Qui coisa siô! Hoje tô chutando até minha sombra. Então, é melhor ir circulando! Eu vou ficar por aqui pra soltar os cachorros. Tava até de bem com a vida, mas cai na besteira de ler jornal logo cedo e me envenenei. Li, juro que li, que alguém vai dar uma surra em alguém, quando descobrir quem. Li que esse alguém, que bate até pessoalmente, se for preciso, é um inimigo inesquecível. Li essas palavras todas na boca de um senador da República.
Êêêta nóis! Eu costumo ficar brava, mas não saio por aí armando barraco. Fico é quieta no meu canto e ainda aviso para manterem distância. Aí não preciso ficar pedindo desculpa toda hora, né? Então, estou aqui, tricotando palavras para dar tempo ao tempo. E não é que me lembrei dos loucos dos ingleses? Acho que fui tremendamente injusta com eles. Os ingleses estão certos quando pedem moderação. Quando tiram as palavrinhas mágicas do fundo do baú e plantam-nas de novo no jardim da praça.
Me lembrei também do Jornal Nacional. Ontem fui ver as notícias, porque estava com preguiça de ler e precisava de uma resposta rápida para a pergunta que o Daniel me fez. Pergunta banal, que ele me fez enquanto devorava um cachorro quente: mas afinal, o que está acontecendo? Bonner e Fátima não me ajudaram muito, mas fiquei por dentro do noticiário policial, o que já é muita coisa hoje em dia. E vi uma escola de Porto Alegre, que instalou detector de metal para inibir a entrada de alunos armados em sala de aula. E vi as professoras falando com muita naturalidade que essa é a escola real. E vi os alunos rindo e concordando com isso. Como diria Henfil, vichi, que país foi este?
Uma linha puxa outra linha e fui dar num outro novelo: um artigo da Dra. Gro Harlem Brundtland, diretora da Organização Mundial de Saúde. Ela fala sobre a violência, sobre as sociedades sitiadas e os custos humanos, políticos e econômicos da violência urbana e social. Arregalei os olhos, quando li esse artigo. Ela demonstra como a violência urbana está minando as bases do sistema democrático; drenando uma enome quantidade de recursos públicos e privados, que são indispensáveis para o desenvolvimento e para o crescimento com igualdade; criando instabilidade política; e deteriorando as instituições que deveriam ser os pilares fundamentais para conter e erradicar a violência.
Mas arregalei os olhos foi quando li, em outro trecho do artigo, a descrição que ela faz do cenário da violência nas sociedades latinoamericanas. É claro que ela faz referência à violência social e ao aumento das atividades criminais, mas chama atenção para outro aspecto pouco considerado nesses estudos. Gro Harlem detectou, nas sociedades latinoamericanas, a crescente falta de observância de muitas das normas de convivência civil, expressadas nas boas práticas de integração social, como o uso das palavrinhas mágicas, a tolerância no trânsito, nos transportes urbanos, nas filas e assim por diante.
Para ela, esse fenômeno contém em si o germe da violência urbana. Mas como não é um fato espetacular, não jorra sangue e nem espirra miolos, se instala é de forma quase imperceptível no tecido social, ninguém leva em consideração, com exceção dos ingleses, claro! Então, esse germenzinho de violência vai se espalhando, se instalando sorrateiramente no nosso cotidiano e nos espaços que, tradicionalmente, funcionavam como lugares de contenção e educação, espaços próprios para o diálogo, como o Parlamento e a escola. Olhem só! Cês viram? Arregalei os olhos!
Mas acho que ninguém está vendo nada. Tudo é muito natural, pois que é real. Então, quando assustarmos, vamos acordar dentro de um pesadelo, se é que não já estamos, né? Por isso, turminha, hoje vou chamar os anjinhos de novo, quando for dormir. Quem sabe amanhã eu melhoro.
Brigadinha pela tolerância
E até de repente
3 comentários:
Já coloquei o pó no coador, a água na chaleira, mas.... Com ou sem leite, com ou sem açucar, prefere fraco ou forte?
Eu gosto de café beeem forte.
hey, bjunhux e...
Mantenha contato
voltei pra dar um oi
aê,amigo. Nada como sermos gentis, não é mesmo? Eu gosto de café forte, com pouca açúcar, mas não muito quente. Não tenho paciência para esperar esfriar e acabo me queimando.
Ainda não tive tempo para voltar na sua praça, mas, assim que der, volto lá. Gostei muito do seu jeito de escrever.
Postar um comentário