Ai ai, viu. Acho que em vez de ficar 38,6% mais pobre, fiquei foi 38,6% mais burra. Olhem só, no dia 25 de outubro passado, um dia depois do referendo das armas, o presidente da frente parlamentar contrária à proibição da venda de armas, o deputado Alberto Fraga (PFL-DF), deu uma entrevista à Folha de São Paulo (página C4), falando sobre os custos da campanha.
Ele disse, naquela época, que a frente acumulara uma dívida de R$ 900 mil. E, assim como quem não quer nada, falou que se não conseguisse outros patrocinadores, recorreria às indústrias de armamento Taurus e Companhia Brasileira de Cartuchos (CBC) para quitar o débito. “Eu não tenho como pagar isso não!” – foi o que ele afirmou à repórter Fabiane Leite.
O que vocês entenderam disso? Eu entendi que a campanha do “Não” foi financiada por um grupo de patrocinadores que, até então, não incluia as duas fábricas de armas que atuam no mercado brasileiro. Não é isso? Ou tô ficando boba?
Bom, naquela época ainda, o deputado Raul Jungmann (PPS-PE), tesoureiro da Frente Parlamentar pela proibição da venda de armas, não quis comentar a entrevista de Fraga, mas deixou escapar que a fala do deputado refletia “um jogo de cartas marcadas”. E mais não disse.
Muito bem. Exatamente um mês depois, no último dia 25 de novembro, também na Folha de São Paulo (página C3), o mesmo deputado Alberto Fraga declarou que a Taurus doou à campanha da frente contrária à proibição da venda de armas um total de R$ 2,828 milhões e a CBC outros R$ 2,754 milhões. Mais R$ 144 mil teriam sido arrecadados de pessoas físicas e outras empresas. Ainda segundo Fraga, em entrevista à repórter Silvana Freitas, as duas indústrias não tinham feito doações ao longo da campanha, mas foram convidadas a cobrir a dívida após a vitória do “Não”.
Ham rãm, tô sabendo. A dívida era de R$ 900 mil e as duas empresas, caridooosas elas, resolveram doar a irrisória quantia de R$ 5,582 milhões, isso depois do jogo terminado. Um valor seis vezes maior que o tamanho do buraco. Ham rãm. Me engana que eu gosto!
Aí a repórter foi atrás do Raul Jungmann e ele falou o que não havia dito daquela outra vez. Que a campanha do “Não” foi toda financiada pela indústria do armamento; que a vitória foi obtida com propaganda enganosa; que foi uma farsa; que foi um estelionato eleitoral claro e patatipatatá.
Pois é, né? O apoio da indústria de armas à campanha do “Não” já era, muito antes da prestação de contas agora apresentada, uma constatação do tipo óbvio ululante, como diria Nelson Rodrigues. Mas em sendo assim, por que tanta gente se deixou enganar por essa balela repetida à exaustão, de que votar “não”, significaria garantir o direito do cidadão (sic) de comprar armas, se assim bem entendesse? Ham?
A Rutinha é quem dizia. Se é assim que é, amanhã, podem escrever, vamos ter referendo para garantir o direito do maconheiro de plantar maconha. Huahuahua! Mas por quê? Por quê? Por quê? Aí fui pensar com o Roberto Campos, aquele economista, deputado, ministro e assim por diante. Ele defendia que, além do “óbvio ululante”, precisávamos cunhar uma nova expressão: o obscuro aliciante. O que é isso? São aquelas palavras ou expressões atraentes que nos encantam ali, no calor da luta, mas que não dizem absolutamente nada, quando penetramos no “ventre do concreto” das suas letras. São vazias e imprecisas, na sua generalidade, como as palavras de ordem adotadas pela campanha do “Não”: defesa do direito de comprar armas. Como assim, hem?
E durma-se com um barulho desses!
Eu me durmo de qualquer jeito, porque amanhã já é hoje e eu levanto é cedo.
Um abraço impreciso a todos
Da idiota de plantão.
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