sexta-feira, dezembro 09, 2005

Protocolo de Serra Leoa

Hoje é hoje. E para bush isso não muda nada. Apesar de um em cada quatro senadores americanos estarem cobrando, pedindo, suplicando, implorando para que o país assine logo o tal Procolo de Kioto e acabe logo com essa lenga-lenga, bush não tá nem aí. Vai terminar a 11ª Conferência das Partes da Convenção do Clima das Nações Unidas e ele não passa nem perto de caneta, para não ficar tentado. Foge das velhas bics como se fugisse do diabo.

Não topa nem discutir o assunto. Ignorou solenemente até a petição dos esquimós contra os Estados Unidos, apresentada durante a conferência junto à Comissão Interamericana de Direitos Humanos. Os esquimós denunciam os estragos que as emissões americanas de dióxido de carbono e de outros gases estão fazendo nas geleiras do Ártico, ameaçando o modo de vida inuit. Parece inútil né?, mas não é, diz respeito à cultura dos povos árticos, dos esquimós.

Aí fiquei pensando que, nesse caso, até que bush está sendo estupidamente coerente. Defende interesses - imediatos que sejam - dos próprios americanos. O que significa o Protocolo de Kioto ou qualquer outra convenção que venha estabelecer limites para produção de gases poluentes? Na minha idiotice crônica, penso que significa impôr limites ao crescimento econômico e estabelecer novos modelos de desenvolvimento, compatíveis com a sobrevivência do planeta.

Êpa! Mas, pera lá! Quem é que está no comando? Quem é que manda no pedaço? Quem é o dono da bola? Isso é o que bush deve ficar pensando, quando deita a sua cabecinha no travesseiro. Que povo chato e pretensioso, ele deve pensar. Pois se somos nós que estamos no controle do manche, quem deve dizer o quê, o quanto e como vamos trabalhar, somos nós e não eles. Então, pra começo de conversa, não me venham com democratismos. Quem decide isso somo nós. Isso é o bush lá pensando, né?

E pra fim de conversa, impôr limites ao crescimento econômico é uma contratição inconcebível para o modus operandi capitalista. É uma facada nas costas. Ora essa, se esses terráqueos inconstantes, incoerentes e inconsequentes toparam aderir ao modelo de sociedade exportada pelos americanos, agora que agüentem. E tá lá o bush pensando! Os Estados Unidos nunca iludiu ninguém. Vendeu para o resto do mundo a sociedade do consumo ilimitado. E ninguém pode consumir o que não é produzido. Então, se virem!

Tudo é mesmo produzível na sociedade de consumo. Encontra-se de tudo no mercado: durex dupla-face; sapatos para diabéticos; moletons para safenados; brincos de brilhante para cãezinhos de estimação; cremes de beleza com magma de ouro para a eterna juventude; folhas de metal com memória, que tomam a forma desejada de acordo com a sua aplicação; relógio/cronometro/calendário/agenda/celular/computador, tudo junto numa só pulseira; mulheres em vários modelos e tamanho, com peito 100% silicone e cabelos de verdade e homens idem, tudo por módicos 6 mil dólares; pílulas para antes, durante e depois; amores descartáveis; amigos invisíveis e assim vai.

Uai, querem encontrar tudo isso na esquina - e ai se não encontram! É como se o céu despencasse sobre suas cabeças e aí, coitado é do dono da bodega, dá-lhe códigos de defesa do consumidor goela abaixo . E é assim mesmo que é. Ou não é? Ninguém tem mais um sonho de consumo, temos um hipermercado inteiro. Pra hoje, pra ontem. Então, é como a Rutinha costuma dizer, não adianta ficar gastando fosfato, tentando inventar soluções mirabolantes, serão sempre paliativas. O que é preciso fazer é descer ao fundo do poço, buscar as raízes do problema.

Então, fiquei pensando que, pra começo de conversa, temos de criar uma escala decrescente é para os nossos desejos de consumo. Simplicidade voluntária ou Protocolo Serra Leoa. Mesmo porque, já no curto prazo, não teremos outra opção. Já consumimos muito mais do que o planeta pode suportar. E isso tem gerado toneladas de problemas. O efeito estufa é só um detalhe.

Um exemplo: o lixo. Já nem sabemos o que fazer com a quantidade de entulho que produzimos. O Brasil - e, olhem só, por aqui o consumo está restrito quase que só aos 10% da população que detém a grana, a bufunfa mais gordinha, os outros 90% ajudam é a reciclar o que descartamos -, e, ainda assim, falta lote vago para tanta sobra de lixo. Li outro dia um texto da Fabiana que diz que, enquanto a população brasileira cresceu 16% entre 1989 e 2000, a quantidade de lixo gerada no mesmo período aumentou 46%. Como a pobreza não diminuiu no período, imagino que os mesmos estão consumindo cada vez mais e descartando na mesma proporção. É brincadeira?

Já estamos ficando sem espaço até para enterrar nossos mortos. Ói se pode! Li num desses jornais que em Biritiba-Mirim, cidade do interior de São Paulo!, está proibido morrer, porque não tem mais vaga no cemitério. Huahuahuahua! A Prefeitura encaminhou à Câmara Municipal um projeto de lei que proíbe os biritibanos mirins de partir dessa pra melhor e ainda estabelece que eles deverão cuidar da saúde para não falecer. Hehehehe. A matéria não diz se o projeto prevê penalidades para quem desobedecer. Mas deve ter. Se morir, vai pro inferno!

Vida eterna para todos!
A pão e água, claro!

Até a próxima.

Um comentário:

Anônimo disse...

Pat,

Obrigada pelo vento salgado e o calor de sol! Ai que vontade! Aqui na Escola não tem isso... Só tem marasmo mesmo!

Feliz 2006 para você e sua galera!

Abraço,
Bia