Arte Fractal - Cláudio Duarte
Ai ai, mas tem chuvido, hem? Faz quatro dias que só chove em Belo Horizonte. Dá até vontade de chorar também. A cidade fica toda espelhada. Vejo faróis vindo de todos os lados em minha direção. Saem até de dentro do vidro do parabrisa. Cada gota que escorre, arrasta um feixo de luz e parece que alguma coisa vai bater bem dentro dos meus olhos. Só ando em sobressaltos. É muito emocionante, essa temporada de chuva!
Tem horas que até parece que vai parar. Mas aí despenca aquele aguaceiro danado de novo. Arre égua! Não pára nunca! Vou sair de fininho. Vou mudar de assunto. Vou só ouvir a chuva e pensar no sol. Tem uma semana, aliás, que o rádio só fala nisso. Um dia desses, estava ali, tentando me desviar de um não-farol e ouvi, na CBN, um médico falando sobre os malefícios do sol. Ai ai, de novo. E ele estava era bravo!
Passou a maior descompostura em quem fica com moderação na hora de usar o protetor solar. Nada de parcimônia. Sejamos generosos! – disse ele. Eca! E dá-lhe FPS 30 no rosto, protetor labial FPS 25 e, no corpo, FPS 15. Sempre e sempre. No clube ou na praia, FPSs variados e chapéu e boné e canga para cobrir os ombros e sombrinha, nem que seja de uma árvore, e não sei mais lá o quê. Então não seria melhor ficar em casa? Tá doido siô!
Eu e Ruthinha já concordamos sobre isso. Somos do tempo em que o sol fazia bem! Clareava o dia, secava a roupa, corava o rosto dos meninos, escancarava as janelas e punha cadeira na porta das casas. O sol era bom demais pra brincar na rua, andar descalça, cavar a terra, fazer um buraco enorme de grande pra nos levar pro Japão! Servia também para armar arapuca de caixa de sapato pra pegar passarinho e caçar minhoca pra jogar no canteiro de beijinhos. Farto era melhor ainda, porque aí a gente podia brincar de chuva com a mangueira do jardim.
O sol fazia bem o dia inteiro. De manhã, dava pique para correr do pegador. De tarde, dava era aquela preguiça preguiçosa de tanta preguiça. Daí, o jeito era todo mundo sentar no murinho da frente e ficar ali, esquentando a sombra da árvore e falando bobagem. Claro, até sair a primeira briga, né? Aí escapava menino pra tudo quanto é lado e só voltávamos no finalzinho mesmo da tarde. Naquela hora em que o dia fica laranja e o sol vira uma bola vermelha, enorme, na outra ponta da cidade.
Era só isso e era tudo. E, olhem só, não me lembro nunca da minha mãe gritar: sai do sol, menina!. Era só assim que ela se zangava: sai da chuva, menina! E mãe, sabem como é, elas nunca se enganam. Pra elas, era chuva que fazia mal, gripava e, pior, prendia meia duzia de espoletas dentro de casa o dia inteiro. Podia até enlouquecer! Sol é que fazia bem. Os meninos sumiam no mapa. Sol é que era bom. Passava o dia inteiro e ninguém via nem sombra de pai e mãe atrás de você mandando fazer isso, fazer aquilo, não fazer isso, não fazer aquilo.
Mas nem tudo está definitivamente condenado. Ainda bem! E ainda bem também que os médicos não são muito bons em criar consensos. Outro dia desses, antes de ouvir o doutor enfurecido na CBN, escutei outro especialista, na mesma rádio, que discordava do primeiro. Estava fechado era comigo e com a Ruth. Em poucos segundos, ele detonou com a moda FPS. Essa mania de passar protetor solar, até para ver se eu estou na esquina, está provocando uma verdadeira epidemia de osteoporose. Qui meda! Até homens, antes raro, já apresentam índices crescentes e significativos de osteoporose.
É óbvio, né? Se lambuzam todo de protetor solar e se esquecem de que precisamos também de raios de sol. Tanto quanto de água de chuva. É claro que ninguém vai se espichar, às duas horas da tarde, debaixo de uma lua daquelas e ficar lá que nem jacaré na lama, né? Mas o sol da manhã, sem pudor, sem receio, sem restrição, é básico. Sem ele, não tem cálcio que consiga se fixar nos ossos e, com o tempo, eles tendem a se desmanchar como um pedaço de giz.
Então? Sol ou chuva? Sol com ou sem protetor? Cheguei à conclusão de que é como quieres. Ou queiras. E basta o suficiente.
Raitos de sol para todos.
Ai ai, mas tem chuvido, hem? Faz quatro dias que só chove em Belo Horizonte. Dá até vontade de chorar também. A cidade fica toda espelhada. Vejo faróis vindo de todos os lados em minha direção. Saem até de dentro do vidro do parabrisa. Cada gota que escorre, arrasta um feixo de luz e parece que alguma coisa vai bater bem dentro dos meus olhos. Só ando em sobressaltos. É muito emocionante, essa temporada de chuva!
Tem horas que até parece que vai parar. Mas aí despenca aquele aguaceiro danado de novo. Arre égua! Não pára nunca! Vou sair de fininho. Vou mudar de assunto. Vou só ouvir a chuva e pensar no sol. Tem uma semana, aliás, que o rádio só fala nisso. Um dia desses, estava ali, tentando me desviar de um não-farol e ouvi, na CBN, um médico falando sobre os malefícios do sol. Ai ai, de novo. E ele estava era bravo!
Passou a maior descompostura em quem fica com moderação na hora de usar o protetor solar. Nada de parcimônia. Sejamos generosos! – disse ele. Eca! E dá-lhe FPS 30 no rosto, protetor labial FPS 25 e, no corpo, FPS 15. Sempre e sempre. No clube ou na praia, FPSs variados e chapéu e boné e canga para cobrir os ombros e sombrinha, nem que seja de uma árvore, e não sei mais lá o quê. Então não seria melhor ficar em casa? Tá doido siô!
Eu e Ruthinha já concordamos sobre isso. Somos do tempo em que o sol fazia bem! Clareava o dia, secava a roupa, corava o rosto dos meninos, escancarava as janelas e punha cadeira na porta das casas. O sol era bom demais pra brincar na rua, andar descalça, cavar a terra, fazer um buraco enorme de grande pra nos levar pro Japão! Servia também para armar arapuca de caixa de sapato pra pegar passarinho e caçar minhoca pra jogar no canteiro de beijinhos. Farto era melhor ainda, porque aí a gente podia brincar de chuva com a mangueira do jardim.
O sol fazia bem o dia inteiro. De manhã, dava pique para correr do pegador. De tarde, dava era aquela preguiça preguiçosa de tanta preguiça. Daí, o jeito era todo mundo sentar no murinho da frente e ficar ali, esquentando a sombra da árvore e falando bobagem. Claro, até sair a primeira briga, né? Aí escapava menino pra tudo quanto é lado e só voltávamos no finalzinho mesmo da tarde. Naquela hora em que o dia fica laranja e o sol vira uma bola vermelha, enorme, na outra ponta da cidade.
Era só isso e era tudo. E, olhem só, não me lembro nunca da minha mãe gritar: sai do sol, menina!. Era só assim que ela se zangava: sai da chuva, menina! E mãe, sabem como é, elas nunca se enganam. Pra elas, era chuva que fazia mal, gripava e, pior, prendia meia duzia de espoletas dentro de casa o dia inteiro. Podia até enlouquecer! Sol é que fazia bem. Os meninos sumiam no mapa. Sol é que era bom. Passava o dia inteiro e ninguém via nem sombra de pai e mãe atrás de você mandando fazer isso, fazer aquilo, não fazer isso, não fazer aquilo.
Mas nem tudo está definitivamente condenado. Ainda bem! E ainda bem também que os médicos não são muito bons em criar consensos. Outro dia desses, antes de ouvir o doutor enfurecido na CBN, escutei outro especialista, na mesma rádio, que discordava do primeiro. Estava fechado era comigo e com a Ruth. Em poucos segundos, ele detonou com a moda FPS. Essa mania de passar protetor solar, até para ver se eu estou na esquina, está provocando uma verdadeira epidemia de osteoporose. Qui meda! Até homens, antes raro, já apresentam índices crescentes e significativos de osteoporose.
É óbvio, né? Se lambuzam todo de protetor solar e se esquecem de que precisamos também de raios de sol. Tanto quanto de água de chuva. É claro que ninguém vai se espichar, às duas horas da tarde, debaixo de uma lua daquelas e ficar lá que nem jacaré na lama, né? Mas o sol da manhã, sem pudor, sem receio, sem restrição, é básico. Sem ele, não tem cálcio que consiga se fixar nos ossos e, com o tempo, eles tendem a se desmanchar como um pedaço de giz.
Então? Sol ou chuva? Sol com ou sem protetor? Cheguei à conclusão de que é como quieres. Ou queiras. E basta o suficiente.
Raitos de sol para todos.
5 comentários:
Um colo levemente bronzeado, uma bochecha rosada... ah!, não tem nada mais bonito e com cara de feliz. Tem?
Tem não, né Cris? Tudo bem, aquele sol escaldante é exagero, ninguém aguenta. Mas se for preciso enfrentá-lo para desfrutarmos do outro sol, morno e acolhedor, a gente enfrenta, né? com sombrinha florida ou chapéu roxo.bjim.
minhas =teclas dumdum estão quebradas.. buaaaaaaa
minhas =teclas dumdum estão quebradas.. buaaaaaaa
Não se desespere, Maick. Nessa época do ano, as teclas dum-dum ficam mesmo um pouco ociosas. O espírito natalino não perdoa. Baixa de corpo e alma nas mentes e corações de todos. Então, essas teclas ficam meio que deslocadas. Mas se vc precisar muito delas, tenho ainda algumas teclas vespeiras em algum lugar que posso te emprestar.
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