terça-feira, abril 03, 2007

No susto

Já disse que não estou dando conta desses dias mínimos, que não acolhem nada além da agenda. Já disse, não disse? Agora, para complicar ainda mais o meio de campo, inventei de me especializar novamente. É estranha essa opção, num mundo cada vez mais genérico. Até eu fiquei pasma, mas cansei de ficar pensando no que seria melhor e no susto topei. É assim. No susto a gente faz coisas que não faria se tivesse mais alguns segundos para pensar.

No susto, por exemplo, o Lula mandou seu pessoal evitar a intervenção militar no movimento dos operadores de vôo do último final de semana. Depois, conseguiu alguns minutos para pensar e a ficha caiu. Voltou atrás. Mas demorou e virou o centro da crise. Enquanto isso, continuamos sem saber o que se passa nos bastidores. Só nos mostram o palco da crise. Aeroportos lotados, vôos atrasados, gente reclamando, brigando, chorando, como se tivessem sido apanhadas no susto. Se tivessem parado para pensar um pouco, teriam ficado em casa, feito reunião pelo viva voz, pela internet, videoconferência ou o que for, até mesmo adiado um compromisso inadiável. Afinal, na vida tudo é provisório. Não há nadica de nada que seja definitivo e irremediável. Só o fim.

Mas no susto, outros 193 mil* potenciais passageiros da aviação comercial brasileira desistiram de enfrentar fila nos aeroportos e compraram um carrinho zero para fazerem seu percurso por terra mesmo. A indústria automobilística brasileira agradece sensibilizada. Teve o melhor março da sua história, com um aumento nas vendas de 31.8% em relação ao mês de fevereiro. Os novos felizes proprietários de um carro zero ainda não tiveram tempo para pensar, mas, quando chegar a primeira prestação, se não levarem outro susto, encontrarão alguns minutos no seu dia para chorar sobre o leite derramado e fazer uma profunda reflexão sobre essa decisão que, desconfio, foi precipitada.

Ainda no susto, 15 marinheiros britânicos, capturados pelo governo iraniano, ultrapassaram a fronteira móvel que divide as águas territoriais entre o Iraque e o Irã no Golfo Pérsico. Se tivessem tido tempo para pensar, teriam adentrado o rio Eufrates ou o Tigre, em vez de ficar brincando de mãe da rua em área de contestado. Não que, subindo o rio, fossem encontrar um clima menos beligerante, mas, pelo menos neles as linhas são mais bem traçadas e não criam margem sem leito. Lá não haveria risco de serem colados numa polêmica como a que estamos sendo obrigados a assistir agora.

No susto também, a Suprema Corte dos Estados Unidos decidiu que a Agência de Proteção Ambiental americana tem a autoridade para regular as emissões de gases-estufa por automóveis. A corte decidiu ainda que a agência não pode dispensar sua autoridade para controlar esses gases, que contribuem para a mudança climática, a não ser que forneça argumentos científicos para a recusa. Ainda bem que a Corte não teve tempo para pensar e decidiu de supetão. Se parasse um minuto e avaliasse o tamanho da briga que estava comprando, teria repensado sua decisão. bush, aquele que não precisa mais assinar o Tratado de Kioto, ainda não se recuperou do susto. Mantém-se em silêncio sepulcral. Eu dispenso seus comentários. Agora só quero ação impulsiva.

E assim, de susto em susto, caminha a humanidade. Eu vou junto, mas não sei se vou dar conta de chegar ao fim. Se, de repente, no meio do caminho, um trem qualquer me assustar, me deixo levar sem nem pensar. Qualquer trem, desde que seja mais atraente, mais divertido e menos maçante do que quatro aulas numa noite de sexta-feira, seguida de mais tantas outras num sábado inteiro. Qualquer trem mesmo e, principalmente, se for um que me deixe divagar sem fronteiras, o jeito que mais gosto de pensar. Se for assim e for no susto, acho que me deixo levar sim. Ou será que não?


Que nossos anjinhos da guarda não nos preguem nenhuma peça nessa noite e que amanhã o sol amanheça no mesmo leste de sempre.

Inté mais ver. No susto.

* Exagerei. Tinha postado 490 mil e lá vai pedrada. Mas esse número refere-se ao total de vendas do setor automobilístico no período de janeiro a março. Aí, ouvi no CBN Brasil, que as vendas de março ficaram em 193 mil, o que corresponde a um crescimento de 31,8% em relação à fevereiro. É isso. Agora tudo está mais preciso.

Um comentário:

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