas de tevê desligada. Inventem, meus amigos! Inventem! O primeiro beijo! Ou um olhar que vocês receberam lá atrás, mas que vocês se esqueceram e nunca comemoraram. Aproveitem, comemorem!

O segredo é esse. Inventar jeitos novos de viver, sempre, always! E comemorá-los! Porque se vocês viverem intensamente as diferenças, as novidades, deixando o piloto automático apenas para aqueles momentos mais chatos, o tempo vai parecer mais longo. Vamos passear na vida, amigos! Chega de correria! Então, não é fácil! Bom passeio!

Vou indo...(digitei essas palavras com o cotovelo, para fazer diferente, né! Foi emocionante! O tempo custou a passar e agora já estou atrasada. Vou ligar o automático de novo!)

quarta-feira, setembro 14, 2005

Fundo do poço - Parte II

Do fundo do poço, continuo desentendo tudo que está acontecendo. Olhem só. Não ouso discordar e tendo a concordar com a Marilena Chauí, quando ela fala que os militantes do PT tiveram um papel importante na construção da democracia brasileira. E quando ela diz: No pasarán!.
E não discordo e também tendo a concordar com o Leo, quando ele diz: que se vayam los todos. Olhem só que confusão!

Andei e pensei que, talvez, em vez das macas e da CTI Epistêmica, estejamos todos precisados é de algumas horas de divã e de mais alguns bons escutadores, para podermos (des)entender o ponto da fervura desse nosso caldo político e cultural.

Tiauuuuuuuuuuuuu

PS: Achei mais uma dica sobre como sair do fundo do poço: recitar Cassiano Ricardo. Olhem se não dá:

O Cacto

Vamos, todos, brincar de cacto/na areia da nossa tristeza./Uma folha sobre outra,/em caminho do céu intacto.

Uns nos ombros dos outros,/um braço a nascer de outro braço,/uma folha sobre outra,/formaremos um grande cacto.

De cada braço, já no espaço,/nascerá mais um braço, e deste/outros braços, qual ramalhete/de flores para um só abraço.

Filhos da pedra e do pó,/ fique aqui embaixo o nosso orgulho,/pisados sobre o pedregulho./Formaremos, num corpo só/

(uma folha sobre outra/uma folha sobre outra,/um braço a nascer de outro braço),/a nossa escada de Jacó.

Pra que Torre de Babel/ou o Empire State, compacto,/se, uns nos ombros dos outros,/chegaremos ao céu, num cacto?

Uma folha sobre outra/e já uma árvore de feridas/por entre os anjos de azulejo/e as borboletas repetidas.

Que fique aqui embaixo a terra;/lá de cima nós tiraremos/uma grande fotografia/do seu rosto de ouro e prata.

Pra provar a Deus que a terra,/numa fotografia exata,/não é redonda, mas chata;/não é redonda, mas chata.

Pra prova, por B mais H,/que o homem, animal suicida,/já sabe fabricar estrelas.../Se é que Deus disto duvida.

Que iríamos fabricar luas/(se não fôra, para Seu gáudio,/o espião nos ter furtado a fórmula)/ mais bonitas que a Sua.

Vamos, todos, brincar de cacto,/uns nos ombros dos outros,/um braço a nascer de outro braço,/uma folha sobre a outra.

Vamos subir, de folha em folha,/mais alto do que vai o avião./Lá onde os anjos jogam pedras/ no cão da constelação.

Que outros usem avião a jato/pra uma viagem em linha reta:/nós, filhos da planície abjeta,/subiremos ao céu num cacto.

Uns nos ombros dos outros,/injustiças sobre injustiças,/formaremos um verde pacto.../Vamos, todos, brincar de cacto.

Vamos, todos, brincar de cacto.

terça-feira, setembro 13, 2005

Do fundo do poço

Les événements m’ennuient – Paul Valéry

Chutaram o pau da minha barraca. Uma vez e depois mais outra. Então agora me deixem ir, preciso andar. Não vou esperar quarta-feira para levantar acampamento, pois os acontecimentos já começam a me aborrecer. Vou mudar de assunto, trocar de canal, passar de fase.

Pois olhem só, vieram me contar que o advogado do sr. Paulo Maluf é o presidente da OAB, o mesmo que se arvora a liderar um movimento da sociedade contra a praga da corrupção, a mesma, sobre a qual, foi construída a nossa república. (Nota da Redatora: Hoje, mais tarde, fui apurar essa história e constatei que minhas fontes estão bem desinformadas. Tenho de ficar atenta. O advogado do Maluf não é o presidente da OAB. Ainda bem, né? O advogado do filho do Maluf também não é. Mas foi. Ele foi presidente da OAB, no período de 93 a 95. Isso sim. As informações foram obtidas na página da OAB na internet.)

Essa outra agora ninguém me contou. Eu mesma li num jornal. Não me lembro qual, mas, uma horas dessas, vou deslembrar. Li que o PT não teria a menor chance de se desviar dos descaminhos por onde se embrenhou, porque, como nós, pobres mortais, ele é feito da pequenês dos nossos vícios e não das virtudes sólidas dos grandes heróis.

Não é por essa estranha ética dos advogados, inspirada no princípio que garante o direito à defesa a todo e qualquer cidadão, principalmente àqueles que viajam de 1ª classe. Não é pelo PT, pois não carrego siglas na minha mochila e a única carteirinha que guardo comigo é a do meu plano de saúde. Não é por essas circunstâncias que fiquei sem abrigo.

Sinceramente, o que me tira o chão é me perceber não querendo enxergar o que está exposto para todo mundo ver e tocar. Chegamos ao fundo do poço. Não tem mesmo graça, não é normal, mas é preciso. E se é que ninguém pode nos tirar daqui, como vamos sair? Se não somos nem melhores nem piores, mas iguais em tudo, variando só nas oportunidades, de onde vamos tirar as virtudes que precisamos para voltar à tona?

Por acaso, se o acaso existe, li hoje uma poesia do Drummond que me fez pensar nisso tudo. E me fez querer - para amanhã, quem sabe -, recomeçar outra vez, mesmo que da outra margem do rio. Então, vou dar uma de copista:

Mundo Grande

Não, meu coração não é maior que o mundo./É muito menor./Nele não cabem nem as minhas dores./Por isso me dispo,/por isso me grito,/por isso freqüento os jornais, me exponho cruamente nas livrarias:/preciso de todos.

Sim, meu coração é muito pequeno./Só agora vejo que nele não cabem os homens./Os homens estão cá fora, estão na rua./A rua é enorme. Maior, muito maior do que eu esperava./Mas também a rua não cabe todos os homens./A rua é menor que o mundo./O mundo é grande.

Tu sabes como é grande o mundo./Conheces os navios que levam petróleo e livros, carne e algodão./Viste as diferentes cores dos homens,/as diferentes dores dos homens,/sabes como é difícil sofrer tudo isso, amontoar tudo isso/num só peito de homem...sem que ele estale.

Fecha os olhos e esquece./Escuta a água nos vidros,/tão calma. Não anuncia nada./Entretanto escorre nas mãos,/tão calma! vai inundando tudo.../Renascerão as cidades submersas?/Os homens submersos – voltarão?

Meu coração não sabe./Estúpido, ridículo e frágil meu coração./Só agora descubro/como é triste ignorar certas coisas./(Na solidão de indivíduo/desaprendi a linguagem/com que homens se comunicam.)

Outrora escutei os anjos,/as sonatas, os poemas, as confissões patéticas./Nunca escutei voz de gente./Em verdade sou muito pobre.

Outrora viajei/países imaginários, fáceis de habitar,/ilhas sem problemas, não obstante exaustivas e convocando ao suicídio.

Meus amigos foram às ilhas./Ilhas perdem o homem./Entretanto alguns se salvaram e/trouxeram a notícia/de que o mundo, o grande mundo, está crescendo todos os dias,/entre o fogo e o amor.

Então, meu coração também pode crescer./Entre o amor e o fogo,/entre a vida e o fogo,/meu coração cresce dez metros e explode,/ - ó vida futura! Nós te criaremos.

segunda-feira, setembro 12, 2005

Tragam as macas

Ontem desentendi tudo o que está acontecendo no palco da política. Ouvi só um trecho da entrevista de Severino Cavalcanti, mas foi o suficiente para desencadear todo o meu desentendimento. Tudo começou quando alguém da imprensa, não me lembro quem, inciou sua pergunta com um supondo que...O Daniel, que estava pilotando a sua dremel multipro 395AX, iniciando as obras de mais um casemod, retrucou, lá de fora, imediatamente: supondo que sua pergunta não tenha sido feita, hem? Hem? O que eu responderia? Nada. Absolutamente nada, já que nada me foi perguntado. É um adolescente e, como tal, cruel e intolerante.

Eu até que desentendi aonde a repórter queria chegar, como desentendi outras tantas versões sobre a mesma questão e até tirei um conclusão precipitada e infundada da coletiva concedida por Severino. É uma tese antiga, com algumas incomprovadas ocorrências. Ela diz o seguinte: uma mesma pergunta pode ser formulada de duas até dez diferentes formas, no mínimo, ou até ao infinito, mas se não for a pergunta certa, a resposta será sempre a mesma. Não adianta insistir. Acho que o Severino desconfiava disso também e tornou-se enfadonhamente repetitivo, durante a entrevista.

E, como ele, tenho observado que, muitos parlamentares, empresários, autoridades do executivo, jornalistas e, admitamos, nós mesmos, estamos nos tornando muito previsíveis, quando vamos comentar essa bagunça política que aí está. Minha xará e amiga reclamou outro dia, depois de passear por aqui, que estou escrevendo muito e ninguém aguenta mais discurso, blábláblá, titititi e enhenhenhe. Ela está certa, como sempre. Mas eu não tenho mais conserto, desde que demiti meu editor, para ver se conseguia pôr esse blog no ar. Ele dava tanto palpite, corta aqui, corta ali, esse ângulo é melhor, não, não, esse ângulo não, está equivocado, chi, essa palavra não, é muito ambígua, nossa, você está despencando no óbvio, no lugar comum e assim por diante. Aí dispensei. E, agora, estou assim, sem limites.

Mas acho que os demais ainda têm salvação. Claro, depois de um tratamento intensivo, supervisionado pelos filósofos puros, pelos engenheiros (que têm uma racionalidade espantosa quando vão discorrer sobre qualquer assunto) e pelas crianças entre 7 e 11 anos. Então:

- Tragam as macas! - como diria o Barão Vermelho. Todos para o CTI Epistêmico!

Se escaparem, despercebo que teremos alguma chance de deixar de descompreender a nossa realidade e começar a vislumbrar alguns contornos de coerência no horizonte e, quiça, já desenhar algumas evidências dos fatos. Caso contrário, continuaremos livres, pelo menos isso, para escolher em qual mentira vamos acreditar. Em qual mentira você vai acreditar?

Tentem o unidunitê, às vezes funciona!

Vou me recolher.

PS: Não desisti, continuo pensando na alegria dos pobres e, agora, ainda mais, nas porteiras desse mundão besta. Quando as idéias brotarem, volto para postá-las.

sexta-feira, setembro 09, 2005

Confusão mental

Vichi....não consigo mais acompanhar o fuzuê de Brasília. É tanta treta, que me perdi. Entrei numa área de grande turbulência e muita confusão mental. Desisto. E querem saber? Ah, cansei! Vou entrar em recesso por uns dias, vou passear no parque, vou soltar papagaio lá na praça do papa, tomar sorvete no seu domingos, café no Museu Abílio Barreto, andar à tôa pela savassi.

Mas, antes disso, aos deveres: comunico algumas mudanças no planejamento do treinamento para o torneio mundial de triatletas virtuais. Seguinte: ouvi agora à tarde, na CBN, o Renato Machado fazendo comentários sobre vinhos franceses. Ele chutou o pau da barraca. Disse que os vinhos franceses estão muito caros, estão os olhos da cara, exorbitantes mesmo e que a qualidade nem tanto, que tem muita gente reclamando, gente preferindo os vinhos espanhóis, alemães, que não sei o quê, que blábláblá e assim por diante. Fizemos uma assembéia virtual e decidimos, então, trocar o vinho francês pela água Perrier. Isso é até bom, ajuda na caixinha da copa.

Mas, para ninguém ficar triste, decidimos ainda, por unanimidade, levar o vinho de Portugal. Isso poderá ter um pequeno impacto no tempo que havíamos planejado para cumprir esse trajeto. Talvez teremos um acréscimo de 10 a 45 minutos, se decidirmos provar o vinho antes de comprar. Sabe cuméquié, aí vem uns bolinhos de bacalhau, umas azeitonas pretas, queijinho, aquelas coisas. E o tempo voa, amigos. Bom, por enquanto é isso. Qualquer outra mudança no plano de navegação, comunico.

Boa balada para todos

Os in e os vel do dicionário

Nos pesadelos da noite passada, ouvi uma voz. Vinha de não sei onde. Ela estava lá, em algum lugar, resmungando, rosnando, às vezes choramingando, às vezes, parece, gargalhando. Depois, pronunciou em voz clara, grave, plenamente audível: eu não vim para explicar, eu vim para confundir!

Fiquei pensando nessas palavras, tentando entender o que é que elas queriam dizer. Aí fui passar os olhos nos jornais de ontem, porque ainda não tinha tido tempo para ler e não quero perder nem um capítulo nessa história. E estava lá: tabela do imposto de renda vai mudar. Alíquota de 27,5% cai para 25%. A Folha fez até uma arte bonitinha, com setas apontando para um lado, para o outro, quadro, simulações, gráficos coloridos e tudo mais. Aí é que não entendi nada mesmo, mas comecei a desconfiar que já entendia o meu pesadelo.

É que no final da tarde de ontem mesmo, ouvi na CBN, na Globonews, na porta do Colégio Santo Antônio, que não havia nenhuma mudança na tabela do Imposto de Renda. Continuamos a ter o Estado como sócio majoritário nos ganhos com a venda da nossa força de trabalho. Quem manda termos um produto bom como esse, que ainda tem grande aceitação no mercado! Já os produtos industriais, perfumes, caviar, aço inoxidável, bom.... Se bem que, estou tentando lembrar aqui, mas acho que nossa alíquota é equivalente à dos cigarros. Será que fazemos mal também?

Bom, parece que essa história toda é uma grande confusão. Em bom portunhol: caramba, compañeros, pienso que zapateamos na pelota!

Óisó, o Cláudio falou que não foi o governo que se enganou. Esse governo é que é um engano. Não vou polemizar, né? O que eu sei é que esse episódio é alguma coisa impensável, inescrevível, inacreditável, inaceitável, inabordável, imperdoável, inarrável, incaptável, ininteligível, incompreensível, incognoscível, incogitável, inconcebível, indeslindável e outros ins e outros vel que tiverem no dicionário.

Vou rever a série de Mazaropi neste final de semana para esquecer.

Desse jeito não dá para continuar pensando....

Já vou, mas volto a qualquer hora.

quinta-feira, setembro 08, 2005

Acabou a moleza! - Parte II

Huahuahua! Vou virar triatleta virtual! Com o apoio técnico-psicológico do Cláudio e por sugestão da Ruth, fui fazer uma caminhada pelas ruas de Paris. Foi um passeio de reconhecimento de área, rápido, mas sem stress. Fiz só o trajeto do Sena, cruzando a ponte de la Concorde, des Invalides, parando para apreciar o Champs Elysées, até chegar à ponte d"léna e terminar na Torre Eiffel. Depois sobrevoei rapidamente outros pontos da cidade, só para ter certeza de que ela terá ruas suficientes para abrigar minhas caminhadas matinais diárias. Parece-me que tem.

Mas será ainda um exercício solitário, já que a Google Earth (vá antes que acabe: http://earth.google.com/ ) ainda não disponibilizou pela internet uma versão on line, daquele tipo dos joguinhos eletrônicos, que você entra de turma. Enquanto aguardamos, estamos elaborando o planejamento dos nossos treinamentos para, futuramente, disputarmos uma vaga no torneio triatleta virtual. Tomara que não demore muito, porque a Coréia já começou a pressionar Bush, para que ele pressione a Google e a Google tire esse programa do ar. Olha só, que bobagem. Uma idéia tão democrática dessa!

O planejamento está no seguinte pé: vamos atravessar o Atântico a nado (fuuu! vamos ter de parar de fumar. Isso é bom, ando com muito medo daquela perna que aparece nos maços de cigarro. Outro dia, tive um pesadelo com ela. O homem sem perna corria atrás da perna, que.... Brincadeira. Isso é sério!); depois, em Portugal, vamos pegar uma bicicleta e pedalar até Paris. Em Paris, vamos caminhar, claro, e terminaremos tudo isso tomando um Cotê de Nuits ou de Beaune, no Jean de Chalosse.

Estamos pensando em gastar, nesse trajeto, alguma coisa em torno de 85 a 136 minutos e queimar, pelo menos, 350 calorias, que serão, rapidamente recuperadas, na mesinha ao ar livre, do Jean Chalosse. Em francos, dólares e real, não pretendemos gastar nada, porque a situação tá preta e, além do mais, quando sobra alguma moeda, guardamos no cofrinho, para ver se juntamos uma graninha para uma viagem à Alemanha no ano que vem. Hehehe, vamos ver o Brasil jogar, já que, por aqui, tá difícil acompanhar o futebol. Vai sonhando....Se não der, vamos acompanhar pela tevê mesmo. Comendo pipoca!

Bom, na nossa avaliação essa programação está de bom tamanho. Mesmo porque, já fomos liberados da prática de esporte, depois que recebemos uma pesquisa informal, feita por uma amiga de uma amiga nossa, demonstrando que ginástica faz mal. Nunca vimos grandes atletas velhinhos, de cabelos brancos, com uma bengalinha, fazendo caminhada na praça JK. Alguém já viu? Já?Já?

Esse futuro é só para aqueles que passam horas, horas e horas, sentados numa mesa, escrevendo, pensando, fumando, jogando conversa fora. Só para eles está reservado esse futuro. Para os atletas, ninguém sabe o que acontece com eles. Se se desintegram, quando surgem as primeiras rugas; se sobem aos céus, depois da última vitória; ou se são desligados automaticamente quando as forças se esgotam. O fato é que eles não ficam velhos. E, como nós queremos ficar bem velhinhos mesmo, achamos melhor parar com esse negócio de academia, musculação, aeróbica, caminhada, etc,etc,etc. Só se for virtual. Aí só pode.

Até mais ver.

PS: Continuo o treinamento de pulos. Estou quase no final da primeira etapa: pular da soleira da porta até o chão. Acho que vamos precisar disso. Viram a chuva de ontem em Belo Horizonte? Os vidraceiros estão adorando! Bush, Bush, assina esse protocolo, cara!

quarta-feira, setembro 07, 2005

Qual é a nossa turma?

Estava andando e pensando na alegria dos pobres, aí trupiquei no relatório do PNUD sobre o Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), divulgado hoje, 7 de setembro! O Brasil subiu 14 posições de 1990 a 2003. Apenas quatro países nos superaram neste ranking, alcançando algumas posições a mais do que nós, nesse mesmo período: China, Nepal (!), Albânia (!!) e Omã (!!!).

O Brasil ocupa agora a 63ª posição e está na sala, junto com outros 32 países, a sala dos que apresentam desenvolvimento humano médio. Somos colegas da China, Rússia, Líbia, Macedônia, entre outros. Isso até que não seria mal. Mas, quando giramos a lente e focamos apenas o indicador que calcula o grau de desigualdade social de uma população, o tal do coeficiente de Gini, a nossa turma muda.

Passamos para a sala dos países mais desiguais do planeta. Nossa pontuação é equivalente apenas à da Guatemala, Botsuana, Suazilândia, Lesoto, República Centro-Africana, Serra Leoa e Namíbia. Se nos olharmos no espelho, muito provavelmente, são eles que iremos ver. Não se espantem. Ou melhor, se espantem, pois é mesmo muito chocante!

E fica ainda mais estarrecedor, quando ficamos sabendo que nossos colegas de sala estão onde estão porque enfrentam epidemias de AIDs ( o Brasil tem um bom programa de controle dessa doença, reconhecido mundialmente!); ou porque passaram recentemente por guerra civil (nossa violência urbana não é reconhecida como tal, apesar de fazer tantas vítimas quanto!) ou ainda sofreram alguma desestruturação econômica recente (estamos com 11 anos de estabilidade econômica!). Então, o que estamos fazendo nessa turma?

Aí me lembrei de um artigo que li na FSP de domingo passado, no caderno Mais, assinado pelo jornalista português João Pereira Coutinho. Ele analisa a personalidade e o comportamento das elites brasileiras e conclui que a afirmação de identidade dos ricos no Brasil funda-se na humilhação dos pobres. É leitura obrigatória para quem estiver pensando em montar um programa de responsabilidade social ou de educação para cidadania, destinado às elites brasileiras.

Um parêntese. Eu estou pensando. Por dois motivos. O primeiro é que o mercado dos excluídos está saturado, por mais contraditório que isso possa parecer. Para cada causa relevante que identificamos na cesta de carências da população pobre do Brasil, encontramos pelo menos duas dúzias de ongs disputando recursos junto às organizações internacionais ou grandes empresas brasileiras, com projetos cada um mais mirabolante que o outro, quando não são meras brincadeiras de marqueteiros. É a vida. É muito difícil disputar espaço nessa praia. Segundo motivo: o artigo de Coutinho demonstra que o segmento mais carente da população brasileira é mesmo o das nossas elites. Fechando o parêntese.

Então, Coutinho define as elites como sendo aqueles que, " prescindindo de seus interesses particulares, contribuem para o todo social depois de uma educação longa e virtuosa.Uma educação que permite olhar para a cidade como realidade coletiva, não como possibilidade de enriquecimento, ou engrandecimento pessoal". (Huuummmmm!!!) E conclui: "...o problema do Brasil não está nas suas elites porque, ironicamente, o Brasil não tem elites. Tem antielites, incapazes de pensar o país como espaço comum". (Huuummmmm!!!! - de novo!)

Talvez aí esteja a explicação do porquê estamos na sala dos reprovados, no que diz respeito à distribuição de renda. E Coutinho encerra seu artigo lembrando uma frase de outro jornalista, Samuel Wainer, quando passava de carro por uma das avenidas da orla carioca. Ao ver um grupo de populares chutando uma bola de meia na areia, ele suspirou e comentou: "Eles querem tão pouco, e lhes negamos". É isso aí Coutinho! É isso Wainer!.

Bom descanso cívico para todos!

terça-feira, setembro 06, 2005

A certeza da dúvida

Não vou discutir. Vou só ponderar. Hoje, recebi mensagem de um amigo comentando a situação de Nova Orleans. Não era uma resposta ao texto que postei abaixo, foi só coincidência. Mas, como tratamos do mesmo assunto, não resisto! Voltei a pensar no assunto. A mensagem traz um texto do jornalista João Pereira Coutinho, um português, se não me engano, que assinou um belíssimo texto no Mais do último domingo, sobre as antielites brasileiras.

Nesse texto que me foi enviado, “Marcha Fúnebre”, publicado no site Pensata, do último dia 5/9, Coutinho desanca com todos aqueles que querem imputar a responsabilidade da tragédia de Nova Orleans a deus ou a bush. Nisso concordamos plenamente. Também acho que nenhum dos dois se meteriam nessa história. Se fiz referência a Alá, foi por falta de lead, de informação. Aí fiquei ali pensando e me veio na cabeça essa imagem: Bin Laden conversando com Alá. Então, é brincadeira. Tudo bem, foi mal, mas também não acho que dei a entender que isso seria sério.

Agora, com relação ao Protocolo de Kioto, não me desculpo. Isso é muito sério, véio. E não há mesmo nenhuma interferência divina promovendo essa mudança climática ou as alterações de intensidade dos grandes desastres naturais. Reafirmo isso, pelas mesmas razões que já expus no comments do post abaixo. A responsabilidade é nossa mesmo. E a resistência dos Estados Unidos em participar desse esforço, em assinar o Protocolo de Kioto, pode sim agravar a situação. E é muito bom que os americanos médios, sempre muito mal informados, saibam disso. Acho fundamental, sim, relacionarmos essa tragédia à, entre outras incompetências do governo Bush, à essa questão de Kioto.

Tudo bem, admito. Ainda não há evidências que comprovem radicalmente a influência do aquecimento global na maior intensidade dos desastres naturais. Mas existe uma incerteza bem formulada, com argumentos favoráveis a uma e a outra tese. Coutinho já discorreu sobre aqueles fatos que fundamentam a posição contrária a essa relação. Agora vou eu mostrar as evidências que sustentam a outra: li essa semana, no jornal Estado de Minas, uma notícia sobre uma reunião científica de meteorologistas, realizada em Montevidéu. Kerry Emanuel, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), autor de um estudo sobre esse tema, estava lá para apresentar o seu trabalho.

Emanuel concluiu, depois de analisar gráficos e tabelas com séries históricas sobre diferentes fenômenos, que a força destrutiva dos furacões e ciclones aumentou em 50% ao longo dos últimos 50 anos, e que uma elevação na temperatura – relacionada ao aquecimento global – está na causa dessa mudança, pelo menos parcialmente. O secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial (OMM), Michel Jarraud, que também estava lá, foi outro que concordou com a influência das mudanças climáticas, provocadas pelo aquecimento global, na maior intensidade dos furacões.

Bom, poderia ficar aqui relatando outras evidências, comprovadas por estudos estatísticos (as maravilhas da estatística!), mas não é o caso. Principalmente, porque Coutinho sabe disso. No seu próprio texto, num primeiro momento, se ele nega a relação entre aquecimento global e furacões da magnitude do Katrina, no mesmo parágrafo, no seu final, ele já reconhece essa possibilidade como algo que está em discussão.

Se existe a dúvida e se a decisão é nossa, é dos homens e não de um deus ou de um bush, acho que a hora de mobilizar a população americana é agora. Mobilizá-la para que ela pressione o seu governo a tomar uma atitude mais pró-ativa no controle de emissão de gases poluentes, assinando logo esse diabo do Protocolo de Kioto. Bom, eu penso isso. Posso também recolher-me a minha insignificância, mas, pelo menos, falei.

Pronto, agora vou pensar na alegria dos pobres, que é outro assunto que está me preocupando.
bjins

sábado, setembro 03, 2005

Os descartáveis

Nem Bin Laden pensaria uma coisa dessas. Ou pensaria? E teria apelado para Alá, implorado, lembrando e repetindo: eles não assinaram o Protocolo de Kioto! eles não querem aderir ao Protocolo de Kioto! eles criticam e boicotam o Protocolo de Kioto! eles não assinaram, Alá! eles não assinaram!.

E Alá, com a fúria que só os deuses tem permissão para expressar, teria lançado o sopro da destruição sobre aquele país. E enquanto soprava, pensava: esse é pelo Iraque! esse é pelo Irã! e vai que sopra! Não, acho que Bin Laden não faria isso e nem Alá toparia essa missão. Sacrificar justo os americanos pobres, que nem votaram em Bush? Ou votaram? Ou Alá escreve certo por linhas tortas, escolhendo os justos, que são os sacrificáveis favoritos dessa vida besta, para expor ao mundo as feridas escondidas do império selvagem?

Vai saber. Agora, que a tragédia em Nova Orleans está servindo para conhecermos ou confirmarmos o que já desconfiávamos sobre o mercadão central americano, isso está. Existem americanos pobres! E eles são negros! E estão abandonados! E, para o governo, são descartáveis! São pobres, negros, abandonados, descartáveis. Ou seja, excluídos! Olhem só as fotos, se não se parecem conosco. Nova Orleans somos nós na cena. É o terceiro mundo no primeiro. Quem poderia imaginar isso? Da 5ª Avenida para a Rocinha. Nós já estamos lá.

E as trapalhadas de Bush? Estava conversando com Rutinha e lembrando do dia em que um avião caiu perto do aeroporto de Toronto. Foi no início de agosto e ela estava lá. Em 42 segundos, a tripulação e a equipe de apoio do aeroporto, a que conseguiu chegar perto do avião, retiraram os 309 passageiros de dentro da aeronave. Logo em seguida, o avião explodiu. Tudo bem, vamos dizer que exageramos ou que erramos na tradução e foram 4,2 minutos. Isso significa o quê? Que a cada 1,2 segundos um passageiro era retirado de dentro do avião. Os canadenses são feras! Durante 10 dias, o governo americano não conseguiu evacuar uma cidade menor do que Belo Horizonte. Uma cidade com pouco mais de um milhão de habitantes. Considerando que os que tinham carro sairam por conta própria, caberia ao governo os descartáveis. Pouco mais de 9 mil.

Mas vamos considerar ainda que o pior do desastre foi um episódio imprevisto: o rompimento dos diques. Será? Segundo consta, os diques já estavam com problemas. O que faltou foi política pública? Faltou prioridade para alocação de verbas? Conhecemos esse filme, hem? Que digam os soldados americanos que perambulam pelos destroços do Iraque. Agora poderão retornar para casa, para ajudar suas famílias a reconstruir a capital do jazz. Alá ensina o caminho de volta por vias tortas.

E a incompetência continuou no pós-desastre. Como no 11 de setembro, a Defesa Civil americana só fez trapalhada. Onde estão os bravos bombeiros americanos? Onde está a sociedade voluntária e solidária que construiu o alicerce da democracia mais famosa do mundo? O touro selvagem devorou?

Pois é, né? Estou estarrecida. Mas isso não é nada, perto da ira do prefeito de Nova Orleans, Ray Nagin. Ele está, com toda a razão do mundo, transtornado. Li alguns trechos do seu desabafo para uma emissora de tv americana. Ele se dirigia ao presidente Bush, às autoridades federais e a qualquer alma viva: “preciso de reforços, preciso de soldados. Preciso de 500 ônibus”; “peguem todos os malditos ônibus de turismo deste país e os mandem pra cá!”; “a ajuda está chegando....está chegando...Besteira! Onde está a ajuda?”; “não sou um drogado, eu estou pensando com muita clareza”; “agora mexam-se e arrumem isso aí!”.

E eu fico pensando daqui: agora, mexam-se e assinem logo esse Protocolo de Kioto! Mesmo sabendo que as metas propostas para a redução dos gases causadores do efeito estufa são bastante tímidas, sem a presença do Estados Unidos, o resultado será ainda mais pífio. Pensem bem, 2014 está chegando! Se nada mudar, vamos ter de nos juntar a outros 600 milhões de voluntários para, no dia 20 de julho de 2006, Dia Mundial do Pulo, fazermos a nossa parte. Vamos pular, gente! Quem sabe poderemos conseguir o impossível e modificar a trajetória da terra? Não é mal, hem? Além de contribuirmos para reduzir o impacto do efeito estufa sobre o planetinha, vamos ganhar mais algumas horas extras para o nosso santo dia. Mais algumas horas para vadiar, trabalhar e dormir. Agora mexam-se! Eu já vou começar o meu treinamento. Vou pular da soleira da porta para o chão! Vinte vezes por dia!

PS: O Daniel postou uma foto em itálico invertido. Depois vamos arrumar isso (heheheheh).

sexta-feira, setembro 02, 2005

Acho melhor não

Ai, ai,viu. Ainda estou por aqui, desfrutando da mais vadia que me cabe neste microempreendimento. Isso é o que o Barão Vermelho, César Bicalho, diria se ainda pudesse. Foi morto no início dos anos 80, com um tiro na testa, durante a vernissage da artista plástica Yara Tupinambá. Isso, dentro da galeria da Caixa Econômica Federal, agência da Contorno. Estava apreciando a noite e conversando sobre arte. Coisas da vida. Não estou pensando, só lembrando.

Então. Enquanto vou me lembrando e esquecendo, fui passear numa livraria para folhear os mais vendidos. Acabei numa prateleira de romances estrangeiros, lá no fundo da loja. Não foi mal. Achei dois livros muito interessantes. Ainda não li a crítica para saber se são bons (o barão falava isso também), mas recomendo-os de olhos fechados, só pelas páginas iniciais que já filei.

O primeiro, o original, é Bartleby, o escrivão – Uma história de Wall Street, de Herman Mewlville. Hoje estou me identificando demais com Bartleby. Ia pensar, mas, depois, achei melhor não. O livro, bem resumidamente, para não atrapalhar aqueles que gostam de suspense (eu não gosto, quando pego um livro, vou direto nas últimas páginas para conhecer o final e não ficar ansiosa com a leitura), então, o livro conta a história de Bartleby, um jovem escrivão que, aos poucos, vai assumindo uma atitude cada vez mais contemplativa diante da vida e quanto mais as pessoas lhe propõem coisas para fazer, ele apenas responde: preferiria não fazer. E assim se desenvolve a história.

Quase não comprei o livro, porque ele já vem com uma tarja de advertência que diz assim: “acho melhor não comprar”. Mas, só por isso, comprei. Depois, fui abrir o livro, e, vejam só, ele é todo costurado. Para folheá-lo, tenho de cortar a capa com uma tesoura. É, parece também que é melhor não lê-lo. Mas agora vou.

O segundo livro é Bartleby e companhia, de Enrique Vila-Matas. O que eu posso dizer, de orelha, é que Enrique é hoje um dos maiores nomes da atual literatura espanhola. O que ele faz nesse livro? A partir da história de Mewlville, ele identifica o que chama de “síndrome de bartleby”, uma pulsão negativa ou uma atração pelo nada, que nos ataca algumas ou muitas vezes. Ele, então, faz um rastreamento dessa síndrome na literatura. Identifica aqueles autores famosos de um livro só. Autores que, certamente, foram atacados pela síndrome de bartleby e, quando vinha a vontade de escrever mais, logo reagiam: acho melhor não. O próprio Vila-Matas é atacado pela síndrome e acaba escrevendo um livro só de pés de página. Isso é muito engraçado.

Hoje, tinha planejado pensar exatamente sobre isso ou qualquer outra coisa, mas, acho melhor não. Amanhã, quem sabe...

Até mais ver.

quinta-feira, setembro 01, 2005

Cabeça de aluguel

O livro de Edgard Morin quase não fecha mais. Está recheado de pedaços de papel com algumas idéias que tive, mas que ainda não pensei sobre elas. Por exemplo: sobre o Google Earth (vá antes que acabe!); sobre as variedades de branco que somos capazes de enxergar; sobre os conselhos que nos deixam sem saída; sobre o semipresidencialismo francês, o voto negativo, o dia mundial do pulo e por aí vai. Mas tão cedo não vou poder deitar na rede, com um copo de suco de manga na mão e ali me deixar ficar, só embalando os pensamentos, até vir a vontade de pensar. Aí sentar em frente ao computador e espancar o teclado. Hoje e nos próximos dias, pressinto, estarei atolada de trabalho até o pescoço.

Mas aí, vejam só, alguém está pensando comigo. Hoje meu pai me enviou um texto com algumas idéias que passaram pela sua cabeça, depois que ele navegou por aqui. Eu acho que ele tem mais é que criar o blog dele, porque ele pensa muito e pensa muito bem, diferente da filha, que, na maior parte do tempo, é só cara de pau. Mas hoje, como a minha mente está quieta e prefiro ficar calada, resolvi dar uma colher de chá para ele e também para quem passa por aqui. Vou postar o texto que ele me enviou. Acho que ele vai ficar com água na boca e vai se animar a construir o seu próprio blog. Aí pai, se quiser, eu e o Dani passamos aí no sábado para dar o suporte técnico.

Tem mais, como bem convém, não concordo com todas as idéias sobre as quais ele pensou, mas vou discordar no comments.

Bjim

Marketing Político Moderno
por Roberto Duarte

Não sou diferente de ninguém. Por isso estou fazendo a vigília das CPIs e bancando o velho " Repórter Esso " : sou uma testemunha ocular da história como dizia o seu slogan. "Tôpensando" um monte de coisas e cheguei à conclusão de que a razão de tudo o que está acontecendo é que os partidos políticos no Brasil não têm líder ou, pelo menos, não têm mais líderes competentes, responsáveis, éticos, como antigamente.

Repare nos filmetes usados pelos partidos no horário de propaganda gratuita na TV. No passado, o garoto-propaganda do partido era o seu líder. Por absoluta falta de líder, o que está acontecendo? Criaram o "defunto-propaganda".É até engraçado. O defunto-propaganda do PDT por exemplo é o Brizola. Usam um retrato dele como fundo, enquanto repetem trechos de seus discursos. Mostram o velho caudilho cantando o Hino da Independência ("Brava gente brasileira, longe vá temor servil...") e têm o desplante de afirmar convictamente que BRIZOLA NÃO MORREU!!! Estão enganados. Morreu sim. Eu ouvi a notícia e, mais que isto, vi na Globo o seu enterro em São Borja - se não me engano.

Não satisfeitos, de vez em quando mostram um retrato de outro defunto-propaganda: Getúlio Vargas - afirmando que são os legítimos continuadores de suas políticas trabalhistas... Mas, aí entram em choque com o PTB.Aliás, isto não é novidade. O PDT é uma dissidência do PTB, partido criado pelo Getúlio e herdado pela neta dele, Ivete Vargas. Como Brizola não conseguiu se apossar da legenda, fundou o PDT. E o PTB faz questão de dizer: "Esse defunto-propaganda é meu" ... e tome retrato de Getúlio e trecho de seus discursos...

O PMDB não tem um defunto-propaganda explícito. Ele é subliminar. Seu nome não é falado em momento algum, mas sua imagem está lá, nosso velho Ulysses Guimarães se empenhando na aprovação da Constituição. A foto é eloqüente e dá a entender que votar no PMDB é votar em candidatos do naipe do Ulysses. Mas, aí entram os ministros pemedebistas, Helio Costa e Saraiva Felipe... Pelo amor de Deus!... A diferença é tão grande que dá pena mas explica o porque de terem ido buscar nos arquivos a foto do Ulysses.

O PSDB não tem defunto-propaganda. Mas, o seu garoto-propaganda é o nosso velho FH, enfastiado da política, após oito anos na Presidência. Ele é hoje o presidente do PDD -Partido do Deixa Disso. Quando seus correligionários falam em pedir o impechement do Lula, ele desaconselha: "Deixa disso, gente. Deixa o Lula lá!... Ele não tá fazendo nada..." - alfineta. É o próprio aposentado-propaganda. O que ele quer mesmo é tocar o seu Instituto e fazer umas palestras por aí cobrando uma nota. Tá certo ou tá errado?

Eu, no seu lugar, faria a mesma coisa.

E o PT hein? Está na praça há 25 anos e até hoje não arrumou um líder que merecesse o respeito, quanto mais um líder que, depois de consagrado, tivesse morrido - ou será que ele morreu mas ninguém notou? Afinal, tudo dá entender que o homem está em fase terminal: não enxerga, não houve, faz discursos meio loucos... Sem líderes mortos ou vivos, o PT está mais perdido do que cego em tiroteio. Então o jeito é usar o Lula mesmo que, quando nada, é o Presidente da República até o momento.