Ai, ai,viu. Ainda estou por aqui, desfrutando da mais vadia que me cabe neste microempreendimento. Isso é o que o Barão Vermelho, César Bicalho, diria se ainda pudesse. Foi morto no início dos anos 80, com um tiro na testa, durante a vernissage da artista plástica Yara Tupinambá. Isso, dentro da galeria da Caixa Econômica Federal, agência da Contorno. Estava apreciando a noite e conversando sobre arte. Coisas da vida. Não estou pensando, só lembrando.
Então. Enquanto vou me lembrando e esquecendo, fui passear numa livraria para folhear os mais vendidos. Acabei numa prateleira de romances estrangeiros, lá no fundo da loja. Não foi mal. Achei dois livros muito interessantes. Ainda não li a crítica para saber se são bons (o barão falava isso também), mas recomendo-os de olhos fechados, só pelas páginas iniciais que já filei.
O primeiro, o original, é Bartleby, o escrivão – Uma história de Wall Street, de Herman Mewlville. Hoje estou me identificando demais com Bartleby. Ia pensar, mas, depois, achei melhor não. O livro, bem resumidamente, para não atrapalhar aqueles que gostam de suspense (eu não gosto, quando pego um livro, vou direto nas últimas páginas para conhecer o final e não ficar ansiosa com a leitura), então, o livro conta a história de Bartleby, um jovem escrivão que, aos poucos, vai assumindo uma atitude cada vez mais contemplativa diante da vida e quanto mais as pessoas lhe propõem coisas para fazer, ele apenas responde: preferiria não fazer. E assim se desenvolve a história.
Quase não comprei o livro, porque ele já vem com uma tarja de advertência que diz assim: “acho melhor não comprar”. Mas, só por isso, comprei. Depois, fui abrir o livro, e, vejam só, ele é todo costurado. Para folheá-lo, tenho de cortar a capa com uma tesoura. É, parece também que é melhor não lê-lo. Mas agora vou.
O segundo livro é Bartleby e companhia, de Enrique Vila-Matas. O que eu posso dizer, de orelha, é que Enrique é hoje um dos maiores nomes da atual literatura espanhola. O que ele faz nesse livro? A partir da história de Mewlville, ele identifica o que chama de “síndrome de bartleby”, uma pulsão negativa ou uma atração pelo nada, que nos ataca algumas ou muitas vezes. Ele, então, faz um rastreamento dessa síndrome na literatura. Identifica aqueles autores famosos de um livro só. Autores que, certamente, foram atacados pela síndrome de bartleby e, quando vinha a vontade de escrever mais, logo reagiam: acho melhor não. O próprio Vila-Matas é atacado pela síndrome e acaba escrevendo um livro só de pés de página. Isso é muito engraçado.
Hoje, tinha planejado pensar exatamente sobre isso ou qualquer outra coisa, mas, acho melhor não. Amanhã, quem sabe...
Até mais ver.
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