segunda-feira, junho 30, 2008

Eterno brilho

O repórter Carlos Castello Branco
Navego cada vez menos na internet. Isso está virando um problema. Quem me salva são os amigos. Que vale que ainda os tenho. Um deles me deu a dica e fui lá conferir. Nem estava tão entusiasmada assim, mas bateu a curiosidade e não resisti. Fui revisitar a Coluna do Castello. Nunca fui leitora fiel do Carlos Castello Branco. Lia quando precisava. Mas quando lia gostava. Depois fui me acostumando, tomando gosto e fiquei mais freqüente. Lia quando precisava e também quando não precisava. Mas era um dia sim, outro não e olhe lá.

O provocador Paulo Francis

Quando estava sozinha, preferia mesmo era a coluna do Paulo Francis: Diário da Corte. Era publicada às quintas-feiras e aos domingos, primeiro na Folha de São Paulo e depois no Estadão. Francis e Castellinho não tinham nada em comum, mas gostava dos dois. Como diria minha avó: Castello e Francis eram duas belezas diferentes. E nessas leituras, muitas vezes panorâmica, me interessava menos pela notícia e mais pelo como eles a trabalhavam. Castellinho era um clássico. Impossível não apreciar a sua leitura. Até hoje me cativa.

Paulo Francis já é outra história. Ou melhor, duas: sua leitura despertava paixão ou ódio. Não tinha meio termo. E isso era uma das coisas que me fazia preferi-lo. Mas, principalmente, o que mais gostava em Paulo Francis era a confusão mental que ele nos impunha. Com frases curtas e cortantes, ele discorria sobre vinte e cinco assuntos ao mesmo tempo e ainda concluía. Também apreciava o seu mau humor e a sua ironia sentinela. Hoje, fico pensando, essa preferência era uma coisa bem adolescente mesmo. Achávamos bacana aquele texto debochado, irreverente, bronqueado que ele tinha. No como de Paulo Francis, me fascinava, especialmente, o ritmo do seu texto. Nos obrigava sempre a fazer uma leitura em alta velocidade. Isso até hoje me fascina.

Não costumo ser saudosista. Revisito, releio, rememoro, mas sem nostalgia. Relembro mais para conferir, para ver se continuo pensando igual pensava quando da primeira vez. Se ainda me emociono, se ainda gosto, se tudo que vi um dia ainda faz algum sentido para mim. E é impressionante como mudei nesse tempo todo. Mas relendo os dois jornalistas, desconfio que não mudei nada. Continuo gostando dos dois e apreciando neles o que já apreciava. Aliás, acho que hoje gosto mais. Sinto falta deles e mais ainda de tudo o que eles representaram para todos nós.

Hoje, a figura do jornalista está em decadência. Posso estar blasfemando, mas essa é a minha percepção. As pessoas têm birra de jornalista. Criticam a nossa superficialidade, nossa generalidade, nossa imprecisão, nosso texto, muitas vezes, descuidado e, não raro, simplificador. Até concordo com algumas dessas críticas, mas por outros motivos. Me aborrece ainda mais a desvalorização do trabalho dos jornalistas dentro das organizações. Desde o advento do marketing, mais vale uma imagem que uma informação. Sem matéria prima para trabalhar, ficamos sem identidade e sem direção. Relendo Castellinho e Francis, tenho certeza de que estamos mesmo com um problemão nas mãos.

Que os dois nos iluminem e olhem por nós lá de cima.

Uma semana de grandes leads para todos nós.

Fotos: Pescadas nos links deste post

Um comentário:

Anônimo disse...

Oi Patricia,

Imagino como é ler aqueles que de fato formavam opinião. Havia fundamento nos argumentos que por sua vez sustentavam as variáveis analisadas.

Hoje pseudojornalistas têem espaço por estarem alinhados ou não com o que se deseja que seja difundido e vendido como "verdade".

Conheço poucos jornalistas. Muito pouco. Mas a amostra a que tenh acesso envergonharia os que você cita. Não estudam a matéria, fica tudo na base da superficialidade. Uma lástima.

Beijos!!!