Trilha alternativa: Madeleine Peyroux, cantando La vie en rose (Gracias, Betinho, mais uma vez - Natal 2005)
Tem muito tempo que não atormento bush. Também não precisei. Bastava Blair, que ele já daria conta do recado sozinho, mas contou ainda com a ajuda de Chavez, Julia Sweig, Fidel, São Pedro, Elizabeth Holtzman, Cherloff, o Hamas, São Pedro, Evo, James Hansen, Almadinejad, Chuck Hagel, entre outros congressistas americanos, São Pedro e assim por diante. Mas como boa ex-fadinha, estou sempre alerta. Tô de olho e agora preciso retomar o meu posto. Sorry, periferia.
Nesta quinta-feira, o Protocolo de Kioto completou um aninho em vigor e bush – tá ligado? – ainda não sacou a canetinha para assinar esse famigerado acordo. Esse é o cara. Lento no gatilho ele, hem? Pois é. E se ele não assina, não tem graça. Para ser sincera, esse assunto está ficando até chato. Mas acontece que os Estados Unidos é o país que mais polui o planeta. É responsável, sozinho, sem ajuda de ninguém, por 25% das emissões mundiais de carbono.
Tudo bem, a nossa cota parte também não é pequena, mas se o exemplo vem de cima, aprendemos a lição mais rápido. É ou não é? Só que bush não pensa assim. Nem sei se pensa. O negócio dele é fazer barulho. É que nem aqueles meninos que estão crescendo e ficam parados do seu lado fazendo barulhos com a boca o tempo todo: cleck, cleck, cleck...brrruummm, brrruuummm...tium, tium, tium....poooouw!!! E não adianta mandar parar.
Olha só, em meados de janeiro, bush, que não vai assinar o Protocolo de Kioto, chamou sua turma e anunciou a criação de um fundo para o desenvolvimento de tecnologias energéticas limpas. Estavam lá, China, que tem síndrome de gigantismo e já está despontando também como um dos maiores poluidores do mundo; Índia, traira; Japão e Coréia do Sul. Ai, ai, viu. Então tá. Não é que a idéia seja ruim, mas os danados não se comprometeram com nada e ainda admitiram, em público, que são dependentes do petróleo e serão ainda por um bom tempo.
Só barulho. Já desconfio que bush, ô cara, está apenas querendo ganhar tempo. Ele sabe que a ciência hoje é um poço de incerteza. É praticamente impossível obter um mínimo de consenso sobre qualquer coisa relativa ao conhecimento, inclusive sobre o aquecimento global. Mais cedo ou mais tarde um cientista destes quaisquer, talvez um inglês, quem sabe, vai provar que não são as indústrias, os automóveis, as grandes concentrações urbanas, as explorações predatórias, as guerras, que são os maiores responsáveis pela emissão de gases de efeito estufa. Nessa, os Estados Unidos podem acabar se safando.
Aliás, mais cedo do que tarde. Outro dia desses, vi uma entrevista com um pesquisador - um inglês, claro! -, na qual ele afirmava categoricamente que as vacas holandesas eram responsáveis por emissões significativas de gás metano, liberado através de seus arrotos e gases intestinais. O metano é um dos vilões mais cruéis entre os gases de efeito estufa. Bom, o tal pesquisador já estava, inclusive, envolvido em outro projeto, pesquisando uma nova dieta para os ruminantes, que venha minimizar a produção de gases. Essa é boa, hem?
Mas não são apenas os ingleses, coitados. Vi também uma reportagem com pesquisadores do Instituto Max-Planck de Física Nuclear, da Alemanha, denunciando que até 30% das 600 milhões de toneladas do tal gás metano, lançadas anualmente na atmosfera, vêm das plantas vivas. Das nossas plantinhas, inocentemente cultivadas em vasinhos, jardineiras, quintais e até em latinhas vazias de molho de tomate.
Pomba, qui coisa siô! Ninguém nunca antes tinha pensado nisso? Ninguém nunca antes viu as plantinhas lá, soltando gás metano! Que falha, hem? O pesquisador chefe do instituto, Frank Keppler, disse ainda que a emissão de metano pelas plantas dobra a cada 10°C de aumento na temperatura. Que horror! Nesse verão brabo que estamos, a Amazônia deve ter virado uma usina de metano. E é com isso mesmo que Keppler está preocupado. Ele disse que vai ficar de olho na Amazônia. Nós também.
Mas isso não é tudo. Na verdade, de pouco adianta agora saber de onde vem os gases que provocam o efeito estufa. Nem bush precisa mais assinar o Protocolo de Kioto. Esquece, bush. Estava passando os olhos em jornais vencidos e vi uma outra notícia mais chocante. O cientista James Lovelock, autor da teoria de Gaia, aquela em que ele diz que a Terra é um organismo vivo, capaz de se auto regular para garantir as condições de vida, anunciou que as mudanças climáticas já alcançaram um ponto irreversível.
Para ele, dificilmente a nossa civilização sobreviverá. Bilhões de pessoas morrerão e os seres humanos que sobrarem estarão no Ártico, onde o clima permanecerá ainda tolerável. Ele arrasa. Diz que ao longo dos próximos anos, a agricultura se tornará inviável e o aumento do nível do mar produzirá milhões de refugiados. A única coisa que nos resta fazer agora é nos prepararmos para sobreviver ao inevitável! Como diz Palocci, acabou a era do stop and go. Só vamos.
Lovelock está lançando um livro, intitulado “A vingança de Gaia”, onde explica essas coisas todas e nos dá algumas dicas sobre como enfrentar o caos. Além de poupar energia e outras recomendações, ele nos sugere, por exemplo, estocar alimentos e criar estratégias contra a elevação do nível do mar. Tá certo. Acho que prefiro uma casa no Ártico. Vamos contar com bush? Esquece.
Achei Lovelock muito pessimista. Que o mar não está pra peixe, todo mundo tá sabendo. E o calor que estamos passando? E as tempestades repentinas? E a cadeia de furacões? E as nevascas? Tudo em concomitância (hehehehe, ouvi isso hoje na CBN: concomitância! Que palavra estranha! Parece pajelança.)! Mas se Gaia é um ser vivo, tem tratamento. Não tem cura, mas tem tratamento. Pensando bem, bush, não esquece não. Tendo um tempinho, passa lá e assina esse Protocolo, siô! Não custa.
Uma casinha no Ártico para todos nós!
Durmam tranqüilos e sonhem com nossas irmãs, as estrelas, que ainda guardam um pouquinho da nossa matéria prima, para qualquer emergência.
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