terça-feira, maio 13, 2008

Vira folha

Marina Silva com sua indefectível écharp (pescada na internet)


Agora fiquei preocupada outra vez. A terra está tremendo de 15 em 15 dias, cada hora num lugar diferente. Tremendo e soltando fogo de suas entranhas, espalhando cinzas nos céus do Norte e do Sul. Os italianos e chilenos sabem muito bem disso. E agora mais essa. Marina Silva desistiu. Não poderia ter tido notícia pior. Justo neste momento.

Mas no lugar dela, acho, também teria desistido. Nem resistiria tanto tempo. Por isso, Marina Silva foi, antes de tudo, uma forte. Não acredito que ela seja insubstituível, ninguém é, mas todos somos, de uma certa forma. Cada um de nós tem um jeito de fazer as coisas que é próprio só de cada um mesmo e, nesse sentido, somos insubstituíveis. Mas, tem certas horas, que temos de assumir essa condição, de substituíveis, como única possibilidade de mudança.

Acho que é nisso que Marina Silva estava pensando quando escreveu a sua carta de demissão. Ela sabe da urgência das mudanças que são necessárias para enfrentarmos os tempos que virão. Sabe, o que não queremos saber, dos riscos que estamos correndo. Sabe dos dramas que já estamos vivendo. Ela sabe o angu de caroço em que nos metemos. Talvez saiba até inventar um jeito de fazer uma polenta desse angu, mas entre saber e fazer vai uma distância. E aí é que está. Por isso desconfio que Marina deve conhecer muito bem também a força dos interesses que impedem os governos de tomar decisões impopulares. Evo, por exemplo, não sabe ou não teria feito a besteira que fez e nem repetido a besteira maior, concordando com o referendo para avaliar a popularidade dos governantes durante o mandato, o chamado referendo revocatório. (Veja na foto pescada na internet: Evo e seu dedinho em riste!)

Mas, talvez, assim como Marina, Evo deve estar pensando que chega uma hora que é melhor mesmo desistir, recuar, jogar a toalha e deixar outros, mais crentes, tentarem o que vínhamos tentando. Lamento muito a saída de Marina Silva, mas não tenho dúvida de que ela continuará no front, mobilizando nossas vontades para fazer alguma coisa acontecer. De Evo, ainda não sei. Agora é com os bolivianos. Eles é que precisam saber. Pensando bem, pensando nas peças que recuam no tabuleiro, para tentar avançar, Hillary, como Evo e Marina, deveria também rever sua disposição férrea e ceder. Até eu estou fazendo isso, porque Hillary não pode, essa reles mortal como todos nós? E se fizer, será mais uma junto com tantas outras. Olha que isso vai acabar virando modinha. (Veja na foto pescada na internet, Hillary e seus dois dedinhos em riste!)

Então vou admitir. Não tive a sorte de colecionar acertos nas minhas divagações sobre as eleições americanas. Por isso, aceitei o conselho do Márcio e fui me informar melhor sobre os dois candidatos democratas à presidência dos Estados Unidos. Apostei numa possibilidade de mudanças na política norte-americana, apenas com uma mudança de gênero. Mas, definitivamente, hoje isso é irrelevante. Obama, de fato, me surpreendeu. Muito mais do que Hillary. Nem tanto pelos projetos que apresentou no Senado, mas pela leitura que faz do mundo. A sua compreensão da diversidade como um atributo importante para as sociedades contemporâneas, muito mais do que as lutas pelos direitos de um grupo, faz uma diferença brutal em relação a Hillary. Enfim, também recuei, desisti e mudei de opinião.

A vida é assim. Ainda bem.

Inté não sei quando, porque ando apertada de costura.

4 comentários:

Anônimo disse...

Olha, Patrícia, acho que mudar de opinião pode ser muito saudável.

Anônimo disse...

Oi Patrícia,

Fico muito contente em saber da sua reflexão, de fato há de se saber o momento de dar um passo em outras direções. Ainda que para trás.

Beijos e te cuida!

Anônimo disse...

Somos todos insubstituíveis naquilo em que somos bons. Nem que seja em comentário de futebol. Até o infeliz que inventou essa frase o é, ou foi (não sei se ainda sobrevive, de tão velha que a frase já é, mas certamente surgiu depois do liberalismo. Plantão, Spinoza, Kant e Freud não imaginariam que tal coisa pudesse ser pronunciada. Felizes eles. E não sabiam). Marina não teve forças para fazer o que sabe que é preciso fazer e, por outro lado, demorou demais a sair para marcar posição. Foi fraca mesmo. Até a entendo, mas não defendo.

patricia duarte disse...

Acho que a ministra titubeou, né Ana Márcia, mas fraca, sinceramente, acho exagero. Ela pode ter tido dificuldades gerenciais também, como falou o prof. Goldemberg agora mesmo na CBN. E, de fato, os agentes políticos (servidores e ocupantes de cargos políticos) não foram capacitados para gerenciar, são escolhidos pelo domínio do tema de cada uma das pastas. Quer dizer, tem um monte de porém, mas não acho nunca que ela tenha sido fraca.
Mas posso mudar de opinião (rsrsrsrs), né Fabíola?
E tem hora que é preciso, né Márcio?