terça-feira, novembro 01, 2005

Soltando os cachorros

Qui coisa siô! Hoje tô chutando até minha sombra. Então, é melhor ir circulando! Eu vou ficar por aqui pra soltar os cachorros. Tava até de bem com a vida, mas cai na besteira de ler jornal logo cedo e me envenenei. Li, juro que li, que alguém vai dar uma surra em alguém, quando descobrir quem. Li que esse alguém, que bate até pessoalmente, se for preciso, é um inimigo inesquecível. Li essas palavras todas na boca de um senador da República.

Êêêta nóis! Eu costumo ficar brava, mas não saio por aí armando barraco. Fico é quieta no meu canto e ainda aviso para manterem distância. Aí não preciso ficar pedindo desculpa toda hora, né? Então, estou aqui, tricotando palavras para dar tempo ao tempo. E não é que me lembrei dos loucos dos ingleses? Acho que fui tremendamente injusta com eles. Os ingleses estão certos quando pedem moderação. Quando tiram as palavrinhas mágicas do fundo do baú e plantam-nas de novo no jardim da praça.

Me lembrei também do Jornal Nacional. Ontem fui ver as notícias, porque estava com preguiça de ler e precisava de uma resposta rápida para a pergunta que o Daniel me fez. Pergunta banal, que ele me fez enquanto devorava um cachorro quente: mas afinal, o que está acontecendo? Bonner e Fátima não me ajudaram muito, mas fiquei por dentro do noticiário policial, o que já é muita coisa hoje em dia. E vi uma escola de Porto Alegre, que instalou detector de metal para inibir a entrada de alunos armados em sala de aula. E vi as professoras falando com muita naturalidade que essa é a escola real. E vi os alunos rindo e concordando com isso. Como diria Henfil, vichi, que país foi este?

Uma linha puxa outra linha e fui dar num outro novelo: um artigo da Dra. Gro Harlem Brundtland, diretora da Organização Mundial de Saúde. Ela fala sobre a violência, sobre as sociedades sitiadas e os custos humanos, políticos e econômicos da violência urbana e social. Arregalei os olhos, quando li esse artigo. Ela demonstra como a violência urbana está minando as bases do sistema democrático; drenando uma enome quantidade de recursos públicos e privados, que são indispensáveis para o desenvolvimento e para o crescimento com igualdade; criando instabilidade política; e deteriorando as instituições que deveriam ser os pilares fundamentais para conter e erradicar a violência.

Mas arregalei os olhos foi quando li, em outro trecho do artigo, a descrição que ela faz do cenário da violência nas sociedades latinoamericanas. É claro que ela faz referência à violência social e ao aumento das atividades criminais, mas chama atenção para outro aspecto pouco considerado nesses estudos. Gro Harlem detectou, nas sociedades latinoamericanas, a crescente falta de observância de muitas das normas de convivência civil, expressadas nas boas práticas de integração social, como o uso das palavrinhas mágicas, a tolerância no trânsito, nos transportes urbanos, nas filas e assim por diante.

Para ela, esse fenômeno contém em si o germe da violência urbana. Mas como não é um fato espetacular, não jorra sangue e nem espirra miolos, se instala é de forma quase imperceptível no tecido social, ninguém leva em consideração, com exceção dos ingleses, claro! Então, esse germenzinho de violência vai se espalhando, se instalando sorrateiramente no nosso cotidiano e nos espaços que, tradicionalmente, funcionavam como lugares de contenção e educação, espaços próprios para o diálogo, como o Parlamento e a escola. Olhem só! Cês viram? Arregalei os olhos!

Mas acho que ninguém está vendo nada. Tudo é muito natural, pois que é real. Então, quando assustarmos, vamos acordar dentro de um pesadelo, se é que não já estamos, né? Por isso, turminha, hoje vou chamar os anjinhos de novo, quando for dormir. Quem sabe amanhã eu melhoro.

Brigadinha pela tolerância

E até de repente

3 comentários:

MaicknucleaR disse...

Já coloquei o pó no coador, a água na chaleira, mas.... Com ou sem leite, com ou sem açucar, prefere fraco ou forte?
Eu gosto de café beeem forte.

hey, bjunhux e...
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MaicknucleaR disse...

voltei pra dar um oi

patricia duarte disse...

aê,amigo. Nada como sermos gentis, não é mesmo? Eu gosto de café forte, com pouca açúcar, mas não muito quente. Não tenho paciência para esperar esfriar e acabo me queimando.

Ainda não tive tempo para voltar na sua praça, mas, assim que der, volto lá. Gostei muito do seu jeito de escrever.