domingo, abril 08, 2007

Feira livre

Foto: Minha. Na feira do São Pedro

Hoje acordei cedo e fui passar os olhos na Folha de São Paulo. Domingo sempre tem alguma coisa interessante para ler. Mas desisti na primeira página. Fiz melhor. Fui preparar uma bacalhoada e mudar de assunto. O mundo anda muito esquisito e domingo é mais recomendável buscarmos sossego, porque logo depois vem uma segunda-feira.

Olha se não tenho razão. Sempre leio o jornal de baixo pra cima, para não deixar me influenciar pela manchete e perder as outras notícias relevantes. Depois da primeira página, também pulo para a última e leio o jornal de trás pra frente. Acho que é por isso que o mundo, às vezes, me parece sempre meio esquisito e confuso. Mas hoje não consegui passar da primeira página.

Vi lá, num cantinho, uma foto à meia luz, quase na penumbra, e a chamadinha em letras brancas e puras: Edemar culpa BC pela quebra do Banco Santos. Puxa vida, como é que esse cara ainda encontra espaço na mídia, para falar o que pensa? Tanta gente boa por aí com coisas interessantes para contar, vão me desenterrar Edemar! E o Zé Mané que bateu a carteira de um fulaninho na Paulista? Onde é que ele vai contar sua versão?

E tô ferrada! Já tinha me dado por satisfeita de envelhecer do jeito que deus quer. A Dove me ajudou a tomar essa decisão. Embora seus produtos também me dêem alergia, a Dove me garantia que é possível ser bonita do jeito mesmo que somos. Agora vem a Folha me contar que uma psicóloga de Harvard - ai os avanços da ciência! - descobriu que a beleza não só existe, como é injusta mesmo. Duvidei. Fui lá conferir e quebrei a cara. É isso mesmo. Beleza é para poucos e não adianta querermos democratizar o conceito. Pra ficar mais ou menos na foto, tem de usar sim todos os cremes que anunciam, beber muita água, comer alface, dormir cedo e tudo mais que já nos disseram um dia. Ave! Mas continuarei na minha jornada solitária, porque não tenho outro jeito. Um dia conto essa história.

E outra: a manchetinha do Cotidiano. Quase deprimi o resto do domingo. Mães no climatério e filhos na puberdade deixam maridos entre dois fogos. Pode isso, meninas? Agora a culpa é nossa, outra vez. Mãe não tem perdão. Nem na menopausa eles têm complacência com nós outras. E o maridão lá, vítima das circunstâncias. Ô coitado, hem? Mas na hora que o bicho pega pra valer, me respondam meninas, quem é que aparece para apaziguar os ânimos e encontrar um meio termo que atenda a todos? Quem é? Não somos nós? Como são eles que ficam entre dois fogos?! Merecemos, não merecemos?

Não quis nem entrar em detalhes, mas fiquei intrigada, querendo mesmo entender o que é que a Folha está pretendendo com isso? Cresce o apoio à pena de morte, diz Datafolha. Sinceramente, isso me intriga. Lá em 88, já existia uma maioria que se dizia favorável à pena de morte, mas nem por isso perderam o bom senso. Rejeitaram qualquer mudança na Constituição brasileira que tornasse essa prática legal. Agora não deve ser muito diferente. Continua sendo feio aplicar a pena de morte, embora, no caos em que estamos metidos e na falta de políticas públicas mais criativas, seja razoável alguém defender a pena de morte, ainda que em tese. Mesmo porque, seria inócuo ter a possibilidade de aplicá-la. Com a agilidade da nossa Justiça é mais certo o condenado morrer de velhice, do que numa cadeira elétrica ou o que for. E tem mais, questionário de pesquisa o povo responde o que esperam que ele responda, porque ninguém quer pagar mico com a menina da entrevista, né? Minha professora que me disse isso e eu concordo. Então, resultado de pesquisa tem de ser lido com mais cuidado e não virar manchete de domingo, mesmo que secundária. Por isso me intriga.

E o relatório da Federação Internacional das Associações dos Controladores de Tráfego Aéreo? Sem comentários. Muito isento, esse relatório. Tudo bem, o Cindacta-1 já é quase um quarentão mesmo, mas está em plena forma, não é não? Diria até mais: está na flor da juventude! Os Estados Unidos possuem uma rede de radar que é ainda mais antiga que a brasileira. Boa parte do país está coberta com unidades construídas entre 1960 e 1970. E, até hoje, isso não mudou muito, apesar dos problemas que o país enfrentou durante o 11 de setembro. Depois disso, o que as Forças Armadas norte-americanas fizeram foi visitar o Brasil para conhecer o nosso sistema integrado e, com base no que viram, prepararam um relatório pedindo, explicitamente, a adoção de um sistema integrado, usando como modelo a solução brasileira. Mas não mencionou a necessidade da troca de radares. Pelo menos foi isso que o Correio Braziliense noticiou no dia 16 de julho de 2002. Então? O que a Ifacta está querendo agora? Vender consultoria? E desde quando psicólogos entendem de controle aéreo? Se muito, dão conta de descontrole emocional.

E, por fim, uma notícia velha. Transformaram o relatório do Painel Intergovernamental sobre Mudança Climática num novelão. Essa é de sábado, mas ficou na minha cabeça, como uma enxurrada depois da chuva. Então, estão divulgando o relatório em capítulos, cada um mais dramático que o outro. Isso me preocupa muito. Essa estratégia não tem dado muito certo com as novelas da Globo. O ibope delas só vem caindo. Do relatório, não sei, mas já estou sentindo um certo desinteresse. As notícias já estão caindo no tititi mundano. Fulano disse isso, sicrano falou aquilo, alguém exagerou, beltrano abrandou as conclusões do relatório para atender interesses políticos e assim vai. Daqui há pouco, na cobertura do próximo capítulo, vão chamar o repórter da Contigo ou de Caras para fazer a matéria.

E chega de feira livre por hoje. Tenho dois escorredores cheios de louças e cristais para guardar. Divagar agora, só se for na cozinha!

Feliz páscoa para todos!

Tomara que o coelhinho tenha sido generoso com vocês, por aqui deixou saborosas línguas de gato e chumbinhos meio amargo! Adoro!

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