sábado, junho 02, 2007

A vida como ela é

Foto: pesquei na rede. soprou um vento e ela caiu aqui

Por exemplo: tem gente que tem fé. Acredita de olhos fechados. Quando tromba de frente com um problemão, agarra com São Judas Tadeu e vai embora. No que der é o que tinha que dar. E está certo assim. Mas se é problema menor, se está enrolado é com dívidas, pega emprestado mais um pouco e chama Santa Edviges para negociar. E, quando quer sossego, mas o bicho está pegando, é melhor São Paulo e se o que está apurrinhando são os estudos, aí é com São Tomás de Aquino. É um santo para cada pranto.

Agora, tem gente que acredita, mas desconfia. Se dá de frente com o problemão, chama o santo, mas toma providências. Corre atrás de um jeito qualquer, um jeito que, parece, pode ser a solução. Mas, quando encontra, desconfia. Apela para outro santo e toma novas providências. Descobre outro jeito, mas quando olha de perto, desconfia de novo. E assim vai, até o problema não ter mais jeito e o melhor é deixar para lá, ou até o problemão virar probleminha e nem precisar mais de santo para resolver. Às vezes, o problemão deixa até de ser problema e vira solução. Mas aí é que ele desconfia mesmo. E continua correndo atrás, o tempo todo. Desconfiando.

E tem outro tipo de gente que nem acredita nem desconfia. Só tem uma certeza: é em vão. Seja qual for a penca de problemas que terá para se ocupar, não se ocupa. Cria outros, mas não se ocupa. Já sabe de antemão que será uma luta inglória. Se antecipa e pula de fase. Parece fácil, mas é um sofrimento puro. Talvez, o maior deles, porque esse tipo de gente tem uma clareza no olhar para encontrar os problemas que é uma coisa espantosa. Pode ser até instinto de preservação. Precisa estar mais antenado do que todos, para perceber as dificuldades e passar por cima, se não quiser ser engolido por elas.

Esse tipo de gente padece eternamente. Só não pena tanto quanto procura, porque em vez de viver, encena. Se distancia. Está bem dentro do olho do furacão, rodeado de confusão, mas segue impunemente, como se ali não estivesse. E ri de quem o adverte dos riscos que está correndo. Tripudia de quem acredita, porque esse não passa de um cego. Desfaz de quem duvida e desconfia, porque, no fundo, no fundo, esse é o mais crente dos crentes. Acredita piamente que existe algum jeito, o melhor de todos, que vai dar cabo ao problemão. Se diverte no seu cinismo, como a maioria daqueles que hoje estão por aí nos rondando. De longe. Nos planaltos. Rindo da nossa suposta ignorância ou ingenuidade. Os vejo de longe também e sei que, no lampejo, sofrem.

Por isso, já não me preocupo mais com eles. Já não sou crente, nem cética. Muito menos cínica. Reconciliei com a vida e aceito-a que venha como vier. No mais das vezes, tudo me diverte. Se me aborrece, me aborreço. Se me irrita, me irrito. Se me entristece, entristeço. Mas, no mais das vezes, tudo me diverte.

Um domingo do jeito que ele vier para todos. Na paz.
Inté.

2 comentários:

Anônimo disse...

Que ótima percepção! Eu gosto dos desafios. Quando está tudo muito calmo é sinal de que não estou me movendo. Antes achava estressante, agora eu me divirto com isso.

Beijos!

Karla Hack dos Santos disse...

nossa.. nunca tinha analisado assim..
gostei mto do que escreveu!!

;DDD

bjus