Tive um surto de pensamentos na sexta-feira. Vieram em ondas, um atrás do outro, alucinados, prestes a se arrebentarem no fundo da lixeira. Antes que o pior acontecesse, procurei recuperá-los e por ordem na casa. Mas não tive tempo para cair na rede. Como hoje é sábado, vou pular de cabeça, e postar algumas coisas. Nem que seja em doses homeopáticas.
Vou começar do princípio. Não costumo reagir a provocações. Já nem me dou ao trabalho, porque, muitas vezes, essa prática já é entendida como a resposta mais irritante que qualquer outra que pudesse improvisar. Dependendo da lua, no entanto, bato de pronto. E foi o que aconteceu ontem. Recebi de um amigo, não só eu, mas todo o seu grupo de amigas, uma mensagem ultrajante. Ultrajante ou ultrapassada, sei lá. Não vou reproduzí-la, porque está disponível no site da UOL e também porque não vale a pena. Mas vou pensar sobre ela, a pedido das amigas.
Simplificando, trata-se de uma pesquisa realizada por dois psicólogos britânicos (pronuncia-se assim: bicho doido), sobre a inteligência humana. Depois de medir o tamanho do cérebro e aplicar um teste em 80 mil voluntários (tem bobo pra tudo), os dois pesquisadores chegaram à brilhante conclusão de que o homem tem o cérebro maior do que o da mulher e, conseqüentemente, é também mais inteligente do que os exemplares femininos da raça.
Não, não vou cair na esparrela de arbitrar disputas sobre matéria vencida. Vou ao que interessa. Vê se pode! O que é que os dois britânicos me arrumaram para aplicar naquele bando de babacas? O velho teste de Quociente de Inteligência ou Teste de QI! Santa Periquita, esses testes são completamente idiotas e já estão devidamente desqualificados em qualquer parte do planeta. Só não contaram pra eles. Irwing e Lynn passaram por debaixo da mesa! Esse tipo de teste fez sucesso no início do século passado e, assim mesmo, erraram o suficiente para muita gente boa não levá-los à sério, já naquela época.
Por coincidência, exatamente nessa semana, a nossa amiga Rutinha me emprestou o prospecto de uma exposição que ela visitou agora, em agosto, no Ontario Science Centre, no Canadá, intitulada Verité – La verité en question. A mostra se propunha, justamente, a discutir como um ponto de vista, mesmo inexato, pode ser válido e útil, mas também levar a preconceitos e opressão. Entre as 39 questões-chaves, expostas em painéis ilustrados e independentes, qual estava na casa 28? Os testes de QI, criticados duramente por classificar determinados grupos como inferiores, revelando evidentes preconceitos culturais.
Ainda assim, é claro, esses experimentos não caíram totalmente em desuso e uma prova disso é mais essa pesquisa. Só que, no início dos anos 90, ainda no século passado, portanto, os entendedores da matéria já reconheciam que a inteligência não é uma grandeza passível de medição. E por quê? Por quê? Porque um carinha, chamado Howard Gardner (pronuncia-se assim: bicho cabeça), constatou que não temos um padrão único de inteligência, mas uma multiplicidade de competências o que nos permite, por exemplo, considerar Pelé um gênio da humanidade.
Gardner detectou, pelo menos, sete diferentes manifestações de inteligência: a da dimensão lingüística, da lógico-matemática, da musical, da corporal-cinestésica (que é onde Pelé se destaca), da espacial, da intrapessoal e da interpessoal. Sem contar uma outra, mais recente, ainda em estudo, que é a da inteligência existencial. Além disso, constatou que a diversidade da inteligência humana deve-se também à conjunção de fatores genéticos e estímulos ambientais. Ou seja, estudos sobre essa temática são de alta complexidade e não devem estar reduzidos a um indicador síntese, como propõem Irwing e Lynn.
Falei. Mas ainda não acabei. O outro aspecto da pesquisa, divulgada pela BBC Brasil, refere-se ao tamanho do cérebro. Homem é muito estranho e engraçado. Eles estão sempre discutindo alguma coisa em torno disso: se é maior, se é menor, se é melhor, se é pior, se é mais, se é menos. É um mundo binário, num universo ultra mega poli. Bom, mas o fato é que essa história de tamanho também continua a ser pesquisada e os resultados, se são considerados, pelo menos, o são apenas como incertezas a serem ainda mais investigadas.
Só que, mais uma vez, já se constatou também que não é isso que nos torna diferentes. Nem dentro da nossa espécie, nem em relação a outras espécies do reino animal. Talvez, talvez, a diferença esteja mais na organização interna ou na densidade de conexões entre neurônios. E aí, só para não deixar passar batido, é bom lembrar que, recentemente, o próprio site da UOL divulgou uma pesquisa, que relata a existência de neurônios duplicados é no cérebro das mulheres, o que lhes dá maior possibilidade de desenvolver pensamentos complexos (hehehehe). O Cláudio e o Rafa dizem que não são neurônios duplicados, mas uma dupla de neurônios (simplesmente um n¹ e um n² ). Isso é intriga da oposição e vai exigir uma ação doméstica mais radical. Mas isso fica para depois. Agora vou entrar na rede. Tchibum!
PS: Guardei os outros pensamentos dentro do livro de Edgar Morin (A cabeça bem-feita). Um em cada folha. Um dia volto neles.
Durmam com os anjinhos!
6 comentários:
Garota do twin set: é só esperar que esse cara de Londres aí vai lançar logo logo uma reportagem sobre virgindade. Tema muito polêmico, você sabe.
E eu não sei? Ficou na lista dos temas mais debatidos na mesma época em que os testes de QI figuraram na berlinda.
Então, Cris, fiquei pensando também outros temas para sugerir a eles. Para adiantar, até preparei alguns questionários-piloto. Por exemplo:
Para medir a velocidade de raciocínio dos homens e das mulheres
Universo: 200 questionários aplicados são suficientes para formar um padrão
Tempo de resposta: 30 segundos
1) Pense e responda (de preferência, todas ao mesmo tempo):
- Em qual gaveta do armário estão as meias pretas caneladas?
- Onde está o CD dos Beatles?
- Qual conta está vencendo hoje?
- O que vamos fazer hoje para o almoço?
- Quais as principais características da vegetação da região Norte do Brasil?
- Quem foi Robespierre e qual o seu papel na Revolução Francesa?
- (ao celular, atendendo a uma chamada urgente de um colega) Aqui, chegou uma solicitação da presidência aqui,urgente! O que qu'eu faço com isso?
- Mas e pro lanche? O que qu'eu faço?
- Vou podar a jabuticabeira para ver se, na próxima temporada, ela já dá frutos. Posso?
Para medir a memória
Universo: 200 questionários aplicados são suficientes para formar um padrão
Tempo de resposta: 50 segundos
- Em qual gaveta do armário ficam as meias pretas caneladas?
- Onde está o CD dos Beatles?
- Qual o telefone da sua mãe?
- Qual é o dia do aniversário da sua irmã?
- Onde fica a casa do Bê? (como assim, quem é Bê? Ahn? Amigo de quem? Do Rafinha? Quantas vezes já fui lá? Cinco? Você inventa muita história...)Mas onde fica a casa do Bê?
- Onde está o livro que você está lendo agora?
- Na sua casa, onde os copos ficam guardados?
- E o remédio para dor de cabeça?
- E a pasta de dente?
- E o açucareiro?
Chega, né? Se não os bicho doido vão pensar que estou querendo o lugar deles. Deixa eles trabalharem um pouquinho também, né?
Brigadinha pela visita.
Bjim
Patrícia, perde tempo com esses ingleses não... Eles têm dinheiro demais, por isso gastam com essas bobagens. Há uns três anos ouvi na CBN que eles fizeram uma pesquisa para saber se as pessoas tomavam banho de frente para a torneira ou de costas. Importantíssimo isso para o futuro da humanidade, não?
hehehehehe. Essa é boa, hem Fabíola! Deve ter sido um estudo bastante trabalhoso. Esses caras são mais doidos do que eu pensava.
PS: Só por curiosidade, você lembra o resultado da pesquisa?
Heheheh, Desculpem-nos, mais uma vez, por existirmos, mas isso não é motivo para preocupação pois vamos ser extintos nos próximos séculos. Nós não somos mais necessários nem para a reprodução, mesmo. Mas ficam ainda algumas questões binárias sem resposta: por que, apesar de toda a emancipação feminina, os homens continuam se destacando mais? Só dá homem. E porque tanta celeuma com um estudo que vocês consideram insignificante? Se fosse um estudo falando do contrário, não causaria tanta controvérsia. Mas acho que talvez valesse a pena se aprofundar mais e tentar entender o que eles fizeram. Acham mesmo que dois renomados cientistas seriam assim tão rasos num estudo para ser publicado numa das principais revistas científicas do mundo? Acham mesmo que se publica qualquer coisa numa revista dessas? Tsc, tsc.... mulheres e seu temperamento intempestivo, quase sinônimo do gênero... tsc,tsc.
ÊÊÊÊÊÊÊHHHH, Celeno!!!! Que bom que você veio! Odeio quando me ignoram. Bem vindo ao mundo da divagação. Olha só, a pesquisa não tem mesmo a menor relevância para todos nós. Depois de Gardner (DG), podemos afirmar que somos todos inteligentes, sem nenhuma cerimônia. O que pode complicar um pouco é que, às vezes, uns vão ter mais trabalho que o outro para encontrar a sua verdadeira inteligência. Mas isso é só um detalhe.
Agora, Celeno, sinceramente, essa reverência acrítica aos senhores da academia, por favor, não estou te reconhecendo. Só porque são britânicos, porque estão numa universidade que nem me lembro mais qual é, porque estão publicando numa revista? Ôw, inglês também fala muita bobagem. Até a polícia de lá tem seus dias ruins, lembra do Jean Charles? E essa pesquisa que a Fabíola citou? Tudo bem, você, enquanto arquiteto (hehehe), pode ter até achado interessante, desconfio que também está curioso para saber o resultado, mas cá pra nós, é um desperdício de verba, de verbo e de tempo. É uma besteira, hem?
Um abraço de boas vindas!
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