quarta-feira, fevereiro 21, 2007

A última flor do lácio

Trilha alternativa: dica de um primo e homenagem a quem soube valorizar tudo de bom que nós brasileiros temos: Humberto Mauro.

Ah, neeem! Era só o que faltava. Além da calça jeans, das sandálias havayanas, dos bermudões caindo, dos óculos de armação preta, dos cabelos desestruturados, vestidinhos floridos de alcinha, das microssaias, das cinturas nos quadris e camisetas babylook tamanho pp, vamos ter de aturar no futuro mais essa mesmice? Não bastam também os trezentos e vinte e sete programas realityshows, todos a mesma bobagem, que somos obrigados a ver nos 99 canais da tevê a cabo? As mesmas músicas, as mesmas notícias, as mesmas histórias que se repetem em várias versões? Neemm! Essa globalização está nos matando. Mais essa, será o golpe mortal.

Outro dia, li no portal G1 que, de agora pra frente, entre as várias extinções que vamos assistir, como a das canetas bics, carros movidos à gasolina, pcs de todas as marcas, dvds, cds, tvs, dinheiro em espécie, lobo guará, mico de circo, leão faminto entre outras raças, vamos ser testemunhas oculares do extermínio em massa de milhares de línguas. Olha só? É o fim da babel que, diferente do filme e ao contrário do que muitos pensam, tanto nos diverte e tanto nos aproxima.

Segundo a notícia, a Associação Americana para o Progresso da Ciência está anunciando o desaparecimento de quase todos os 6 mil idiomas que hoje são falados no mundo. O professor Michael Krauss, da Universidade do Alaska em Fairbanks, que não é doido nem bate a cabeça, alertou que essa possibilidade deve ser vista como algo tão assustador quanto a perda de 90% das espécies biológicas do planeta. Para Krauss o valor de um idioma vai muito além do mundo acadêmico. A linguagem de um povo guarda a sabedoria intelectual de sua gente, as suas observações e as suas adaptações ao mundo.

Toda vez que perdemos (uma língua) perdemos também uma boa parte de nossa adaptabilidade e de nossa diversidade, que nos dão nossa força e nossa habilidade de sobreviver.

Palavras bastante sensatas do professor Michael Krauss.

Pois é, já os ingleses não são assim. Não são pessoas que poderíamos chamar de muito sensatas. Já concordamos sobre isso. São uns loucos, eles, não são? No mesmo jornal onde li o artigo do professor Renato Janine Ribeiro, li uma denúncia e um desabafo do professor Luiz Costa Lima, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro, sobre mais uma presepada dos ingleses.

A gloriosa Universidade de Cambridge acabou de anunciar o encerramento da licenciatura em português, reduzindo o ensino das atuais cadeiras de língua, lingüística e literaturas portuguesa, brasileira e moçambicana e angolana a uma única cadeira, combinando, segundo suas palavras, com pequenos componentes adicionais inseridos em cadeiras de espanhol, em nível de licenciatura e mestrado. Permanecerão apenas os estudos em nível de licenciatura para o alemão, espanhol, francês, grego contemporâneo, italiano, holandês e russo, além do inglês, claro, que está em outro departamento.

Sentiu o drama. Está traçado o mapa da sobrevivência. E a primeira vítima fomos nós, apesar do português ter sido selecionado para especial louvor entre todas as disciplinas de licenciatura da Faculdade de Línguas Modernas e Medievais de Cambridge nas duas últimas avaliações externas da Faculdade. Apesar de sermos 210 milhões de pessoas, em quatro continentes, recorrendo a ela para se comunicar. Apesar da Mangueira, nossa eterna campeã verde e rosa, que este ano escolheu como tema do seu samba enredo a nossa língua pátria. Apesar de Machado, de Bandeira, de Oswald, João Cabral, Guimarães, Drummond, de Cecília, Clarice e de todos os outros que deixei de citar por falta de espaço e ainda mais, muito humildemente, apesar de todos nós e desta que aqui está.

A gravidade dessa notícia parece, no entanto, não afetar o humor das autoridades competentes. Nem uma reação foi registrada. O professor Luiz Costa Lima acredita, sabiamente, que se houvesse um embargo no mercado internacional para algum produto brasileiro, aí sim, o governo reagiria prontamente. Mas uma restrição à nossa língua, cá pra nós, hem? Não rende nem uma notinha de pé de página nos jornais, não é não? Aposto que alguém deve ter até comentado: bobagem. Nem nós estamos mais apostando no português, olha os meninos como andam escrevendo! Ai! não dou conta dessa visão estreita do mundo!

Como o professor Luiz Costa Lima, espero que esteja enganada. Espero que nossos intelectuais de plantão estejam atentos. Espero que estejam planejando uma grande reação. Espero que lutem com todas as armas (acentos, vírgulas, hífens, conjugações verbais, regências nominais e etc) em defesa da nossa língua. Espero, fervorosamente, que amanhã e todos os outros dias que se seguirão, ainda possa continuar, até ficar velhinha e gagá, escrevendo e pensando em português, a única língua que dei conta, mal-mal, de aprender.


Um dicionário de palavras portuguesas, lindas, sonoras e coloridas para todos.

Até mais um dia, que o trabalho me aguarda...

Segue, conforme o prometido, um tesouro nacional e uma obra prima do cinema mundial!

2 comentários:

Anônimo disse...

Valeu, prima! Salve Humberto Mauro!
Abraços em todos.

Mamãe de primeira viagem disse...

oi patrícia....
bom, no fundo mesmo, eu prefiro pensar que quem sai perdendo essa jistória toda são os ingleses, pois perderm a oportunidade de conhecer uma das línguas mais ricas e interessantes do mundo, não é mesmo?
e ainda bem que o brasil ainda é um dos países que guarda sua cultura muito bem guardada, e sua língua tb, com seus vários sotaques, coisa mais linda de ver, ouvir e escrever....
tão cedo não vão destruir tal riqueza, tenho certeza.....
deixa esses surtados para lá...
beijosssssssssssss