sábado, agosto 19, 2006

Próxima estação: Vida

Nossinhora, o trem teve feio! O que vale é que trem passa, não se instala. E esse tá passando. E enquanto passa, a vida vai voltando pro seu leito original. Não volta do mesmo jeito, mas, se formos pensar bem, nem nós. A vida é como o rio de Heráclito. Quando voltamos nele para mergulhar, ele já não é o mesmo e, também, nem nós. E assim caminha a humanidade.

Nesses dias, suspendi a leitura de jornais, que não ajudavam em nada a travessia. Só não consegui me manter plenamente sob as graças de Santa Ignorância. Mas tudo que fiquei sabendo foi só de ouvir falar e, assim mesmo, escutava só o que me convinha e nada do que me apoquentava. No mais, ouvia música. As mesmas: Madeleine, Norah Jones e sua banda, Racionais, Tupak Shakur e cia. E subia e descia a Raja. Às vezes fazia o caminho da Nossa Senhora do Carmo, pra variar. E, nas horas vagas, trabalhava, que ninguém é de ferro.

Só que tem uma coisa. Meninas, vocês sabem disso muito bem: curiosidade, se não mata, engorda. Mas, assim mesmo, a gente arrisca, porque gostamos de viver é perigosamente, não é? Então. Ontem, quando cheguei em casa e vi aquela pilha de jornais vencidos, todos pegando poeira debaixo do teclado roland, não pude resistir. Fui pelo menos passar os olhos para ver como é que a vida ficou nesses últimos 15 dias de agosto. E aí desconfiei que a tese de Heráclito não é tão verdadeira quanto imaginava.

Nada passou nesses 15 dias. Nada mudou, nem as manchetes de jornais. Israel e Hezbollah continuam trocando tiros na fronteira do Líbano; bush e Condolezza contorcendo a cintura pra não atrapalhar os planos de Israel e não ficar mal na foto; dilúvios, vulcões, tempestades, enchentes pelo mundo afora, mas sem manchete nos jornais, porque esse assunto já perdeu seu charme; e além de tudo isso, mais. Dá-lhe mesmice. As instâncias superiores continuam investigando os sanguessugas, que continuam fazendo campanha para reeleição; o Plenário continua sem votar e o povo sem saber em quem votar, sem saber porque faz tanto calor no inverno e porque Lula continua subindo nas pesquisas. Em Sun Paulo, o PCC , na dele, também vai queimando ônibus e Cláudio Lembo, na boa, dizendo que tudo está sob controle. De quem, né? É o caso de se perguntar. Mas a vida, parece, não mudou de página nesses quinze dias. Ah! E tem os números. Para que servem mesmo os números? Os da economia continuam melhorando. Bom pra uns, pior pra outros. E, claro, o Cruzeiro continua invicto. Perde todas. E assim caminha a humanidade, sem sair do lugar.

Meninas, só vi uma notícia nova. Vocês viram como somos muito mais parecidas com o universo, bem mais do que supunha a nossa vã filosofia? Então. Li num desses jornais vencidos que o universo pode ser 2,1 bilhões de anos mais velho do que aparentava. E olha, sem precisar usar botox, silicone nem qualquer outro recurso da medicina moderna. É o que eu digo. Basta ser feliz, que a vida perdura. É verdade que todas nós temos os nossos segredinhos para manter a aparência sempre rejuvenescida, não é? Beber, no mínimo, seis copos d’água por dia; dormir oito horas de sono por noite; espreguiçar antes de escovar os dentes; comer muita verdura e frutas variadas; caminhar ao ar livre – de esteira não conta; espreguiçar; rir do que é engraçado e do que não tem jeito; perder a pressa; espreguiçar; cultivar a paciência; destampar de quando em vez, que também faz bem; espreguiçar e assim por diante.

Com essa estratégia, até que conseguimos enganar um pouco. Às vezes, parecemos de um a dois anos mais novas. Sem botox, sem silicone nem qualquer outro recurso da medicina moderna. Agora, vou contar pra vocês, 2,1bilhões de anos é tempo pra burro! Manter uma aparência mais nova, escondendo tudo isso, não é coisa para amadores. Mas se temos mesmo o dna das estrelas, não será difícil desvendar esse mistério. Conhecemos, inconscientemente, os segredos do universo. Basta apenas ficarmos atenta para a senha que irá nos desvendá-lo.

Hoje, por exemplo, vou dedicar alguns minutos a essa procura. No início da noite, vou descer pro quintal, fechar os olhos, ficar em silêncio absoluto por alguns instantes e aguardar que nossas irmãs estrelas me enviem algum sinal. Um piscar de luz, um brilho novo no céu, um qualquer coisa que me indique que a vida, mesmo que aparentemente não esteja mudando, está tomando novos rumos e quando formos reparar, ela já será diferente. Será outra. Estará renovada de tal jeito, que nem nós seremos capaz de reconhecê-la rapidamente. Nesses casos, sou absolutamente crente de tudo. Vou aguardar. Sob as graças de Santa Paciência.

Um fim de semana com energias renovadas para todos.

Até de repente ou até quando der

2 comentários:

Anônimo disse...

Patrícia, fazer poesia com o nada é para poucos, e você fez. Ler seu texto foi um reconhecimento feminino e bom. Obrigada. Florbela Espanca escreveu sobre o tédio de um jeito tão bonito que... ou ela já se entediou terrivelmente ou então conseguiu vencê-lo bravamente. Já que fiz a analogia, lá vai uma amostra:


Tédio


Passo pálida e triste. Oiço dizer
"Que branca que ela é! Parece morta!"
E eu que vou sonhando, vaga, absorta,
Não tenho um gesto, ou um olhar sequer...


Que diga o mundo e a gente o que quiser!
-O que é que isso me faz?... o que me importa?...
O frio que trago dentro gela e corta
Tudo que é sonho e graça na mulher!



O que é que isso me importa?! Essa tristeza
É menos dor intensa que frieza,
É um tédio profundo de viver!


E é tudo sempre o mesmo,eternamente...
O mesmo lago plácido,dormente dias,
E os dias,sempre os mesmos,a correr...

patricia duarte disse...

Ei Cris, que bom receber sua visita. Estava sentindo sua falta. Brigadinha pelo presente. Esse poema de Florbela é maravilhoso: e os dias sempre os mesmos, a correr...
bjim