domingo, maio 06, 2007

Deus é pai

Um das tantas igrejas que hoje acolhem os fiéis nas periferias das grandes cidades - Foto: minha

Ufa! Pelo menos isso. Ainda acreditamos em deus. Se não fosse o Datafolha, ficaria desconfiada de que nem nele acreditávamos mais. Se bem que basta olharmos a cidade mais devagar para chegarmos a essa mesma conclusão. Basta conversarmos com algumas poucas pessoas, mais próximas ou não, para constatarmos a mesma coisa. Continuamos apostando em nossos santos e santas, apelando para o boss quando a situação fica muito preta e rezando pelos nossos meninos, todas as madrugadas, enquanto esperamos que eles retornem para casa.

Sinceramente, sem nenhuma ironia, não era preciso uma pesquisa inteira para constatar o que está evidente. Nem gastar uma página standart de jornal para fazer uma análise de elevador sobre a nossa fé: subiu tanto, desceu tanto, agora subiu de novo, desceu. Pra que serve isso? E de que nos adianta saber que 86% da população acredita que Maria deu à luz a Jesus! Qual o significado dessa revelação? Me digam, meninas! E o que nos diz essa informação bombástica de que 93% acreditam que Jesus ressuscitou após morrer na cruz?

Será que a pesquisa foi encomendada pela produção do filme Código Da Vinci? Se não é para traçar o perfil do mercado, pois não é esse o caso aqui, deus não está a venda, em que me ajuda saber que as mulheres são mais crentes do que os homens e que a idade média dos católicos é de 40 anos? E seria muito diferente disso, do perfil mesmo da nossa sociedade? Seria diferente, considerando ainda que os menores de 16 anos foram excluídos? E por que foram excluídos? Vou brigar agora pela maioridade espiritual! Mas meninas, me digam, como essas informações vão ajudar Bento XVI a compreender a nossa religiosidade?

Aí é que está. Vou confessar. Com a minha burrice dinâmica, eu também acredito em pesquisa. Também acho que ela nos ajuda a mapear, no conjunto de uma sociedade, os nossos objetos de estudo. Mas para avançarmos na compreensão desses fenômenos, desconfio que precisamos ir mais além. Não só nos porquês e nas conclusões, mas com o próprio instrumento que escolhemos para sondar o universo a ser pesquisado. Não seremos salvos por um dilúvio qualquer de estatísticas. Carecemos menos de percentuais e mais de conteúdos. Necessitamos urgentemente das perguntas certas para chegarmos naquelas respostas que irão nos informar para além do óbvio.

E, fico pensando, precisamos aprender a ser tão complexos como é complexa hoje a nossa sociedade. Importa menos saber o que um sujeito pensa, mas como ele pensa determinados assuntos, para compreendermos, de forma mais radical, as razões que o levam a agir assim e não assado. Dependemos mais disso do que dos percentuais, para construirmos uma rede bem costurada de informações que nos diga alguma coisa que valha a pena.

Fico, humildemente pensando, que o questionário aplicado pelo Datafolha era bastante adequado para mapearmos os perfis de um mercado consumidor, mas não para compreendermos o papel da religiosidade na nossa sociedade. Recolhida na minha insignificância, fico matutando que essas informações são muito boas para formatar infográficos coloridos e ilustrados, mas não para nos desvendar uma realidade desconhecida.

Olhem só, meninas: até um tempo atrás, nos apegávamos a deus para escaparmos da morte absoluta. O nada, eternamente. Mas num mundo descartável, quem ainda pensa numa vida para sempre? Submetidos à hegemonia da ciência, quem ainda confia numa reza, mesmo que vinda do fundo da alma, se esta não vier acompanhada de aspirina, azitromicina e outros inas em doses certas e cavalares? Concordo que ainda temos os olhos voltados para o céu, mas não estamos agora procurando deus, estamos atrás de novos planetas habitáveis, que é para onde vamos escapar se, um dia, a terra nos faltar.

Nesse mundo tão diferente do que já foi, porque ainda cultivamos a nossa religiosidade? Qual a sua influência nas escolhas que fazemos? Qual o seu peso nas decisões que tomamos? O que esperamos de nossa fé, quando enfrentamos dificuldades? Quais as respostas que buscamos nela, quando estamos afogados num poço de dúvidas? Por que ainda precisamos da fé? E em que medida essa fé nos torna melhores ou piores? Em que medida ela nos torna capaz ou não de mudar o mundo? De, através dela, construírmos um mundo mais fraterno? Essas eram algumas das perguntas que gostaria de ver respondidas nessa pesquisa da Datafolha. Mas, parece, vai ficar para uma outra vez.

Um finzinho de domingo iluminado para todos, porque isso é sempre bom, mesmo sem sabermos para quê.

Buenas

Um comentário:

Anônimo disse...

Eu não entendo o propósito pra sociedade saber ou não sobre a religiosidade de uma certa faixa-etária, talvez eles tenham medo de morrer e, pronto, não existir mais nada além de pó.

Por isso que digo: "A fé move montanhas, mas eu prefiro Dinamite".

Beijos