Estou retirando o meu voto de apoio a Hillary Clinton e, por hora, nem penso em transferi-lo para ninguém mais. Vou continuar acompanhando as eleições americanas com grande desinteresse, mas ainda vou, por vício ou por saber que, mesmo perdendo posições no tabuleiro da política e da economia mundial, os Estados Unidos continuará sendo, por um bom tempo, uma liderança importante nos salões internacionais.
Não cheguei a me decepcionar com Hillary. Nunca esperei dela mais do que ela fosse capaz. Nem passou pela minha cabeça, por exemplo, que Hillary fosse além de conversas limitadas com o presidente iraniano, Ahmadinejad, para resolver o impasse entre os dois países. Já sabia que Obama seria mais ousado e McCain ficaria em cima do muro. Alguém ainda acredita, em sã consciência, que em plena campanha eleitoral os três candidatos fariam um debate sério e profundo sobre essa questão? Bobos somos nós.
Também não me assustei quando ela afirmou categoricamente que destruirá o Irã se Mahmoud e sua turma vier a atacar Israel, durante um possível governo sob sua liderança. O que mais esperavam que ela dissesse? Nem sei de onde saiu essa conversa, mas tem um tom de provocação quase inquestionável. Ou não. Sabemos que os americanos são fissurados em temas belicosos. Convivem bem com isso. E Hillary deu a resposta que todos esperavam ou gostariam de ouvir. Não é o tema que mais me agrada, pelo contrário, odeio, mas sei relevar meus sentimentos, para tentar entender uma dada situação qualquer.
Então não foi por isso e nem por conta de nenhuma outra discussão mais relevante entre Hillary e Obama ou entre a senadora e McCain que decidi retirar dela o meu voto de apoio. Tomei essa decisão porque estou ficando cismada que nem um dos nomes que estão postos para essa disputa tem demonstrado criatividade suficiente para propor um programa de tipo novo para os Estados Unidos. Estão repetindo as mesmas respostas prontas que qualquer candidato mais chifrim seria capaz de repetir. Nem Hillary nem Obama nem McCain conseguiram, até agora, construir um discurso de campanha inovador e nem um programa mais inventivo para abordar os velhos problemas da sociedade americana. Não estão conseguindo mudar o enredo da história daquele país e, por isso, não é difícil imaginar o final desse espetáculo. Já caímos na mesmice.
Estou também me desinteressando desta eleição porque, além de tudo, os três candidatos que estão no páreo não conseguem, sequer, ter uma atitude nova em relação ao eleitorado. Tratam a política como se fosse um bem a ser adquirido no supermercado de celebridades e transformaram-se, eles mesmos, em produtos perecíveis que precisam ser adquiridos rapidamente e imediatamente consumidos, de preferência no calor da disputa, pois, no dia seguinte, claro, todos já os terão esquecido. Assim, transformaram o cidadão americano em meros consumidores da política. E não é de hoje, mas por isso mesmo me aborrece. Pensei que poderiam fazer diferente. Isso eu pensei.
Agora, tem uma coisa. Sinceramente, não sei se conseguirão estender por muito tempo seus prazos de validade. Eu, pessoalmente, já cansei de todos eles. O eleitor americano, provavelmente, ainda vai suportá-los por mais um tempo, mas cismo outra vez que ele também poderá perder a paciência antes do prazo final. Veremos. Ou talvez, quem sabe, o eleitor americano conseguirá se articular de tal forma que será capaz de dar um novo rumo a essas eleições, surpreendendo os próprios candidatos? Sabe-se lá. Melhor aguardar mesmo.
Outra coisa. Nós, no Brasil, não costumamos aprender com a história. Repetiremos um mesmo erro zilhões de vezes, se tivermos oportunidade. Às vezes, no entanto, surpreendemos e espero que estejamos num desses momentos. Nossos partidos políticos, PSDB e PT, especialmente, deveriam se mirar nesse exemplo americano, para se preparar para as eleições de outubro próximo e para as próximas que virão. A redução do debate político à mera disputa de nomes ou posições no tabuleiro eleitoral não passa desapercebido ao eleitor. O excesso de esperteza traduzida em jogadas cada vez mais antecipadas podem, da mesma forma, cansar o eleitor e afastá-lo para mais longe ainda da política do que já estão. E a excessiva exposição, nos meios de comunicação, dos candidatáveis para essa e para as próximas eleições de 2010, acabará por implodi-los antes mesmo que venham a ser. Espero, portanto, que não fiquem se achando demais, como estão, pois acabarão se perdendo no meio da travessia antes mesmo que a caminhada se inicie. E, pior que perdidos, entrarão para história muito mal acompanhados.
Respondi Márcio?
Uma semana de profunda reflexão para todos.
Até de repente, quando for possível.
Ilusração: Norman Rockwell
Um comentário:
Sim, respondeu, mas não desisto fácil e já elaborei uma resposta para você, aliás, uma cooptação! :D
Beijos!
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