Hoje sai para andar pela manhã, mas nem tão cedo assim. A rua já estava totalmente habitada. Aí, quando olhei, vi um bolinho no meio da praça. Um bando de meninos com papel e caneta nas mãos. Meninas, mocinhas, uns marmanjões, outros até de cabelos brancos e até vovó tinha no meio da confusão. Uai? O que se passa? Dei a meia volta, peguei um atalho e fui chegando, assim como quem está só de passagem, mas com as antenas ligadas. Dãwr! É claro, né? Mais um posto de troca.
A cidade está cheia disso. Um posto em cada esquina. Parece até aquela multicontinenal de cds piratas de música latinoamericana. Teve uma época que, em qualquer praça da cidade, você trombava com uma filial da música dos Andes. Você passava e aquela flautinha de bambu ficava ressoando no seu ouvido. Uma tristeza danada! Mas agora a mania é outra. São as figurinhas do álbum da Copa 2006. A matriz de troca fica na Lagoa Seca, mas tem sucursal pela cidade inteira.
O posto de troca da pracinha é novo. Até ontem ele não estava lá. Se soubesse da novidade tinha carregado também o bolão do meu adola para poder participar. A rodinha no meio da praça estava super animada. Tinha um marmanjão com um maço só de figurinhas brilhantes. Devia ter até uma da Alemanha naquele bolo. Ela é super difícil, mas a Ruthinha deu sorte e ganhou a sua num dos primeiros pacotinhos que comprou. Aliás, ela deu muita sorte. Acho que não falta nenhuma brilhante no seu álbum.
Esse negócio de colecionar figurinhas é engraçado. Todo mundo sabe como funciona: no começo tudo é novidade, depois dos 20 primeiros pacotinhos, começam a aparecer as repetidas. Aí, quem não está na brincadeira faz aquela cara de eu não disse que isso era golpe! e acha que aí vamos desistir. Mas é um engano bobo de não-iniciados, pois é aí que começa a brincadeira. Claro, porque você tem de trocar as repetidas e para isso precisa montar a sua rede de trocas e falar com um, com outro e daí surgem pessoas que você nunca tinha visto na vida e faz novas amizades. É um exercício social. Muito legal!
Mas tem gente que não vê essas coisas. Acha que é jogar dinheiro fora. Falta do que fazer. Doença infantil dos novos velhos. Outras ficam até com vontade, mas ainda não tem coragem. Aí inventam desculpas. Um amigo falou que não está colecionando as figurinhas da Copa, porque está economizando para o álbum das Mais belas mulheres que acompanham os jogadores. Quando ele disse isso, nós rimos, claro! Íamos desapontá-lo? Nunca. Queríamos era encorajá-lo. Mas temos certeza de que ele falou isso para zoar da nossa nova mania. Acho que ficou com ciúmes também, porque estávamos fazendo a votação da seleção das seleções. Estamos montando o time dos jogadores mais bonitos da Copa 2006 para fixar no mural.
Vou contar um negócio: está difícil. Nunca vi uma escassez de homens bonitos tão grande quanto nessa Copa. Tá certo, tem os engraçadinhos, bonitinhos, simpáticos, divertidos, como os Ronaldinhos e Cacás. E já tá muito bom. Mas bonito, bonito, tá difícil. Na minha vez de votar, fui direto na seleção da Itália, que historicamente tem o melhor plantel da Copa. Mas olha, dessa vez não achei nem um para fazer as honras da casa. Tive de buscar apoio na seleção da Espanha e da Alemanha, porque a da França também está desfalcada. Ainda estou devendo um voto. Vou aguardar o fim de semana para ver se a Ruthinha consegue uma leva de inéditas e nos faz alguma surpresa.
Já estou até vendo a cara de vocês. Quanta futilidade! Mas insisto, não é. Essa Copa ainda não conseguiu mobilizar as forças nacionais. O comércio está jorrando verde-amarelo pelo ladrão; o Brasil já venceu teoricamente em todas as simulações estatísticas, todo dia recebo um e-mail novo pelo correio, demonstrando que saíremos campeões; os bares estão enfeitados, os prédios, as casas, as ruas. Todo mundo está fazendo o dever de casa, mas aquela euforia, aquele cordão solidário de torcedores, aquele espírito despreendido, de coração aberto, sem nenhuma autocrítica, esse ainda não se formou. Tá todo mundo com o pé atrás. Todo mundo olhando desconfiado para o Parreira. Ói só, nem Parreira está com essa bola toda! Levou na bagagem até uma imagem de Santo Antônio! Eu hem? Vai escalar Santo Antônio para a lateral direita?
Então. Ficamos preocupadas com essa dispersão. Era preciso fazer alguma coisa bem rápido. Daí que resolvemos montar também o nosso álbum de figurinhas. Faz parte do esforço de mobilização. Assim como as pesquisas culinárias, para montar o cardápio da Copa, e as pesquisas de times vencedores de Copas passadas, para formar as seleções do I Campeonato Escolar de Futebol de Mesa. Se não tivermos um bom motivo para estarmos juntos, é bem capaz de esquecermos que tem jogo. Ou, pior, cada um vai pro seu canto, assistir o jogo no sossego do seu lar, e se desfaz a rede de torcedores unidos, jamais vencidos. Aí quero ver se a seleção internacional brasileira consegue se entrosar e fazer alguma coisa que preste. Fica difícil, né?
É isso tudo. E é bom que essa estratégia funcione, se não vamos ter de nos render à competência de Marcola e convocá-lo para liderar a nossa torcida. Já pensou que vexame!
Mudando de assunto, alguém aí tem a figurinha brilhante da Alemanha?
Estou trocando idéias, receitas da Croácia, do Japão e da Austrália, lentes velhas de relógio para montar a minha seleção de futebol de botão e, se me animar mais um pouco, troco até de partido.
Bolinhos animados e figurinhas inéditas para todos neste final de semana!
2 comentários:
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