Não é fácil entender esse mundo onde vivemos. Nem é simples explicá-lo. Mas, ainda assim, tentamos. Precisamos dar sentido a essas coisas todas que acontecem a nossa volta, pois é assim que encontramos também um sentido para as coisas que fazemos por aqui. De outra forma, a vida se tornaria indiferente, como já vem acontecendo. Nela tudo se explicaria e tudo se desculparia não haveria limites para a ação humana. Até nos rendermos ao cansaço da nossa inexistência. Ou até descobrirmos um jeito de fugirmos para OGLE-2005-BLG-390Lb , o novo planeta descoberto fora do sistema solar e o mais semelhante à terra já encontrado.
Mas Ogle ainda é inacessível, está a 22 mil anos-luz distante de nós e, sinceramente, não sei se faria diferença. Prefiro manter os meus pés no chão e tentar, mesmo que desse jeito desajeitado, entender o que está acontecendo a minha volta. Vou juntando informações, mentiras e verdades, como se fossem peças de um quebra-cabeça, e vou formando possibilidades para entender o mundo onde vivo. Às vezes as imagens são um pouco atrapalhadas demais, preciso desmontar tudo e recomeçar. Outra vezes, me satisfazem, ainda que desagradem a outros. Mas assim vou levando.
Outro dia li o artigo de Edgar Morin, que me fez ver um mundo que me agrada. Um mundo que é possível, se assim quisermos. Hoje li outro artigo. Esse agora não me faz feliz, mas me acalma sabe-lo, pois me dá a certeza de que tem mais alguém, na verdade muitos mais, também pensando nesse mundo e tentando entende-lo. Me dá a certeza de que não somos só um bando de desatinados, imaginando teorias conspiratórias de toda ordem, para tentar compreender os descaminhos que temos percorrido nesses últimos anos.
O artigo é da pensadora norte-americana Naomi Wolf, principal nome do feminismo contemporâneo e referência em filosofia política progressista nos Estados Unidos. Também é consultora informal de Hilary Clinton. Ela publicou um artigo no jornal The Guardian e também concedeu uma entrevista ao jornalista Daniel Buarque, do site G1, falando sobre o tema do seu próximo livro, que deverá ser lançado no segundo semestre: O fim da América – Uma carta alerta a um jovem patriota.
Meninas, não percam esse aperitivo. Tanto no artigo, quanto na entrevista, ela resume o seu diagnóstico sobre a democracia americana. E, olhem, a situação não é nada boa. A democracia americana está com sintomas graves de debilidade e corre sério risco de sucumbir a qualquer momento. Meu caçula diria que não há nada de excepcional nisso. Esse é o destino e a trajetória de todos os grandes impérios. Eles fazem uma longa caminhada até atingir o auge da sua influência; depois, do alto da sua prepotência, tentam assumir o controle do mundo e, para isso, se assim for necessário, abrem mão de todas as suas convicções e princípios. Finalmente, derrotados pela natureza plural da humanidade, degringolam ladeira abaixo, num movimento de conseqüências nem sempre previsíveis. Ele aprendeu isso nos seus livros de história do ensino fundamental, mas sempre me surpreende pela sua facilidade de conectar a literatura com a vida real.
Pra mim isso é bem mais difícil. Sempre acho que uma coisa não tem nada a ver com outra. Literatura é literatura e vida é vida. Custo a conectar. Mas para Naomi e para o meu caçula isso é natural. Naomi observa que os Estados Unidos estão seguindo a mesma trilha de todos os outros regimes que abandonaram a democracia e se tornaram ditaduras, de direita ou de esquerda. Para identificar o traçado dessa trilha, Naomi usou um texto de Umberto Eco, publicado no New York Review of Books, em junho de 1995, no qual o filósofo italiano lista as 14 características fundamentais de todos os regimes fascistas da história.
Ela analisou e identificou na democracia americana dez dessas características: a referência a uma ameaça permanente (no caso, o terrorismo); criação de um gulag (a prisão de Guantánamo); formação de uma casta violenta (republicanos radicais); montagem de um sistema de vigilância interno (espionagem de cidadãos); opressão de grupos cidadãos (grupos contra a guerra são ameaçados); perseguição e permissão de prisões arbitrárias; ameaça a cidadãos; controle da imprensa; tratamento de dissidência como traição; suspensão do Estado de Direito.
Não vou ficar repetindo aqui o que já está dito. Os links estão no texto, naveguem à vontade. Depois durmam tranqüilos se for possível. bush, aquele de sempre, dorme. Nem percebe que estamos percebendo tudo que ele está fazendo. Depois de ler os textos de Naomi, leiam o livro de Al Gore ou vejam o documentário. Estou lendo o livro e tenho uma pena danada dos americanos. Eles devem estar se lamentando desesperadamente por terem deixado as eleições de 2000 terminarem como terminou.
Boa mais vadia para todos vocês no Dia do Trabalho!
2 comentários:
Você conhece bem minhas limitações, portanto, não vejo porque não perguntar: qual a verdade inconveniente?
Rsrsrs.Acho que não fui muito feliz na escolha desse título. Pensei numa verdade inconveniente para os americanos mesmo, mas o título pode ser lido de várias outras maneiras. Como por exemplo, tenho certeza, a que você leu. Enfim, já está dado, não vou mais mudar. Vivendo e aprendendo.
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