quarta-feira, abril 25, 2007

Terra pátria

Acharam criptonita na região de Jadar, na Sérvia. Adivinhem quem foi o autor desse grande feito? Não sei o nome de todos da equipe, mas o boss é Chris Stanley, um inglês, claro. E poderia ser diferente? Difícil. Eles são uns loucos. Mas, isso não vem ao caso agora. O fato é que acharam criptonita. Só que eles estão com um problema: ao que parece, esse lote é pirata. Está meio bichado.

Pelos exames laboratoriais, os pesquisadores do Museu de História Natural de Londres observaram que a fórmula do material encontrado inclui quase todos os elementos da criptonita original. Quase, mas não todos. Como as rochas de Krypton, o planeta natal do Super-Homem, a mostra encontrada pelos ingleses tem rastros de sódio, lítio, boro, silicato e hidróxido. Mas falta o flúor, que é o que faz a criptonita brilhar. Logo mais, os pesquisadores deverão explicar o porquê dessa deformação. E, acho, vamos entender.

Vencida, então, essa primeira etapa, podemos passar para o segundo grande desafio: encontrar o super-homem. Meninas, acho que essa será uma tarefa insana. Até temos alguns super-homens, mas hoje, exatamente hoje, estamos em falta. Os nossos líderes e ídolos atuais são pessoas tão normais, tão cheias de pecados, de limitações, vícios, defeitos, que acho difícil esconderem na alma um exemplar de super-homem.

Na falta dele, o que nos resta? Sugiro nos virar com o que temos. E olhem, descobri que temos, no meio desse mar de homos normales, uma espécie muito especial, de homos-cuorationes, que é muito melhor do que super homem. Um representante deles, por sinal, escreveu um artigo ontem, publicado no Le Monde, que me deixou em estado de encantamento puro. Ele tem um plano. Não nos oferece a salvação, como advertiu, pois precisaremos percorrer um caminho longo e difícil, mas se toparmos a empreitada, teremos boas chances de encontrarmos uma saída.

Esse homo-cuoratione é Edgar Morin. Não preciso falar mais nada, não é? Acho que nem devo. Voltemos ao que ele disse, que é o que interessa. Então, Morin afirma, de cara, que o sistema planetário está condenado à morte ou à transformação. Ele faz a segunda opção e propõe um plano para a França, que se estende a todos nós, de uma mudança de padrão civilizatório, para alcançarmos a Terra Pátria e uma Sociedade Mundo.

Vou imitar o Clóvis Rossi, que comentou o artigo hoje, na Folha de São Paulo, e preferiu não resumi-lo, mas indicar o link. Só não resisto a dar dois pitacos. Um: Morin defende, já nas primeiras linhas, uma ampla reforma da ONU, para garantir a ela, plenamente, um papel de liderança mundial. Isso é tão óbvio, tão claro, que fico pasma de ainda precisarmos ter de dizer isso. Fico pasma, mas até entendo. Com um bush na cola e um bando de empresas desterritorializadas, com poderes de Estado, como fortalecer um organismo supranacional, democrático, multi e pluri cultural? É difícil, mas acho uma pobreza ainda não termos sido capaz de transformá-la nesse organismo desejado por Morin.

Dois: Morin resgata da história um dos bons refrões que já fomos capaz de inventar. Já inspirou até muito samba enredo nos carnavais brasileiros: liberdade-igualdade-fraternidade. Lembram? Pois é, mas desta trilogia republicana, Morin destaca apenas um de seus elementos, o menos valorizado deles: a fraternidade, e propõe construir um sistema até relativamente simples, de caráter solidário, para a redenção da nossa humanidade.

Torcerei por ele, todos os dias. Mesmo que alguns amigos me digam que esse é apenas um texto literário e que outros me garantam que é um poço de ingenuidade. Prefiro concordar com a Rutinha. Nós nos constituimos é através da palavra e, se queremos mesmo um mundo melhor, primeiro é preciso que alguém diga isso. Então, pronto, está dito. E, todos os dias, continuarei torcendo pelo plano de Morin.

Um dia de inspirações fraternais para todos.

Um comentário:

(...) Ariel disse...

Um desejo é apenas um desejo se não for manisfetado, precisa ser dito, precisa sempre ser compartilhado!

E se todas essas palavras forem um poço de ingenuidade, prefiro ainda me "afundar" nelas a deixar passar o que precisa ser dito, ou melhor, escrito :)

Bjos Patricia