Ou, o que será que o Banco Central pensa da vida, para manter os juros tão altos, durante tanto tempo e numa conjuntura claramente favorável à redução destas taxas? Dureza, hem? Esse não vai ser um assunto muito divertido. Mas, um dia, ouvi o Sardenberg entrevistando um economista e, depois outro, que falavam exatamente isso. Não sabiam o que o Banco Central estava pensando ao manter taxas tão elevadas. Aí aconteceu. Me deu vontade de pensar sobre o que é que o Banco Central poderia estar pensando.
Admito. Vou precisar da ajuda da tia Pati, a tia gordinha que mora dentro de mim, para desatar esse nó. Ela gosta de desembaraçar linhas emboladas, montar quebra-cabeças, arrumar caixas de lápis de 48 cores, organizar arquivos, ordenar os livros na estante, montar álbuns de foto da família e outras tarefas afins, que demandam grande concentração.Fiz um roteirinho básico para auxiliá-la, mas desconfio que ela não precisará disso.
A idéia é a seguinte: os economistas amam incentivos. Eles adotam esse tipo de mecanismo tanto para estimular quanto para inibir a ação dos agentes econômicos. Eu li isso num livro. Então, a primeira questão que apresento à tia Pati é essa: as altas taxas de juros são um incentivo a quê? Essa foi fácil. São um incentivo positivo às aplicações no mercado financeiro e um incentivo negativo aos investimentos no setor produtivo. São um estímulo à entrada de capital estrangeiro para aplicações financeiras e um desestímulo aos investimentos de longa maturação, como aqueles do setor produtivo. Não sei se ela está certa, mas que tia Pati foi rápida no gatilho, foi.
A segunda questão é a seguinte: quem se beneficia com esse tipo de incentivo? As empresas produtivas, principalmente aquelas que tem algum tipo de endividamento ou estão precisando fazer algum investimento, certamente que não. Mas aquelas que estão no ramo, como os bancos e outras empresas do setor financeiro ou mesmo fora dele, mas com sobra de caixa, estas, com certeza, estão gostando. Também quem tem dinheiro aplicado está satisfeito. Essa é uma boa resposta. Os bancos, por exemplo, sem dúvida estão respondendo a esse incentivo positivo, basta ver o resultado de todos eles no último trimestre. Mas, com certeza, essa resposta está ainda incompleta.
Se ela se lembrar de outros beneficiários, vou dar a ela o direito de se inscrever novamente. Por fim, a última questão que apresentei diz respeito aos interesses que estariam sendo privilegiados com essa política. Essa é muito difícil, nem tia Pati queria responder. Mas, como insisti, olha o que ela disse. É claro que são os interesses do capital financeiro. Simples assim. É. É simples, mas não diz nada. Volta para casa e vai pensar mais um pouco, tia Pati!
Agora, sobre o que o Banco Central pensa da vida, isso é comigo. Como ele não é”um bando de loucos que bebe gasolina” , pelo contrário, “é sábio e competente”, como li num dos artigos do mesmo Sardenberg, então o Banco Central deve pensar que a vida é só um livro de contabilidade, onde cada um registra sua história em três colunas: contas a pagar, contas a receber e saldo, se tiver. Que o capital financeiro está no comando, não tenho dúvida. E pode ser também que a vida hoje se resuma a isso mesmo. Mas que é uma baita falta de criatividade, tô prá vê! E um pôr do sol, num fim de tarde, na beira de uma praia, no topo da Serra da Babilônia ou meio da Contorno, chegando na trincheira da André Cavalcanti? Nada?
3 comentários:
Descobri o nome do livro onde li que os economistas adoram incentivos. Voltei à livraria e anotei. O livro é o Freakonomics - O lado oculto e inesperado de tudo o que nos afeta. Os autores são Steven D. Levitt e Stephen J. |Dubner e a editora é a Campus. Lá diz ainda que os economistas adoram bolar e pôr em prática, estuadr e brincar com os incentivos. Eles acreditam que o mundo ainda não inventou um problema cuja solução eles não possam inventar, desde que lhe seja dada carta branca para elaborar o esquema de incentivo apropriado.
Olha só. Ná última vez que voltei à livraria Dom Quixote, li mais algumas páginas do livro Freakconomics. E descobri uma coisa interessante. Essas páginas são fundamentais para entender porque as idéias de Tia Pati estão contrariando a realidade.
Nessa semana, a Fundação Getúlio Vargas divulgou uma pesquisa revelando que, apesar das altas taxas de juros, empresários brasileiros, ou pelo menos a maioria deles (+ de 50%, acho que 53%) tem intenção de investir, ainda neste ano, na ampliação ou implantação de projetos produtivos.
Mesmo desconsiderando a distância que existe entre intenção e gesto, o livro que li revela um outro detalhe. Além dos incentivos econômicos, que são bolados pelos economistas, outros tipos de incentivos influenciam os agentes econômicos e, conseqüentemente, o comportamento do mercado. Isso explica também porque, tantas vezes, as previsões e projeções econômicas não se realizam e soam até contraditórias em relação ao comportamento do mercado.
Além dos incentivos econômicos, as pessoas são influenciadas ainda por incentivos sociais e morais. Por exemplo: os empresários podem estar dizendo que vão manter seus investimentos, porque essa é uma forma de eles professarem a sua crença no bom desempenho da economia brasileira e, assim, mantê-la afastada dos efeitos perversos de uma contaminação pela crise política. Eles estão sendo movidos por um incentivo moral. Querem ficar bem na foto.
Ou então, para garantir a sobrevivência de seu mercado consumidor, que é, em última instância, quem faz a roda girar. Paralisar os investimentos, poderia enfraquecê-los perante seus concorrentes internos ou externos e provocar a dispersão de seus clientes. Debilitados, poderiam ainda gerar uma onda de demissões e um grave problema social, que viria se juntar à crise política, dando a ela, talvez, um novo rumo, considerando aqui o perfil sindicalista do atual presidente. Viajei, admito. Mas eis aqui, um incentivo social bastante prudente e que poderia estar influenciando a decisão do empresariado brasileiro. Economia não é mesmo um ciência exata!
patricia vc eh economista???
achei um pouco interessante, como se posiciona, sem ter estudado muito a respeito (parece).
Alan André (aabcost@gmail.com)
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