quinta-feira, maio 25, 2006

Tá na hora de fechar as porteiras

Vou contar o que aconteceu. Ontem, depois de pegar o baixinho no inglês e enfrentar o trânsito nervoso de fim de expediente, chegamos em casa beirando as oito horas da noite. Chegamos esbudegados pela correria do dia e ganindo de fome. Aí, tanannnn! Fomos abrir o portão da garagem e, adivinhem! Exatamente, a chave não rodava. Insisti uma vez, duas, três, e necas. Depois todo mundo quis tentar. Vai que um estivesse com sorte e a chave rodasse? Nos joguinhos eletrônicos acontece disso, mas, pra nosso desgosto, estávamos em plena vida real.

Vou poupá-los do relato sobre as duras negociações que tive de manter com o serviço 24 horas de chaveiros especializados. Foram muito cansativas. Além do mais, elas não importam muito. O que me deixou intrigada nesse episódio foi encontrar o portão trancado. Trancado de tal jeito, que foi impossível, pelo menos para nós leigos, desmontar a fechadura e simplesmente abrir o portão e assim deixá-lo até o dia seguinte, quando tudo seria mais fácil de se resolver.

Esses acontecimentos inexplicáveis sempre me deixam em alerta. Ao sair de casa, pela manhã, a chave abriu e fechou o portão sem nenhum problema. O que poderia ter acontecido ao longo do dia para que a fechadura emperrasse desta forma? Por que não conseguia mais abrir o portão? Achei que essa era uma questão bastante relevante para se pensar. Antes de ir dormir, sentei no computador. Mas ainda antes de pensar, entrei no Terra para ver o que rolava no resto do mundo. E vi. Vi exatamente o que estava acontecendo e entendi rapidamente porque deveria me manter alerta.

Meninas, o mundo está fechando suas porteiras. Estou desconfiada de que aquela idéia, às vezes perversa, às vezes bendita, de um mundo globalizado, está dando água. O que vi foi a foto de um barquinho lotado de imigrantes africanos, inclusive crianças, sendo interceptado por policiais espanhóis. Fui olhar melhor e percebi que este não foi um episódio isolado. Só neste ano, mais de 4 mil africanos deixaram suas terras para buscar abrigo nas margens vizinhas da Europa. Esse número é quase o mesmo de todo o ano de 2005. E neste total, poderiam se somar ainda mais mil pessoas, que ficaram pelo caminho. A maioria vítimas de afogamento.

Foto: Publicada no site Terra

Não sei se os africanos desistiram do futuro e resolveram, por conta própria, sair à caça de novos mundos. Não sei se foram seduzidos pelos encantos do mundo globalizado. Se acreditaram, piamente, que também eles poderiam ir e vir livremente, assim como fazem o capital financeiro e o capital industrial. Não sei se também se acharam no direito de buscar lugares que lhes oferecessem melhores oportunidades de vida. Não sei. Mas se pensaram isso, se estreparam. O mundo está fechando suas porteiras.

A Espanha está em alerta. A França está pondo catraca nas suas fronteiras. Na semana passada, a Assembléia Nacional aprovou uma dura lei de imigração que dificulta a entrada no país de trabalhadores sem qualificação e permite que órgãos públicos façam uma seleção rigorosa dos melhores e mais qualificados candidatos do exterior. A proposta ainda depende da aprovação no Senado, mas Nicolas Sarkozy espera que a nova lei entre em vigor ainda no início de julho.

Até a Holanda, famosa pela sua liberalidade, também está deixando de lado a sua tolerância e passou a exigir que imigrantes estudem até 375 horas da língua e cultura nacionais para obter permissão para ficar no país. Na Alemanha, uma lei de 2005 também pede aos candidatos à cidadania uma educação cultural e lingüística, que inclui 600 horas de aula do idioma e mais 30 de história e cultura. Mas a carteirinha de cidadania alemã só é concedida àqueles que forem aprovados num teste com 100 perguntas de vestibular. Enfim, uma restrição que afeta diretamente cidadãos de países pobres.

Mas não é só a União Européia que está passando o cadeado no portão. O Senado americano aprovou, no último dia 17 de maio, a construção de um muro com 595 quilômetros de extensão na fronteira com o México. É o equivalente a um pouco mais que a distância rodoviária entre São Paulo e Belo Horizonte. Vão construir o muro, que na verdade será uma cerca, e depois passar o cadeado. No mesmo texto, foi aprovada também a criação de barreiras para veículos, espalhadas por 805 quilômetros de fronteira.

Pois é. Olha só em que mundo estranho estamos vivendo. Hoje as palavras já não dizem mais o que diziam. Estão sem significado. Nos venderam esse peixe do mundo globalizado como se fosse um sushi de salmão. Quando já estamos com água na boca, prontos para abocanharmos um pedacinho dessa iguaria, vlapt! Alguém bate na nossa mão e o peixe sai voando para cair no prato dos mesmos. Dá pra entender?

Durmam tranqüilas, meninas, já passaram cadeado em todos os portões. Mas tenham um alegre despertar e que, em todo novo amanhecer, as porteiras se abram novamente.

2 comentários:

Anônimo disse...

A moda tá pegando. Acabei de ouvir o Chávez fazendo um discurso ao lado de Evo Morales. Sabem qual foi a palavra de ordem do discurso de Chávez?
Yankee go home! Yankee go home!

Eu guento?

Anônimo disse...

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