terça-feira, março 07, 2006

A fúria do sol

Trilha alternativa: Pais e filhos ou Strani Amore, com Renato Russo, pelo menos uma vez.

Hoje fui engarrafada no trânsito. Levei duas horas para percorrer um trajeto que, normalmente, não gasto mais do que 30 minutos. Em outras épocas, teria cozinhado a raiva na primeira hora e, na segunda, despejado a minha ira em cima do primeiro carro que empacasse o meu caminho. Mas a idade tem suas vantagens. Aprendi a ter calma. Fechei os vidros, liguei o som e deixei rolar Renato Russo, Madeleine, Velvet Underground e Renato Russo e Madeleine e Velvet de novo e tudo outra vez.

Às vezes não andava e muitas vezes ficava parada. Mas não me desesperei. Estou me guardando para quando tiver um bom motivo. Tem gente que perde a cabeça por nada. Olha o Ronaldinho, que coisa feia, brigando no vestiário. Olha o Alckmin. Já virou até paraibano! Está se descabelando por nada. Nesse vai não vai do PSDB, ele já ganhou dois meses de mídia gratuita, ficou conhecido no Brasil inteiro, saiu do anonimato do Morumbi, com direito até a destaque em escola de samba em Sun Paulo e a se empanturrar de chuchu com camarão no sambódromo do Rio. Desesperar pra que? Olha o Guga, nem parece brasileiro. Já desistiu. Olha o bush, o que anda fazendo. Olha Efraim Morais, o que fez. Mais 60 dias de palanque, hem?

Só respeito o desespero daquelas 120 famílias do povoado de Tabocal, em Santo Antônio de Jesus, um lugarejo perto de Salvador. Acordaram em pânico na última madrugada, com o fogo e a fumaça rondando suas almas e devorando todo o mato que topavam pela frente. Nisso, sou como os gauleses, meu maior medo é que o céu caia sobre nossas cabeças. E isso não está mais fora de cogitação. Se não o céu, o meteorito de Tabocal. Se não o céu, todo o lixo que produzimos desde a primeira jornada nas estrelas.

Pelo menos é o que estou entendendo do nada que entendo dessa matéria. Mas vi uma notícia hoje cedo que me deixou muito mais ou menos preocupada e me fez conter o desespero no início da noite, quando me engarrafaram no trânsito. Não tem nada a ver com o aquecimento global. Aliás, corremos o risco de nem ter a oportunidade de assistir o final desse grande espetáculo da natureza. Nem com Lula, coitado, que acho nem sabe o que se passa. Está ocupado agora em assumir a sua porção sapo das histórias da carochinha, passeando com a realeza pelos corredores do Castelo de Buckingham. Só não sei quem vai ser o voluntário que terá de beijá-lo para transformá-lo em príncipe.

Bom, mas o que Lula não está sabendo é que, a partir do ano que vem, no mais tardar em 2008, inicia-se mais um ciclo de atividade solar, com duração de 11 anos! Nesse período, o clima solar fica instável, sujeito a chuvas e trovoadas. Mas as tempestades solares não despejarão duchas de água fria na cabeça de ninguém. Vão é provocar grandes explosões nas áreas próximas às manchas solares, equivalentes a um milhão de bombas atômicas de 100 megatons. As colossais labaredas e erupções que se originarem desse fenômeno mandarão à Terra grandes ondas de energia, capazes de provocar apagões por todo o planeta, bloquear comunicações por rádio e satélites de suas órbitas, entre outras avarias.

Segundo os pesquisadores do Centro Nacional de Pesquisa Atmosférica, em Boulder, no Colorado, as tempestades solares serão de 30% a 50% mais freqüentes nos próximos anos e mais intensas também que aquelas registradas nos outros 23 ciclos já estudados. Vocês estão percebendo o que isso pode significar? Alguns dias sem luz, sem telefone celular, sem internet, sem televisão, sem banho de água quente, sem semáforos para ordenar o trânsito caótico das grandes cidades, sem rádio, sem aparelhos de tomografia, raio-x e outras parafernálias da medicina moderna, sem liquidificador, batedeira, microondas, X-box, cafeteiras, cinema, sonzão, faca elétrica e tudo mais que nos compõe hoje em dia, como diria meu pai.

As tempestades solares afetam também a navegação aérea e marítima, colocando em risco as viagens de avião e navio. O pesquisador Helmut Zyprian comprovou que na ocasião do lançamento da nave espacial Columbia, acidentada em 8 de fevereiro de 2003, havia um fluxo intenso de partículas solares, que provavelmente provocaram a queda da nave. Jahanna König, também estudiosa dos efeitos solares, já documentou a relação da queda de aviões com tempestades solares. Enfim, a partir do ano que vem, devemos estar atentos a tudo que vem dos céus. Não só as bênçãos do Poderoso poderão descer sobre nossas cabeças. E é isso que temo, por isso estou me guardando para não me desesperar na hora errada.

Mas isso ainda não é tudo. Segundo os pesquisadores, o aquecimento global, agora sim, poderá ser acelerado nos próximos anos não pela queima de combustível fóssil, mas exatamente pela maior atividade solar. Eles observaram que, paralelamente a esse fenômeno, ocorre um aumento de dióxido de carbono na atmosfera terrestre e isso pode não ser uma simples coincidência. Eugene Parker, do laboratório de Astrofísica e Pesquisa Espacial da Universidade de Chicago, explicou que as tempestades solares aumentam a temperatura da terra, esquentando os oceanos. Aquecidos, eles absorvem menos dióxido de carbono da atmosfera, fazendo com que o ar do planeta acumule mais gases do chamado efeito estufa. Sobrou pra nós outra vez. E dá-lhe bush.

Que o céu não nos caia. E nem o sol.

Durmam e sonhem com estrelas menores

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