sábado, novembro 12, 2005

Here we go!!!

Sexta-feira topei foi com a futura geração brasileira. Bem na porta do prédio onde trabalho. Tive de abrir caminho entre bombetas e moletons, dim dim dom. Tênis all star de cano longo do oi, pedacinhos de saia, bolinhas coloridas em cabelos de trancinha e okiscuros no nariz.

A futura geração brasileira não parecia levar coquetel molotov na mochila. Muito pelo contrário, estava armada de uma boa dose de paciência. Passou o dia inteiro em salas sem janela, parlando, parlando, parlando. Inventando um jeito de cair fora do destino que estamos embrulhando para ela. Embrulhando e enfeitando, com laço de fita vermelha e cartãozinho: Bem vinda ao nada!

Depois de traçar uma quentinha no corredor cultural que leva ao auditório, a futura geração brasileira ainda rendeu mais tempo para aprovar um novo enredo para essa história. As minas e os manos da Gerais vão defender em Brasília a inclusão, no Plano Nacional de Juventude, de um programa de capacitação profissional e políticas públicas que incentivem o primeiro emprego. Bunitinhos eles!

Por enquanto, estão acreditando que estão convidados para o grande espetáculo da construção humana. Tomara que não estejam errados. Não eram muitos, talvez uns 250 membros filiados de carteirinha da futura geração. Mas se cada um tem uma turma de dez amigos e conversa com ela sobre as batatinhas do seu dia, são mais de dois mil que estiveram ali representados. Um bom começo.

Quando foram embora, fiquei pensando: haja paciência histórica! O Brasil ainda não é um primor de participação cidadã. Por coincidência, na mesma sexta, recebi pelo correio o resultado de uma pesquisa da Rede Interamericana para a Democracia, com os novos números do IPC. Não o Índice de Preços ao Consumidor, mas o Índice de Participação Cidadã de sete países da América Latina. O Brasil conseguiu segurar a lanterninha. Ficou em último lugar. O primeiro é a República Dominicana, seguida do Chile, Peru, Argentina, México e Costa Rica.

Na República Dominicana, a maior participação é em atividades políticas, por meio de organizações religiosas. No Brasil, o canal de participação também são essas organizações, mas o envolvimento das pessoas é mais em torno de questões da comunidade, do bairro e da cidade. Engraçadamente, os homens participam mais que as mulheres, menos no Peru e na Argentina, onde os dois marcam presença juntos.

Nesses países, a participação cidadã tem significados diferentes. Para 66,3% da população militante da República Dominicana, a participação significa comprometer-se com uma causa, com um ideal: é atuar. Para 61,8% dos brasileiros que estão mobilizados em alguma atividade cidadã, significa ajudar, colaborar. É o nosso espírito cristão enraizado até a alma. Para 41,8% dos chilenos, atuar dá o sentido de pertencer a um grupo.

Já a não-participação é percebida na República Dominicana como omissão, por falta de interesse ou egoísmo. No Brasil, como somos mais tolerantes em tudo, a desculpa é falta de tempo. No máximo, falta de informação. Nos sete países, o engajamento é maior entre os adultos, na faixa de 36 a 55 anos, e menor, entre os jovens, de 18 a 25 anos.

O que vi na sexta-feira, portanto, não foi um fato banal. Foi um momento histórico. Pois eram ainda crianças, entre 16 e 20 anos, talvez. Enforcaram a sexta-feira, mas em vez de ir bombar no shopping, foram trocar figurinhas numa sala sem janela. Foram correr atrás do prejuízo.

São bunitinhos ou não são? Eu acho. Foi uma história de feliz que eles me contaram e, por isso, enquanto abria caminho entre aqueles meninos e meninas, estendi a minha mão para quantos deram e cumprimentei-os alegremente. Toquei nas mãos espalmadas de outros, pra ver também se essa tal de esperança pega que nem gripe, só no contato. Acho que fui contaminada, mas segunda-feira já estarei melhor. Hehehe.

Demorou.
Até mais ver, amigos!

Um comentário:

patricia duarte disse...

Não, foi na Escola do Legislativo. Este foi o terceiro ou quarto encontro deste ano. A Câmara dos Deputados é quem tem organizado esse debate, temos participado apenas como apoio no estado. Agora, a discussão sobre o Plano Nacional da Juventude vai para Brasília.