quarta-feira, agosto 30, 2006

E agora, José?

Trilha alternativa: Easy as the rain, com Norah Jones e banda, in The Little Willies

Ahmadinejad convidou bush, aquele, para um debate sem censura. Meninas, isso é tudo que estamos precisando. Um debate aberto, franco, desarmado, sem meias palavras, sem produção, sem cortes. Que delícia! Estou sentindo a maior falta disso. Olhem só o nosso horário eleitoral. Que tédio, que modorra. Até propaganda de celular é mais emocionante.

Alguns candidatos estão sendo até absolutamente verdadeiros, mas sem efeito. Vocês já ouviram essa: o seu voto é a minha vitória? Ele foi sincero, vamos admitir. E essa outra: Olá eleitor! Vou começar roubando um pedacinho do seu tempo... Como assim? E depois? Sem comentários, né? E o 45-44, o número certo do sapato que vai chutar os corruptos? Horrível! Parei de ver e ouvir. Se ficarem sabendo de algum debate, me avisem.

Mas já nem sei o que é pior. Não ter debate ou ter um debate com o Alckmin. Já tentaram imaginar o Alckmin debatendo? Ele parece que não tem arranque. Pisa fundo no acelerador, mas o carro não sai do lugar. Fica aquele rrãmi, rrãmi, rrrãmi e não acontece nada. Não sei se um debate entre Ahmadinejad e bush, aquele, mudaria alguma coisa. Os dois são muito cabeça dura. Acho que seria um diálogo de surdos, mas que daria o maior ibope, isso daria. Seria emocionante, se fosse.

Vou dizer o que eu penso. Reduziram a política a um amontoado de números sem nenhum significado. Os nossos grandes temas, que batem na veia e deságuam no coração, que nos afligem a todo instante, foram transcritos para a linguagem matemática, viraram gráficos com linhas que sobem e descem, como se fossem planos de vôo para elevadores. Tem dó. Não há conversa que renda nessa tabuada.

Eu penso que a política é a arte de criar possibilidades. É nesse exercício que se engorda o discurso. Na política, inventamos realidades, sem constrangimento, imaginamos novos cenários, novos atores, novos papéis. Depois a história vai surgindo. Não há nada do que está acontecendo hoje, por exemplo, que não tenha sido antes imaginado por alguém. Mas, parece que agora os números embotaram nossa imaginação. Só conseguimos pensar a partir deles, no limite do possível. Do real. E aí não saímos mais do lugar.

Outro dia fui ouvir o Francisco de Oliveira falar sobre o Esquecimento da Política. Para ele, a política é uma invenção formidável, destinada a corrigir as assimetrias de poder geradas, em qualquer sociedade, pela ação do mercado, que é intrinsecamente concentrador de riquezas e, portanto, de poder. Mas quando a própria política é reduzida a uma prática contábil, ficamos condenados à barbárie. Como enfrentar esses desequilíbrios, forjados pela economia, se não pela violência? Como é que aqueles meninos, que foram à escola, aprenderam a ler, fizeram um curso técnico qualquer, se esforçaram pra caramba, mas continuam fora do mercado, como é que esses meninos vão garantir sua vaga no grande espetáculo da vida? Foram transformados em refugo humano, lembram?

Vão fazer política? Não há mais política. Então, só resta a eles uma saída. Como diz Francisco de Oliveira, não é preciso ler nenhum manual de política ou qualquer um dos clássicos da matéria para conhecer estratégias mais radicais e eficientes. É só assistir a um faroeste americano qualquer que saberemos qual moeda garante a melhor alocação de recursos: a bala. É na força. Eu lamento, mas é exatamente isso que estamos vendo agora.

Quando mais precisamos da política, ela se tornou absolutamente irrelevante e impotente. Foi colonizada pela economia. Pra Rutinha, não temos saída dentro dessa racionalidade, pois a política e o mercado são como irmãs siamesas. Nasceram juntos, estão na raiz de uma mesma matriz. Ou damos um jeito novo de inventar a vida, de olhar o mundo a partir de um outro ponto de vista, até enxergarmos saídas mais honrosas, ou continuaremos nossa marcha impávida rumo ao nada.

Tô concordando.

Uma noite inspirada para todos. Amanhã, levantem cedo, abram a janela, e experimentem olhar o mundo de outras bandas.


Buenas, amigas e amigos.

sábado, agosto 26, 2006

Chamem a diarista!

Nuuuba, vocês viram, meninas? Plutão entrou na zona de rebaixamento. Virou planeta-anão. Tá certo que ele já era lanterninha desde sempre. Era o menor e mais distante de todos os planetas do sistema solar. Até na mitologia grega, ocupava um lugar marginal, reservado apenas aos seres caóticos. Era chamado de o deus dos infernos (assim mesmo, no plural) e acho que deve permanecer. Ganhou essa posição, talvez, por estar imerso numa zona de escuridão, num lugar onde nem Hubbles pode observá-lo direito. E, agora, foi rebaixado, talvez, porque já não precisamos mais terceirizar nossos infernos. Hehehe. Brincadeira.

Mas ai ai, viu meninas! Ao longo da minha vida, ocupei um bom espaço do meu limitado cérebro só para memorizar o nome de nossos planetas, inclusive Plutão. Tinha até um macete para não errar a seqüência deles. Era uma frase: Minha velha traga meu jantar, sopa, uva, nozes, pão. Ou seja: Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano, Netuno e Plutão. Agora cortaram o pão. Não preciso nem divagar sobre o significado simbólico dessa decisão dos astrônomos, né? Vou poupá-las.

O que quero dizer mesmo é que, desocupando essa pasta, posso agora, quem sabe, dar a ela uma nova serventia. Quem sabe, destiná-la ao aprendizado do inglês. Descobri, faz pouco tempo, que minha resistência à língua imperial não é apenas ideológica. Falta espaço mesmo no meu disco rígido. É mais um problema de hard, que agora, penso, poderei superar. Descobri que o nosso cérebro é um sistema multifuncional. Cada milímetro de massa cefálica é destinado a preservar e executar determinadas funções. Fiquei pensando que, talvez, a minha parte destinada ao aprendizado do inglês esteve mais ocupada, nesses anos todos, com os planetas. Como não há mais certezas nesse universo, vou deletar esse arquivo e tentar novamente aprender uma língua.

Aliás, pensando bem, vou radicalizar. Vou dar de diarista e fazer uma faxina geral. Depois vou desfragmentar o meu HD para ver se ele fica mais esperto e passa a operar com mais rapidez. Entre outras coisas, vou deletar todos os arquivos que se tornaram inúteis. Por exemplo: vou arrastar para a lixeira a pasta com o relato sobre o descobrimento do Brasil. Esse foi um dos maiores engodos que aprendi na escola. Darcy Ribeiro e César, o BarãoVermelho, já diziam isso e hoje qualquer criança de sete anos já sabe também: os portugueses nunca descobriram o Brasil. Chegaram até aqui de caso pensado e só nos encontraram porque já sabiam que estávamos ali. Não vemos o que não conhecemos. Por isso, o mais correto mesmo é dizer que os índios descobriram as caravelas.

Outro dia vi um filme que confirma essa versão. No Quem somos nós?, os cientistas relatam que quando CristóvãoColombo chegou nas Américas, os índios custaram a notar sua presença se aproximando. Perceberam as águas do mar agitadas, mas olhavam o horizonte e não viam nada. Não viam, porque nunca antes tinham visto uma caravela. Não acompanharam o desenvolvimento tecnológico dos meios de transporte. Foi preciso o pagé, o mais esperto deles, se concentrar bastante, com os olhos fixos no horizonte, para olhar uma, duas, três, quatro, até se familiarizar e, de repente, ver as caravelas. Imagino que aqui também tenha se passado assim. De repente, o nosso pagé de plantão olhou e viu: descobriu as caravelas portuguesas. Aí, o resto da história, todos nós já conhecemos. Ou pensamos que conhecemos. A versão que aprendi na escola vai pro lixo.

Vou deletar também o arquivo inteiro destinado à matemática. De tudo que aprendi, os únicos conhecimentos que ainda utilizo são relativos às operações. Ah, e regra de três, que faço utilizando também meus conhecimentos básicos de matemática: soma, subtração, multiplicação e divisão. Para isso, não preciso gastar massa cinzenta. Meu celular tem uma calculadora muito boa. Realiza todas as operações com um rigor científico. Aliás, desde que passei a usar celular, não ocupo mais meu HD com números de telefone. O único que ainda sei de cor é o da casa de meus pais, que, surpreendentemente, nesse mundo instável, ainda é o mesmo de quando pertencia ao meu avô, acrescido apenas de alguns novos prefixos, que fui aprendendo a repetir ao longo da vida e não me esqueço mais. Está automatizado. Nem sei como esquecer esse número.

Também não gasto mais memória com letras de música. Nunca cantei um dó mesmo! Nunquinhas, apesar da insistência de Ana Márcia e do meu professor de violão. A bem da verdade, faz muitos anos que me conformei em apenas ouvir as músicas, sem nem sequer ameaçar repeti-las debaixo do chuveiro. E agora, para recuperar as letras que gosto mais, até para citá-las de vez em quando, vocês já sabem, né meninas? Google nelas! Aliás, o google e a wikipédia têm me permitido esquecer muitas outras coisas e liberar enormes espaços do meu disco rígido. O único problema é quando sou surpreendida por alguma curiosidade longe do computador. Aí fico na maior saia justa. Mas o meu adola disse que isso já tem solução. Posso fazer consultas pelo celular. Ele falou que um dia vai me ensinar.Vou esperar sentada.

Então é isso. Outro dia conto como vou redistribuir as áreas desocupadas do meu cérebro.

Um fim de semana pleno de horas livres e novas descobertas para todos.

Bye.

quarta-feira, agosto 23, 2006

Gentileza urbana

É vero, meninas. Não sei bem quando, mas num dia desses pra trás, sobrevoei a capa do O Globo e tive uma boa notícia. O governo chinês, a exemplo do que a Inglaterra já vem fazendo há bastante tempo, está iniciando uma campanha educativa com o objetivo de tornar o cidadão comum num sujeito mais refinado. Pelo que me lembro, dessa leitura das alturas, a campanha visa combater atitudes consideradas toscas, como cuspir no chão, falar alto em público, rir desaforadamente na presença de estranhos, jogar papel no chão e outras desatenções que tornam a convivência social, pelo menos do lado de cá, bastante desagradável. Mais do que isso, os chineses vão aprender a praticar gentilezas urbanas. Achei o máximo.

Não considero os chineses um povo rude. Acho que são diferentes e respeito e admiro essas diferenças. Portanto, não há nenhum julgamento moral na minha satisfação. Mas admito que essa notícia me trouxe um grande alento. Tenho andado muito angustiada com os rumos que a nossa história está tomando. Sempre que abro o jornal para tomar pé das coisas, tenho a certeza de que já estamos vivendo em plena barbárie e fico com o sentimento de que ainda temos muito por onde piorar. Hoje foi mal, mas será melhor do que amanhã. E no dia seguinte, concluo exatamente a mesma coisa. Isso me arrasa. Não é do meu feitio cultivar a desesperança. Pelo contrário, acordo sempre muito bem humorada e super animada a começar um dia novo. Aí olho o jornal e o bicho pega. Me dá vontade de voltar pra cama e deixar pra depois. Como isso não é possível, vou só levando o que tenho de levar até chegar outro dia. E assim por diante.

Mas olhem só se não é pra me aborrecer mesmo. Vamos começar pela situação no Oriente Médio. Ninguém alivia nada por ali. Nunca. Estão sempre esbarrando no limite da tensão. E vocês sabem, a maioria dos países dessa região já possui algum tipo de arma nuclear, monitoradas cotidianamente por Israel. Mesmo os que acaso ainda não chegaram lá, não temem usar o próprio corpo para ameaçar a sobrevivência dos vizinhos. A vida ali vale tanto quanto nada. Aí vocês acham mesmo que se o Irã, por exemplo, que está quase conseguindo a sua carteirinha do clube da Formiga Atômica, se o Irã desvendar a fórmula nuclear para fins militares, Israel vai assistir passivamente a essa conquista? É claro que vai primeiro detonar, para depois conversar. Não tenho dúvida de que estamos à beira de uma guerra de alto poder destrutivo. Ou pelo menos não tinha.

Aí vocês mirem um pouco pra esquerda, é a porta do inferno, como ouvi alguém falar outro dia. É só miséria. Agora atravessem o oceano e vão dar de cara com São Paulo, Rio ou onde o vento levar. Está muito diferente? Vamos ser sinceras. Quase nada. Ontem mesmo, fui navegar na internet e cai No mínimo e vi uma entrevista com o sociólogo Luiz Carlos Fridman, que nos coloca numa situação trágica. Estamos sendo testemunhas da criação de uma nova classe social, se é que podemos nos referir a ela dessa forma. É a classe do chamado refugo humano. Lixo. É aquele grupo de pessoas que não ocuparam, não ocupam e não ocuparão lugar nenhum na divisão social do trabalho. E eles sabem disso. E porque sabem, estão se virando, do jeito que é possível, para conquistar um lugarzinho ao sol. É uma guerra também sem trégua e sem limites. E ninguém sabe ainda como lidar com essa violência, que de aguda, virou crônica.

Não consegui terminar de ler a entrevista, mas o que li foi o suficiente para estragar o meu humor. Então é assim, nessa sopa de letrinhas que o mundo virou. Tem horas que gostaria de me desalfabetizar, pelo menos viveria bem na ilusão. Fazer como está fazendo Perelman, aquele matemático que decifrou um grande enigma, proposto há mais de um século. Vi a notícia no CBN Brasil. O danado do russo resolveu equações cavalares para provar uma conjectura de um francês sobre um assunto que não tenho a menor idéia. Fez tudo de difícil que a matemática tem, mas parece que não sabe fazer contas, ou não quer. Dispensou um prêmio de US$ 1 milhão e sumiu no mapa. Eu também gostaria de dispensar os milhões de notícias que me chegam diariamente pelos jornais, revistas, pelo correio, pela rádio, televisão, pela internet e por aí afora. Dispensar até os livros, alguns. E sumir no mapa. Só não me arrependo de vez de ter um dia aprendido a ler quando vejo uma notícia como essa, sobre os chineses. Fico pensando que, talvez, o pior já tenha passado. Talvez, não estejamos entrando na barbárie como fico temendo, mas já saindo. Talvez, os meninos terão a chance de conhecer um mundo diferente, um outro que não esse onde estamos envelhecendo. Talvez.

Um alegre despertar para todos, um bom dia e não se esqueçam das gentilezas urbanas. As mudanças começam assim, nos pequenos gestos.

Inté.

sábado, agosto 19, 2006

Próxima estação: Vida

Nossinhora, o trem teve feio! O que vale é que trem passa, não se instala. E esse tá passando. E enquanto passa, a vida vai voltando pro seu leito original. Não volta do mesmo jeito, mas, se formos pensar bem, nem nós. A vida é como o rio de Heráclito. Quando voltamos nele para mergulhar, ele já não é o mesmo e, também, nem nós. E assim caminha a humanidade.

Nesses dias, suspendi a leitura de jornais, que não ajudavam em nada a travessia. Só não consegui me manter plenamente sob as graças de Santa Ignorância. Mas tudo que fiquei sabendo foi só de ouvir falar e, assim mesmo, escutava só o que me convinha e nada do que me apoquentava. No mais, ouvia música. As mesmas: Madeleine, Norah Jones e sua banda, Racionais, Tupak Shakur e cia. E subia e descia a Raja. Às vezes fazia o caminho da Nossa Senhora do Carmo, pra variar. E, nas horas vagas, trabalhava, que ninguém é de ferro.

Só que tem uma coisa. Meninas, vocês sabem disso muito bem: curiosidade, se não mata, engorda. Mas, assim mesmo, a gente arrisca, porque gostamos de viver é perigosamente, não é? Então. Ontem, quando cheguei em casa e vi aquela pilha de jornais vencidos, todos pegando poeira debaixo do teclado roland, não pude resistir. Fui pelo menos passar os olhos para ver como é que a vida ficou nesses últimos 15 dias de agosto. E aí desconfiei que a tese de Heráclito não é tão verdadeira quanto imaginava.

Nada passou nesses 15 dias. Nada mudou, nem as manchetes de jornais. Israel e Hezbollah continuam trocando tiros na fronteira do Líbano; bush e Condolezza contorcendo a cintura pra não atrapalhar os planos de Israel e não ficar mal na foto; dilúvios, vulcões, tempestades, enchentes pelo mundo afora, mas sem manchete nos jornais, porque esse assunto já perdeu seu charme; e além de tudo isso, mais. Dá-lhe mesmice. As instâncias superiores continuam investigando os sanguessugas, que continuam fazendo campanha para reeleição; o Plenário continua sem votar e o povo sem saber em quem votar, sem saber porque faz tanto calor no inverno e porque Lula continua subindo nas pesquisas. Em Sun Paulo, o PCC , na dele, também vai queimando ônibus e Cláudio Lembo, na boa, dizendo que tudo está sob controle. De quem, né? É o caso de se perguntar. Mas a vida, parece, não mudou de página nesses quinze dias. Ah! E tem os números. Para que servem mesmo os números? Os da economia continuam melhorando. Bom pra uns, pior pra outros. E, claro, o Cruzeiro continua invicto. Perde todas. E assim caminha a humanidade, sem sair do lugar.

Meninas, só vi uma notícia nova. Vocês viram como somos muito mais parecidas com o universo, bem mais do que supunha a nossa vã filosofia? Então. Li num desses jornais vencidos que o universo pode ser 2,1 bilhões de anos mais velho do que aparentava. E olha, sem precisar usar botox, silicone nem qualquer outro recurso da medicina moderna. É o que eu digo. Basta ser feliz, que a vida perdura. É verdade que todas nós temos os nossos segredinhos para manter a aparência sempre rejuvenescida, não é? Beber, no mínimo, seis copos d’água por dia; dormir oito horas de sono por noite; espreguiçar antes de escovar os dentes; comer muita verdura e frutas variadas; caminhar ao ar livre – de esteira não conta; espreguiçar; rir do que é engraçado e do que não tem jeito; perder a pressa; espreguiçar; cultivar a paciência; destampar de quando em vez, que também faz bem; espreguiçar e assim por diante.

Com essa estratégia, até que conseguimos enganar um pouco. Às vezes, parecemos de um a dois anos mais novas. Sem botox, sem silicone nem qualquer outro recurso da medicina moderna. Agora, vou contar pra vocês, 2,1bilhões de anos é tempo pra burro! Manter uma aparência mais nova, escondendo tudo isso, não é coisa para amadores. Mas se temos mesmo o dna das estrelas, não será difícil desvendar esse mistério. Conhecemos, inconscientemente, os segredos do universo. Basta apenas ficarmos atenta para a senha que irá nos desvendá-lo.

Hoje, por exemplo, vou dedicar alguns minutos a essa procura. No início da noite, vou descer pro quintal, fechar os olhos, ficar em silêncio absoluto por alguns instantes e aguardar que nossas irmãs estrelas me enviem algum sinal. Um piscar de luz, um brilho novo no céu, um qualquer coisa que me indique que a vida, mesmo que aparentemente não esteja mudando, está tomando novos rumos e quando formos reparar, ela já será diferente. Será outra. Estará renovada de tal jeito, que nem nós seremos capaz de reconhecê-la rapidamente. Nesses casos, sou absolutamente crente de tudo. Vou aguardar. Sob as graças de Santa Paciência.

Um fim de semana com energias renovadas para todos.

Até de repente ou até quando der

quinta-feira, agosto 10, 2006

Santo Agostinho, iluminai-nos!

Ainda preferia as graças de Santa Ignorância, mas não posso abusar. Depois, tem mais, fiquei preocupada. Perdi a entrevista de Heloisa Helena no Jornal Nacional, mas cheguei a tempo de ainda encontrá-la no Jornal das 10, da Globo News. Nunca pensei que fosse gostar, mas gostei. Ela é de uma espontaneidade bestial. Chega a ser juvenil. E é de um idealismo estupendo. É de fazer inveja a todos nós que andamos descrentes do mundo. Por isso irrita profundamente seus entrevistadores, que querem falar da vida real. Mas me diverti a beça.

Agora, fiquei preocupada mesmo, porque, além de gostar, concordei com Heloisa Helena. Também acho que o Parlamento deve atuar com autonomia, independência e na oposição, para ter liberdade e disposição política de fiscalizar com rigor o Executivo. Também acho que a elaboração da lei orçamentária deve ser um processo democrático e aberto, fora dos gabinetes e com participação da sociedade. Também acho que o orçamento aprovado no Parlamento deve ser determinativo e não autorizativo. Também acho que a credibilidade e autoridade do Parlamento só serão resgatadas quando essa função for exercida plenamente, como Heloisa Helena propõe. Então concordamos em muitas coisas e todas essenciais.

É o mundo ideal, mas alguém tem de propor o mundo ideal para servir ao menos de parâmetro no meio dessa barafunda em que estamos afundados. Discordamos, mais ou menos, só num ponto. Eu adoro blusa branca, mas odeio rendinhas. Só de olhar, arrepio. E Heloisa Helena ama rendinhas. Blusas brancas de rendinhas. É de chorar, mas vou relevar esse aspecto, afinal rendinhas são apenas detalhes, né?

Também vi o Cristovam Buarque no Jornal das 10. Que coisa, siô. Aí fiquei mais preocupada ainda. Gostei também. Adorei quando ele disse que não quer disputar a presidência só pelo poder, mas sim porque tem uma causa para defender. Essas coisas a gente até esquece. A disputa política anda tão mesquinha, tão rasteira, que a gente se esquece mesmo de para que serve o poder. Hoje vou tentar acompanhar a entrevista do Lula. Se gostar, aí será o limite. Vou me internar. Vai ser a prova cabal de que, definitivamente, perdi o senso crítico. Estou à deriva. Se eu conseguisse me desligar, sob as graças de Santa Ignorância, até que seria bom navegar sem rumo, mas como estou poupando suas bênçãos, fico é mais preocupada, principalmente porque outubro já está aí.


Vou ver tevê, voltar a ler jornal, ouvir rádio e tentar recuperar massa crítica.

Buenas para todos.

sábado, agosto 05, 2006

Santa Ignorância, olhai por nós!

Fui subindo a Raja e pensando. A maior graça que alguém pode receber, quando está precisando de ajuda, são as graças da Santa Ignorância. Não me refiro à estupidez, que é irritante. Mas à falta de certos conhecimentos que, na sua falta, nos tornam inaptos para tomar qualquer decisão e assim deixar que os outros, os que nos ajudam, decidam por nós. Pelo menos por um tempo. Nessa hora e, em especial nesse mundo, movido 100% a informação, só mesmo as graças de Santa Ignorância podem nos ajudar.

Mas a medicina moderna não é tão crente assim. Ao contrário. Prega o mais amplo e irrestrito compartilhamento de informações, com suas variáveis e todas as demais possibilidades. Uma confusão mental do tamanho de um mamute gigante. O paciente, que deveria ser passivo e obediente, como bem diz a palavra ou como bem a traduzi, torna-se então co-responsável pelas decisões da equipe que o assiste, mesmo não entendendo nada de medicina moderna. De paciente, vira coadjuvante. Exatamente isso, como explicam os dicionários, de ajudados, passam a ajudar também.

Fui subindo a Raja e pensando. Vê se pode? Alguém que precisa de ajuda, vai ajudar? Não pode dar muito certo. Quem precisa de ajuda, tem de se deixar levar. Tem de deixar ser ajudado. Tem de agir como se fosse um ignorante mesmo que somos, sem nenhum constrangimento. Deixar que os outros digam: vá por ali, faça isso agora, faça aquilo e assim por diante. Deixar e mais, ter fé em que essas são boas decisões. Melhores do que aquelas que poderíamos tomar, quando precisamos de ajuda.

Mas a medicina moderna não é assim. Na sua limitada maneira de conhecer a vida, ao invés de rogar a qualquer Santa, das tantas que nos olham, que a inspire, a medicina moderna prefere dividir ou transferir a responsabilidade com o pobre do paciente coadjuvante. Eu já escutei muito doutor dizer isso: agora é com ele! Como?! Se o ele está debilitado, um bagaço, um poço de dor, o ele ainda tem de arranjar um jeito de sair desse fundo sozinho? Se me viro? E se não se me viro, a culpa é minha? Eu hem?

Fui subindo a Raja e pensando. Tomara que a Santa Ignorância envolva os nossos pacientes com seu manto azul celeste e os tornem surdos e cegos para todos os conhecimentos da medicina moderna. Vindos de onde vierem, da boca dos doutores especialistas ou da sapiência dos mais vividos. Tomara que a Santa Ignorância encha de graça nossos pacientes. Tantas e tantas graças que eles se deixarão levar movidos apenas pela fé na vida. A fé dos ignorantes, que não sabem nada de medicina moderna, mas estão certos de que tudo isso passa. Hoje passa um pouco. Amanhã mais um bocado e assim por diante. Até tudo sumir e ficar bom de novo, né?

As graças de Santa Ignorância são boas também para tornar a vida toda um pouco mais leve.

Vou subir a Raja.

Um fim de semana peso pluma para todos, na mais santa ignorância.