Trilha alternativa: O Samba do Crioulo Doido. Com quem mesmo?
E se o vento não tivesse batido meio atravessado e desviado a trupe de Cabral para a costa brasileira? Como seríamos? Como teriam nos deixado ser?
E se não tivesse dado na telha de D. João III de copiar o sistema de colonização implantado nos Açores, dividindo as terras brasileiras em 14 capitanias hereditárias? Se não tivesse concedido esses lotes a membros da burocracia e a militares e navegadores? E se, diferente do que foi, esses donatários tivessem vindo por aqui ao menos para bater o ponto? Seríamos melhores ou piores do que somos?
E se os bandeirantes paulistas não tivessem se transformado em milícias paramilitares e, contrariando a lei, não tivessem saído Brasil adentro escravizando índios? Quando não simplesmente exterminando-os? E se os bandeirantes paulistas não tivessem inaugurado uma civilização própria, fundamentada na temeridade e na cobiça? Seríamos mais felizes? Ou seríamos mais perdidos?
E se não tivéssemos sido contaminados pela febre do ouro? Se os rios não tivessem sido desviados para facilitar a catagem do ouro? Se os paulistas não tivessem sido liberados pela Coroa para iniciar o comércio de africanos para abastecer de mão-de-obra barata as minas das Gerais? Seríamos menos alegres? Cantaríamos menos? Dançariamos mais desajeitados?
E se Joaquim Silvério dos Reis não fosse um endividado aloprado e não tivesse denunciado a já gorada conjuração mineira? E se a elite endinheirada da província mineira, que liderava o movimento, não tivesse dado com os burros n'água? Se tivesse conseguido fundar a República de Minas? O Brasil teria aderido? Ou seríamos divididos em pequenas republiquetas da banana?
E se D. Pedro tivesse sido abatido pela diarréia que contraiu às vésperas do famoso 7 de Setembro e não tivesse tido forças para chegar às margens do Ipiranga? José Bonifácio Andrada daria o grito em seu lugar? Ou o povo se banharia nas águas do rio? Isso nos tornaria menos subservientes ou mais dependentes?
E se? E se?
E se os golpistas civis e militares não tivessem, na calada da noite, longe do cheiro do povo, em silêncio e provisoriamente, proclamado a nossa república? E se o referendo a república não tivesse demorado 104 anos, depois dela já proclamada, para ser convocado? Os espíritos estariam mais armados? E se o povo, paciente, tivesse costurado o movimento e construído a república, no momento em que a monarquia caia de podre? Teríamos uma noção melhor das coisas públicas e privadas? Saberíamos diferenciá-las com mais competência?
É tanto se nessa história que cansei. Vou pular algumas paradas da linha do tempo. E se Getúlio não tivesse insônia? E se tivesse atirado pro alto ao invés de acertar o seu coração? E se JK tivesse mais cinco anos? E se Jânio não tivesse renunciado? E se Jango tivesse mais tino? E se os militares não tivessem se apegado ao poder? E se o Dante de Oliveira tivesse trabalhado melhor a sua base parlamentar? E se Tancredo não sofresse de diverticulite? E se Collor não fosse uma farsa? E se FHC fosse só um acadêmico? Seriamos um país melhor ou pior? Estaríamos no 1º, 2º, 3º ou 4º mundo?
E se Lula tivesse conseguido um bom emprego no ABC paulista? E se não tivesse se acidentado no trabalho? E se não gostasse de política? E se não tivesse conquistado a presidência em 2002? E se não tivéssemos o instituto da reeleição? E se Alckmin não fosse um chuchu? E se Alckmin fosse Serra? E se Alckmin fosse Aécio? Estaríamos mais conformados ou mais revoltados? E se....?
E se essa noite a lua iluminar nossos sonhos? E se as estrelas descerem a rampa do céu para brilhar ao lado da nossa cama? E se nosso anjo da guarda fizer sentinela a noite toda e não deixar que nada de mal nos aconteça? Estaremos mais contentes amanhã ou menos desiludidos?
Até de repente!
Um comentário:
ôpa Márcio, obrigada pela visita, volte sempre. Inté!
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