domingo, maio 20, 2007

É assim que é

Eles passarão, nós passarinhos
Foto: minha outra vez



É a pura verdade. Não duvido de nada dessa pesquisa. Quase metade dos brasileiros tem dois empregos ou faz dupla ou tripla jornada. Segundo a matéria que li no G1, são mais de 4 milhões de brasileiros que estão nessa labuta. Eu diria brasileiras, mas tudo bem, acredito que alguns homens também vivam essa maratona, só que as mulheres, independentemente do número de empregos ou de horas extras que façam, já saem de casa, de manhãzinha, sabendo que, naquele dia e de resto em todos os outros, terão de cumprir tripla jornada. Não sei se é a nossa sina ou se é só um dado que será transformado pelas mudanças culturais que acabarão por vir. Mas é assim que é.

Enquanto não vêm, em 96% dos lares brasileiros onde reside uma mulher, é ela a principal responsável pela execução ou orientação dos afazeres domésticos, não importando se ela tem algum trabalho fora de casa ou não. Pelo menos é isso o que demonstra o Relatório de Direitos Humanos no Brasil de 2005 . E nós sabemos que é assim que é, não sabemos meninas? Entre as 43% de brasileiras que sustentam seus lares sem a ajuda do marido, 54% são responsáveis diretas pelo trabalho doméstico não remunerado. Quando não são elas, quem assume esse trabalho é a sua mãe, ou seja, outra mulher. Se considerarmos também aquelas que não são responsáveis diretas, mas auxiliam de alguma forma, esse percentual sobe para 89%. Entre as que coabitam com marido ou parceiro, 91% são as principais responsáveis e 6% são auxiliares, quer dizer, 97% delas tocam o barco de um jeito ou de outro.

Essa é a sina. Agora vamos à cultura. Vou só copiar. Não vou me dar a mais esse trabalho, de bolar um jeito descontraído de descrever esse quadro dramático. Prestem atenção: em apenas 2% dos domicílios em que há mulheres o trabalho doméstico é chefiado por algum homem (1% o parceiro, 1% outro residente) e em apenas 19% os homens auxiliam nessas tarefas (sendo 10% os parceiros). Nas unidades familiares em que casais coabitam, só 2% dos parceiros são os principais responsáveis pelo trabalho doméstico e 18% auxiliam. Vocês sabem como, não é? Vão comprar pão na padaria, quando precisam também comprar cigarro; aparecem, depois que o risoto está prontinho, só para jogar uma pitadinha de pimenta de biquinho e assim poder dizer que foram eles que deram o toque especial do prato; abrem a garrafa de vinho; e, às vezes, até ajudam a tirar a mesa, para a sobremesa chegar mais rápido. Ai, ai, hem?

Em suma, entre os casais brasileiros, se quase a totalidade dos homens são provedores (93%) e praticamente a totalidade das mulheres executam ou chefiam as tarefas domésticas (97%), quase a metade das mulheres também é provedora (45%), contra apenas 1/5 dos homens que participa do trabalho doméstico (20%). Esse grau de desigualdade na divisão sexual do trabalho social torna evidente como o peso da dupla jornada, com o acúmulo dos trabalhos remunerado e não remunerado tem recaído sobre as mulheres que, por vontade ou necessidade, avançaram em direção a sua autodeterminação.

Mas não é assim em todos os lugares, por isso tenho esperança de que as mudanças culturais virão um dia para transformar essa realidade. Não sei se vocês já leram isso em algum lugar, mas vou repetir, porque assim vocês também poderão entender melhor a razão da minha simpatia pelos ingleses. Eles são uns loucos, tudo bem, mas são admiráveis. Olhem só, eles superaram o preconceito, venceram a preguiça, desceram do pedestal e esqueceram-se de suas mães para assumirem um papel mais relevante ao lado de suas companheiras. Segundo o Departamento Nacional de Estatísticas da Grã Bretanha, desde 1983, 200 mil britânicos já abandonaram seus empregos para cuidar dos filhos e da casa. Do primeiro trimestre de 2006 para o primeiro trimestre deste ano, 3 mil britânicos fizeram essa opção ao invés de buscar o crescimento em suas carreiras. A intensidade desse fenômeno, cada vez mais forte, já caracteriza, portanto, uma tendência.

Se não mudamos muito o nosso jeito de ser, se continuamos achando chique imitar os europeus, não demora muito esse comportamento vai chegar aqui. Vou esperar ansiosa. Se bem que, não sou favorável a mudanças radicais. Basta os brasileiros fazerem a opção por dividirem as tarefas domésticas não remuneradas com as brasileiras, que já vai ficar de bom tamanho. Pra mim, já é sufuciente.

Uma semaninha cheia de novidades e de mudanças culturais importantes e significativas!

Até de repente, que a pia está cheia de pratos me esperando.

2 comentários:

Anônimo disse...

Hoje divido meu trabalho com tarefas diárias da casa. Morando sozinho e com bolsa, não tenho outra alternativa. Mas tenho curtido este momento.

Quanto ao assunto que você trata, eu sou mais democrático, acredito que sendo um casal, há de se dividir as tarefas de acordo com as habilidades de cada um. Mas isto requer educação e parceria na relação.

Beijos!!!

Anônimo disse...

Também defendo a divisão do trabalho. Aliás fiz essa observação no texto e fiz uma ressalva no início do texto de que alguns homens também acumulam funções. Mas olha só, assumir a administração da casa quando se mora sozinho não vale né? (rsrsrsrs)Que outra alternativa teria?

Brigadinha pela visita e comentário. É uma oportunidade para me retratar. Me criticaram que peguei pesado com os rapazes. Reconheço. Hoje vcs estão muito mais comprometidos, por exemplo, com a educação dos filhos e isso é muito importante. E não são apenas os rapazes das classes mais ricas não. Conheço algumas famílias de renda bem restrita mesmo em que os homens estão, em alguns casos, assumindo até sozinhos a educação dos filhos. Valorizando a participação dos filhos na escola, etc,etc,etc. Isso é muito verdadeiro sim.
[] Patricia