São Paulo não é a vitrine do Brasil, como o Rio ainda é, apesar de tudo. Não tem a diversidade de Minas, embora seja pluri e multi em muitos momentos. São Paulo não é como as regiões litorâneas do nordeste brasileiro, que nos acolhem de coração e com bom humor, seja qual for o nosso sotaque. São Paulo não tem reserva de tempo para desperdiçar com o por do sol alaranjado dos jalapões brasileiros. Nem desapego, pra deixar tudo pra trás e sair por aí, como Caetano, sem lenço nem documento. São Paulo parece ser diferente de tudo que somos.
Mas é São Paulo quem nos mostra como seremos. É quem nos faz mudar e parecer com o resto do mundo. São Paulo é a nossa antena parabólica. É quem capta as tendências, as visões inovadoras do planeta e nos anuncia, sejam bons ou ruins, os cenários que esses movimentos delineiam. São Paulo é nosso link, por onde escapamos para conhecer o mundo. Por isso gosto de São Paulo.
Por isso fiquei preocupada de verdade quando vi, aqui de cima, as últimas notícias sobre São Paulo. Por isso fiquei meio que apreensiva, quando vi a avenida Paulista vazia numa plena segunda-feira. Por isso fiquei assustada, quando vi policiais, de armas na mão, revistando carros aparentemente insuspeitos. Por isso fiquei apavorada quando vi os presos torturando outros presos, dependurando-os de cabeça para baixo, do alto do telhado de um presídio. O que São Paulo está nos anunciando?
Liguei para um amigo, atrás de explicações. Fiquei só escutando.Ouvi ele me contar que estava preso em casa. Não pensei nisso antes, mas nós também. Ouvi ele desabafar, dizendo que sentia medo. Nós também. Ouvi ele reclamar que São Paulo sentia-se abandonada. Nós também.
Aí me lembrei de Fernandinho Beira Mar. Tá dominado, tá tudo dominado! Me lembrei do Rio e do roubo dos dez fuzis e uma pistola. Da ocupação da cidade pelos militares por mais de 10 dias. Do fiasco das investigações. Me lembrei do meu irmão, que foi abastecer o seu carro e acabou ficando sob a mira de um trezoitão, enquanto outro pivetão limpava os clientes, levando relógios, carteiras e celulares.
Fiquei pensando se o que São Paulo nos mostrou, de um jeito que agora não dá pra não ver, foi o cenário onde já estamos vivendo e nem nos demos conta disso. Tá tudo dominado mesmo. Quando passar o susto, se passar, vou pensar nisso.
Inté,
Durmam em paz e que os anjinhos mantenham a guarda nessa madrugada
5 comentários:
Nossa, Patrícia, que texto bonito. Como você é sensível e sabe traduzir isso em palavras. A idéia de São Paulo apontar o nosso futuro gelou mais ainda minha coluna. Que pena, uma cidade tão especial... que desalento...
Ei Cris, também fico triste de ver o que estamos assistindo. Fico pensando como a gente é jogada de um lado para o outro, por aqueles que se aproveitam desses acontecimentos-bandidos para fazer politicagem. Argh, estou que nem Vonnegut, tô ficando cansada dos seres humanos.
hey menina, estou vivo, vê se não some...
bjinhuzxx
Aí, vou passar lá no opastrame. Ando meio sem tempo para navegar.
Super color scheme, I like it! Good job. Go on.
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