Nuuuba, vocês viram, meninas? Plutão entrou na zona de rebaixamento. Virou planeta-anão. Tá certo que ele já era lanterninha desde sempre. Era o menor e mais distante de todos os planetas do sistema solar. Até na mitologia grega, ocupava um lugar marginal, reservado apenas aos seres caóticos. Era chamado de o deus dos infernos (assim mesmo, no plural) e acho que deve permanecer. Ganhou essa posição, talvez, por estar imerso numa zona de escuridão, num lugar onde nem Hubbles pode observá-lo direito. E, agora, foi rebaixado, talvez, porque já não precisamos mais terceirizar nossos infernos. Hehehe. Brincadeira.
Mas ai ai, viu meninas! Ao longo da minha vida, ocupei um bom espaço do meu limitado cérebro só para memorizar o nome de nossos planetas, inclusive Plutão. Tinha até um macete para não errar a seqüência deles. Era uma frase: Minha velha traga meu jantar, sopa, uva, nozes, pão. Ou seja: Mercúrio, Vênus, Terra, Marte, Júpiter, Saturno, Urano, Netuno e Plutão. Agora cortaram o pão. Não preciso nem divagar sobre o significado simbólico dessa decisão dos astrônomos, né? Vou poupá-las.
O que quero dizer mesmo é que, desocupando essa pasta, posso agora, quem sabe, dar a ela uma nova serventia. Quem sabe, destiná-la ao aprendizado do inglês. Descobri, faz pouco tempo, que minha resistência à língua imperial não é apenas ideológica. Falta espaço mesmo no meu disco rígido. É mais um problema de hard, que agora, penso, poderei superar. Descobri que o nosso cérebro é um sistema multifuncional. Cada milímetro de massa cefálica é destinado a preservar e executar determinadas funções. Fiquei pensando que, talvez, a minha parte destinada ao aprendizado do inglês esteve mais ocupada, nesses anos todos, com os planetas. Como não há mais certezas nesse universo, vou deletar esse arquivo e tentar novamente aprender uma língua.
Aliás, pensando bem, vou radicalizar. Vou dar de diarista e fazer uma faxina geral. Depois vou desfragmentar o meu HD para ver se ele fica mais esperto e passa a operar com mais rapidez. Entre outras coisas, vou deletar todos os arquivos que se tornaram inúteis. Por exemplo: vou arrastar para a lixeira a pasta com o relato sobre o descobrimento do Brasil. Esse foi um dos maiores engodos que aprendi na escola. Darcy Ribeiro e César, o BarãoVermelho, já diziam isso e hoje qualquer criança de sete anos já sabe também: os portugueses nunca descobriram o Brasil. Chegaram até aqui de caso pensado e só nos encontraram porque já sabiam que estávamos ali. Não vemos o que não conhecemos. Por isso, o mais correto mesmo é dizer que os índios descobriram as caravelas.
Outro dia vi um filme que confirma essa versão. No Quem somos nós?, os cientistas relatam que quando CristóvãoColombo chegou nas Américas, os índios custaram a notar sua presença se aproximando. Perceberam as águas do mar agitadas, mas olhavam o horizonte e não viam nada. Não viam, porque nunca antes tinham visto uma caravela. Não acompanharam o desenvolvimento tecnológico dos meios de transporte. Foi preciso o pagé, o mais esperto deles, se concentrar bastante, com os olhos fixos no horizonte, para olhar uma, duas, três, quatro, até se familiarizar e, de repente, ver as caravelas. Imagino que aqui também tenha se passado assim. De repente, o nosso pagé de plantão olhou e viu: descobriu as caravelas portuguesas. Aí, o resto da história, todos nós já conhecemos. Ou pensamos que conhecemos. A versão que aprendi na escola vai pro lixo.
Vou deletar também o arquivo inteiro destinado à matemática. De tudo que aprendi, os únicos conhecimentos que ainda utilizo são relativos às operações. Ah, e regra de três, que faço utilizando também meus conhecimentos básicos de matemática: soma, subtração, multiplicação e divisão. Para isso, não preciso gastar massa cinzenta. Meu celular tem uma calculadora muito boa. Realiza todas as operações com um rigor científico. Aliás, desde que passei a usar celular, não ocupo mais meu HD com números de telefone. O único que ainda sei de cor é o da casa de meus pais, que, surpreendentemente, nesse mundo instável, ainda é o mesmo de quando pertencia ao meu avô, acrescido apenas de alguns novos prefixos, que fui aprendendo a repetir ao longo da vida e não me esqueço mais. Está automatizado. Nem sei como esquecer esse número.
Também não gasto mais memória com letras de música. Nunca cantei um dó mesmo! Nunquinhas, apesar da insistência de Ana Márcia e do meu professor de violão. A bem da verdade, faz muitos anos que me conformei em apenas ouvir as músicas, sem nem sequer ameaçar repeti-las debaixo do chuveiro. E agora, para recuperar as letras que gosto mais, até para citá-las de vez em quando, vocês já sabem, né meninas? Google nelas! Aliás, o google e a wikipédia têm me permitido esquecer muitas outras coisas e liberar enormes espaços do meu disco rígido. O único problema é quando sou surpreendida por alguma curiosidade longe do computador. Aí fico na maior saia justa. Mas o meu adola disse que isso já tem solução. Posso fazer consultas pelo celular. Ele falou que um dia vai me ensinar.Vou esperar sentada.
Então é isso. Outro dia conto como vou redistribuir as áreas desocupadas do meu cérebro.
Um fim de semana pleno de horas livres e novas descobertas para todos.
Bye.
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