sexta-feira, junho 09, 2006

A ignorância é maravilhosa! - Versão III (+rigorosa)

É a pergunta que nos impulsiona, Neo.
A ignorância é maravilhosa!
(Frases de Matrix)


Êita! Agora fiquei confusa! Não sei se posso perguntar, se devo responder ou se é melhor ficar calada. Decisão difícil essa, hem? Mas olha se não é para confundir. No início da semana ouvi o senador Marco Maciel comentar uma decisão do PFL de retirar do Tribunal Superior Eleitoral duas consultas do partido, relativas às eleições deste ano. Fazia isso logo depois do TSE responder ao PL questões sobre as regras da verticalização. Adotando uma interpretação mais rigorosa que a das últimas eleições, o Tribunal anunciou a nova versão, dizendo que, neste ano, as possibilidades de coligação partidária estariam mais restritas. Depois voltou atrás, mas anunciou e defendeu. Agora, acho, não muda mais nada. Mas antes disso, o senador explicava à CBN que retirava as consultas do partido porque têm momentos em que é melhor não perguntar. Vai que alguém responde!

Tendo a concordar com o senador. Tive uma amiga - agora não sei por onde ela anda - que era do tipo que respondia. O melhor era não perguntar, porque ela não media tempo quando pegava a palavra. Um dia me distraí e perguntei: Tudo bem Tê? E ela me respondeu. Começou: Bem? Bem? Claro que não estou bem! Acordei hoje com uma baita dor de cabeça, atrasei, perdi a carona, tive de descer de ônibus. Já viu alguém andar bem dentro de um ônibus às 7 horas da manhã? Em pé? Com a cabeça latejando? ..... e blá, blá, blá .... blá, blá, blá... e foi me respondendo, relatando seu dia até chegar às 18 horas, hora da pergunta distraída. Tô inventando, claro, não me lembro do que ela me respondeu na época, mas o estilo era esse. Então, pra Tê era melhor que ninguém perguntasse nada. Procurávamos sempre ser afirmativas. Oi Tê, você está ótima hoje, muito bem! E já engatávamos outros assuntos.

Esse tipo de gente existe mesmo. E se o Lula tivesse seguido o nosso exemplo e o do senador Marcos Maciel, ele não não teria perguntado nada. Mas tem um outro tipo de gente que é da família dos que perguntam por perguntar. O Lula, me parece, é um exemplar desse último grupo. Perguntou por perguntar, mas foi topar de frente logo com alguém da primeira família, daqueles que respondem quando perguntados. E pior, da espécie responde batendo. O presidente quis saber do Parreiras se o Ronaldo estava gordo mesmo ou se era onda da imprensa. Está gordo ou não está? - foi a pergunta por perguntar do Lula. O Parreiras saiu de manso. Acho que preferiu ficar calado. Mas Ronaldo respondeu. Nem sei se ouviu a pergunta, mas pra quem gosta, isso é só um detalhe. Respondeu de pronto. Gordo? Gordo? O presidente foi infeliz nessa pergunta. Não me foi dado o direito de perguntar, mas eu também tenho muitas perguntas para o presidente... e, no embalo, foi respondendo. O jornalista, percebendo a facilidade do outro para responder, continuou cutucando, perguntando mais uma vez e de outro jeito e outra vez mais, até Ronaldo responder. Responder perguntando, se o presidente bebe muito mesmo ou se é onda da imprensa.

Aí fiquei na dúvida. Foi uma resposta ou uma pergunta? Pelo teor da reação, parece que foi uma resposta. Ou não? Ops, acho melhor não perguntar. Retiro o que disse. Agora, quanto ao Lula, acho que ele não vai responder. Se é um exemplar puro da espécie dos que perguntam por perguntar, não vai responder. Vai passar por cima e fingir que não ouviu. Pelo menos, deveria. Esse é o comportamento típico deste grupo. Não querem respostas. Não sei se porque já conhecem a ladainha que vão escutar ou se é porque não estão mesmo interessados. Giram só em torno de seu próprio umbigo. Mas às vezes penso que não escutam é porque têm medo da resposta. Não gostam de ouvir, mesmo quando precisam. Outras vezes, percebo, eles escutam a resposta, mas fingem que não. Apertam os olhos e ficam olhando pro nada, como se estivessem ausentes, mas estão pensando. E de uma hora para outra, de repente, dão a entender que ouviram a resposta. São assim.

Estou pensando nisso tudo porque queria perguntar. Não por perguntar, mas pra saber. Tem esse tipo também. Mas o que eu queria mesmo era perguntar. É uma pergunta boba, só que está me incomodando. Não sei se devo, mas vou perguntar assim mesmo. Pelo menos me livro de um incômodo. O que o ex-banqueiro Edemar Cid Ferreira, um homem culto e educado e o diretor-financeiro da butique Daslu, Antônio Carlos Piva de Albuquerque, não sei se culto, mas educado, o que eles fizeram não foi uma violência? A gestão fraudulenta do dinheiro dos outros não é uma forma de violência? Sonegação fiscal não é um tipo de violência também? Violência branca, porque não sangra na hora, mas é, não é?

Por que estou perguntando isso? Vou responder como o Ronaldo, perguntando. Vocês leram os jornais nessa última semana? Ouviram os telejornais? Os jornais das rádios? Acompanharam a cobertura da imprensa sobre o quebra-quebra na Câmara dos Deputados? Antes que me devolvam mais perguntas e que eu fique tentada a continuar respondendo, já explico. Sou contra violência, seja de que tipo for, em defesa de qualquer causa, mesmo que das boas, e praticada por qualquer pessoa. Sou contra! Saio até pra briga se alguém disser que sou o contrário disso.

Mas voltando à Câmara dos Deputados. Tá certo que eles fizeram uma baderna. Coisa de gente sem tino. Colocaram em risco a vida de outras pessoas. Isso é abominável. E aí têm duas coisas: condenar a violência é uma atitude correta e louvável, mas não basta. Tanto que os movimentos pela paz têm crescido no mundo todo, mas, na mesma proporção, tem crescido a violência. E os ataques ao patrimônio público e privado têm se banalizado, como se banalizaram as passeatas, as manifestações pacíficas, as vigílias e outras formas saudáveis de expressão dos grupos minoritários da sociedade. Tornaram-se inócuas. E a baderna está indo para o mesmo caminho. Acho que porque não alcançam os ouvidores da República. Mas isso é outra história. Precisa ser melhor pensada.

O que eu queria dizer é que a cobertura da mídia, mais uma vez, limitou-se a constatar a violência e a desqualificá-la como um ato de bárbaros, sem procurar entendê-la. Por que mesmo os militantes do MLST foram à Câmara? O que é exatamente que estavam reivindicando? Por que estavam reivindicando com tanta fúria? O problema que denunciam existe mesmo? A reação do MLST é desproporcional? Enfim, qual é a do MLST? Da superfície, alguém deve ter esbarrado nessas questões, mas a notícia ficou enquadrada no quebra-quebra. Desqualificaram até os que se dispuseram a fazer o papel de advogado do diabo. E olha quem se prestou a isso: Dom Balduíno!

Quiseram relacionar a violência à estupidez, à ignorância, à falta de cultura de um bando de selvagens, extemporâneos e rudes da idéia. Mas a violência tá solta da avenida Paulista ao Cabrobó. Pronto, já estou começando a querer responder. Acho que vou fazer é igual ao senador Marcos Maciel. Vou retirar minhas perguntas. E igual ao Parreiras. Vou ficar calada. Sair de manso. Vou ver a reprise do jogo da Alemanha.

Sem perguntas e sem respostas. A ignorância é maravilhosa!

Um final de semana pleno de belas jogadas e muitos gols. E que vença sempre o futebol arte, sem pancadarias! Vou torcer para Gana na segunda, a pedido de Kofi Annan.

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