segunda-feira, dezembro 05, 2005

Teoria da conspiração

Hoje vou costurar. E vai ser uma costura em linha reta, bem fácil e rápida, porque eu não posso perder a hora. Vou deixar de lado a minha Remington, presente de meu irmão, e pedir emprestada à minha mãe a velha Singer que ela herdou da minha vó que, por sua vez, recebeu-a de herança de sua mãe. Pedala, Patricia!

É o seguinte: hoje fiquei tiririca com a Folha de São Paulo. Ela, além de achar que seus leitores moram todos em São Paulo - não assume nem a pau a sua condição de jornal de circulação nacional - deu para pensar também que seus leitores são todos uns distraídos. Olhem só a manchete que ela soltou no domingão: PT fez depósito suspeito para firma de vice.

Primeira leitura: Zé de Alencar entrou pra lista do mensalão. Pomba, será possível! Até tu Zé? Aí fui ler a matéria. A história é um pouco diferente do título. O depósito não é suspeito. Foi contabilizado pela empresa como pagamento de uma dívida do PT com a Coteminas, pela compra de 2,7 milhões de camisetas, distribuídas ou vendidas, sei lá, na campanha de 2004. Comprou, pagou, né gente? Negócios, negócios, coligações à parte.

O que é suspeito é a origem do dinheiro, como de outros que são investigados pelas CPIs. Pelo menos foi o que eu entendi. Seguindo a lógica do que está em questão nessas investigações, o título escandaloso deveria ser alguma coisa assim: CPI prova uso de caixa 2 na campanha do PT.

Mas não é esse o objetivo do jogo. Fiquei, na minha santa ignorância, tentando descobrir, então, qual seria a missão da FSP nessa partida. Aí, me lembrei que a menos de cinco dias atrás, no dia 1° de dezembro, o vice José de Alencar, falando de improviso num seminário sobre a Amazônia, no Ministério da Defesa, ele sentou a pua outra vez na política de juros da equipe econômica do governo Lula. Ele afirmou que os altos juros são responsáveis pela falta de recursos em áreas "absolutamente essenciais".

Ele disse: "Às vezes eu chego inevitavelmente à conclusão de que para tudo que é absolutamente essencial para o Brasil falta recursos, menos para os juros 10% superiores aos existentes no mercado internacional. Isso é muito sério". José de Alencar, é teimoso esse cara, afirmou ainda que é "censurado" por insistir em suas críticas à política de juros. E condenou, mais uma vez, o uso do dinheiro público para pagamento de juros.

Pomba! Falou tudo isso no meio do fogo cruzado entre Dilma e Palloci e Palloci e CPIs. E a avenida Paulista ia ouvir tudo isso caladinha? Heeimm? Aposto que não. A avenida Paulista ficou furiosa, impaciente, irritada e de saco cheio. Acho que ela estava só esperando a hora para puxar o tapete do Zé de Alencar. E aí, a descoberta da CPI foi o prato cheio que a avenida Paulista aguardava. Serviu-o quente e em mesa farta.

Mas é claro, antes de levantar essa hipótese, fiquei pensando. Puxa vida, será que a avenida Paulista teria razões para fazer isso? O empresariado todo tem brigado pela queda dos juros, tem ido pra rua pedir a redução das taxas, tem protestado em repetidas reuniões contra a política monetária do Banco Central, não tem? Ou não tem? Mais ou menos, né gente? Temos empresários e empresários. Para alguns, a turma de chão de fábrica, a queda dos juros é fundamental para sua sobrevivência, mas, para outros, os que estão na pontinha da pirâmide, as taxas de juros remuneram seu capital com muito mais competência do que o mercado.

Os empresários do setor financeiro, por exemplo. Olhem só, em 1996, os bancos privados nacionais acumularam ganhos de R$ 2,7 bilhões, uma rentabilidade de 13,5% sobre a soma de seus patrimônios. Em 2004, o resultado já havia subido para R$ 12,5 bilhões, um retorno de 21,9%. Eles quase dobraram seus ganhos, já elevados, nesse período de menos de 10 anos. Nada mal, né? E vai o José de Alencar brigar com esses caras? Então, toma distraído.

E eu vou andando. Mesmo porque, o pedal dessa Singer está meio enferrujado e meus pés já estão doendo.

Um dia de sol para todos vocês.

Até uma próxima.

Da idiota de plantão

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