sábado, junho 14, 2008

Ombro amigo

Uma luinha solitária, num céu azul, cortado por falsas nuvens

“A globalização atual não é irreversível. Agora que estamos
descobrindo o sentido de nossa presença no planeta, pode-se
dizer que uma história universal verdadeiramente humana
está, finalmente, começando." (Milton Santos)


Vi o Papa Bento XVI passeando nos jardins do Vaticano ao lado de bush, aquele que foi e já não sabe mais o que é. Não entendi nada, pra variar. Aliás, ando entendendo muito pouco de quase tudo. Mas isso é outra história, bem desinteressante, por sinal. Por isso prefiro só ficar olhando o papa passeando com bush e não pensar em mais nada. Nem ousar imaginar o óbvio, que estavam ali só pousando pra inglês ver. Nem arriscar uma piada, que bush procurou Bento XVI só pra negociar seus pecados e garantir uma sombrinha no céu. Nem inventar um mistério, que os dois estão juntando forças só para derrotar o dito. Prefiro só ficar olhando. De mentirinhas, estamos atolados até o pescoço.

Mesmo sem pensar, acabo, no entanto, pensando. Não há nada de excepcional nem de desprezível no fato de dois homens se encontrarem. Ainda que esses homens sejam, cada um na sua praia, influentes e poderosos. Talvez, por isso mesmo, precisem um do outro. Não para se tornarem ainda mais influentes e poderosos, pois já nem são tanto assim e nem poderão ser mais. Mas, talvez, simplesmente para desabafar. Quem não precisa? Quem sabe se encontraram para admitir, um para o outro, sua impotência diante de um mundo que anda caminhando cada vez mais com suas próprias pernas? E ainda que cada vez menor, pois mais e mais embaralhado nos fios da rede global, um mundo mais livre para inventar novas tramas.

Não há mesmo nada de muito grandioso no encontro de dois homens solitários no poder. Dois homens e seus títulos, influentes e poderosos, mas já nem tanto assim. Do alto de suas torres olham o mundo e confirmam: está desassossegado. Se olham e admitem, não sabem mais como acalmá-lo. Pois nem o mundo quer mais se acalmar. Se agita e se arvora atrás de novas saídas. Não quer mais andar sob a mira de um fuzil, mas também não quer deuses para apontar caminhos. Esse mundo, virado de ponta a cabeça, quer andar sozinho. Abandonado a sua própria sorte. Por isso mesmo, talvez, bush e Bento XVI precisem um do outro. Não são as melhores pessoas para se aconselharem, mas na falta de companhias, um ombro se ajeita bem no outro. Que fiquem em paz.

“Estamos diante de um novo encantamento do mundo, no
qual o discurso e a retórica são o princípio e o fim. Esse
imperativo e essa onipresença da informação são
insidiosos, já que a informação atual tem dois rostos, um
pelo qual ela busca instruir, e um outro, pelo qual ela
busca convencer. Esse é o trabalho da publicidade”
(Milton Santos)

Inté. (obrigada, Cacá!)

Foto: Minha, do fim de tarde deste sábado, cheio de coisas pra fazer,
mas que preferi não fazer nada. Só observar falsas nuvens no céu.

3 comentários:

Anônimo disse...

Oi Patricia,

A foto já valia o post, o texto foi um plus! :D

Beijos e bom fim de semana!

Vi seu comentário no e-mail, hehehehe!!!!

Clará disse...

Esse mundo tá muito doido mesmo!
E olha como é a globalização: eu tinha tirado uma foto na minha máquina quase idêntica a essa sua: a luinha, com as nuvens em traço no céu ja escurecendo... Mas não tinha o resto da paisagem. Tinha tirado em sua homenagem, pq depois do Observatório de Nuvens, comecei a prestar mais atenção no céu. MAs a foto foi embora com a máquina, e essa foi uma das perdas que me deixou mais triste, pq não foi de uma coisa material que eu posso ter de volta, mas de um momento.
E disponha pelo vídeozinho!

patricia duarte disse...

Cacá, não fique triste. Como as nuvens, tudo passa nessa vida. E outras nuvens virão pousar para sua nova câmara. bjim