Fui subindo a Raja e pensando. A maior graça que alguém pode receber, quando está precisando de ajuda, são as graças da Santa Ignorância. Não me refiro à estupidez, que é irritante. Mas à falta de certos conhecimentos que, na sua falta, nos tornam inaptos para tomar qualquer decisão e assim deixar que os outros, os que nos ajudam, decidam por nós. Pelo menos por um tempo. Nessa hora e, em especial nesse mundo, movido 100% a informação, só mesmo as graças de Santa Ignorância podem nos ajudar.
Mas a medicina moderna não é tão crente assim. Ao contrário. Prega o mais amplo e irrestrito compartilhamento de informações, com suas variáveis e todas as demais possibilidades. Uma confusão mental do tamanho de um mamute gigante. O paciente, que deveria ser passivo e obediente, como bem diz a palavra ou como bem a traduzi, torna-se então co-responsável pelas decisões da equipe que o assiste, mesmo não entendendo nada de medicina moderna. De paciente, vira coadjuvante. Exatamente isso, como explicam os dicionários, de ajudados, passam a ajudar também.
Fui subindo a Raja e pensando. Vê se pode? Alguém que precisa de ajuda, vai ajudar? Não pode dar muito certo. Quem precisa de ajuda, tem de se deixar levar. Tem de deixar ser ajudado. Tem de agir como se fosse um ignorante mesmo que somos, sem nenhum constrangimento. Deixar que os outros digam: vá por ali, faça isso agora, faça aquilo e assim por diante. Deixar e mais, ter fé em que essas são boas decisões. Melhores do que aquelas que poderíamos tomar, quando precisamos de ajuda.
Mas a medicina moderna não é assim. Na sua limitada maneira de conhecer a vida, ao invés de rogar a qualquer Santa, das tantas que nos olham, que a inspire, a medicina moderna prefere dividir ou transferir a responsabilidade com o pobre do paciente coadjuvante. Eu já escutei muito doutor dizer isso: agora é com ele! Como?! Se o ele está debilitado, um bagaço, um poço de dor, o ele ainda tem de arranjar um jeito de sair desse fundo sozinho? Se me viro? E se não se me viro, a culpa é minha? Eu hem?
Fui subindo a Raja e pensando. Tomara que a Santa Ignorância envolva os nossos pacientes com seu manto azul celeste e os tornem surdos e cegos para todos os conhecimentos da medicina moderna. Vindos de onde vierem, da boca dos doutores especialistas ou da sapiência dos mais vividos. Tomara que a Santa Ignorância encha de graça nossos pacientes. Tantas e tantas graças que eles se deixarão levar movidos apenas pela fé na vida. A fé dos ignorantes, que não sabem nada de medicina moderna, mas estão certos de que tudo isso passa. Hoje passa um pouco. Amanhã mais um bocado e assim por diante. Até tudo sumir e ficar bom de novo, né?
As graças de Santa Ignorância são boas também para tornar a vida toda um pouco mais leve.
Vou subir a Raja.
Um fim de semana peso pluma para todos, na mais santa ignorância.
Nenhum comentário:
Postar um comentário