sexta-feira, junho 30, 2006

Pra fazer um Armando Nogueira feliz

Puxa vida, minha ignorância em futebol é uma estupidez. Só hoje, depois de uma meia dúzia de palpites errados, é que o estagiário, consternado, resolveu dedicar uma parte do seu tempinho, para me explicar como funciona a tabela da Copa. Eu ainda acreditava que poderíamos chegar à final com um clássico entre Parreira e Filipão. Entendi. Isso é impossível. Só se for numa semi-final. Mas isso não é a mesma coisa, né? Acho que estou começando a captar o espírito da Copa. Mas, fico pensando, o que desconheço são detalhes que não me impedem de continuar acompanhando, torcendo e palpitando, que é o que mais gosto.

Por exemplo, mudei de idéia. Até agorinha, achava que os comentaristas esportivos estavam ficando doidos. Estavam abusando da nossa ignorância e tripudiando da nossa ingenuidade. Mas, talvez, não. Alguns sim, mas não todos. Principalmente Armando Nogueira, que tem sempre ao seu lado o bom senso, para ajudá-lo a nos fazer entender o que se passa. Ontem, ouvindo a sua conversa com Sardenberg, na CBN, achei-o triste. Pela sua voz, tenho quase certeza de que ele está desencantado com o nosso futebol. E isso é muito grave, porque sabemos bem que Armando Nogueira é um torcedor senior e um profissional na sua paixão pela bola. Então deve estar acontecendo mesmo alguma coisa.

Achava ainda que o time brasileiro, mesmo não jogando bonito, estava arrasando com suas vitórias seguidas. Acreditava que, ao continuar torcendo para essa seleção de Parreira, à revelia dos comentaristas, nós, torcedores amadores, estávamos sendo mais visionários que os entendidos. E estava convicta de que os críticos da seleção estavam querendo era guerra em campo. Mas mudei de idéia. Acho que estou entendendo a desilusão de Armando Nogueira. Para ele e alguns outros poucos, futebol é só arte. Uma arte lúdica. O jogador brinca com a bola, distrai o adversário, encanta os torcedores e daí surge um momento mágico que se transforma em gol. Como uma arte lúdica, o futebol era um exercício de liberdade.

Era tudo o que não é mais hoje. Futebol agora é business. É resultado. Não é culpa do Parreira, embora, no nosso caso, seja ele o responsável. Mas quem inventou esse jeito feio e frio de jogar foram os europeus. Foram eles que transformaram o gramado numa linha de montagem para produção de vitórias em série. Antes, nos interessavam as pelejas esportivas. Era o durante do jogo que se discutia. Agora é só resultado. Quem ganhou, quem perdeu, quantos pontos fez, quantos pontos perdeu, qual sua classificação, saldo de gols e assim por diante. Nos impuseram uma visão econômica do futebol. E fizeram isso, porque foram eles, os europeus, que puseram seu rico dinheirinho para mover essa engrenagem. E o futebol virou isso que estamos vendo nos últimos dias.

Durante 90 minutos não acontece nada. O juíz prorroga a partida para ver se os jogadores se inspiram e fazem alguma coisa, e nada. Aí vão para a disputa de penaltis. Isso é a tortura legalizada. Olha se não é, Cristina. O goleiro lá, sozinho. O batedor do outro lado, sozinho. Tudo o que as duas equipes não fizeram em 90 minutos de jogo, mais a prorrogação, fica nas mãos e nos pés dos dois. Um duelo. O futebol ficou reduzido à sorte de quem a tiver. O durante tornou-se irrelevante, virou um detalhe do jogo. E nós, torcedores amadores, consumidores despreparados do futebol made in UE, somos submetidos ao sofrimento extremo daqueles segundos eternos, do momento em que o batedor chuta e a bola chega ao gol ou à mão do goleiro. Quero tudo, menos isso, na partida de amanhã. Mesmo porque, depois de um cassulê, não sei se terei condições de suportar à pressão de uma disputa gol a gol. Por isso é que quero tudo diferente.

Quero que dê a doida nos Ronaldos, que os demais embarquem no delírio da dupla, que Cafu assuma o comando em campo e deixe o Parreira no banco. Quero que todos se percam no tempo e voltem a jogar como jogavam. Brincando com a bola, distraindo o adversário e encantando os torcedores. Vou torcer para que façam tudo que é preciso ser feito no durante e não no depois. Com arte. Só de brincadeira. Quem sabe aí Armando Nogueira volte a ser feliz.

Pra vocês: sonhos lúdicos, gols de letra, de cabeça, de chapéu e de sei lá mais o quê. E, o que é mais importante, para amanhã, um 3 a 1 a nosso favor, sem perhaps (rsrs).

PS: Depois volto para falar dos comentaristas esportivos de novo. O Otávio já me deu a dica: mute neles. Vou seguir o conselho, mas eu vou falar (rsrs).

2 comentários:

Anônimo disse...

Nem essa tortura tivemos, desistimos antes... Não ligo de perder, não gosto é de perder feio, sem raça. Por outro lado gostei de ter saído da Copa, a cidade ficou melhor e mais silenciosa.

patricia duarte disse...

Fico pensando que o Brasil não perdeu feio não. O Brasil entregou o jogo mesmo e isso é que mata o torcedor de raiva. Mas também não ligo muito não. Fico com raiva só ali na hora, no calor do jogo mesmo. Depois eu acho é graça. Já rimos muito dos comentários, das histórias que nós mesmos inventamos para entender esse chilique da seleção e dos comentários dos especialistas nas centenas de mesas redonda que já assistimos. Futebol é brincadeira, mesmo quando é guerra,né?