sábado, junho 20, 2009

Viva a comunidade alternativa!


Blogs, twitters, wikis, celulares, mídias móveis, interativas, livres, amigáveis, superativas e o escambau. É nesse mundo, da sociedade da informação e da comunicação, que sobrevivemos. Para o bem e para o mal. Para o nosso bem ou para o nosso mal. Não faz muito sentido mesmo falar em reserva de mercado, em exigência de diploma para se exercer o ato mais banal da nossa existência que é a comunicação, a expressão das nossas angústias, constatações, aflições, indignações, espantos, admirações, alegrias e tristezas. Mais do que compartilhar uma visão de mundo, hoje necessitamos desesperadamente compartilhar um mundo de visões, múltiplas, diversas, plurais, para desse conjunto, dessa construção coletiva, extrair a nossa percepção da vida, clarear o nosso olhar sobre o mundo das coisas, das pessoas, dos movimentos e desse olhar estruturar o nosso jeito de estar por aqui. Só nosso ou de todos nós.

Não faz sentido reservar essa possibilidade, hoje ao alcance de cada um, apenas para alguns. Isso, evidentemente, não quer dizer que a função do jornalismo e a prática do jornalista estejam superadas. Pelo contrário, estão se tornando mais complexas. Não nos satisfaz mais ter as informações nas mãos uma vez por dia ou duas ou três. Já as temos multiplicadas pelo infinito no google e nas nossas redes virtuais. Queremos mais, muito mais. Queremos um jornalismo e um jornalista que nos ajudem a compreender os movimentos da vida e não só dos fatos, a perceber suas complexidades, suas conexões com o que já passou e com o que virá. Queremos um jornalismo de opinião, posicionado, argumentativo, investigativo, adulto e não a banalidade das manchetes e dos disse que disse. Queremos contrapor nossas múltiplas visões de mundo, a uma outra, refletida, amadurecida, também múltipla na sua origem e construída menos a partir das certezas, da objetividade dos fatos, mas das dúvidas, das inquietações, das subjetividades que esses fatos escondem. Um jornalismo de gente grande e não pueril como esse que aí está.

É evidente que, para isso, não basta revogar a exigência de um diploma. Para multiplicar as vozes nesse mundo midiático, é preciso liberá-las. É preciso, por exemplo, urgentemente, inadiavelmente, que haja o reconhecimento das mídias comunitárias, para que possamos conhecê-las. Queimar toneladas de equipamentos de rádio sob a alegação de que são ilegais não contribui para a liberdade de expressão. É preciso deixar as ondas comunitárias navegarem nesse espaço público, sempre dominado pelas grandes mídias. É preciso conectar os milhões de analfabetos tecnológicos. Mais. É preciso democratizar as redações, permitir a livre circulação de idéias, de pontos de vista diferentes, deixar aflorar as contradições do discurso pronto, estimular o debate interno, controlar as vaidades e revogar as arrogâncias. É preciso rever os currículos das escolas de jornalismo, aprofundar seus conteúdos, torná-los mais complexos, mais arrojados, para que os profissionais ali formados saiam maduros para a vida. É preciso responsabilizar os donos da mídia pelos seus atos de desinformação, de incomunicação, de restrição à liberdade de expressão.

Como vêem, esse não é um mundo de facilidades. Mais, muito mais do que revogar a exigência do diploma de jornalismo, é preciso revogar a pretensão de se ter no mundo um discurso único para explicar toda a nossa diversidade. Como jornalista, é mais ou menos isso que espero.

E espero mais. Que se revogue a exigência de diplomas e carteirinhas de outras categorias. Sinto limitada a minha cidadania, quando, para defender meus direitos, sou obrigada a constituir um advogado, com diploma de bacharel e carteirinha da OAB. Por que? O Direito, assim como o Jornalismo, é uma atividade intelectual, do ramo do conhecimento humano. Senso de justiça e bom senso não são monopólio dos juristas e advogados e o conhecimento da lei, é meu dever como cidadã. Jamais posso alegar, em minha defesa, o desconhecimento dela. Ousando, defenderia até o nosso direito de atuar como juízes não togados, sem a exigência de diplomas. Seria até mesmo uma solução para desencalhar os milhares e milhares de processos que estão mofando nas prateleiras dos tribunais.

E mais, que se repense também as exigências ou as restrições que se impõem, por exemplo, aos loucos dos estudantes de Medicina. Depois de concluírem um curso de seis, sete anos de estudo integral - manhã, tarde e noite - para obter as credenciais de especialistas, são ainda obrigados a disputar novo vestibular, com apenas uma ou duas vagas disponíveis por ano, e cumprir mais um ou dois anos de residência, para aí sim, estarem autorizados a usar um título. A dermatologia, por exemplo, abre uma vaga por ano. Isso não é reserva de mercado? Não é uma restrição grave ao desenvolvimento e expressão de novos talentos? E viva a homeopatia, a acupultura, do in, chi kong, chás, garrafadas, pajelanças, a confissão e a eucaristia. Não vivemos mesmo num mundo de facilidades. Por isso espero mais, muito mais. Espero muito de tudo isso.

Inté quando der, pois ando muito ocupada me especializando, especializando, especializando, para alguma coisa muito boa que só pode estar por vir, para justificar tanto esforço. E quando não, estou vivendo.