O papa Bento XVI não é pop. Desconfio que seja cult. Ele não oferece uma compreensão fácil e imediata, como a de um best seller ou de um enlatado desses que passam aos quilos na tevê. Nem se alimenta do senso comum e das coisas mundanas.Ou será que sim? Mas, talvez, não seja esse o problema. Talvez Bento XVI não tenha vindo falar para todos. Pelo menos não para nós, de inteligência simples, de fé cambaleante e devotos cegos de Santa Ignorância.
Por isso, reconheço, para nós, provisoriamente imortais, é mais conveniente acompanhá-lo com uma pauta pronta nas mãos. Depois, com uma cópia do seu pronunciamento na mesa, basta jogar um google, buscar as palavras mágicas e a matéria estará pronta. Mas o que foi mesmo que Bento disse? Não importa. Pauta cumprida. E vamos em frente. Eu estranho, mas entendo.
Não acompanhei toda a agenda de Bento XVI, mas ouvi, e “convidei” os meninos a escutarem também o seu pronunciamento para os jovens. Não obriguei ninguém a ficar na sala, mas argumentei que iriam perder uma boa oportunidade de serem testemunhas da história. Acho que eles acharam isso bacana e ficaram. Fiz isso porque confiei que Bento, certamente, falaria alguma coisa que valeria a pena.
E, tirando a programação cultural da solenidade, a fala foi, de fato, muito proveitosa. Não
me refiro à pauta dos jornais, cumprida disciplinadamente, mas ao pronunciamento original. Claro, depois precisei buscar uma cópia no google para ter certeza de que não me enganará. Tive de ler mais de uma vez, para ter certeza de que o que eu pensava ter entendido era o que estava escrito.
Ainda assim, admito, posso estar enganada. Mas até onde consegui me abstrair da pauta, Bento XVI falou aos jovens sobre o sentido da vida. O que devo fazer para que minha vida tenha sentido? O que devo fazer para que minha vida não transcorra inutilmente? Os jovens não pensam nisso toda hora, mas, se me lembro bem, essas questões eram o pano de fundo de todas as nossas inquietações. Acho que isso não mudou muito hoje. Por isso é bom que alguém os lembre dessas perguntinhas básicas de vez em quando.
Além disso, hoje estamos repletos de conhecimento sobre as nossas exterioridades, mas distantes do nosso labirinto interior e essas questões nos obrigam a um mergulho mais profundo nas águas agitadas da nossa alma. Mesmo que nos deixe sem chão e sem ar por alguns momentos, um mergulho sempre vale a pena. Acho que os jovens precisavam fazer isso. Só que santo de casa não faz milagre. O convite vindo de fora, quem sabe eles fiquem tentados.
Quando ando na rua, também vejo nos olhos dos meninos um enorme déficit de esperança: medo de morrer, medo de sobrar, medo de ficar desconectado, medo de não encontrar um sentido para a vida. E Bento XVI também já viu isso. E sugeriu aos meninos uma ordem para o caos. Se é a que eles escolherão, dependerá de cada um. Mas Bento XVI fez o que tinha de fazer. Alguém, um dias desses, acho que foi o Cony, disse que a Igreja deve ser uma referência para a sociedade e não o contrário. O que Bento ofereceu aos meninos foi isso, uma possibilidade de referência.
Minha avó também tinha um jeito de organizar o caos do mundo. Ela desenhava numa folha de papel uma tabela com quatro colunas. Na primeira, escrevia o nome de suas amigas; na segunda o telefone; na terceira, a última data que falara com elas ou que as visitara, isso, para planejar novas ligações e visitas; e, na última coluna, registrava as baixas, desenhando uma cruzinha. Quando perdia uma amiga, renovava a lista incluindo o nome das filhas da falecida, que passavam a ser suas novas amigas e assim por diante. A mídia já tem outro jeito de organizar o caos. Divide o mundo da vida em editorias e define critérios aleatórios para dizer o que é ou não importante. Enfim, cada um tem seu jeito para dar um sentido a vida.
Mas concordo, não podemos é desperdiçar a vida. E tomara que esses meninos não desperdicem, como tenho certeza de que não irão.
Uma semana plena de sentidos para todos.
3 comentários:
Uma das coisas que mais gostei com a vinda do Papa foi que os dias em que aqui esteve, não houve tulmultos, não houve um massacre de notícias ruins na TV principalmente, ou seja, foi uma época calma, tranquila e, querendo ou não, de maior harmonia.
Mas o que me dá um certo desconforto, é ver que a população só se mobiliza pra promover algo de bom para a sociedade quando se tem um elemento externo, no caso, a vinda do Papa.
Poxa, seria muito mais interessante se o povo se mobilizasse para promover mais dias como estes, sem a necessidade do elemento externo.
Bom, quem sabe...
Beijos
Olá Patricia, cheguei pelo Márcio, que nos citou em seu post, gostei bastante do seu blog.
Eu tb achei boa a visita do papa, nem tanto pelo ponto de vista dos dogmas da igreja católica, mas porque as suas pregações são boas, família, fé, respeito, integridade pessoal. São valores pouco em pauta hoje em dia, que fazem muita falta.
Um beijo
Patrícia, que belíssimo post. Você conseguiu extrair o que muitos jornalistas tiveram dificuldades. E como muitos pais não se preocupam em perceber e passar os valores para os seus filhos, só posso te dar os parabéns. Excelente! Uma oportunidade dessas e os jornais tão vazios.
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