sábado, abril 05, 2008

O que será?


Tem alguma coisa no meio do caminho. Tem uma pedra ou tem um muro? Tem uma serra ou um portal para o universo paralelo da imaginação? Tem uma cidade de concreto ou tem um bloco de ferro plantado no meio do gramado? Tem um obstáculo ou um caminho para mundos desconhecidos? É arte ou partes da cidade? É silêncio ou grito?

Fico pensando que pode ser um pouco de tudo.
Hoje cedo, fui andar na Praça da Liberdade e trombei com as obras de Amílcar de Castro. A arte é sempre um problema. Não para o artista, claro, mas para quem olha. Para quem passa e pára e aprecia. Gosto ou não gosto? Me diz alguma coisa ou não me diz nada? Os críticos, entendidos, gostam ou não gostam? O que eles, os críticos, sabem que não sei? Por que gostam e eu não gosto? Ou porque não gostam e eu gosto? O que o artista está querendo me dizer? Ou o que estava angustiando o artista que ele quis por pra fora, porque não aguentava mais?
Olhar uma obra de arte é sempre uma experiência absurdamente cansativa para a mim, apesar de sempre prazerosa. Às vezes, raramente, é até divertida, porque me permite um instante lúdico, me remete à infância e me traz boas lembranças, quase sempre. Já tive esse momento algumas vezes. Mas, no mais, me exige mesmo é um esforço sofrido. Fico olhando e tentando fazer conexões. Tento ligar o que estou vendo com tudo o que já vi, que já li, que já senti. Tento reter tudo na minha mente, criando uma rede de significados. Tento, ferrenhamente, descobrir como nossas histórias se cruzam. Tendo, de todo jeito, dar à obra um sentido particular que a inclua na minha vida de forma definitiva. E, muitas vezes, é um esforço inútil. Outras, não.

As obras de Amílcar de Castro, da mesma forma, me exigem um grande esforço. Portanto, não passei impune por elas, na minha caminhada pela praça. Mas, desta vez, dispendi um esforço alegre. Como hoje é sábado e amanhã é domingo e, neste final de semana, não tenho nada para fazer, nada que seja obrigado, nada que tem de e ponto final, me deixei só ir andando e olhando.
As formas geométricamente perfeitas, traçando relevos absurdamente retilíneos, me permitem um novo olhar sobre o horizonte da cidade. As cores, do ferro ou da terra, me advertem. Não nasci na beira do mar nem nasci no meio da floresta. Nasci das minas, ainda que gerais. Como todos que aqui estamos, tenho minério no sangue. Minha alma é composta de ferro e vento. Meus olhos miram para o dentro e para o fundo das minas. E, do alto das montanhas, olha para cima e para o longe da cidade. Para as gerais. Passado e futuro.
O vazio, das formas de Amilcar de Castro, não é obsessão, como em Weissmann , é transparência, é um fresta para além das minas. É onde as gerais se manifesta. E é mais. É a transcendência do olhar que mira o alto, de cima das montanhas. É a possibilidade da descoberta de novos universos.
Não sei se essa era a intenção do artista, mas esses foram os sentidos que dei a suas obras, sozinha ou a partir de tudo que já vi, já li ou já senti. E seja como for, como disse uma vez o próprio Amilcar de Castro e que, acho, vale para ele e para nós que olhamos suas obras, toda experiência em arte é uma experimentar-se, é a experiência de si mesmo.
As esculturas de Amílcar de Castro também me ajudam a criar links. Olhei para elas e não tive como não me lembrar de Weissmann e foi uma boa lembrança.
Um fim de semana repleto de links com boas lembranças para todos.
Inté
Fotos: Minhas, de uma caminhada na praça
PS: Amanhã tem apresentação da Big Band na Praça JK e, para quem quiser conhecer mais algumas obras de Amílcar de Castro, tem uma exposição na Casa Fiat de Cultura, no Belvedere.

2 comentários:

Clará disse...

Ei Tia Patrícia!

REdescobri seu blog hj, depois de muito tempo, e agora estarei sempre por aqui!

Essa coisa de arte é muito doida mesmo, e agora que estou aqui cercada por ela, percebi que sempre estive (a arte não é exlcusiva da Europa, né?), mas fugia de notar e buscar mais. Fugia pq era inevitável me sentir muito burra diante dela, por tudo que vc disse na primeira parte. "Será que é pra gostar ou quem entende do assunto tá metendo o pau?". "O que raios isso quer dizer?"

Mas agora estou fazendo o exercício de chutar o balde! Se gostar, gostei e pronto. Se me dá uma sensação boa, ou se me traz um desconforto que me faz pensar, ótimo! Azar de quem não gostou, azar se na verdade queria dizer outra coisa e azar se os acadêmicos acharam podre.

E está sendo bem divertido até agora!

Adorei as fotos!

bjim

patricia duarte disse...

Ei Clará, que bom que vc encontrou o caminho de volta. Estou super feliz com sua visita. Adorei o exercício de chutar o balde, vou praticá-lo também. Para apreciar a arte é melhor mesmo gastar um esforço alegre do que sofrido, né?
bjim e volte sempre. Quando der, sirvo o cafezinho.