Acho que já disse o que penso sobre os ingleses. Eles são da pá virada mesmo. Olha só a confusão que Tony Blair está aprontando. Um dia, anuncia sua demissão do posto de primeiro-ministro, no outro pede que digam que não é bem assim. Mas isso é o de menos. Pior são os carros ingleses, que têm o volante no lugar do passageiro e, mais grave ainda, os motoristas, que dirigem na mão invertida. Isso pra mim já diz tudo. Mas eles são muito mais desorientados do que parecem e é por isso que gosto deles.
Agora, mais uma vez, eles vêm nos socorrer. Meninas, não era só impressão não, estamos andando, de fato, mais depressa. O ritmo de vida nas grandes cidades aumentou, em média, 10%, nos últimos dez anos. O trem da vida está descarrilado. Quero ir para Malauí. Nos povoados de lá os dias ainda correm mais devagar. Ou para Manama, as duas regiões onde estão situadas as cidades mais lentas entre as 32 pesquisadas por um grupo de ingleses desorientados. No estudo, eles mediram o tempo que 35 adultos levavam para percorrer a pé, em cada uma dessas cidades, a distância de 18,3 metros. Por que não 20 metros? Esses ingleses, hem?
De cronômetro na mão, concluíram que as três cidades mais rápidas do planeta são Cingapura (10,55s), Copenhague (10,82s) e Madri (10,89s). No Brasil, os danados escolheram, para fazer suas medições, a cidade de Curitiba. Quem me explica isso? Temos uma oferta inesgotável de cidades, mais de 5 mil, e os pesquisadores sempre escolhem Curitiba para fazer seus experimentos. Por que?
Uma vez até tentaram me responder, mas não me convenceram. Disseram-me que é porque Curitiba abriga a maior densidade de famílias da classe média, entre todas as cidades brasileiras. Isso significa que as diferenças entre os grupos sociais são menos significativas e produziria comportamentos mais uniformes. Uma pesquisa em Curitiba, portanto, expressaria um resultado mais próximo da realidade. Nunca fui conferir, mas desconfio se esta seria uma boa razão.
Bom, mas isso não vem ao caso. O fato é que os pesquisadores ingleses também escolheram Curitiba e lá os brasileiros gastaram 11,3 segundos para percorrer os 18,3 metros. Tá certo que em Pedra Azul levaríamos mais tempo, mas em São Paulo, por exemplo, acredito que o nosso desempenho não ficaria muito diferente daquele das primeiras no ranking. Deus me livre! Quero ir para Malauí! Lá, os malauienses levaram 31,60 segundos para atravessar essa longa distância!
Mas se não podemos, meninas, deveríamos pelo menos adotar algumas terapias para reduzir esse ritmo. Poderíamos criar o PID - Programa Intensivo de Desaceleração. A primeira medida a ser adotada seria a Terapia do Não. Já estamos testando-a, mas o resultado ainda não pode ser avaliado. A metodologia que adotamos é bastante simples. Ao longo do dia, uma de nós pergunta para outra alguma coisa qualquer. Por exemplo: você quer dançar um tango em San Telmo? Não, claro que não, agora estou ocupada. Passado um tempo, alguém faz outra pergunta: vamos tomar um sorvete de cupuaçu com maracujá? Cruzes! Não! Mais um tempinho, e outra: que tal cem abdominais antes de uma caminhada forçada na Lagoa Seca? Nunca, não! E assim vai. O dia passa e teremos tido oportunidade de falar várias vezes não! Foi a Dani que inventou essa e ela diz que os primeiros resultados têm sido favoráveis, embora ainda não conclusivos.
Parece bobagem, mas, de fato, com o tempo vamos nos acostumando a dizer não e ele passa a sair naturalmente. Mas o grande lance dessa terapia é que ela funciona muito bem também quando estamos no automático. Por exemplo: se estivermos distraídas e alguém vier nos perguntar, assim como quem não quer nada, se poderíamos fazer alguma coisa, mais uma entre tantas outras da nossa agenda superlotada, o Não! sai sem nem percebermos. Mas esse exercício exige persistência. Não é com três ou quatro nãozinhos de nada que vamos recobrar o hábito saudável de dizer não. É preciso muita força de vontade, mesmo porque, ainda não aprendemos a elaborar perguntas que tenham obrigatoriamente respostas negativas. Para algumas, ainda ficamos tentadas a dizer sim. Então, está claro que essa é uma boa terapia, que poderá nos ajudar a andar mais devagar na vida, mas ainda precisa ser muito aprimorada.
Vamos pensando nisso, mas sem pressa, por favor.
Para todos, uma sexta-feira sem compromissos, assim ninguém precisará dizer não, que, cá pra nós, é uma coisa muito desagradável, apesar de saudável.
PS: Se quiserem aproveitar para vadiar por aí, caminhando no meio de uma paisagem deslumbrante, fantástica, enebriante, criada por Don Hong-Oai, um chinês muito, muito sensível e viajandão, entrem aqui
3 comentários:
Olha, não posso participar do PID, pelo menos, não referente ao "Não", pois já uso muito ele, acho que tenho que começar a aperfeiçoar as respostas mais elaboradas. :P
Patrícia, gostei do teu blog, já assinei o RSS, ou seja, ficará mais fácil voltar para ler mais. Ah, e se quiser, estou escrevendo uma estória e advinha onde ela se passa? Isso mesmo, em Londres!! eheheh
Beijos
PS: Pra ver a estória, só ir lá no blog, está no capítulo 10, mas ainda tá curtinho os posts. ;)
Oi Fábio. Já comecei a ler a história. Li o Prólogo e os dois primeiros capítulos. A rede está muito lenta, mas volto depois para completar a leitura.
Obrigada pela visita. Volte sempre!
oi patrícia, é verdade, as pessoas estão muito apressadas mesmo e sempre dizem sim a esse mundo louco...
tb quero féria disso daqui....
quero poder andar devagar, a observar as paisagens, sem contudo, ninguém me trombando...
enfim...
beijossssssssssssss
Postar um comentário