terça-feira, setembro 06, 2005

A certeza da dúvida

Não vou discutir. Vou só ponderar. Hoje, recebi mensagem de um amigo comentando a situação de Nova Orleans. Não era uma resposta ao texto que postei abaixo, foi só coincidência. Mas, como tratamos do mesmo assunto, não resisto! Voltei a pensar no assunto. A mensagem traz um texto do jornalista João Pereira Coutinho, um português, se não me engano, que assinou um belíssimo texto no Mais do último domingo, sobre as antielites brasileiras.

Nesse texto que me foi enviado, “Marcha Fúnebre”, publicado no site Pensata, do último dia 5/9, Coutinho desanca com todos aqueles que querem imputar a responsabilidade da tragédia de Nova Orleans a deus ou a bush. Nisso concordamos plenamente. Também acho que nenhum dos dois se meteriam nessa história. Se fiz referência a Alá, foi por falta de lead, de informação. Aí fiquei ali pensando e me veio na cabeça essa imagem: Bin Laden conversando com Alá. Então, é brincadeira. Tudo bem, foi mal, mas também não acho que dei a entender que isso seria sério.

Agora, com relação ao Protocolo de Kioto, não me desculpo. Isso é muito sério, véio. E não há mesmo nenhuma interferência divina promovendo essa mudança climática ou as alterações de intensidade dos grandes desastres naturais. Reafirmo isso, pelas mesmas razões que já expus no comments do post abaixo. A responsabilidade é nossa mesmo. E a resistência dos Estados Unidos em participar desse esforço, em assinar o Protocolo de Kioto, pode sim agravar a situação. E é muito bom que os americanos médios, sempre muito mal informados, saibam disso. Acho fundamental, sim, relacionarmos essa tragédia à, entre outras incompetências do governo Bush, à essa questão de Kioto.

Tudo bem, admito. Ainda não há evidências que comprovem radicalmente a influência do aquecimento global na maior intensidade dos desastres naturais. Mas existe uma incerteza bem formulada, com argumentos favoráveis a uma e a outra tese. Coutinho já discorreu sobre aqueles fatos que fundamentam a posição contrária a essa relação. Agora vou eu mostrar as evidências que sustentam a outra: li essa semana, no jornal Estado de Minas, uma notícia sobre uma reunião científica de meteorologistas, realizada em Montevidéu. Kerry Emanuel, do Instituto de Tecnologia de Massachusetts (MIT), autor de um estudo sobre esse tema, estava lá para apresentar o seu trabalho.

Emanuel concluiu, depois de analisar gráficos e tabelas com séries históricas sobre diferentes fenômenos, que a força destrutiva dos furacões e ciclones aumentou em 50% ao longo dos últimos 50 anos, e que uma elevação na temperatura – relacionada ao aquecimento global – está na causa dessa mudança, pelo menos parcialmente. O secretário-geral da Organização Meteorológica Mundial (OMM), Michel Jarraud, que também estava lá, foi outro que concordou com a influência das mudanças climáticas, provocadas pelo aquecimento global, na maior intensidade dos furacões.

Bom, poderia ficar aqui relatando outras evidências, comprovadas por estudos estatísticos (as maravilhas da estatística!), mas não é o caso. Principalmente, porque Coutinho sabe disso. No seu próprio texto, num primeiro momento, se ele nega a relação entre aquecimento global e furacões da magnitude do Katrina, no mesmo parágrafo, no seu final, ele já reconhece essa possibilidade como algo que está em discussão.

Se existe a dúvida e se a decisão é nossa, é dos homens e não de um deus ou de um bush, acho que a hora de mobilizar a população americana é agora. Mobilizá-la para que ela pressione o seu governo a tomar uma atitude mais pró-ativa no controle de emissão de gases poluentes, assinando logo esse diabo do Protocolo de Kioto. Bom, eu penso isso. Posso também recolher-me a minha insignificância, mas, pelo menos, falei.

Pronto, agora vou pensar na alegria dos pobres, que é outro assunto que está me preocupando.
bjins

Nenhum comentário: