quarta-feira, março 29, 2006

Servidão voluntária

Estava com cinco arquivos temporários abertos para escolher sobre qual pensar. Aí gripei. Fechei tudo e fui ver televisão. Televisão é muito bom pra gripe, melhor do que chá de limão. Principalmente se você consegue ter o comando do controle remoto. Aí é só ficar ali, parada em frente à tevê, que em poucos minutos a febre estabiliza. Você pára de achar que está delirando e acredita piamente que quem delira é a vida. Com mais algumas doses de documentários da National, como um que vi sobre o porquê das zebras serem as presas preferidas dos leões; uma comédia com Schwarzenegger (coitados dos californianos!); um jornal; um documentário na Globo News sobre o pleno desemprego; um clip do Red Hot Chili Peppers na MTV e mais jornal e mais jornal, você acaba até dormindo. Muuuito bom mesmo.

Depois, você acorda, de repente, mas continua ali, ancorada na vida como ela é, que aparece ao vivo e à cores na telinha da tevê. Ela sim, delirando. Além dela, pelo que pude ver nesses dias, só mais o mercado, e por conta do tombo de Palocci. A notícia ainda estava soltando fumaça, de tão quente, e os repórteres, coitados!, já ralando atrás de um e de outro para repercutir a mudança. Mantega nem tinha sido confirmado e menos ainda se pronunciado! É o jornalismo do futuro. O fato antes do fato. Por isso, a vida corre tão rápida ultimamente. Por isso, a vida anda tão banalizada. Quando as coisas acontecem, já ficaram velhas.

Mas aí o mercado, cabreiro e escaldado, aproveitou para abrir o verbo sem cerimônia. Ouvi de tudo. "Bem, não, não, não vai haver mudanças...ele terá apenas oito meses para fazer o seu trabalho; bem, bem...o novo ministro tem idéias que diferem um pouco das de Palocci, mas ele vai conduzir é a política de governo que é essa que aí está. Não haverá uma quebra dessa ordem; poderá haver algum atrito talvez em relação à política de juros, talvez algum embate com o Banco Central e aí, talvez, o Banco Central peça demissão (!!!! pode isso? Banco pede demissão?); não existe espaço para mudanças. A economia brasileira está num ajuste muito fino, muito apertado....; é...é...não não, não corremos risco de mudanças, mesmo porque o ministro Mantega sabe muito bem que se houver alguma mudança o mercado poderá reagir e aí ele terá de voltar atrás (!!!!???). Ôw, isso não parece uma ameaça? Não seria o caso de entrarmos com um processo na Justiça contra esse tal mercado, por práticas escravistas, tentativas de acorrentar a economia? Ou será que já aderimos ao voluntarismo e nos entregamos, definitivamente, à servidão para o senhor de todos os senhores: o mercado?

Tem mais. Existe mesmo uma lenda corporativa que diz que ninguém, ninguém mesmo nem um ministro da Fazenda é insubstituível. Mudam-se as pessoas, mas o trabalho continua. Lenda, né? Eu, não sei se agora comecei a delirar mas, prefiro concordar com a Rutinha, nem um de nós e nem ninguém é substituível. Cada um é cada um e por onde passa deixa a sua marca, que é pessoal e instranferível. Então, toda mudança de nomes, implica sim em mudanças de estilo, mudanças no processo de escolhas, de seleção de prioridades e blá, blá, blá, blá, blá, blá. O novo ministro sabe disso. Ou delira como eu. Vi ele falando no início da noite. E ele disse mesmo que não vai mudar, mas disse também que vai. Cada um leia como quiser.

Acordei. Vou trabalhar, porque gripe não é desculpa para ficar de molho em casa.

Até o próximo plantão!

2 comentários:

Dani Morreale Diniz disse...

Poxa;


SOS Dani chamando.
Patricia direto aos meus favoritos.

Tudo

patricia duarte disse...

Ei Dani,
Brigadinha pela visita. Fui lá na sua pracinha também e gostei muito. Depois volto para ler com mais vagar. Agora estou na correria. Passei por aqui só para dar uma espiada. Inté.