segunda-feira, fevereiro 05, 2007

O bicho está pegando

Trilha alternativa: Para suavizar a descrença, todas as músicas do cd com a trilha do filme O fabuloso destino de Amélie Poulain. Valeu Verônica!

Tô sabendo. Então quer dizer que agora sim. Agora podemos reconhecer que estamos num mato sem cachorro. Ou melhor, com um cachorro no meio de um nada, sem mato e sem perspectiva. Agora, mesmo já carecas de saber, mesmo já sentindo na pele os efeitos da mudança, podemos dizer que agora é fato. O relatório do IPCC está aí pra ninguém dizer que estamos delirando. Antes isso.

Até bush, aquele mesmo de sempre, que continua se recusando a assinar o Tratado de Kioto e a reconhecer outros tantos que o mundo inteiro apóia, agora se rendeu à majestosa sabedoria da ciência e já admite que o bicho está pegando. bush, aquele que fechou os olhos quando os sinais da mudança se mostraram evidentes na sua própria casa. Quem diria? Agora ameaça pensar no assunto. Isso me dá até medo. Vai sobrar pra nós, não duvide.

Está muito bem. Vou relevar o passado. Vamos sentar e conversar, ainda que seja só para não sair do lugar. Vamos priorizar as gerações futuras! Mas vou dizer uma coisa, meu estoque de crença na boa vontade dos homens já está esgotado não é de hoje. Como não é de hoje, nem de ontem, a advertência surrada de um velho índio americano: nós não herdamos a Terra de nossos pais. Nós a tomamos emprestada de nossos filhos. Quem se lembrou disso em algum momento, desde então?

É por isso que olho com desânimo o alvoroço em torno do relatório do IPCC. Se esse relatório fosse uma ameaça do nosso PCC não duvidaria dele. É triste, mas é assim. Os dados e conclusões do internacional IPCC só vão fazer brotar pelo ladrão centenas de políticas públicas: umas para combater o aquecimento do planeta, outras para estimular o desenvolvimento sustentável, outras para implantar fontes de energia alternativa (ai, ai, hem?) e mais uma infinidade de tantas outras que nem mais sei pra quê. Centenas de políticas, que nunca sairão do papel. O poder dos nosso líderes de plantão está apenas na definição de uma agenda, mas não na sua capacidade de implementá-la. Isso é uma constatação. Infelizmente.

E mais, não acredito que somos os únicos responsáveis pelas mudanças climáticas e sistemáticas do meio ambiente na nossa terrinha. Não somente nós. Isso seria acreditar num poder que nunca detivemos. Somos poeira de estrelas, lembra? Não estamos imunes ao movimento do universo. Somos gaia e parte, quase invisível, de um todo muito maior que está vivo. Que muda e transmuda todo o tempo. E as tempestades solares? E as explosões estrelares? E outros tantos fenômenos que ocorrem em outros tantos corpos celestes? Nada? Não nos afetam? A terra não está viva como eles? E no entanto se move.

Que sejamos, então. Ainda assim, desconfio de que nada do que for proposto para enfrentarmos a nossa crise de envelhecimento precoce, anunciada pelos doutos da comunidade científica internacional, nada disso será o bastante se não estivermos dispostos, de alma e coração, a modificarmos, na essência, nosso jeito de estar no mundo. Se não estivermos generosamente e humildemente dispostos a abrirmos mão do nosso conforto e de determinados padrões de consumo, incompatíveis com as mudanças necessárias. Se não estivermos dispostos a deixarmos de ser escravos do mercado para nos rendermos à força da natureza. Quem se aventura?

Aí é que a porca torce o rabo. Pois não é possível mesmo cumprirmos as metas de redução de emissão de gases estufa e de outros poluentes que estão adoecendo o planeta, se não houver uma mudança na outra ponta da linha de produção: nesse tal de mercado. Essa vitrine que nos envolve e nos devora a todo instante, nos expondo à média de 5 a 3 mil mensagens publicitárias por dia, até não resistirmos à tentação e nos deixarmos ser engolidos pelas suas milhares de bocas.

Mas que monstro é esse? Que presas indefesas somos nós? Quando falamos de mercado, estamos nos referindo a quem? Cada vez mais, aos donos de uma meia dúzia de um pouco mais de empresas que, através de fusões, incorporações e outros ões, estão dominando segmentos inteiros em uma dezena e mais de setores. Cada vez menos, aos 10% ou 15% da população mundial, as vítimas indefesas que tem acesso aos produtos daquela meia dúzia de megaempresas. E quem de nós ou deles vai topar abrir mão do seu consumo desenfreado e eternamente insaciável para se reencontrar na simplicidade voluntária? Levanta a mão!

Melhor sentarmos enquanto aguardamos um candidato. Melhor até deitarmos e dormirmos.

Soninho de criança para todos nós, quem sabe amanhã teremos um alegre despertar e recobramos a nossa fé nos homens de boa vontade.

Inté.

Um comentário:

Mamãe de primeira viagem disse...

oi patrícia
ótimo texto....
sabe, ado tão cansada disso tudo, dessas mazelas que o mundo virou...
soh mesmo a trilha sonora que vc colocou para relaxar, eh que me acalma...
beijossssssssss