quarta-feira, agosto 17, 2005

De volta ao subsolo

Estava ouvindo rádio hoje e ouvi alguém dizer que precisávamos voltar aos fundadores da república para retomarmos o caminho de casa. Foi na CBN, acho que foi a Miriam Leitão. Ou foi o Heródoto? Ou foi o Sardenberg? Não estou me lembrando. Mas o que interessa é que esse é um bom conselho. Eco também diz isso, no seu último livro - A Misteriosa chama da Rainha Loana. Para ele (ou para Bodoni), se queremos dar um salto para frente, temos de dar alguns passos para trás. Então, é sobre isso que tenho pensado nesses últimos meses. Nooossa! Essa crise está mesmo fazendo história, já temos quase três meses de confusão!

Bom, aí fui procurar alguma coisa que pudesse me ajudar a encontrar o fio desta meada. Achei um texto muito legal, do professor da USP Sérgio Cardoso, que está no livro Retorno ao Republicanismo, da editora Humanitas. Ele vai fundo na discussão sobre a importância da república, fazendo ainda um paralelo entre os ideários democráticos e republicanos. E nessa trajetória, claro, ele volta ao subsolo, para beber em fontes de água pura. Os velhos e bons clássicos! Ele inclui uma citação de Rousseau que é deliciosa. Vou reproduzí-la, porque ela me fez pensar muito. Até hoje. Lá vai:

Aquele que ousa empreender a instituição de um povo deve sentir-se em condição de mudar, por assim dizer, a natureza humana; transformar cada indivíduo, que por si mesmo é um todo perfeito e solitário, em parte de um todo maior do qual este indivíduo recebe, de algum modo, sua vida e seu ser; alterar a constituição do homem para reforçá-la; substituir por uma existência parcial e moral a existência física e independente que todos recebemos da natureza. É preciso, em uma palavra, que ele subtraia ao homem suas forças próprias para lhe dar outras que lhe são estranhas e de que não possa fazer uso sem o auxílio de outrem.

Só para situar o contexto desta citação, ela surge quando Sérgio Cardoso está falando sobre a missão do legislador que, para ele, é a "de produzir cidadãos, conduzir os indivíduos independentes e egoístas à disciplina das leis; é enfim, a de realizar o contrato social pela constituição da república". Ôw, é sério! É muito bonito. Tanto o texto de Rousseau, quanto o de Sérgio Cardoso. Vale a pena ler e pensar. Ufa! Hoje exagerei na dose. Tô indo.

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