Então. É uma característica de família mesmo. Quando acontecia de estar ouvindo um deles, às vezes me desligava e ficava imaginando um almoço de domingo na casa dos pais dos irmãos Mares Guia. Um pegava a palavra e os outros ficavam ali, mexendo o arroz no prato, batendo pezinho, levantando o garfo, pedindo um aparte e nada. E nada. E nada. Até que um cutucava o pai e reclamava: ô paiê, agora sou eu, né? Pede pro fulano parar de falar um pouco. Eu também quero conversar. Ou então, outra cena que imaginava, era aquela mesa cheia de mares guiazinhos, todos falando ao mesmo tempo e a mãe ali, sentadinha, alisando a toalha da mesa com as mãos e balançando a cabeça: esses meninos, hem? não aprendem, falam todos ao mesmo tempo. Agora deixa, passou da hora de ensinar. E continuava ali balançando a cabeça, concordando e discordando de acordo com o que lhe era perguntado.
Olha só, se o Lula não foi preparado para ouvir, deve ter engolido seco várias vezes neste final de semana. Puxa vida, consegui me desviar bem do assunto. Viu? Já estou no quarto parágrafo e nem comentei que ontem foi inaugurada a primeira unidade brasileira de enriquecimento de urânio. Ops, foi mal, escapou. Mas hem, voltando à fronteira com a Bolívia e à assembléia geral do mundo globalizado para definir a futura matriz energética do planeta, fiquei intrigada com uma coisa. Porque a mídia dedicou tanto tempo e espaço à cobertura do julgamento do jornalista Antonio Pimenta Neves, que matou sua ex-namorada, também jornalista, Sandra Gomide? Foi corporativismo? Acerto de contas? Sinceramente, não entendi.
Também desentendi porque os diplomatas aposentados ficaram tão indóceis com a atuação do Itamaraty no episódio da Bolívia. Claro que estavam todos roendo as unhas de vontade de estar na ativa. Já pensou? Quando, na época deles, tiveram uma oportunidade dessas? Mas acho que os diplomatas em exercício agiram bem. Primeiro, fico pensando que, se o Brasil entrou numa fria, a Bolívia entrou numa fria maior ainda. Tudo bem que estamos numa situação periclitante, como comentou o Rafael, mas é certo também que os bolivianos se meteram numa grande enrascada. Não pela decisão que tomaram, já prevista na Lei de Hidrocarbonetos, aprovada em maio do ano passado, mas pela forma, no mínimo deselegante, como anunciaram a nova medida. E mais grave, foram muito evasivos mesmo no que pretendem fazer a partir de agora e isso gera insegurança para os dois lados: para a Bolívia e para seus ex–parceiros.
Evo anunciou que pretende negociar um aumento de 80 e tantos por cento no preço do gás boliviano. A Lei de Hidrocarbonetos, quando foi sancionada, permitiu a criação de um imposto não-dedutível de 32% sobre as empresas de exploração de petróleo, além dos 18% que já pagavam na forma de royalties. Somados, as empresas já recolhiam ao governo 50% em taxas e impostos. Agora Evo quer mais. Já falou em um aumento da alíquota de imposto para 45%, para 63%, para 82% (sic!). Essa última pretensão deve ser para o percentual totalizado de obrigações das empresas, né? Bom, eu já estou fazendo a maior confusão. Acho que esse percentual é para o reajuste dos preços e não dos impostos. Deve ser. Que zona. Já tive de reescrever essa parágrafo três vezes. Mais uma, quatro! Agora chega! O que interessa é que, seja o que for que Evo esteja querendo, terá de sentar-se à mesa para negociar e parar de anunciar pela imprensa. E a Petrobras terá de fazer o msmo. É assim que se faz, não é não? Pelo menos deveria ser.
É o que penso, na minha limitada maneira de ver o mundo. Isso tem a ver com o meu segundo argumento. O Brasil está numa encruzilhada e não dá para simplesmente chutar o despacho e tomar outro rumo. O mundo inteiro está se organizando em blocos há tempos, por razões que aqui não vem ao caso. E aí? Vai o Brasil se integrar à União Européia? Ficou doido? Então vai pedir carteirinha da Liga Árabe? Viajou na maionese? Estamos limitados por nossas circunstâncias geográficas. Vamos ter de dar as mãos é mesmo para nossos vizinhos latinos. E esse não vai ser um diálogo fácil. O Brasil sempre teve uma postura distante dos países da América Latina. Nossos olhos, desde o início dos tempos, estiveram sempre voltados para além do Atlântico. Mas agora, não temos opção. Nessa falta, temos até várias alternativas, mas com os mesmos parceiros. Por isso é importante manter e elevar o nível do diálogo. De uma forma ou de outra, mas sempre pelas vias democráticas, por onde as palavras correm mais livres. E ponto.
Não vai dar é tempo de olhar a evolução da futura matriz energética do planeta, tenho de fazer feira, porque no domingo é um porre. Mas uma hora volto e, se tiver paciência, abro essa janela. Só para não me esquecer: nessa matriz, conforme desconfiava, a participação da energia nuclear vai, de fato, dar um salto. Ela tem conquistado novos e importantes aliados. Além do cientista que concebeu a Teoria de Gaia, James Lovelock, um dos fundadores do Greenpeace, Patrick Moore escreveu um artigo, recentemente publicado pelo jornal americano Washington Post, defendendo enfaticamente a energia nuclear, como forma de minimizar o efeito estufa, responsável pelo aquecimento da atmosfera da Terra. Dá pra pensar, não é não? Eu vou. Isso me interessa, porque o Brasil tem um grande potencial nessa área e detém a sexta maior reserva de urânio do mundo. Não é nada, mas é alguma coisa.
Inté, se der eu volto.
Um fim de semana cheio de novas energias para todos.
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