segunda-feira, outubro 10, 2005

Ainda se move

Direto do paraíso tropical. Vi vendo o mar: coletivo de ondas, aquelas que determinam o movimento dos meus pensamentos. Vi vendo o sol, que bate na terra e liberta do chão o morno que nos aquece e nos faz ter uma vontade danada de fazer nada. Vi vendo o vento que arrasta pro muito longe as idéias infelizes e descabidas. Vi tudo isso só vendo.

E estava só andando e vendo, quando um jornal caiu em minhas mãos. Ôw, nem queria pensar e menos ainda no bush, que não assinou o diacho do Protocolo de Kioto. Mas trupiquei de novo nas notícias e os pensamentos voltaram em ondas, que se desmancharam em palavras e ficaram ali na areia pedindo para serem fisgadas, temperadas, fritadas e servidas mais uma vez.

E hoje não nego, porque a terra tremeu em Muzaffarabad e redondezas e ninguém me contou. E por que deveriam? E por que não deveriam?

Pangéia ainda se move. É só isso que sei agora. Cada parte do seu todo se afasta ou para frente ou para trás, para um lado ou para o outro. Ma se a terra não se expande, como o universo que respira incansavelmente, os blocos que se afastam, voltam a se reencontrar. Gondwana e Laurásia ainda podem se recompor e, de novo se recompondo, podem remontar o começo dessa história: era uma vez há muitos e muitos anos atrás, há milhões e milhões de anos atrás, num reino chamado Pangéia....

Fico pensando que essa idéia de globalização tem uma força estranha, que nos repele e nos atrai, dependendo do ângulo de onde a olhamos. É impossível não pensarmos o mundo como um único indivisível, quando nos recolhemos à nossa insignificância ou quando o vemos como sendo a nossa única casa entre os bilhões e bilhões e bilhões de astros que circulam e gravitam no vazio desolado do universo. Mas é possível encontrarmos ainda na rua alguém que pensa que, na nossa insignificância, somos nós o deus absoluto que governa todos os reinos deste planeta: animados e inanimados, vivos e mortos.

Mas quem sabe da vida, para além do que aprendemos no nosso jardim, ao observarmos um bezouro seco no meio da grama? Quem sabe da vida, para além das besteira que vemos nos jornais? Quem sabe deste mistério? E, ainda assim, a natureza dialoga com o homem. Escutem. Pangéia ainda se move e faz milagres.

Pelo menos no subcontinente indiano. Longe de lá, o furacão Katrina varreu a costa oeste do subcontinente americano e expôs a fragilidade da única superpotência do mundo, revelando as dores e a miséria que se escondem nas entranhas do império. No subcontinente indiano, o terremoto, que destruiu cidades inteiras na Índia e no Paquistão, aproximou dois arqui-inimigos, que serão agora solidários na mesma dor e na mesma miséria.

Se essa vida, que não sabemos qual é para além do nosso umbigo, ainda faz sentido, os dois sairão fortalecidos dessa parceria e não estraçalhados e derrotados como a américa de bush. Foi nisso que fiquei pensando, enquanto andava e via vendo as letras na folha do jornal.

Bons ventos para todos.

2 comentários:

Anônimo disse...

Estas palavras estão ainda mais fortes que as anteriores. O ar marinho te fortaleceu.
Nosso passeio triatlético foi muito, muito bom. Mas da próxima vez espero ver Paris sóbria. Fiquei um pouco na dúvida do que realmente vi.
Bons mergulhos. Nos pensamentos, é claro.

Anônimo disse...

Que nos pensamentos que nada. Estou mergulhando todos os dias e nadando de crow, de costas, borboleta, cachorrinho e acho que tá bom.

Já pulei sete ondas, levantei sete brindes e joguei sete sonhos pra trás. Amanhã estou de volta. Caio na real de novo. Heheheheh