domingo, março 12, 2006

Somos todas medéias

Nnu! Já tinha até me esquecido de como era um dia de chuva fininha, com um friozinho bem médio e uma lista de coisas pra fazer embolada no lixo. Mas hoje reavivei minha memória e desfrutei vagarosamente cada minuto da minha mais vadia. Não foi fácil, mas derrotei impiedosamente as tentativas dos adversários de me atribuir alguma tarefa infame ou um programa legal. Amanhã, quem sabe?

E, como hoje já é amanhã, dei só uma navegada na internet, antes de ir dormir, para ver o que o mundo andava fazendo, enquanto eu fazia nada. E, tirando Ronaldo, que, parece, também resolveu gazetear neste sábado, e Milozevik que radicalizou, os demais e os restantes continuaram na roda viva. Hiperativos. O imperativo da nossa sociedade hipermoderna.Continuaram, mesmo sabendo que, no mundo de hoje, ninguém mais se estabelece, só segue em frente. Vai ver, foi até por isso mesmo. Estamos todos condenados ao curto prazo e à impaciente urgência de apresentar resultados. Assim, mantiveram acesa a chama da eficiência e mostraram serviço. Bravo!

Olhei também a foto de Michelle Bachelet, ao ser empossada nova presidente do Chile. Estava com as mãos cruzadas sobre o coração. Eu vi. Não tinha os punhos fechados. As mãos estavam abertas e cruzadas sobre o coração. Isso faz diferença. O gesto, não o fato de ser o gesto de uma mulher. Se fosse Evo, Chávez, Kishner e até bush, também faria diferença. Mas era Bachelet que estava lá, com as mãos cruzadas sobre o coração.

Não li as matérias, mas aposto que repetiram a mesma ladainha: Bachelet, a primeira mulher a ocupar a presidência num país da América Latina; a primeira mulher a receber uma faixa presidencial. Parecemos uma tribo de exóticos e inexperientes seres que, para o espanto da geral, conseguimos desbravar a selva de pedra e ocupar uma cadeira no camarote vip. Então tá. Vou fingir que caio nessa. Mas, como diz Dilma Roussef, estamos apenas pelejando, pelejando.

Não estou criticando os repórteres. A culpa é do clima de festa, propício a esses devaneios. Tanto que bush cedeu o lugar na fita para Condoleezza Rice, que vai disputar as próximas eleições nos EUA, enfrentando do outro lado a fúria da mulher traída de Hilary Clinton. Como defendo que todos nós deveríamos ter um título de eleitor norte-americano, já que eles interferem na vida de todo o planeta, vou declarar o meu voto de antemão. Ele vai para Hilary, claro. Ela sabe o que é pelejar.

Também não estou reclamando. Só constatando. E depois de uma semana inteira de reverências mil, minha auto-estima saturou. O excesso às vezes acaba é gerando carências. Até bush, vê se pode? Foi pra porta da Casa Branca e anunciou que os EUA vão ajudar as mulheres a defender sua liberdade, não importa onde vivam. Por Deus, bush, esquece! Não precisa mesmo. Obrigada, obrigada, mas fique fora disso. Não tente destampar a nossa caixa de pandora. Disso, cuidamos nós mesmas. E fique esperto. Como diz a Rutinha, nunca se esqueça que somos todas medéias.

Se for possível, durmam o sono das crianças, sempre sob a proteção da fada madrinha

OS: Fizemos um acordão para tentar salvar o blogviajeiro. Enquanto Dani e Artur estiverem enrolados nos seus afazeres acadêmicos, vou dando um jeito de manter no ar ao menos nossos arquivos de acompanhamento da conjuntura. Vamos levando desse jeito até que surja uma grande idéia e aponte um rumo para essa falta de ter o que fazer que demos de inventar.

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